Se você perguntar às pessoas na rua quais são os Dez Mandamentos da Santa Lei de Deus, é provável que a maioria responda que não se lembra. Alguns conseguirão citar este ou aquele mandamento. Poucos saberão dizer um por um dos mandamentos e, mesmo assim, é quase certo que a resposta apresente notável diferença em relação aos preceitos expostos na Bíblia. Confira você mesmo:
Os Dez mandamentos que parcela da população professa conhecer não são exatamente os preceitos que constam nas Escrituras Sagradas. As Escrituras ordenam a santificação do Sábado e não do primeiro dia da semana. Teria alguém ousado efetuar alguma mudança? Parece que sim e o surpreendente é que já havia uma profecia bíblica alertando sobre um possível ataque à lei divina: "Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos por um tempo, dois tempos e metade dum tempo." Daniel 7:25. Vejamos como o desenrolar dos acontecimentos conduziu ao cumprimento dessa predição.
Fixemos, em princípio, nosso olhar no primeiro século da Era Cristã. Nessa época, a veneração aos deuses greco-romanos estava em decadência e outros cultos ganhavam a simpatia do povo. A partir das guerras púnicas, muitos cultos estrangeiros foram introduzidos em Roma e admitidos com ampla tolerância, como o de Mitra, de origem persa, e o de Ísis, egípcio, além do monoteísmo hebraico. O deus Mitra estava associado ao disco solar e o seu culto se desenvolveu no seio do Império lado a lado com o Cristianismo. Nesse ponto, vale ressaltar a influência que o povo hebreu exerceu, pois seu monoteísmo era mais lógico ao espírito "iluminado" dos gregos e dos romanos do que a adoração aos antigos deuses, como Zeus, Hera e Afrodite. Assim, absorvendo certa porção do culto a um único deus, o mundo greco-romano se inclinou a prestar honras ao "Invencível deus Sol", isto é, a Mitra. Dessa forma, uma espécie de monoteísmo já se desenvolvia dentro de Roma, sem, contudo, a aceitação do Deus de Israel. E o dia especialmente dedicado às festividades em homenagem ao Sol era o primeiro dia da semana, denominado naquele tempo de "dies solis" (dia do sol).
Nessa mesma época, tendo fundado a Igreja Cristã, Jesus enviou Seus discípulos a evangelizar as
várias nações da terra. Em meio a muitas lutas e perseguições, o Cristianismo se expandia e procurava preservar sua pureza doutrinária. Mas já naqueles primitivos dias se ouviam rumores da vindoura apostasia e com grande empenho, os apóstolos buscavam advertir os cristãos acerca de um possível afastamento da verdade. Observe o alerta do apóstolo Paulo: "Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles." Atos 20:29 e 30. Escrevendo a Timóteo, assim se expressou o apóstolo dos gentios: "Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas." II Timóteo 4:3 e 4. Que Paulo estivesse antevendo uma apostasia dentro da Igreja Cristã, fica evidente de suas recomendações aos cristãos de Tessalónica: "Ninguém de nenhum modo vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus." II Tessalonicenses 2:3 e 4. Infere-se desse texto que a manifestação do poder representado pela ponta pequena de Daniel (ver segundo estudo desta série), o qual é responsável pela tentativa de mudança da Lei, e que Paulo denomina de homem da iniquidade e filho da perdição, é precedida de um afastamento da verdadeira doutrina por parte da maioria dos cristãos. Que o fermento da apostasia já pudesse ser encontrado naqueles primórdios, é notório do seguinte trecho: "Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém." II Tessalonicenses 2:7.Durante os três primeiros séculos de nossa era, o avanço das falsas doutrinas para dentro da Igreja foi lento, pois as perseguições movidas contra os cristãos por parte dos judeus e do Império Romano mantinha-os perseverantes na verdadeira fé apostólica e impedia, de certa forma, que pessoas não realmente convertidas, se misturassem com os fiéis. No entanto, mesmo sendo lento, tal avanço se fez sentir. Existe uma grande dificuldade para o espírito humano em não se moldar ao meio em que está inserido. Como os judeus eram mal vistos, devido às revoltas por eles promovidas contra o poder de Roma, e, levando em consideração que o respeito ao dia de Sábado era um sinal que distinguia a nação judaica de outras nações da terra, gradualmente muitos cristãos, convertidos dentre os gentios, foram sendo levados a ver a instituição sabática como mero costume judaico, não mais obrigatória depois da vinda de Cristo. Além disso, como quase todo o Império já pendia para uma espécie de monoteísmo (o culto a Mitra), sendo o "dies solis" o principal dia religioso e, visto ter Jesus ressuscitado nesse dia (embora não conste nas Escrituras preceito algum declarando a santidade do primeiro dia da semana), a importância do repouso sabático foi decaindo e as celebrações dominicais foram se multiplicando.
Contudo, até o governo de Constantino, o Sábado continuava sendo respeitado como o verdadeiro dia de repouso pela Igreja Cristã e isso, a despeito da crescente importância que o primeiro dia da semana (posteriormente chamado de Domingo) estava a adquirir. Isso se deduz dos seguintes testemunhos históricos, o primeiro de Hermas Sozomeno (399 A.D.-443 A.D.) e o segundo de Sócrates, o Eclesiástico (379 A.D.-440 A.D.): "O povo de Constantinopla, e de quase todas as partes, reúne-se no Sábado, bem como no primeiro dia da semana, costume que nunca se observa em Roma, nem em Alexandria." (Ecclesiastical History, livro 7, cap. 19, em Nicene and Post-Nicene Fathers, 2º série, vol. II, pág. 390). "Conquanto quase todas as igrejas do mundo celebrassem os sacramentos aos sábados, cada semana, os cristãos de Alexandria e de Roma, por causa de alguma antiga tradição, deixaram de fazer isto." (Ecclesiastical History, livro V, cap. 22 (escrito em 439 A.D.), em Nicene and Post-Nicene Fathers, 2º série, vol. II, pág. 132). Observa-se, a partir desses registros, que a igreja de Roma esteve particularmente envolvida na substituição do Sábado pelo Domingo; isso por causa de alguma antiga tradição e não devido a alguma prescrição escriturística.
Com a ascensão de Constantino, iniciou-se uma nova fase na vida da Igreja. Em 313 A.D., foi assinado o Edito de Milão, pelo qual os cristãos passariam a desfrutar de liberdade religiosa. Poucos anos depois, o Cristianismo já gozaria de status oficial. Mas, o que motivou uma mudança tão brusca no relacionamento do Império com a Igreja? Roma estava enfrentando sérios problemas. Sua economia estava declinando; todo o trabalho era realizado pelos escravos e esses eram adquiridos com a invasão de novas cidades, mas por volta dessa época, o Império já estava grande demais para se expandir e conquistar outros povos em terras longínquas era uma árdua tarefa. Além disso, as comunicações entre as várias partes do Império eram precárias, facilitando a entrada de povos inimigos, como os bárbaros germânicos. Tendo todas essas dificuldades ante seus olhos, Constantino achou por bem dar um fim à rivalidade entre cristãos (já bem numerosos nesse tempo) e pagãos. Criando unidade interna, poderia mais facilmente tentar revitalizar a economia e combater o inimigo externo.
Começou aí, de maneira mais intensa, a decadência espiritual da Igreja Cristã, tão amplamente anunciada pelo apóstolo Paulo. Os líderes da Igreja, visando aumentar sua própria influência e o número de fiéis, se associaram à política ecuménica de Constantino. O batismo de novos membros, antes tão escrupulosamente controlado, era agora ministrado a todo aquele que se candidatava. A intenção de Constantino era fundir num único corpo cristãos e pagãos, a fim de fortalecer a unidade do Império. A partir daí, milhares de pagãos, não totalmente convertidos e conservando ainda muitos de seus antigos costumes, foram ingressando na Igreja. O Mitraísmo estava a se fundir com o Cristianismo. Ora, se Jesus é a luz do mundo e o Sol da Justiça, devia ser Ele a divindade que os mitraítas discerniam vagamente. Jesus e Mitra não passavam, portanto, da mesma pessoa. Foi desse modo que elementos pagãos foram se introduzindo no seio do Cristianismo. "A ascensão do Cristianismo à condição de religião oficial tornou o Império cristão. Mas grande parte do paganismo sobreviveu clandestinamente, inclusive tomando elementos cristãos. Por sua vez, a Igreja Cristã assimilou eventos "pagãos", como o 25 de dezembro (aniversário do Sol)." (AQUINO, DENIZE e OSCAR, História das Sociedades - Das Comunidades Primitivas Às Sociedades Medievais, pág. 262). O Cristianismo absorveu não somente o 25 de dezembro como o próprio dia semanal dedicado ao culto do Sol. Em 7 de março de 321 A.D., o imperador Constantino emitiu a lei dominical mais antiga que se conhece, proibindo o trabalho no "dies solis". Tal medida visava agradar àqueles que ainda permaneciam no culto a Mitra, bem como à liderança da igreja de Roma que, diferentemente das demais comunidades cristãs, havia cessado a celebração do Sábado e defendia a plena e única adoção do primeiro dia da semana como dia de repouso. Como se vê, a mudança do Sábado para o Domingo foi gradual, fez parte de uma política de Constantino e teve grande incentivo da igreja romana. E foi o Concílio de Laodicéia (364 A.D.) que ratificou essa mudança, embora muitas comunidades ainda perseverassem na santificação da Sábado, mesmo que ao lado da guarda do Domingo.
A alteração do dia de culto não foi a única mudança efetuada na Lei de Deus. O segundo mandamento, que proíbe a adoração de imagens, também foi extirpado do Decálogo. Razão disso: porque o Cristianismo incorporou o uso que gregos e romanos faziam de imagens. A fim de que os "fiéis" não percebessem a gritante contradição entre o que se ensinava e o que se praticava, tal preceito foi omitido da Lei. Mas, retirando-se um mandamento, só restavam nove, o que criava uma dificuldade. Por isso, o décimo foi fracionado em dois para suprir a lacuna existente. Dessa maneira, o terceiro mandamento passou a ser o segundo, o quarto passou a ser o terceiro, e assim sucessivamente. E por fim, além de se mudar o dia de culto, acrescentou-se a menção às festas de guarda. Poderia nosso Senhor Jesus Cristo aprovar tal sacrilégio? Vejamos algumas declarações das Escrituras:
"Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que Eu vos mando." Deuteronómio 4:2.
"Toda palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que n´Ele confiam. Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso." Provérbios 30:5 e 6.
"Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar, e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante d´Ele." Eclesiastes 3:14.
"E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição." Marcos 7:7-9.
Mas, alguém poderia questionar; Seria o mandamento do Sábado válido para os nossos dias? Não seria isso uma ordenança destinada particularmente aos judeus? Pensemos no seguinte: e o matrimónio? Só foi dado ao povo de Israel? Não, de maneira alguma. Quando Deus criou o mundo, instituiu também o matrimónio e Jesus nada fez senão exaltar sua santidade. Ver Génesis 1:28; 2:18-25; Mateus 19:3-9. O mesmo princípio se aplica ao Sábado, pois sua origem remonta à fundação do mundo. Deve-se notar que na criação não havia judeu nem outra qualquer nacionalidade, pois Adão é o pai de toda a humanidade. O próprio Senhor Jesus testifica que "o Sábado foi estabelecido por causa do homem" (Marcos 2:27), isto é, não somente por causa do judeu, mas de todo homem. Ao terminar a obra da criação, Deus descansou no sétimo dia. Não porque estivesse cansado, o que seria ilógico (Isaías 40:28), mas no sentido de que não continuou nesse dia Sua atividade criadora. Vejamos como a Bíblia descreve a instituição do repouso sabático: "E havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera." Génesis 2:2 e 3. A palavra santificar significa separar para um fim sagrado e indica, portanto, que a partir da criação o sétimo dia da semana seria especialmente consagrado a Deus pela cessação das atividades corriqueiras.
Quão bom seria se todos discernissem a santidade do dia do Senhor! Quão bom seria se todos seguissem o exemplo de Jesus! O Mestre pregava o Evangelho todos os dias, mas fazia algo realmente especial no sétimo. "Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num Sábado, na sinagoga, segundo o Seu costume, e levantou-Se para ler." Lucas 4:16. O mesmo respeito pelo dia de Deus demonstraram Maria, mãe de Jesus, e outras piedosas mulheres: "Era o dia da preparação e começava o Sábado. As mulheres que tinham vindo da Galileia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E no Sábado descansaram, segundo o mandamento." Lucas 23:54-56. Paulo também guardava o preceito sabático: "Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num Sábado à sinagoga, assentaram-se." "Ao saírem eles, rogaram-lhes que no Sábado seguinte lhes falassem estas mesmas palavras." "No Sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus." "Quando foi Sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido." "Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los, e por três sábados arrazoou com eles, acerca das Escrituras." "E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus, como gregos." Atos 13:14, 42 e 44; 16:13; 17:2; 18:4. Essas passagens evidenciam a vigência do Sábado em o Novo Testamento e constituem um apelo aos nossos corações a fim de que não deixemos de lhe reconhecer a santidade. Por que não atender ao apelo divino? Ouça o convite de Deus através das palavras inspiradas do profeta Isaías: "Se desviares o teu pé de profanar o Sábado, e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia, mas se chamares ao Sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:13 e 14. Que Deus possa ajudá-lo a tomar essa decisão. Saiba: será uma demonstração de amor a Jesus, pois d´Ele são as palavras: "Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos." João 14:15. Que Deus o abençoe ricamente! Amém!
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