5 de maio de 2010

A ESTÁTUA DE DANIEL: AS PERNAS DE FERRO.

“A cabeça dessa estátua era de ouro fino; o peito e os braços de prata; o ventre e as coxas de bronze; as pernas de ferro; e os pés em parte de ferro e em parte de barro.” (Daniel 2:32,33)
Depois do período do bronze, o sonho profético da estátua prevê uma passagem à idade do ferro. Enquanto que os Gregos utilizavam o bronze, os Romanos empregaram sobretudo o ferro. Os poetas latinos testemunham esta transição. Por exemplo Virgílio descreve os exércitos antigos fazendo relação com as suas armaduras de bronze: “Os seus escudos revestidos de bronze brilhante e a sua espada de bronze.” (Virgílio, Eneida, VII, 742,743).
Da mesma fora Lutéce contrasta o passado e o presente pela referência ao bronze e ao ferro: “O uso do bronze precedeu o uso do ferro (...) É o exército de bronze que em ondas de combatentes entravam em combate (...) Depois pouco a pouco apareceu a espada de ferro; e viu-se cair a espada e a foice de bronze.” (Lucrèce, De la Nature, V, 1286-1294).
Estas passagens da literatura latina testemunham que a substituição do bronze pelo ferro foi contemporânea ao Império Romano. A confirmar a realidade histórica, o exército romano era um exército de ferro, com as suas espadas de ferro, os escudos de ferro, as suas armaduras de ferro, os capacetes de ferro, e em particular os seus dardos (pilum), uma espécie de lança de ferro podendo servir de azagaia ou dardo.
Mas segundo a explicação de Daniel na referência ao ferro tem por objectivo referir-se mais que ao ferro em si mesmo. O ferro é também percebido a simbolizar uma qualidade, “ força” (v.41), e um comportamento, “como o ferro quebra todas as coisas, assim ele quebrantará e esmiuçará.” (v. 40).
A força do Império Romano reside fundamentalmente na forma como governa. Roma não se contenta de estender as suas conquistas além do que os anteriores tinham conquistado, da Inglaterra ao Eufrates, passando pela África do Norte; muito moderna para o seu tempo em termos de política – Roma foi a primeira Republica histórica – colocou de pé a primeira administração com altos níveis de qualidade, muito sofisticada que lhe permitia controlar de longe os povos por mais diversos que fossem. Graças este tipo de governo podia manter a unidade do Império e em particular salvaguardar a paz no mundo, a famosa pax romana. É com mérito que no tempo do Imperador Vespasiano, o naturalista romano Plínio o Velho (23-79) celebra o que ele chamava “a grandeza e o esplendor da paz romana”. “A poderosa Roma, dizia ele, trouxe unidade de Roma; todos devem reconhecer os serviços que ela prestou aos homens ao facilitar as suas relações, e em permitir de desfrutar em comum do prazer da paz.” (A. ALBA, Rome et le Moyen Age jusqu`en 1329, Paris, 1924, p. 126).
Com o seu exército de ferro e a sua administração de ferro, não é de admirar que Roma seja descrita como um poder que esmiúça tudo por onde passa. Podemos pensar nas vitórias esmagadoras da legiões romanas. É impossível não se lembrar das palavras históricas de César quando regressava das suas batalhas: “Veni, vidi, vici” (eu vim, eu vi, eu venci). Mas além destes sucessos, devemos pensar também na maneira como Roma tratava aqueles que ousavam resistir. As campanhas punitivas dos Gauleses, onde aldeias inteiras eram queimadas, a supressão completa da corporação dos Druidas, a destruição de Cartago e enfim o cerco de Jerusalém, que pôs fim à nação judaica, são alguns exemplos eloquentes.
Roma mereceu a comparação do profeta. Dura e inflexível como o ferro, a sua reputação ressoa nas estrofes dos poetas por séculos. É tão conhecido este facto que nos dispenso os meus queridos leitores de descrever assunto que conhecem muito bem.
Enfim, ultimo sinal da sua força, o poder romano deveria durar cinco séculos; é de longe o Império que se manteve tanto tempo. Sucumbiu sob os golpes dos invasores bárbaros, tribos que se levantavam como ondas e atacavam nas diferentes partes do Império. O último imperador foi destronado por Odoacro, um chefe germânico, em 476.

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