Em visão da realidade do dia vindouro do julgamento e da destruição dos ímpios, tão certo como aquele que veio ao mudo antediluviano e sobre Sodoma e Gomorra, Pedro veementemente convoca aos cristãos a viverem santa e piedosamente “sem mácula e irrepreensíveis” (2Ped. 3:7,10-11,14). Ele resume a sua epístola em seu apelo sempre desafiador: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2Ped. 3:18; ver também 1Ped. 2:2).
Crescimento significa progresso. Mas como pode o crescimento ser cultivado pelos crentes, se isso é basicamente um dom de Deus (1Cor. 3:7)? A resposta é apresentada em 2Ped. 1:3-8, onde o apóstolo desenvolve sua notável escada da perfeição, na qual cada cristão precisa avançar constantemente, a fim de ser um cristão vivo (v. 8), preparado para o Reino eterno de Cristo (v. 11).
Pedro acha a sua escada de santificação no reconhecimento de que de Deus, “pelo Seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude…” (v. 3). Em outras palavras, no reconhecimento de que toda a vida de fé e bondade é um dom do poder e graça divinas. Este poder e graça Deus nos comunica através das “Suas preciosas e mui grandes promessas” (v. 4) como transmitidas pelos profetas de Israel nas Santas Escrituras do Antigo Testamento e confirmadas por Jesus Cristo (v. 19; João 5:39).
O propósito salvador e santificador das promessas do concerto gracioso de Deus é “para que por elas possais escapar da corrupção das paixões que há no mundo e vos torneis co-participantes da natureza divina” (v. 4), uma forte expressão para a perfeição do carácter cristão. Desde que o carácter é formado pelos actos do homem, o homem é chamado a participar ativa e sinceramente na apropriação pessoal da prometida graça, colocando em operação os poderes das promessas do concerto. Isto fará sua fé em Deus e em Cristo moralmente efetiva e frutífera, desde que Deus é santo, justo, misericordioso e fiel.
Sob este fundamento redentor, Pedro exorta a todos os cristãos a prosseguir da fé à virtude, ao conhecimento, ao domínio próprio, à perseverança, à piedade, à fraternidade e ao amor – todos virtudes e atributos divinos. “Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2Ped. 1:5-8).
O teor da enumeração desta série de virtudes não se propõe a sugerir uma síntese de virtudes desconexas que possam ser atingidas somente uma após outra. Sua intenção é antes um chamado a cultivar e desenvolver plenamente a graça e o conhecimento de Cristo como Salvador em um caráter cristão maduro (compare com Gál. 55:22-23). Contudo, o perigo de começar a confiar no poder do homem e de perder de vista a Jesus ameaçará sempre o progresso cristão. Pedro, portanto, termina sua carta significativamente com o enfático conselho para crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Ped. 3:18). Assim, Pedro está lembrando o conselho do Senhor no Antigo Testamento: “O que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” (Jer. 9:24).
O apóstolo Pedro, portanto, não está estimulando qualquer adição de virtude a virtude em uma disciplina de auto-cultura ou auto-ajuda, mas ele está chamando aos cristãos a seguir os passos de Jesus Cristo como o seu grande Exemplo de caráter (1Ped. 2:21). Em comunhão com Cristo, eles podem e de fato, alcançarão vitória sobre cada pecado e atingirão nesta vida o padrão da perfeição do caráter cristão. Se as virtudes da fé estão faltando em um cristão, Pedro diz, então o crente está ainda cego e míope, tendo perdido a visão da “purificação dos seus pecados de outrora” no batismo (v. 9); sim, até esquecido o propósito do chamado e eleição celestiais. “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2Ped. 1:10-11).
Contemplando estas palavras, Ellen G. White confiantemente, exclama: “Preciosa segurança! Gloriosa é a esperança oferecida ao crente, quando ele avança pela fé em direção às alturas da perfeição cristã!” (Atos dos Apóstolos, p. 33).
Cada cristão é colocado sob o santo privilégio e obrigação da graça de Deus de lutar por santidade, participar da natureza divina e revelar na concreta realidade de sua vida social um constante crescimento na graça e conhecimento de Cristo. Este amadurecimento do caráter cristão na semelhança de Deus é perfeição cristã em ação. Assim, o cristão pode participar na alegria e beleza da santidade, preparando-se a si mesmo para “novos céus e uma nova terra, nos quais habita justiça” (2Ped. 3:13). “A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.” (v. 18).
Dr. Hans K. LaRondelle, A Ideia Bíblica de Perfeição, Tradução:Pr. Roberto Biagini
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