6 de dezembro de 2011

ESTUDO DE DANIEL 7

Neste capítulo encontramos a referência a diferentes animais que, por sua vez, são símbolos que representam as diferentes realidades já anunciadas. Assim sendo, Daniel 7 é paralelo a Daniel 2. Vejamos os diferentes animais aqui representados:
1- O leão – v. 4
Será que neste capítulo encontramos detalhes adicionais a Daniel 2? É evidente que sim; porque, inerentemente a este símbolo – é dito que tem “asas de águia”, assim como também é acrescentado que lhe foi dado “um coração de homem”. Qual será, pois, o significado destes detalhes? Um leão que tem um coração de homem? Recorde-se que – Daniel 4 – ao rei Nabucodonosor mandou-se que se mudasse o coração de homem para o de animal – v. 16. – mas que, depois, voltasse a ter coração de homem ao ser, de novo, entronizado no poder – v. 34. A tudo isto o detalhe de – Daniel 7.4b – se refere, ou seja, à loucura do rei Nabucodonosor – que ocorreu no ano 562 a.C.Este leão, qual é a sua cor? Claro, amarela. E de que cor é o ouro? Exactamente da mesma cor. Assim como o ouro é o rei dos metais, de igual modo, o leão é o rei da selva. E quanto à águia? Um símbolo diferente, é verdade, mas também relacionado com a realeza, visto que esta ave é a rainha das aves.
2- O urso – v. 5
Quais são as características que este animal apresenta? Vejamos algumas: 1ª- este animal apresenta-se mais alto de um lado do que no outro. Isto é deveras significativo, pois desde já mostra que se compõe de duas partes – uma alta e outra mais baixa. Este detalhe está totalmente ausente em Daniel 2, apesar de apontar para a mesma realidade – o domínio Medo/Persa. Em cada capítulo encontramos algo a adicionar à estrutura de base – o esqueleto profético; 2ª- apresenta-se, este animal, com 3 costelas na boca, o que significam as conquistas deste poder – Babilónia, Lídia e Egipto.
3- O leopardo – v. 6
Que características é que este animal apresenta? Como os que o antecederam ele tem algo que o caracteriza: 1º- tem também 4 asas de ave. Estas, por sua vez, representam velocidade. Assim, se 2 asas já imprimem velocidade, quanto mais 4! Isto quer dizer que este reino – o de Alexandre Magno - estabeleceu-se muito rapidamente, tal como a História o confirma; 2º- apresenta também 4 cabeças. Uma cabeça significa liderança, governo. Quando dizemos que Cristo é a cabeça da Igreja, estamos a dizer que Ele a governa. Se este animal tem 4 cabeças, quer dizer que estamos em presença de 4 generais, pelos quais foi dividido todo o Império de Alexandre: 1- Cassandro – ficou com a Macedónia e a Grécia; 2- Lisímaco – tomou a Trácia e grande parte da Ásia Menor; 3- Ptolomeu – ficou com o Egipto, a Cirenaica e a Palestina; 4- Seleuco – o resto da Ásia ( ou seja, a Síria e as terras conquistadas a Leste).
4- O dragão – v. 7
Agora, em cena, apresenta-se um animal estranho que apresenta também certas características: 1- é de tal forma estranho que não foi possível encontrar na fauna um animal que definisse este poder. Na verdade o que representa não é estranho, em si mesmo, pois não é mais do que o representante do 4º poder da estátua de Daniel 2 – Roma Imperial. O que estamos a falar é em relação à sua continuidade, o que, para os historiadores, representa um verdadeiro enigma o poder que lhe está associado; 2- este dragão tem “dentes grandes de ferro e unhas de metal” – v. 7,19. Porque é que este detalhe é importante? Porque sabemos que as pernas da estátua eram de ferro. Ora
se este animal apresenta estas particularidades é porque estamos na presença do mesmo poder representado em Daniel 2 – Roma Imperial. 3- saem da cabeça deste dragão 10 chifres – v.7b. Como estes saem da cabeça do dragão, quer dizer que estes são a continuação do poder anterior. Os chifres, como se compreenderá, não podem governar sem a cabeça – Roma. Isto dito por outras palavras, este dragão – Roma – irá dividir-se em 10 diferentes reinos, mas não irá desaparecer.
Em Daniel 2, como vimos, existe a referência ao – barro de oleiro. Mas, qual é o equivalente, aqui em Daniel 7, a este – barro de oleiro? Na verdade, é a referência a este chifre pequeno – v. 8 – que, por sua vez, é diferente dos demais – v. 24. Será, efectivamente, o barro, diferente de todos os metais? Claro que sim. Aqui é apresentado um chifre totalmente diferente dos outros restantes, já existentes. Este, por sua vez, não só governa sobre todos os outros 10 chifres políticos, como também as suas actividades são “diferentes”, pois são também religiosas – o que o torna único no seio dos restantes! 4- Segundo o texto bíblico, este poder “falará grandiosamente (blasfémias) contra o Altíssimo”; “destruirá os santos do Altíssimo”; “pensará mudar a Lei”; como também governará ao longo de um período profético de “um tempo, e tempos e metade de um tempo – v. 25. Este período profético, corresponde a 1.260 dias/anos, e que se estendeu do ano 538 a 1798, data em que este poder religioso opressor foi ferido mortalmente pelos exércitos de Napoleão.
O que podemos observar à luz do quanto pudemos aflorar até aqui? Nada mais do que a mistura da religião com o Estado, a amálgama do religioso com o político. Muitos não viram em Daniel 2 o indício desta união, pela simples razão que não examinaram, cuidadosamente, os detalhes que se iam sucedendo, como por exemplo, a referência ao barro, não a um barro qualquer, mas – o de oleiro – que representa a Criação do ser humano, que representa, por sua vez – o corpo de Cristo, a Sua Igreja. O ferro, a política – Roma Imperial – é, tal como a estátua o descreve, anterior ao barro de oleiro, não paralelo a este. O poder que mistura a política com o Estado, curiosamente, também se chama Roma Não será a Igreja Católica Apostólica Romana uma continuação de Roma? O seu nome deriva de Roma; como também “a Igreja Católica assegurou a sobrevivência do latim” permanecendo esta como língua oficial até aos dias de hoje. Este poder irá dominar todo o mundo, a exemplo do passado. Até quando? Estender-se-á até à 2ª vinda de Cristo. Como sabemos isto? Por duas razões: 1ª- porque o texto do Apocalipse o diz: - “(…) e a sua chaga mortal foi curada e toda a terra se maravilhou após a besta” – Apocalipse 13.3 – (sublinhado nosso) – será de âmbito mundial. 2ª- porque, claramente, o texto de Daniel o diz: - “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu levantará um reino (…) e será estabelecido para sempre) – Daniel 2.44. Quando o bispo de Roma é convidado a visitar um país, fá-lo em que qualidade? De sacerdote, de alto clero, ou de chefe de Estado? Como separar ambas as funções? Exactamente devido a esta impossibilidade, é que as visitas papais, são muito contestadas por certos sectores da sociedade, porque os Estados estão a viver uma crise sem precedentes; cortam auxílios a muitos sectores da sociedade, são reduzidos ou anulados certos direitos sociais, já adquiridos, em nome desta crise, mas para receber esta entidade politico-religiosa, saíram do erário público milhões de Euros para custear a visita de um chefe de uma Igreja!
4- O chifre pequeno e o barro de oleiro
O chifre pequeno profere blasfémias contra o Altíssimo, pensa em mudar os tempos e a lei, persegue e destrói os santos do Altíssimo – Daniel 7.25 – assim como lança a verdade por terra e prosperará – Daniel 8.12. Se olharmos, ainda que brevemente, para o período da Idade Média, para as atrocidades infligidas aos mártires cristãos de todas as eras, podemos ouvir o grito na direcção de Deus tal como o encontramos no último livro da Palavra de Deus: - (v.10)- “(…). Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra. (11)- E foram dadas a cada um compridas vestes brancas, e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram” – Apocalipse 6. Será que seria justo, por exemplo, o que este poder fez, imagine-se, em nome de Deus, a nomes como João Huss, reformador anterior a Martinho Lutero, que pregou a salvação através de Cristo; um homem piedoso e santo de Deus, que o prenderam, julgaram e condenaram às chamas? Claro que não.
Abramos aqui um breve parêntesis para podermos ver como procedeu a Santa Madre Igreja para com aqueles filhos que ousaram levantar a sua voz contra as doutrinas erróneas por si pregadas ao povo. O relato de todo o processo que levou ao suplício da fogueira este grande homem de Deus é tão pungente que queremos partilhá-lo com o leitor: - “Eis o relato do processo de João Huss feito a 16 de Julho de 1415, 10 dias depois da sua morte pela fogueira; deste irredutível precursor, de que saiu a Reforma de Lutero:142 - “Não se tendo verificado a retractação, o bispo de Concórdia pôs de lado a primeira fórmula e mandou ler a segunda: - Ó santo concílio, verificando que João Huss é obstinado e incorrigível e se recusa a reentrar no seio da Igreja e a abjurar os seus erros, decreta que o culpado seja deposto e degredado; encarrega o arcebispo de Milão de proceder a essa degradação na presença da assembleia, e, como a Igreja não pode fazer mais nada com Huss, entrega-o ao braço secular”. Huss tinha escutado de joelhos a leitura da sentença; quando terminou, fez em voz alta esta oração pelos seus inimigos: .
Esta cena excitou, segundo a narrativa de Pedro de Mladenowiez, a indignação e o riso de diversos eclesiásticos de elevada posição, ainda que a indignação e o riso não caminhem juntos. (…). Entretanto, por ordem de sete bispos designados, revestiram-no dos paramentos sacerdotais, como se ele fosse celebrar missa. Quando lhe passaram a alva, disse: . Terminados todos os preparativos, os bispos exortaram-no ainda uma vez mais a retratar-se e a abjurar. Então, ele endireitou-se e pronunciou estas palavras, chorando: . Certos bispos que o cercavam e alguns outros membros do concílio disseram então: Depois começou a degradação: os bispos tiraram-lhe, em primeiro lugar, o cálice das mãos, dizendo: . Huss respondeu em voz alta: . Continuaram a retirar-lhe assim todos os ornamentos, proferindo de cada vez novas imprecações, às quais respondia sempre dizendo que era por amor de Cristo que suportava humildemente esses ultrajes. Por fim, os bispos acharam por bem que deviam fazer-lhe desaparecer a tonsura. Enquanto discutiam sobre o modo de o fazer, querendo uns rapar-lhe toda a cabeça, outros deformar simplesmente a tonsura com uma tesoura, ele clamou para o rei Segismundo: Por fim deformou-se-lhe a tonsura com uma tesoura, à direita, à esquerda, para cima e para baixo, pronunciando estas palavras: .
Depois puseram-lhe uma mitra de papel, dizendo: . respondeu ele, juntando as mãos e levantando os olhos ao Céu, . Referindo-se então a essa coroa de papel, continuou: . A coroa era redonda e de quase dois pés de altura; tinha desenhadas as figuras de três demónios hediondos, apoderando-se de uma alma com as garras, e levava esta inscrição: Hic est haeresiarcha.
Quando ele saiu da Igreja, estavam a queimar as suas obras na praça. Esta cerimónia fê-lo rir; clamou ao povo que iria morrer inocente e que os seus erros lhe tinham sido falsamente atribuídos pelos seus inimigos mortais. Entretanto iniciou-se a marcha; dois guardas do conde palatino marchavam, um à direita e outro à esquerda do prisioneiro, que avançava livre e sem algemas, precedido e seguido de dois sargentos de Constança; todo o cortejo compreendia mais de três mil soldados e uma multidão inumerável. Durante o trajecto, João Huss exclamou frequentemente: ; quando chegaram ao lugar do suplício, e ele avistou a madeira, a palha e o fogo, caiu três vezes de joelhos, soltando esta exclamação: . Perguntaram-lhe então se ele queria confessar-se, ao que ele respondeu afirmativamente, pedindo que se afastassem, deixando mais espaço. Quando se alargou um pouco o círculo à volta dele, Ulrico de Reichenthal foi encarregado de tornar a perguntar se ele queria confessar-se. (…) Huss respodeu: . Tendo-lhe, porém, o sacerdote pedido a retractação dos seus erros da confissão, sob pena de não lhe dar a absolvição, Huss respondeu que não tinha necessidade de se confessar, pois não tinha cometido pecado mortal. (…). Huss foi amarrado a um poste vertical com uma cadeia ao pescoço; os pés assentavam sobre um escabelo e desapareciam no meio da madeira e da palha que lhe amontoaram até ao queixo. O marechal do Império, Papenheim, e o conde palatino exortaram-no pela última vez a retractar-se e a salvar a vida; ouvindo-o renovar os seus protestos de inocência, o conde Luís deu o sinal para se acender a fogueira. A fim de se abreviar o mais possível esta trágica cena, tinha-se derramado resina sobre a fogueira. Segundo Reichenthal, . Pedro de Mladenowiez relata, pelo contrário, que no meio das chamas ele cantava: e que no momento em que ia a repeti-lo pela terceira vez a asfixia o impediu. (…). Depois de tudo terminado, deitaram-se ao Reno as cinzas e os restos dos ossos para impedir os Boémios de fazerem deles relíquias”.
Deus permite que este poder mexa na Sua santa Lei. Como reagiríamos a tal provocação se fôssemos Deus. Num estalar de dedos e este poder deixaria de existir! Este não é o método de Deus. Deus permite que o mal prospere; Deus dá corda a Satanás para que, finalmente, esta sirva para o aniquilar. O chifre pequeno continua na sua actividade, sempre em crescendo, até que, de repente Deus manifesta-se para pôr um ponto final na actividade deste poder. Em Daniel 7 encontramos algo que acontece no Céu.
No texto do capítulo 2 do profeta Daniel, de onde vem a pedra? Do Céu. Aqui, em Daniel 7 vê-se uma cena interessante – Cristo vindo sobre as nuvens do Céu – não para a Terra, mas na direcção de Deus, o Pai – v. 13. E como se chama esta cena aqui descrita? Claro, o Juízo Investigativo. Agora Cristo irá investigar os casos de cada nação e, em especial, o chifre pequeno, ou seja, ajustar, finalmente, todas as contas pendentes – fazer justiça. Poderia Deus ter destruído o chifre pequeno sem nenhum juízo? A resposta é afirmativa. Pois Deus tinha e tem todo o poder, todo o direito para o fazer. Mas, se tal acontecesse, o que pensaríamos a Seu respeito? Que pensaríamos de um juiz que se sentasse num tribunal, tendo diante de si um transgressor da Lei e, de seguida tomasse a palavra e dissesse à audiência que não era necessário nenhum juízo e que o declarava culpado e, nesta qualidade, o sentenciava à morte?
Que diriam todos aqueles que, eventualmente, ali estivessem naquele preciso momento? Certamente que, muito respeitosamente, chamariam o juiz à atenção para que o julgamento fosse precedido de um inquérito e posterior juízo. Na verdade, Deus não precisa de um juízo, pois Ele conhece todas as coisas, mas sim nós, para que possamos certificar-nos da justiça absoluta de Deus. No entanto, por enquanto, o chifre pequeno prospera e tudo vai bem. Em função desta situação, muitos dirão que, se prospera, afinal, é porque o que faz está bem. Jesus, antes de castigar este chifre pequeno e todas as nações, Deus abre os livros perante todo o Universo para lhes mostrar a trajectória deste poder para ver se precisa de ser castigado ou não. Então, Deus revela toda a história negra e oculta deste chifre pequeno. E, quando isto acontecer, então pronunciar-se-á a respectiva sentença contra o chifre pequeno.
Aqui, em Daniel 7, temos a figura do filho do Homem que vem sobre as nuvens, a qual significa que o juízo irá processar-se. Esta imagem é a que corresponde ao que representa a – pedra – em Daniel 2.34. É dito, de seguida, que foi dado a Cristo “o domínio, a honra e o reino (…)” – Daniel 7.14 – assim como também ao Seu povo “o reino, o domínio e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dadas ao povo dos santos do Altíssimo (…)” – v. 27. Isto quer dizer que temos, de uma forma implícita, em Daniel 7, a alusão à 2ª vinda de Cristo, quando os filhos de Deus recebem o reino. De novo aqui encontramos a mesma sequência de Daniel 2. Em relação ao que interpreta a profecia, o que é que este encontra neste capítulo 7 do profeta Daniel? Quanto a nós, nada mais do que uma visão historicista da mesma. O capítulo 7 de Daniel começa com Babilónia, nos dias do profeta; depois, termina no grande acontecimento que é, indubitavelmente, a 2ª vinda de Cristo. Entre o princípio e o fim, nada mais do que a sequência temporal entre ambos. A vantagem do historicismo é, como aqui claramente se constata, é que podemos ver o princípio do tempo profético e, através da sucessão dos factos históricos, perceber onde estamos em relação à profecia e ao seu efectivo cumprimento. Este capítulo atarda-se não só sobre o que significará este animal estranho, mas também e acima de tudo, acerca da sua não menos estranha actividade contra Deus e o Seu povo.

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