25 de novembro de 2011

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO PROFÉTICA

Este tema é algo de fascinante e, ao mesmo tempo, de grande responsabilidade, na medida em que poderemos, se interpretarmos incorrectamente um texto ou textos, fazer dizer às Sagradas Escrituras aquilo que estas nunca disseram. Assim, iremos estudar alguns princípios de interpretação bíblica que nos ajudarão a interpretar correctamente as profecias.
1 - Cristo, o centro de toda a Palavra de Deus
Todos os princípios de interpretação que iremos analisar são, como não poderia deixar de ser, importantes. Mas este é o mais importante de todos eles, pois para interpretarmos correctamente qualquer excerto bíblico e, em particular os textos proféticos, é termos em consideração que a figura central das Sagradas Escrituras é Jesus Cristo. Não tendo esta verdade presente quando nos aproximamos da Palavra de Deus, a exemplo de tantos outros, poderemos pensar que o ensino do Antigo Testamento não contém Cristo mas, tal forma de pensar não poderia estar mais longe da verdade, visto que o Senhor Jesus Cristo encontra-se em toda a Palavra de Deus – Antigo e Novo Testamento – em toda a Sua glória.
Esta forma de olhar para a Palavra de Deus e ver nela dois blocos totalmente compartimentados e estanques é partilha por dois grupos distintos. No primeiro, encontram-se o povo judeu, que crê unicamente no Antigo Testamento e rejeita o Novo Testamento. No segundo, encontra-se um grupo de religiões cristãs que aceitam o Novo Testamento mas, que rejeitam o Antigo Testamento. Estes dois grupos com sérios problemas. Na verdade, como é que se poderá compreender o Novo Testamento sem o Antigo Testamento e vice-versa? De modo algum. Estas duas faces da mesma moeda estão, consequentemente, ligadas pela simples razão que ambas são complementares. Uma sem a outra estão, claramente, incompletas. Para ilustrarmos o que acabámos de afirmar iremos examinar alguns textos bíblicos que mostram, claramente, que o Senhor Jesus é, verdadeiramente, o centro das Sagradas Escrituras.
a)- João 5.39: - “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são elas que de mim testificam”.
Estas palavras são do próprio Jesus. Ora, vejamos o que o Senhor Jesus quis dizer com estas palavras visto que estas se dirigem directamente aos seus concidadãos – os judeus. Numa análise simples do texto em causa, afinal, a que “Escrituras” se refere Jesus? Sem sombra de dúvida que se trata do Antigo Testamento, pela simples razão que o Novo Testamento ainda não existia. Assim sendo e tal como o Senhor referiu, aquelas eram Escrituras que davam testemunho d’Ele. Se lermos um pouco mais à frente: - “Não cuideis que eu vos hei-de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele” – v. 45, 46.1 Desta forma podemos ver, claramente, que Jesus está presente nos escritos do patriarca Moisés. 2
b)- Lucas 24.25-27: - “E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! (26)- Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? (27)- E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”.
Este episódio conhecido por – no caminho de Emaús - tem como intervenientes não só o Senhor Jesus
como também aqueles dois discípulos decepcionados pela morte do seu Mestre Jesus Cristo. Estes, com o semblante carregado de tristeza tinham deixado Jerusalém, onde tinham ido para a Festa da Páscoa, e dirigiam-se para onde residiam, uma pequena aldeia – Emaús – a qual distava de cerca de “(…) 60 estádios” – v. 13 – ou seja, 12 km de Jerusalém.3 Estes iam caminhando e eis que se aproxima um estranho que os acompanha naquela curta viagem. A certa altura do percurso e da conversa entre eles, este forasteiro fala-lhes abertamente. E, tal como o v. 27 refere, Jesus, o companheiro anónimo de viagem, aproveita e fala-lhes acerca daquele Jesus que tinha morrido na passada sexta-feira na cidade de Jerusalém. Mas, apoiado em que fonte? Claro – “começou por Moisés” e continuando “por todos os profetas”. Portanto, na verdade, Jesus Cristo está presente em toda a Sagrada Escritura que, neste caso, é o Antigo Testamento.
c)- Lucas 24.44: - “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos”.
De igual modo, de quem falam os Salmos, as Escrituras, os profetas e Moisés? Claro, de Jesus Cristo. Aqui encontramos uma vez mais reforçado que, na verdade, Cristo é o verdadeiro centro das Sagradas Escrituras. As Igrejas, na sua grande maioria dizem que Israel é o centro das profecias, não Jesus. E é precisamente aqui que se encontra a razão de ser de todas as divergências e consequentes problemas. Estas Igrejas crêem e ensinam que Cristo virá pela segunda vez à Terra para levar consigo, secretamente, a Igreja para o Céu – doutrina do arrebatamento secreto – e, desta forma, todas as profecias do Antigo Testamento se cumprirão com Israel enquanto Cristo está no Céu com a Sua Igreja. Que sentido terá esta forma de pensar? E, além do mais, o apoio bíblico desta mesma doutrina é, simplesmente, nulo. Na verdade, todas as promessas ou profecias da Palavra de Deus, todas elas apontam e têm o seu cumprimento final na pessoa excelsa de Jesus Cristo.4
d)- II Coríntios 1.19,20: - “Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim e Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. (20)- Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim e por ele o Amém, para glória de Deus por nós”.
Segundo o texto, afinal, em quem se cumprem todas as promessas do Antigo Testamento? Uma vez mais, em Cristo Jesus. Mas vejamos o que ensina algum do mundo evangélico: - este diz que em 1948,5 a nação judaica, pela bênção de Cristo, regressou à terra de Israel e que Cristo os ajudou a ganhar a guerra que teve lugar em 1967;6 ou seja, a recuperar a parte de Jerusalém que se encontrava na posse dos árabes. Dizem também que, muito em breve, se reconstruirá o Templo de Jerusalém. Tudo isto será feito pelo povo judeu, ainda que não creiam em Jesus. Mas será sensato tudo isto? Será plausível e racional aceitar que Deus cumpra as Suas promessas sem Jesus Cristo?
Deus prometeu construir o Templo; Deus prometeu reconstruir os muros e restaurar Israel. Mas convém não esquecer que Ele prometeu tudo isto em Jesus Cristo. Ora, se não crêem em Jesus Cristo, então como pode Deus cumprir as Suas promessas quando Cristo está, naturalmente, afastado do processo? Na verdade, tal raciocínio não faz qualquer sentido.
e)- Símbolos relacionados com a 1ª vinda de Jesus Cristo à Terra.
Para reforçar e confirmar que Cristo é, na verdade, o centro das Escrituras e n’Ele está o cumprimento de todas as promessas, vejamos alguns
- Quem é a rocha – Números 20.8 - nas Escrituras? – Jesus – I Coríntios 10.4
- Quem é a escada – Génesis 28.12,13 - nas Escrituras? – Jesus – João 1.517
- Quem é a serpente – Números 21.8,9 - nas Escrituras? – Jesus – João 3.14
- Quem é a Páscoa – Êxodo 12. 1-11 - nas Escrituras? – Jesus – I Coríntios 5.7
- Quem simboliza o sacrifício de Isaque – Génesis 22.8,12,14 - nas Escrituras? – Jesus – João 8.56,58
- Quem simboliza a venda de José – Génesis 37.27,28 - nas Escrituras? – Jesus – Lucas 22.4-6
José foi vendido pelos seus irmãos; estes, ao desfazerem-se dele estavam a demonstrar que queriam salvar-se a eles mesmos. Não apontará tudo isto para Cristo e a rejeição do Seu próprio povo? Cristo foi vendido e desfazendo-se d’Ele – cf. Lucas 19.14 - por este acto mesmo e contrariamente ao que pudessem pensar, Jesus tornou-se o seu Salvador. José é o tipo que, igualmente, apontava para o Senhor Jesus.
- David e Golias. David representa quem? Quem é o filho de David? Jesus – Mateus 20.31. E o que representa Golias? Satanás – Lucas 10.17,18. E o que representa Israel? Cada um de nós – Mateus 15.24; Gálatas 6.16; I Coríntios 10.18. Israel precisa de um libertador que lute contra Satanás, porque Israel não o pode fazer. Eis que chega o pequeno David e vence o gigante Golias. E onde acerta David a Golias? Na testa – cabeça – I Samuel 17.49. A história de David e Golias apontava, simbolicamente, para a promessa feita anteriormente no início dos tempos – no jardim do Éden – para Cristo – “E porei inimizade entre ti (Satanás) e a mulher (Igreja); e entre a tua semente e a sua semente; este (Jesus) te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” – Génesis 3.15 – “Tu lhe ferirás a cabeça” – João 12.31; Apocalipse 12. 9,10.
- Querela entre Absalão, o filho e David, o pai – II Samuel 15-18.31-33. Absalão representa Lúcifer, no Céu, que quis usurpar o lugar de Cristo – Isaías 14.13 - aqui representado por David - II Samuel 16.11.
Todas estas histórias e outras tantas do Antigo Testamento apontam para a pessoa do Senhor Jesus Cristo. Nas profecias não é, de modo algum, Israel o centro mas sim Cristo.
f)- Símbolos relacionados com a 2ª vinda de Jesus Cristo – acontecimentos para o tempo do fim
- Daniel 2 – Qual é o cenário deste capítulo? O rei Nabucodonosor, certa noite, depois de ter contemplado toda a sua glória resultante do seu poder, deitou-se e sonhou sobre “(…) ao que há-de ser no fim dos dias” – Daniel 2. 28. Ou seja, ele pensava que tudo aquilo duraria para todo o sempre, que nada passaria a outros diferentes de si ou descendentes! Tudo isto o perturbou e sonhou. De manhã acordou preocupado com o que tinha sonhado. Sim, ele sabia que tinha sonhado, só que não se lembrava com o quê? Aqui estava a mão de Deus para mostrar que as religiões humanas são falsas assim como os deuses por elas inventados!
O rei manda chamar os profissionais da religião do reino e todos os esforços se mostram inúteis. O próprio rei chega a reconhecer que todos estes não passavam de uns charlatães, “(…) vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença (…)” – v. 9. Enfim, prontos a dizer o que o rei desejava ouvir fosse em que ocasião fosse. Devido à incapacidade destes, eis que entra em cena o profeta Daniel, dizendo ao rei que “O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei. (28)- Mas há um Deus nos céus, o qual revela os segredos (…)” – Daniel 2. O que o rei sonhou foi com uma grande estátua composta de diferentes metais, os quais simbolizavam os diferentes reinos que sucederiam a Babilónia – v.31-45. E isto é o que provocou a angústia no rei, pois estava ali diante dele o futuro, o qual ele se recusava a aceitar, visto que contrariava os seus planos de unidade para todo o sempre – Babilónia – afinal, daria lugar a tantos Impérios até à gloriosa 2ª vinda de Cristo!
Na verdade, tal como a História o confirma, os reinos se foram sucedendo no tempo longo até chegarmos ao último, ao Império Romano; na verdade “para alguns, o império merecia morrer para que o poder pudesse passar para as tribos que iriam formar os países da Europa moderna”.8 Tudo isto no domínio político, pois não haveria um 5º Império humano, mas sim o desmembramento e divisão do 4º, permanecendo este sob as suas ramificações. È aqui tem lugar a génese de um poder estranho de cariz político, na continuação do Império Romano – Roma papal – junção da Igreja com o Estado, expresso na estátua, sob a ilustração da junção entre o ferro (Roma política) e o barro (Igreja) – v.41. O texto bíblico continua e refere que acontecerá algo de tremenda importância no tempo do fim – “Mas, nos dias destes reis, o Deus do Céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos e será estabelecido para sempre” – v.44. Mas que reino será este? Tal como o texto bíblico o refere, é aquele é provocado pela (34)-“(…) pedra cortada sem mão (…). (35)- (…). Mas a pedra que feriu a estátua, se fez um grande monte e encheu a terra”. Quem é o herói neste relato? Claro - a “pedra” – que é Cristo – I Coríntios 10.4.
- Daniel 3 – Qual é o cenário deste capítulo? O rei Nabucodonosor manda construir uma enorme estátua e ordena que todos os seus súbditos adorem esta estátua da sua pessoa. Três amigos do profeta Daniel negam-se a fazê-lo. O rei enfurecido ordena que se acenda uma fornalha ao máximo da sua capacidade – “sete vezes mais do que se costumava aquecer” – v.19 – para que, desta forma, castigasse os desobedientes. O forno estava de tal maneira quente que “o fogo matou aqueles homens que levantaram a Sadraque, Mesaque e Abednego” – v.22. Depois, o rei, sentado no seu trono ao olhar para o forno vê não 3 mas 4 personagens lá dentro a “passear dentro do fogo” – v.25. Finalmente, o rei Nabucodonosor reconhece a soberania do Deus do Céu – v.29.
E quem é a personagem central desta história? À primeira vista, em toda a história, a figura que é realçada é a que é representada pela fé e firmeza daqueles 3 jovens no seu Deus – “fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” – v.18. Mas, se olharmos bem para o texto e o analisarmos mais profundamente, na realidade, quem é o herói deste capítulo 3 do livro do profeta Daniel? Claro que é a 4ª personagem misteriosa “semelhante ao filho dos deuses” – v.25 - que entrou no forno e os protegeu – Cristo.
- Daniel 6 – Qual é o cenário que aqui encontramos? Desta vez o que está em causa é a fidelidade de Daniel para com o seu Deus. Como este servo de Deus era “fiel e não se achava nele nenhum vício nem culpa” – v.4 – os seus inimigos e concorrentes àquele lugar no reino pensaram que, “onde poderiam achar ocasião contra alguma contra este Daniel era na lei do seu Deus” – v.5. Assim sendo pensaram num estratagema para acusar Daniel de desobediência ao rei persa Dario.
Este plano passava pelo louvor e bajulação divina do rei. Este, durante 30 dias estaria no lugar de Deus. Era a divinização do humano e isto agradou ao rei. Das palavras à prática foi um salto e o decreto que o estipulava foi assinado e promulgado pois desde agora e, ao longo deste prazo – 30 dias – “qualquer que fizer uma petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões” – v.7. Passado pouco tempo estes mesmos homens vieram queixar-se, denunciar ao rei que um homem desrespeitou o decreto real, dizendo que: - “Daniel, que é um dos transportados de Judá não tem feito caso de ti, ó rei, nem do édito que assinaste; antes, três vezes por dia faz a sua oração” – v.13.
Quando o rei ouviu isto ele percebeu de imediato que não estava em causa a divinização da sua pessoa mas, todo um plano para eliminar um estrangeiro e concorrente a um lugar no palácio real – Daniel! O rei “propôs no seu coração livrá-lo; e até ao pôr-do-sol trabalhou por o salvar” – v. 14. Mas, já nada havia a fazer e Daniel foi sentenciado. Este foi lançado na cova dos leões mas “Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões para que não me fizessem dano (…)” – v.22. E quem é o herói do episódio aqui relatado aqui? Daniel ou aquela entidade que o salvou de uma morte atroz? Claro – Jesus Cristo.9
- Daniel 7 – Qual é o cenário que aqui encontramos? Aqui estamos na presença dos mesmos impérios encontrados em Daniel 2 só que, com outros nomes ou símbolos. Este capítulo 7 fala-nos de um chifre pequeno muito estranho e, ao mesmo tempo, muito poderoso. Aqui somos informados que este poder entraria em cena após a presença das 10 divisões do Império Romano do ocidente provocadas pelas invasões bárbaras – cf. v.24. E que também exerceria actividade política, pois “(…) diante da qual três pontas (chifres, poderes) foram arrancados” – cf. v.8,20 – como também a religiosa, pois nesta “ponta, poder” “havia olhos de homem e uma boca que falava grandiosamente (…)” – v.8,20 – e que falaria, imagine-se “contra o Altíssimo e destruirá os santos do Altíssimo (…)” – v.25. Neste campo também, ousará ocupar o lugar de Deus – “(…) se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” – II Tessalonicenses 2.4
Mas que, a seu tempo, será destruído pois “o juízo estabelecer-se-á (…) para o destruir e para o desfazer até ao fim” – v.26. Este, a seu tempo, deixará de existir e o reino de Deus será implantado para todo o sempre – “E o reino, e o domínio e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão” – v.27. E quem é este que será servido? O profeta o mostra claramente: - “(…) e eis que vinha nas nuvens do Céu, um como o filho do homem (…). (14)- E foi-lhe dão o domínio e a honra, e o reino para que todos os povos, nações e línguas o servissem (…)” – Daniel 7. E quando isto acontecerá? A resposta é clara: - “Mas o juízo se estabelecerá (…)” – v.26. Portanto, após este Jesus receberá o poder e reinará para todo o sempre nesta Terra totalmente restaurada.
- Daniel 11 – Qual é o cenário deste penúltimo capítulo do livro do profeta Daniel? A 1ª parte deste capítulo começa com o Império Persa e descreve a sucessão dos Impérios e respectivos acontecimentos históricos até chegar a Roma Imperial. Na 2ª parte fala do desaparecimento desta última potência política para dar lugar à sua divisão, da qual se formará a Europa em que, na qual, fará erupção um outro sistema estranho de carácter político religioso que o substituirá. Na parte final deste capítulo está descrita a ira, a violência que este poder desferirá contra o remanescente de Deus nesta Terra – “(…) sairá com grande furor para destruir e extirpar a muitos” – v.44. Quem é o herói que se levanta para proteger e aniquilar este poder – “(…) mas virá o seu fim e não haverá quem o socorra” – v.45 – cuja vitória não só é certa como anunciada antecipadamente. Este é, sem dúvida a personagem anunciada no capítulo 12.1 – Miguel, o grande príncipe – Jesus Cristo.10
- II Reis 18.13-19.1-37 - Qual é o cenário que nos mostra a Palavra de Deus? Este fala de vários episódios passados a três velocidades:– 1ª- o rei Assírio Senaqueribe; 2ª- o rei de Judá Ezequias; 3ª- a intervenção de Deus.
Uma breve pincelada histórica para compreendermos o contexto. Após a degradação do grande Império deixado por Salomão, este dividiu-se, por lutas internas em dois: 1º- O reino do Norte – Israel – tendo como capital a cidade de Samaria; 2º- O reino do Sul – Judá – tendo como capital a cidade de Jerusalém. O reino do norte sempre viveu em tumultos internos; crimes denunciados pelos profetas Amós e Oseias. A decadência interna expressava-se na crise política. Esta chegou a tal ponto que, na verdade, só uma sabedoria incomum poderia, eventualmente, salvar Israel do seu estado calamitoso e desesperante. O poder emergente, a Assíria, na pessoa do rei Salmanasar V (727-722 a.C.),11 invade o reino do norte e o cerco durará cerca de três anos. A cidade de Samaria não resiste e cai no Verão ou Outono de 722/721, seguindo-se uma deportação em massa para a Alta Mesopotâmia.12 Segundo o profeta Isaías o Rei da Assíria, tinha sido escolhido por Deus para corrigir o povo de Deus – “Ai da Assíria! A vara da minha ira; porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos” – Isaías 10.8.
Seria de esperar que o reino do sul – Judá – cuja capital era Jerusalém aprendesse com os erros cometidos pelo reino do norte. Deus irá usar a mesma estratégia para com o Seu rebelde povo, ao suscitar para o efeito o rei caldeu Nabucodonosor – “Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e apressada, que marcha sobre a largura da terra, para possuir moradas não suas” – Habacuque 1.6. Ou ainda “E o Senhor entregou nas suas mãos (rei de Babilónia) o rei de Judá” – Daniel 1.2
Mas a História demonstrará a triste realidade – pois, a exemplo do reino do norte, o do sul irá sucumbir; e, em Julho de 587 o Estado de Judá, sob o poder de Nabucodonosor, rei de Babilónia, acabara para sempre.13
Voltemos ao texto bíblico – A acção passa-se quando o rei Assírio Senaqueribe (705-581)14 invade, por sua vez, Judá. Nesta altura reinava o rei Ezequias. O rei invasor manda um mensageiro para falar ao povo cercado, proferindo muitas palavras e ameaças que visavam uma rendição incondicional ao poderoso rei da Assíria, nestes termos: - “(…). Que confiança é esta em que confias?” – II Reis 18.19. Depois começa a enumerar as conquistas já alcançadas: - “Que é feito dos deuses de Hamate e de Arpade? Que é feito dos deuses de Sefarvaim, Hena e Iva?15 Porventura livraram a Samaria da minha mão? (35)- Quais são eles, dentre todos os deuses das terras, os que livraram a sua terra da minha mão, para que o Senhor livrasse Jerusalém da minha mão?” – II Reis 18. O que ele estava a querer dizer era, simplesmente, que para nada serviriam as alianças militares celebradas com o rei de Israel com os outros países, pois também estes tinham caído sob este mesmo poder! Assim, este povo cercado estava a ser recordado que nada havia a fazer a não ser a rendição pura e simples.
Perante a ameaça, o que é que fará um bom crente? Perante esta ameaça e consequente “dia de angústia” – II Reis 19.3 – o rei irá fazer exactamente o que qualquer crente faria – expor, em oração, o caso perante o altar do Senhor. Nesta linda oração do rei ele confessa algumas verdades: - “É verdade, ó Senhor, que os reis da Assíria assolaram as nações e as terras. (18)- E lançaram os seus deuses no fogo; porquanto deuses não eram, mas obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso os destruíram. (19)- Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, sê servido de nos livrar da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra que só tu és o senhor Deus” – II Reis 19. Este foi o pedido. Esta foi a resposta através do profeta Isaías: - “Portanto, assim diz o Senhor: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma; tão pouco virá perante ela com escudo, nem levantará contra ela tranqueira alguma. Pelo caminho por onde vier, por ele voltará; porém, nesta cidade não entrará, diz o Senhor” – II Reis. 19.32,33. Na verdade, se o Senhor assim o diz, qual a criatura que o poderá impedir? O grande número de soldados? Assim pensava, na verdade, o rei da Assíria, o grande Senaqueribe!
Na verdade, segundo a Palavra de Deus, o exército que o acompanhou naquela campanha militar era composto de cerca 185.000 soldados! Na verdade, com o poderio bélico destes quem não se sentiria confiante, do nado do invasor e, ao contrário, do lado dos invadidos, quem não temeria angustiosamente?! Mas Deus tinha dado a Sua palavra e era quanto bastava. À criatura não interessa como, Deus o fará mas sim o porque o fará. Que nos importa, em boa verdade o como; o que nos deve animar é a razão porque Ele o faz, pois em causa não somente está a Sua palavra como também porque ama o Seu povo – “(…) por amor de mim e por amor do meu servo David” – II Reis 19.34. Na verdade, o que significava para Deus tal exército? Eis como Deus se manifesta perante a arrogância da criatura seja ela qual for, ou das alianças militares que tiver! Vejamos: - “Ai dos que (…) se estribam em cavalos e têm confiança em carros (de guerra) porque são muitos e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos e não atentam para o Santo de Israel e não buscam ao Senhor. (…). (3)- Porque os egípcios são homens e não Deus; e os seus cavalos carne, e não espírito; e quando o Senhor estender a sua mão cairão por terra, tanto o auxiliador como o ajudado, e todos juntamente serão consumidos” – Isaías 31.
Na verdade, o que significa para Deus os planos dos seres humanos? A Palavra de Deus diz-nos que, perante estes “Aquele que habita nos céus se rirá. (…)” – Salmo 2.4. Ou ainda: - “O Senhor se rirá dele (…)” – Salmo 37.13. Tudo isto faz-nos recordar outro episódio passado com a potência bélica anterior à Assíria, isto é, a Síria. O seu rei quis silenciar uma voz incómoda – a de Eliseu – II Reis 6. 8-22. E ao saber onde este se encontrava resolveu enviar para lá o seu exército para cercar a cidade e levar a cabo os seus intentos. Este, pela calada da noite cercou a cidade com “carros e cavalos”. De manhã os sitiados viram aquilo e se entristeceram. Entre os quais estava o servo de Eliseu que, atemorizado disse ao profeta Eliseu: - “(…). Ai meu senhor! Que faremos?” – v.15. A resposta do servo do Senhor foi: - “Não temas porque mais são os que estão connosco do que os que estão com eles”. (17)- E orou Eliseu e disse: - Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” – II Reis 6. Tudo isto, no passado. E como agiria Deus no presente, com o rei da Assíria? Vejamos: - o relato bíblico assim descreve o que aconteceu da noite para o dia?: - “Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor e feriu no arraial dos Assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram corpos mortos. (36)- Então Senaqueribe, rei da Assíria, partiu e foi e voltou e ficou em Nínive” – II Reis 19.35. O que é que se passou nestes dois relatos? A certeza, o garante das palavras de Jónatas: - “(…), porque, para com o Senhor, nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” – I Samuel 14.6.
Abramos um breve parêntesis: - Quem é esta personagem – “o anjo do Senhor (Yahweh/Jeová)? No Antigo Testamento fala de anjos, mas quando se refere ao Filho de Deus é descrito por este nome. Vejamos alguns exemplos: 1- Quando este aparece a Agar, depois desta ter fugido de casa de Abraão: - “E o anjo do Senhor a achou junto a uma fonte de água no deserto (…)” - Génesis 16.7. Logo a seguir, Agar chama-O de: - “E ela chamou o nome do Senhor (Yahweh/Jeová) que com ela falava: Tu és Deus da vista (…)” – v.13; 2- Quando Abraão recebe a visita de três varões – 3 anjos: - “E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três varões estavam em pé junto a ele (…)” – Génesis 18.2. De seguida, um ali permanece, enquanto que os outros dois “(…) foram-se para Sodoma. Mas Abraão ficou em pé diante da face do Senhor (Yahweh/Jeová)” – v.22; 3- No episódio no monte Moriá - sacrifício de Isaque - logo após o gesto de Abraão. Aqui é dito: - (v.15)- “Então o anjo do Senhor (Yahweh/Jeová) bradou a Abraão (…). (16)- e disse: - Porquanto fizeste esta acção, e não me negaste o teu filho, o teu único” – Génesis 22; 4- No episódio da sarça ardente – (v.2)- “E apareceu-lhe o anjo do Senhor (…). (6)- Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai (…). (14)- E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU (…)” – Êxodo 3. Na verdade, quem estava ali com Moisés? O anjo do Senhor, o qual não é Deus, o Pai; 5- Quando Deus tirou Israel do Egipto, veja-se como Deus fala com Moisés: - (v.20)- “Eis que eu envio um anjo diante de ti (…). (21)- Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz e não o provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebelião: porque o meu nome está nele” – Êxodo 23. Se Jesus não fosse Deus ou se o anjo do Senhor não fosse Deus, Deus nunca poderia ter dito: - “porque o meu nome está nele”!16
Quando consultamos alguns comentaristas acerca desta hecatombe, avançam duas explicações: - “1ª- Que o exército de Senaqueribe foi atacado por uma epidemia – praga de ratos (peste bubónica); 2ª – que chegaram notícias de que a sua presença era necessária na pátria”.17 No entanto, numa primeira fase, são interessantes, a este propósito, as palavras do profeta contra os intentos do rei da Assíria quando mandou dizer ao rei de Judá: - “Eis que meterei nele um espírito, e ele ouvirá um arruído e voltará para a sua terra; à espada o farei cair na sua terra” – II Reis 19.7. Aqui encontramos não somente uma razão, além da que é descrita na palavra de Deus, isto é, que ouviria uma notícia e a qual a faria voltar à sua terra, como também uma profecia contra o rei, ou seja – que “à espada o farei cair na sua terra”.
O detalhe desta profecia é descrito desta forma: - “E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada (…). E Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar” – II Reis 19.37. O conteúdo dos versos 36 e 37 estão separados em cerca de 20 anos, ou seja, desde a sentença proferida pelo profeta – abandono do cerco - até ao assassinato do rei.18 Recordando um pouco a actuação destes dois monarcas, ambos tiveram cometeram a mesma falta, pois esqueceram-se de que é o Deus Criador dos Céus e da Terra que tem tudo nas Suas mãos, não o homem – mero instrumento! É desta forma que o encontramos na Palavra de Deus em relação a estes dois monarcas: - 1º- Rei da Assíria: - “Por isso, acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte de Sião e em Jerusalém, então visitarei o fruto do arrogante coração do rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos. (13)- Porquanto disse: Com a força da minha mão fiz isto, e com a minha sabedoria, porque sou entendido; eu removi os limites dos povos e roubei os seus tesouros e como valente abati aos que se assentavam obre tronos. (14)- (…) assim eu ajuntei toda a terra. (15)- Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? (…)” – Isaías 10. 2ª – Rei de Babilónia: - “Então passará como um vento e pisará, e se fará culpada, atribuindo este poder ao seu deus” – Habacuque 1.11. Ou ainda “Falou o rei e disse: - Não é esta a grande Babilónia que eu edifiquei para casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência” – Daniel 4.30.
Podemos ver neste exemplo, uma vez mais o mesmo movimento dos poderes oponentes ao povo de Deus: 1º- Perseguição/decretos; 2º- Tempo de angústia; 3º- Libertação. De novo, o herói de todo o relato bíblico não é o homem com todo o seu aparente poder, mas, segundo a Palavra de Deus, é o – Anjo do Senhor – Jesus Cristo.
Como vimos até aqui e reforçando uma vez mais que, nas profecias, sejam elas quais forem, o herói é, inquestionavelmente, a pessoa excelsa do Senhor Jesus. Podemos, para enfatizar os acontecimentos que caracterizarão de uma forma específica o tempo do fim da história desta Terra, tais como: a queda das estrelas – o escurecimento do Sol – a sacudidura – a lei dominical –19 mas não podemos ventilar tudo isto sem falar de Cristo. Porque é que a lei dominical é tão importante ou porque é tão séria a imposição da guarda do 1º dia da semana – o Domingo? Pela simples razão de que o 7º dia da semana – o Sábado – é o dia do Senhor – não o Domingo!
Como poderemos compreender a marca da besta – Apocalipse 13.16,17 – sem compreendermos o seu oposto - o selo de Deus? – Ezequiel 20.12,20;20 Apocalipse 7.2,3. Não é possível. Será terrível receber a marca da besta e qual o porquê? Porque esta é, precisamente, o contrário do selo do Criador e da razão pela qual Deus deu para santificarmos o dia de Sábado,21 por duas razões: 1ª- Pela Criação – “(…). Porque em seis dias fez o Senhor os Céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do Sábado e o santificou” – Génesis 20.8.1; 2ª- Pela Redenção – “Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egipto, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado” – Deuteronómio 5.12-15.22
E quem foi o Criador, à luz do evangelho de S. João? Claro, o Senhor Jesus Cristo – “No Princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (2)- Ele estava no princípio com Deus. (3)- E todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” – João 1; cf. Colossenses 1.16,17.

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