De todos os escritos do Novo Testamento, a epístola aos Hebreus mais explicitamente faz da perfeição o seu tema, apontando constantemente ao Cristo glorificado como o único Mediador da graça perdoadora e poder santificador. Perfeição cristã constitui a idéia unificadora central de toda carta. Isto significa que o ministério sumo-sacerdotal de Cristo no templo celestial “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” (Heb. 7:25).
Desde o começo, o autor tenta provar, com base no Antigo Testamento, que o ministério de Jesus Cristo como o Rei Sacerdote Messiânico é de uma qualidade e eficácia superior ao sacerdócio levítico. Seu argumento se centraliza na mediação da perfeição: “Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico … que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?” (Heb. 7:11).
Ele apela repetidamente à significante promessa de Sal. 110:4 (Heb. 5:5-6; 7:17,21), que implicava a ab-rogação do sacerdócio levítico. Acentuando o fato inegável da ineficácia de muitos sacrifícios de culto para afirmar que estes “no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto” (Heb. 9:9), o autor exalta o todo-suficiente sacrifício de Cristo, feito uma vez por todas, e Sua mediação, que pode aperfeiçoar ou purificar as consciências acusadoras dos crentes (Heb. 9:14).
O autor não queria dizer que o primeiro concerto não conhecia a realidade desta experiência expiatória no coração, mas somente que sacrifícios de animais em si não podem remover pecados (Heb. 10:1,4). Os sacrifícios do culto e sacerdotes do Antigo Testamento, como tais, nunca poderiam aperfeiçoar ou purificar o coração humano do poder contaminador do pecado.
Mas Cristo por Sua única oferta “aperfeiçoou (tem aperfeiçoado) para sempre a quantos estão sendo santificados” (Heb. 10:14). Pelo tempo verbal perfeito (“tem aperfeiçoado”), o autor deseja mostrar a eficácia sempre permanente da única oferta de Cristo de Seu corpo, única e uma vez por todas. Isto estabelece a superioridade, a mais poderosa eficácia do novo concerto (Heb. 7:22). Na base do sacrifício de Cristo, todo adorador pode obter diariamente uma consciência limpa ou perfeita, isto é, uma consciência que tem um perfeito relacionamento com Deus, sendo purificada da culpa e do poder contaminador de pecado não perdoado.
Tal reconciliação torna todos os outros sacrifícios supérfluos (Heb. 10:18), desde que a alma possa achar o repouso da graça, aproximando-se de Jesus com confiança. De Seu trono de graça é dada misericórdia e graça “para ajudar em tempo de necessidade” (Heb. 4:16) a fim de que os cristãos possam render pleno e aceitável serviço a Deus e a seus semelhantes. Contudo, a perfeição final será experimentada somente quando os santos virem o Senhor em Sua glória. Portanto, a expectação do julgamento e aparecimento de Cristo (Heb. 9:28) intensificam a ordem para perseverar no caminho da santificação. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Heb. 12:14).
Caminhando como peregrinos a uma pátria melhor, os fiéis e perfeitos não serão “duros de ouvidos” ou “tardios”, mas permanecerão receptivos e atentos, crescendo continuamente em conhecimento religioso e teológico, e distinguindo o bem do mal pela vida diária (Heb. 5:11-14; 6:11,12).
Dr. Hans K. LaRondelle, A Idéia Bíblica de Perfeição. Tradução: Pr. Roberto Biagini.
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