Como as pessoas estarão iludidas nos últimos dias pelo engano final, a igreja vai cair na grande apostasia prevista por Paulo em suas cartas a Timóteo e aos Tessalonicenses. Já vimos no capítulo um a natureza dessa apostasia, como ela negará a divindade de Cristo e Seu papel como o único mediador, e também sancionará comportamentos ímpios devido a ausência da lei. Vamos agora dar uma olhada nas implicações teológicas da apostasia final.
O Apóstolo Paulo ensinou claramente que aqueles que vivem sem Deus não herdarão o reino de Deus:
“Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6:9-10).
Ser cristão não nos isentará de forma mágica dos mesmos padrões morais que são usados para julgar o mundo (Romanos 3:19). Embora seja verdade que aqueles que crêem em Cristo não estão sob a condenação da lei (Romanos 8:1), é igualmente verdade que aqueles que vivem uma vida pecaminosa não estão em Cristo, a mente carnal está em inimizade com Deus e não pode obedecer a Sua lei, mas uma pessoa convertida tem o Espírito de Deus habitando nela (Romanos 8:7-9).
Afirmar que se tem o Espírito Santo e ao mesmo tempo, viver uma vida de pecado é um engano e uma ilusão:
“Todo aquele que vive habitualmente no pecado também vive na rebeldia, pois o pecado é rebeldia. E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os pecados; e nele não há pecado. Todo o que permanece nele não vive pecando; todo o que vive pecando não o viu nem o conhece. Filhinhos, ninguém vos engane; quem pratica a justiça é justo, assim como ele é justo; quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo. Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode continuar no pecado, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não ama a seu irmão” (1 João 3:4-10).
A Epístola de João foi escrita no contexto das típicas heresias gnósticas tipo [1], esses falsos mestres estavam enganando as pessoas induzindo-as a pensar que se pode ser um cristão e ainda viver em pecado. João não está aqui dizendo que estamos absolutamente sem pecado, antes, ele afirma que ninguém pode dizer que é sem pecado (1 João 1:8-10), o que ele fala são daqueles que se mantém no pecado, vivendo uma vida ruim e sem arrependimento. A menos que se arrependa não resta nenhum sacrifício pelo pecado (Hebreus 10:26).
O conceito de que os cristãos estão sob nenhuma lei está ganhando terreno no mundo cristão, mas no final isso é uma negação de Cristo. Isto é uma forma subtil de espiritismo sob a roupagem do cristianismo, pois se não houvesse nenhuma lei, não haveria pecado e, portanto, não haveria necessidade de um Salvador [2] (Romanos 5:13, 3:20). Um cristianismo superficial, sem raízes não vai suportar o teste do tempo (Mateus 13:5-6); tal fé não traz a convicção do pecado e, consequentemente, a necessidade de arrependimento. As Mega igrejas de hoje, muitas vezes minimizam o pecado, porque ele é impopular, e assim aumentam o número de seus membros à proporções gigantescas. O Espírito Santo foi dado para convencer os homens do pecado e do juízo (João 16:8), mas muitos cristãos alegam que não serão julgados, mesmo que isso esteja claramente declarado nas Escrituras (Mateus 16:27, 2 Coríntios 5:10; Mateus 25:31-46). Embora seja verdade que os verdadeiros cristãos não estão debaixo da condenação da lei, porque eles são abrangidos pela justiça de Cristo, isso não pode ser transformado numa capa para encobrir o mal e uma vida pecaminosa. A doutrina de que não há Lei é uma negação de Cristo como nosso Salvador e, portanto, é uma doutrina de demónios:
“como livres, e não tendo a liberdade como capa da malícia, mas como servos de Deus” (1 Pedro 2:16).
Deus nos deu leis, porque Ele é um Deus de amor e sabe do que precisamos para sermos felizes, então, vamos mostrar o nosso amor a Deus, guardando Suas leis. Como exemplo, Deus nos deu as leis da saúde, para que pudéssemos ser saudáveis, mas se não a seguirmos pagaremos um preço. Outra lei em nosso benefício é o sábado; sem ele estaríamos sempre trabalhando, e nos tornaríamos centrados em nós mesmos e, assim, nos esqueceríamos de Deus. Nosso Criador em sua sabedoria sabe o que é melhor para nós.
Jesus enfatizou a necessidade de uma ligação viva com Ele, a fim de crescermos em santidade e termos vida espiritual. Aqueles que permanecem na videira darão frutos, mas se separados da videira murcham até que são lançados no fogo (João 15:1-8). Se tentarmos usar um telefone celular, mas nunca carregá-lo, vamos descobrir em breve que não podemos fazer todas as chamadas. O perigo do ensinamento gnóstico é que ele desvaloriza Cristo e o arranca para fora da Videira. Sem uma compreensão adequada de quem é Cristo, o divino Filho de Deus, o único que pode nos redimir, não podemos nos beneficiar com o plano da salvação ou viver uma vida santa. A aparência de santidade, sem Cristo é uma farsa, como a figueira que tinha folhas mas nenhum fruto sobre ela (Marcos 11:12-21).
Porque a apostasia final porá em causa a divindade de Cristo, como parte de nosso estudo é importante estabelecer a base bíblica da Trindade. As controvérsias trinitárias da Igreja primitiva são complexas e demoradas, muitas vezes envolvendo palavras e fórmulas complexas. A raiz do problema parecia estar tentando entender a Trindade de um fundo pagão filosófico ao invés de uma sólida base bíblica. Os gnósticos pensavam que Deus era santo demais para criar um mundo material. Assim, eles viram Jesus e o Espírito Santo, como seres criados ou gerados para realizar esse trabalho de criação, que implicava num estatuto inferior ao Pai.
O problema com esta abordagem é que ela nega dois conceitos fundamentais sobre Deus e nossa salvação. O primeiro é a nossa compreensão básica de que Deus é amor (1 João 4:8). A imagem que obtemos na Bíblia é de três Pessoas iguais existentes por toda a eternidade em uma unidade de amor. O amor não pode existir a menos que hajam outros que possam ser amados [3]. O segundo está relacionado ao primeiro: o sacrifício de Cristo nos mostrou que Deus nos amou tanto que estava disposto a dar Seu Filho, um membro da Divindade para morrer por nós [4]. Uma vez que começamos a minar esta doutrina, toda a base para a expiação está danificada. No Evangelho de João, a unidade da Divindade é revelada: o Filho glorifica o Pai, e o Pai, glorifica o Filho (João 17:1). Jesus também disse que Ele e o Pai são um “(João 10:30) e que o próprio Pai nos ama (João 16:27). O Pai ama o Filho (João 10:17) e o Filho o Pai (João 14:31). Nesta unidade de amor e glória, a expiação assume uma nova luz, o próprio Deus está disposto a pagar o preço pelos nossos pecados, porque Ele nos ama, e este amor é igual ao amor do Pai pelo Seu Filho (João 15:9). É difícil para nós compreender tal amor:
“que possais compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus” ( Efésios 3:18-19).
Há muitas provas de que Jesus é igual a Deus, Jesus é referido como o Alfa e o Ómega (Apocalipse 1:10-18; 22:12-13), assim como o primeiro e o último, um título que só pode ser dado a Deus:
“Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (Isaías 44:6).
O livro de Hebreus dá uma clara evidência da divindade de Cristo, ele diz que os anjos adoram a Jesus, e também se refere a Jesus como Deus:
“E outra vez, ao introduzir no mundo o primogénito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. Ora, quanto aos anjos, diz: Quem de seus anjos faz ventos, e de seus ministros labaredas de fogo. Mas do Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos, e ceptro de equidade é o ceptro do teu reino” (Hebreus 1:6-8).
No deserto, quando tentado pelo diabo, Jesus deixou claro que só devemos adorar o Senhor Nosso Deus (Mateus 4:10). No entanto, Jesus foi adorado pelos seus discípulos (Mateus 14:33; 28:17). De acordo com a Epístola aos Filipenses, um dia todo joelho se dobrará ao nome de Jesus (Filipenses 2:10-11). Esta é uma prova clara de Sua divindade.
Jesus referiu-se a si mesmo com a expressão “EU SOU” (João 8:58), o que não só se refere à sua pré-existência antes de Abraão, mas também é um título que só pode ser usado por Deus:
“Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3:14).
Jesus também disse eu Sou o pão da vida, eu Sou a luz do mundo, eu Sou a porta, eu Sou o bom pastor, eu Sou a ressurreição e a vida, e eu Sou a videira verdadeira (João 6:48; 08:12, 10:09; 10:11, 11:25, 15:1). É evidente que Jesus não só existia antes d´Ele vir ao mundo (João 17:24), mas Ele é igual a Deus (Filipenses 2:6). Mesmo Ele sendo igual a Deus, estava disposto a se humilhar e se tornar um ser humano, a fim de pagar o preço pelos nossos pecados e nos salvar da morte eterna. Isso demonstra a profundidade do amor de Deus por nós que Jesus estava disposto a descer tão longe e sofrer muito para nos salvar (João 3:16).
O Espírito Santo também é apresentado como uma Pessoa divina, Ele é o outro consolador (da mesma espécie), como o Pai e o Filho:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16).
Em grego, a palavra “allos” significa outro da mesma espécie, em vez de um tipo diferente [5]. Portanto, o Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho, Ele é um outro ser como o Pai e o Filho [6].
O Espírito Santo tem uma personalidade: Ele pode ser entristecido (Efésios 4:30), dá dons como Ele quer (1 Coríntios 12:11), fala e dirige pessoas (Atos 8:29), Ele pode ser enganado (Atos 5:3) e pode ser resistido (Atos 7:51).
A apostasia dos últimos dias vai sutilmente negar a divindade de Jesus e colocá-lo em pé de igualdade com anjos ou outros seres “espíritos” [7], como os gnósticos fizeram. Apesar de Jesus ser o único que pode nos salvar (Atos 2:21), muitos salvadores ou mediadores serão apresentados. O homem vai se tornar seu próprio salvador, e voltar-se para o engano original “sereis como deuses” (Génesis 3:5). Pessoas afirmarão ter poderes dentro de si para curar [8] e fazer milagres, e Jesus será reduzido ao status de um curandeiro [9]. No entanto, o poder desses curandeiros não se origina dentro deles, mas de forças demoníacas, segundo as Escrituras. O resultado desse ensino será um corte de sua vida da videira verdadeira, uma espiritualidade seca e, finalmente, escuridão, confusão, ilusão e destruição. No entanto, não é que não possa haver cura verdadeira do Senhor, como aconteceu no Pentecostes, em tais casos o poder não é atribuído às pessoas, mas atribuído ao próprio Deus (Atos 3:12). Os discípulos nunca alegaram ter poder dentro de si para curar as pessoas; mas sempre atribuíam esse poder a Deus.
A filosofia que, de alguma forma somos divinos é atraente para a mente natural, porque é lisonjeiro pensar em si como possuindo poderes sobre-humanos. Mas isso é uma contradição do que a Bíblia diz sobre a humanidade, que o coração humano é mau e rebelde contra Deus (Jeremias 17:9, Romanos 3:10-18), para não mencionar que pensar em si mesmo como um ser divino é blasfémia (At. 12:22-23)! A menos que compreendamos nossa verdadeira condição, não podemos ser salvos. No livro do Apocalipse, a igreja de Laodiceia representa a fase final da igreja nos últimos dias [10]. Ela acha que é rica e não precisa de nada, mas Deus lhe diz que ela é pobre, cega e nua (Apocalipse 3:17). Deus nos oferece colírio para que possamos ver nossa verdadeira condição, e vestes brancas para cobrir nossa nudez e ouro para nos fazer ricos (Apocalipse 3:18). Ele pode nos ajudar a discernir a verdade do erro, para ver que precisamos de um Salvador, Ele pode nos dar o manto da justiça de Cristo e o ouro do amor e da fé [11], em contraste com as riquezas do mundo que perecem (Mateus 6:19-20 ).
Jesus está à porta e bate (Ap 3:20), esperando por nossa resposta para deixá-lo entrar. Ele espera pacientemente, batendo com Suas mãos perfuradas e coroa de espinhos na cabeça. Se nós o deixarmos entrar, devemos também estar dispostos a deixá-lo limpar o lixo em nossas vidas. Este é um dos mais tocantes apelos nas Escrituras, você vai deixá-Lo entrar?
References:
[1] Francis D. Nichols, The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Volume 7, pp. 637, 645
[2] Ellen White, The Great Controversy, pp. 552-556
[3] Whidden, Moon, Reeve, The Trinity, p. 115
[4] Ibid., pp. 264-267
[5] Francis D. Nichol, The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Volume 5 (Review and Herald Publishing Association, 1978) p. 1037; Swanson, James: Dictionary of Biblical Languages With Semantic Domains : Greek (New Testament). electronic ed. Oak Harbor : Logos Research Systems, Inc., 1997, S. GGK257
[6] Fernando L. Canale, Doctrine of God, Handbook of Seventh-day Adventist Theology, p. 133
[7] Ellen White, The Great Controversy, p. 552
[8] Ellen White, Prophets and Kings, p. 211
[9] Ellen White, Early Writings, p. 87
[10] Kenneth A. Strand, The Eight Basic Visions, Daniel and Revelation Committee Series, Volume 6 (Silver Spring, Maryland: Biblical Research Institute, 1992) p. 34; C. Mervyn Maxwell, God Cares Volume 2, The Message of Revelation for You and Your Family (Boise, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1985) p. 98
[11] Ellen White, Christ’s Object Lessons (Review and Herald Publishing Association, 1900) p. 158
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