Introdução: Uma parte do meu serviço militar foi cumprido em Cabo Verde, na Ilha do Sal. Já no final da missão, fiquei muito doente, com febre reumática. Perdi muitos quilos e quase não tinha força para respirar. Fui internado no hospital militar, e algumas vezes ouvi o médico dizer:
– Creio que ele já está morto!
Um dos enfermeiros aproximava-se da minha boca e respondia:
– Ainda respira!
E iam embora.
Nesta altura a minha relação com Deus restabeleceu-se definitivamente. Eu tinha cortado relações com o Senhor entre os 16 e 17 anos. Eu tinha um irmão muito mais novo do que eu. Era um menino muito carinhoso. Uma Sexta-feira, e como todas as sextas-feiras, ele ia visitar o avô que morava perto da Escola, pois estava de cama em consequência de uma trombose.
Toda a gente procurava o meu irmão, mas fui eu que o encontrei, morto, no fundo dum poço. Fiquei tão revoltado, que virei as costas a Deus.
Agora estava em África, muito doente, e quando ouvia aquelas palavras, pensava:
“Será, Senhor, que me vais deixar cair no poço, da mesma maneira que caiu o meu irmão? Vais deixar-me cair no poço da morte, Senhor?”
Era muito difícil a vida para mim. Eu era jovem. Sentia no meu coração o desejo de viver. Mas a morte estava tão perto! Até que um dia, pensei em escrever uma carta para aquela igreja Adventista na Figueira da Foz, que eu frequentei algumas vezes. E o que eu pedia na carta era que alguém me escrevesse e falasse de Deus. Esta carta foi lida em público.
Naquela igreja havia uma jovem de muito bom coração, que disse à pessoa que leu a carta:
– Se ele me escrever, eu falar-lhe-ei de Jesus.
E eu escrevi. Quase não podia mover os meus dedos, mas mesmo assim, consegui exprimir o meu desejo de conhecer melhor o Deus do Céu. A única coisa que me recordo é que a primeira coisa que ela escreveu foi “que eu devia confiar e deixar-me cair na graça de Deus”.
E eu li e reli.
– Deixar-me cair na graça de Deus. Mas como posso deixar-me cair na graça de Deus?
Havia um jovem militar, que na vida profissional, era bailarino. Se bem me recordo, o seu nome era Fernando Mateus. Ele ia muitas vezes visitar-me. Tinha um gira-discos e dançava ao som dessas maravilhosas músicas clássicas. Um dia perguntei-lhe:
– Fernando, que pode significar deixar-se cair na graça de Deus?
Ele não era muito religioso. Mas vivia num meio artístico. E explicou-me que saber deixar-se cair é a coisa mais difícil. Os trapezistas, por exemplo, têm de aprender a cair. Por baixo deles está uma rede esticada e quando eles não conseguem apanhar o trapézio, caem, mas se ficarem com o corpo muito hirto podem magoar-se, então, ele dizia:
– É preciso que a pessoa se consciencialize de que há uma rede que está por baixo. A partir desse momento o trapezista concentra-se unicamente no trapézio que vem na sua direcção e não na queda.
Voltei a ler aquela carta e pensei: “Senhor, perdoa-me! Eu confio que Tu não és o causador do mal. Eu sei, Senhor, que tu és uma rede pronta a suportar e a segurar-me.”
E isso foi uma coisa maravilhosa, encheu-me de confiança. E cada carta que eu recebia, ensinava-me a confiar, mais e mais.
A verdade é que a partir dali apoderou-se de mim uma confiança misteriosa e boa. E já não estava tão preocupado com a doença mas em olhar para Jesus. Isto foi há muitos anos.
Quero dizer que aprender a cair na graça de Deus é uma arte que se vai aprendendo, caindo e levantando-se com Ele. Mas quanto mais olhamos para Jesus menos caímos. Ele torna-Se uma rede de confiança, e vamos caindo cada vez menos. Ao cair nos braços de Jesus descubro o Seu amor e a Sua fidelidade.
Vamos ler um dos meus textos preferidos: “O Senhor sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos.” Salmo145:14
Quem ler esta passagem com um dicionário da língua hebraica, diz que a palavra sustenta é um verbo, o verbo suster. E é o verbo que melhor explica a natureza de Deus. Ele é o Senhor que sustém. Ele é quem dá apoio aos que caem no caminho da vida.
Mas o texto bíblico vai mais longe e afirma que é Ele que levanta os que estão abatidos, prostrados. É a imagem de uma cana curvada ao calor do sol ou sob a pressão do vento.
Caímos por causa do que fazemos na vida. Ficamos prostrados por causa do que a vida e o Diabo nos fazem. Caímos ou somos lançados por terra. Em qualquer dos casos o Senhor está lá para nos ajudar com um amor que não pensávamos ser possível.
David, que escreveu o Salmo 145, fala-nos da sua própria experiência. Da sua angústia em consequência do seu pecado, das suas quedas, dos seus ziguezagues. E tudo o que ele escreveu era o resultado da sua compreensão da necessidade que tinha da graça de Deus para ele e para os outros. David adorava o Criador pela sua majestade, grandeza, bondade, porque ele sustém os que vacilam.
Graça e fé
Lembro-me duma pequena história de um náufrago, nas ilhas dos mares do Pacífico, que depois de ter chegado a terra firme, sentou-se e fixou-se nos seus rastos marcados na areia da praia. Ficou impressionado porque estava convencido que tinha ido em linha recta depois de ter saído da água mas, de facto, as suas pegadas estavam em Z marcadas na areia da praia. Então pensou: “Assim tem sido a minha vida, caminhar em ziguezague.”
Entrou na floresta, apanhou alguns frutos e depois de ter comido, voltou para o mesmo sítio. Olhou a praia em busca das suas pegadas, mas não as encontrou em lado nenhum. A maré tinha subido e apagado as suas pegadas.
É precisamente o que Jesus Cristo faz da nossa vida passada... e caímos nos Seus braços bem abertos. Ele promete: “Desfiz as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem. Torna-te para mim, pois eu te remi.” Isaías 44:22
O seu sangue precioso, vertido sobre a cruz do Calvário, lava a nossa vida de todo o pecado e apaga todos os vestígios da transgressão. O que Jesus fez na cruz do Calvário dá-nos verdadeira confiança para olharmos para Ele.
Realmente no estado tão lamentável em que nos encontramos, que podemos fazer? A Palavra responde por nós: “Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós, é dom de Deus – não das obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8, 9
Dois elementos muito importantes estão subjacentes nesta passagem: a graça e a fé. Estes dois elementos são fundamentais para a nossa salvação.
A graça é conhecida como um “favor que não se merece”. Poderíamos dizer, por outras palavras, que a graça é o amor em acção. Torna-se evidente que se ela fosse merecida, ou uma conquista, não se trataria de um favor, mas de uma recompensa ou uma retribuição.
Para dizer que a graça de Deus e a salvação são dons, ofertas da parte do Céu a cada ser humano, há um provérbio que diz: “O inferno rouba, a terra retribui, só o céu dá.”
Ilustração: Conta-se a história de uma dama da nobreza inglesa que um dia fez qualquer coisa de muito grave, que colocava em cheque o carácter da Rainha Elizabete de Inglaterra. Esta dama foi chamada à presença da rainha que compadecendo-se desta mulher decidiu agraciá-la com o perdão. O que ela tinha feito era passível de morte. A rainha disse-lhe, no entanto:
– Não volte a cometer o mesmo erro!
A dama respondeu, perante tal ordem:
– Majestade, o que me estais a conceder não é uma graça, porque exigis que vos seja fiel. O que me concedeis é um acto de bondade, mas não uma graça.
– Então, perdoo-vos sem condição – respondeu a rainha.
– Majestade – disse a culpada com uma grande reverência – eis uma graça digna de uma rainha. Estou profundamente reconhecida e ser-vos-ei fiel.
A graça é sempre qualquer coisa que é concedida por um superior a um subordinado. É a parte de Deus na salvação do homem.
A fé é atitude de quem se eleva para o Alto. O subordinado que olha para o seu superior. É a parte do homem na sua redenção.
A fé é frequentemente colocada ao mesmo nível da crença. E, efectivamente, as duas palavras, crença e fé, têm origem na mesma palavra grega. A fé do cristão não significa a crença num conjunto de dogmas. Mas significa, essencialmente, uma disposição do espírito e do coração a olhar para Jesus Cristo.
A fé não crê em qualquer coisa que agrade. A fé não aceita qualquer coisa em que queiram que creiamos. A fé crê numa pessoa, e essa Pessoa é Jesus, o único que morreu para nos salvar. Ele é a causa e o fim da fé cristã. É Ele que nos leva ao encontro do Pai e do Espírito Santo. Mais ninguém.
“E em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Actos 4:12
Quando a graça de Deus é vista por nós, no sacrifício de Jesus Cristo, o dom da salvação é-nos comunicado com certeza pelo Espírito Santo, que inicia uma obra de cura interior, de rejuvenescimento. E a salvação passa a ser o maior desejo da nossa vida.
Eu tenho visto tantas pessoas que ao viverem esta experiência se tornam pessoas mais novas, mais alegres, mais felizes, porque sentem a presença de Deus, a graça salvadora.
Mas a graça e a salvação, e é importante saber isto, não nos são concedidas para continuar a pecar! O pecado e a graça estão em posições tão opostas como o estão o Pólo Norte e o Pólo Sul.
Os problemas com que muitas igrejas cristãs se confrontam hoje, relacionam-se com um “ensinamento” de que quando uma pessoa está sob a graça, não precisa da Lei de Deus.
Será que a Graça de Deus anula a Lei?
Ilustração: Imaginem o seguinte cenário. Todos ouviram falar daquele jovem que matou e violou uma menina nos Açores. Parece que esse jovem tinha antecedentes de delinquência, e já tinha estado preso, mas tinha recebido uma amnistia por bom comportamento.
Quando a polícia o apanhou e o prendeu, ele tirou do bolso um documento e mostrou-o à polícia:
– Vocês não me podem prender. Leiam o que diz aqui.
O polícia leu e dizia: “o portador deste documento foi amnistiado por graça do Sr. Presidente da República”.
– Está a ver? Largue-me, eu não estou debaixo da lei. Eu estou debaixo da graça do Senhor Presidente.
O que é que acham que o polícia respondeu? Creio que não é difícil de imaginar a resposta.
– Você não está debaixo da graça. Você está sob ordem de prisão. Siga-me!
É verdade ou não?
Há muitas igrejas que ensinam que quando uma pessoa está sob a graça está salva e salva para sempre. Lutam contra a Lei de Deus, e dizem que ela não tem valor. Afirmam que Jesus a aboliu na cruz do Calvário e agora cada um pode fazer o que quer. Alguns citam até textos da Bíblia para provar tal coisa. Gritam a plenos pulmões: A Lei foi abolida. Eles tornam a graça em desgraça.
Sabem qual é o texto de que todas as religiões se servem para dizer que a Lei que Ele escreveu com o Seu próprio dedo foi abolida?
“Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” Romanos 6:14
Não há dúvida de que é um lindo texto! Pergunto: aquele jovem criminoso dos Açores, enquanto não fazia mal, estava debaixo da lei ou debaixo da graça?
Ele estava debaixo da graça. Mas no dia em que ele matou e violou uma menina que já era um cadáver, ele tornou-se um transgressor da lei e por isso ficou debaixo da lei. Levou ordem de prisão, e foi preso com pena de 25 anos. Pena máxima.
Sabem o que é que quer dizer este versículo? Ele proclama a vitória sobre o pecado e a supressão da condenação para todo aquele que está debaixo da graça de Jesus Cristo.
Devemos lembrar-nos o que é o pecado.
“Todo aquele que comete pecado, transgride a lei, pois o pecado é a transgressão da lei.” I João 3:4
Aquele jovem foi amnistiado dum crime que tinha cometido. Se ele não voltasse a transgredir, ele podia viver livre, viver sob a jurisdição da lei que o protegia. Mas a partir do momento que ele transgredisse, colocava-se debaixo da condenação da lei. Infelizmente foi o que ele fez.
A função da lei.
A Lei de Deus não salva ninguém. Nunca foi essa a intenção de Deus. Se o fosse não seria necessário que Jesus tivesse vindo morrer na Cruz do Calvário. Já tínhamos a Lei, ponto final. A Lei de Deus é como um detector de pecados.
Não sei se alguma vez já viajaram para outros países, de avião. Se o fizeram tiveram que passar por uma passagem que detecta se levam metais, armas.
Se não viajaram, já entraram em lojas que têm à saída detectores de peças roubadas. Isto é, a peça de roupa tem um código e, ao passar, é detectado. O dispositivo com um alarme dispara. É essa a função da Lei de Deus. De nos advertir. Antes de roubar, toca a nossa consciência e avisa-nos: Tu estás com vontade de levar essa peça de vestuário sem pagar. Não o faças. Não só porque serás apanhado. Mas porque é ilícito.
Então a Lei de Deus toca a nossa consciência para nos levar ao bom caminho. A lei não oferece perdão para a transgressão, nem dá poder para obedecer. Ela mostra simplesmente o que está bem e o que está mal: “Porque a lei opera a ira. E onde não há lei não há transgressão.” Romanos 4:15
E a seguir diz: “Pois antes da lei estava o pecado no mundo. Mas, não havendo lei, o pecado não é imputado.” Romanos 5:13
É porque Deus continua a ter uma Lei Moral para governar os Seus filhos que eles são responsáveis pelas suas faltas. É por causa do pecado que precisamos de um Salvador. É o Salvador que concede a graça. E ao receber a graça de Jesus, inclino-me diante do meu querido Jesus e digo:
Obrigado, Jesus, pela Tua graça. Por ela ser-Te-ei sempre fiel.
Decida ser fiel a Jesus a todo o preço e verá como Ele lhe dará força e graça para viver em paz.
Para si as preciosas e maravilhosas bênçãos de Deus!
Pr. José Carlos Costa
– Creio que ele já está morto!
Um dos enfermeiros aproximava-se da minha boca e respondia:
– Ainda respira!
E iam embora.
Nesta altura a minha relação com Deus restabeleceu-se definitivamente. Eu tinha cortado relações com o Senhor entre os 16 e 17 anos. Eu tinha um irmão muito mais novo do que eu. Era um menino muito carinhoso. Uma Sexta-feira, e como todas as sextas-feiras, ele ia visitar o avô que morava perto da Escola, pois estava de cama em consequência de uma trombose.
Toda a gente procurava o meu irmão, mas fui eu que o encontrei, morto, no fundo dum poço. Fiquei tão revoltado, que virei as costas a Deus.
Agora estava em África, muito doente, e quando ouvia aquelas palavras, pensava:
“Será, Senhor, que me vais deixar cair no poço, da mesma maneira que caiu o meu irmão? Vais deixar-me cair no poço da morte, Senhor?”
Era muito difícil a vida para mim. Eu era jovem. Sentia no meu coração o desejo de viver. Mas a morte estava tão perto! Até que um dia, pensei em escrever uma carta para aquela igreja Adventista na Figueira da Foz, que eu frequentei algumas vezes. E o que eu pedia na carta era que alguém me escrevesse e falasse de Deus. Esta carta foi lida em público.
Naquela igreja havia uma jovem de muito bom coração, que disse à pessoa que leu a carta:
– Se ele me escrever, eu falar-lhe-ei de Jesus.
E eu escrevi. Quase não podia mover os meus dedos, mas mesmo assim, consegui exprimir o meu desejo de conhecer melhor o Deus do Céu. A única coisa que me recordo é que a primeira coisa que ela escreveu foi “que eu devia confiar e deixar-me cair na graça de Deus”.
E eu li e reli.
– Deixar-me cair na graça de Deus. Mas como posso deixar-me cair na graça de Deus?
Havia um jovem militar, que na vida profissional, era bailarino. Se bem me recordo, o seu nome era Fernando Mateus. Ele ia muitas vezes visitar-me. Tinha um gira-discos e dançava ao som dessas maravilhosas músicas clássicas. Um dia perguntei-lhe:
– Fernando, que pode significar deixar-se cair na graça de Deus?
Ele não era muito religioso. Mas vivia num meio artístico. E explicou-me que saber deixar-se cair é a coisa mais difícil. Os trapezistas, por exemplo, têm de aprender a cair. Por baixo deles está uma rede esticada e quando eles não conseguem apanhar o trapézio, caem, mas se ficarem com o corpo muito hirto podem magoar-se, então, ele dizia:
– É preciso que a pessoa se consciencialize de que há uma rede que está por baixo. A partir desse momento o trapezista concentra-se unicamente no trapézio que vem na sua direcção e não na queda.
Voltei a ler aquela carta e pensei: “Senhor, perdoa-me! Eu confio que Tu não és o causador do mal. Eu sei, Senhor, que tu és uma rede pronta a suportar e a segurar-me.”
E isso foi uma coisa maravilhosa, encheu-me de confiança. E cada carta que eu recebia, ensinava-me a confiar, mais e mais.
A verdade é que a partir dali apoderou-se de mim uma confiança misteriosa e boa. E já não estava tão preocupado com a doença mas em olhar para Jesus. Isto foi há muitos anos.
Quero dizer que aprender a cair na graça de Deus é uma arte que se vai aprendendo, caindo e levantando-se com Ele. Mas quanto mais olhamos para Jesus menos caímos. Ele torna-Se uma rede de confiança, e vamos caindo cada vez menos. Ao cair nos braços de Jesus descubro o Seu amor e a Sua fidelidade.
Vamos ler um dos meus textos preferidos: “O Senhor sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos.” Salmo145:14
Quem ler esta passagem com um dicionário da língua hebraica, diz que a palavra sustenta é um verbo, o verbo suster. E é o verbo que melhor explica a natureza de Deus. Ele é o Senhor que sustém. Ele é quem dá apoio aos que caem no caminho da vida.
Mas o texto bíblico vai mais longe e afirma que é Ele que levanta os que estão abatidos, prostrados. É a imagem de uma cana curvada ao calor do sol ou sob a pressão do vento.
Caímos por causa do que fazemos na vida. Ficamos prostrados por causa do que a vida e o Diabo nos fazem. Caímos ou somos lançados por terra. Em qualquer dos casos o Senhor está lá para nos ajudar com um amor que não pensávamos ser possível.
David, que escreveu o Salmo 145, fala-nos da sua própria experiência. Da sua angústia em consequência do seu pecado, das suas quedas, dos seus ziguezagues. E tudo o que ele escreveu era o resultado da sua compreensão da necessidade que tinha da graça de Deus para ele e para os outros. David adorava o Criador pela sua majestade, grandeza, bondade, porque ele sustém os que vacilam.
Graça e fé
Lembro-me duma pequena história de um náufrago, nas ilhas dos mares do Pacífico, que depois de ter chegado a terra firme, sentou-se e fixou-se nos seus rastos marcados na areia da praia. Ficou impressionado porque estava convencido que tinha ido em linha recta depois de ter saído da água mas, de facto, as suas pegadas estavam em Z marcadas na areia da praia. Então pensou: “Assim tem sido a minha vida, caminhar em ziguezague.”
Entrou na floresta, apanhou alguns frutos e depois de ter comido, voltou para o mesmo sítio. Olhou a praia em busca das suas pegadas, mas não as encontrou em lado nenhum. A maré tinha subido e apagado as suas pegadas.
É precisamente o que Jesus Cristo faz da nossa vida passada... e caímos nos Seus braços bem abertos. Ele promete: “Desfiz as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem. Torna-te para mim, pois eu te remi.” Isaías 44:22
O seu sangue precioso, vertido sobre a cruz do Calvário, lava a nossa vida de todo o pecado e apaga todos os vestígios da transgressão. O que Jesus fez na cruz do Calvário dá-nos verdadeira confiança para olharmos para Ele.
Realmente no estado tão lamentável em que nos encontramos, que podemos fazer? A Palavra responde por nós: “Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós, é dom de Deus – não das obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8, 9
Dois elementos muito importantes estão subjacentes nesta passagem: a graça e a fé. Estes dois elementos são fundamentais para a nossa salvação.
A graça é conhecida como um “favor que não se merece”. Poderíamos dizer, por outras palavras, que a graça é o amor em acção. Torna-se evidente que se ela fosse merecida, ou uma conquista, não se trataria de um favor, mas de uma recompensa ou uma retribuição.
Para dizer que a graça de Deus e a salvação são dons, ofertas da parte do Céu a cada ser humano, há um provérbio que diz: “O inferno rouba, a terra retribui, só o céu dá.”
Ilustração: Conta-se a história de uma dama da nobreza inglesa que um dia fez qualquer coisa de muito grave, que colocava em cheque o carácter da Rainha Elizabete de Inglaterra. Esta dama foi chamada à presença da rainha que compadecendo-se desta mulher decidiu agraciá-la com o perdão. O que ela tinha feito era passível de morte. A rainha disse-lhe, no entanto:
– Não volte a cometer o mesmo erro!
A dama respondeu, perante tal ordem:
– Majestade, o que me estais a conceder não é uma graça, porque exigis que vos seja fiel. O que me concedeis é um acto de bondade, mas não uma graça.
– Então, perdoo-vos sem condição – respondeu a rainha.
– Majestade – disse a culpada com uma grande reverência – eis uma graça digna de uma rainha. Estou profundamente reconhecida e ser-vos-ei fiel.
A graça é sempre qualquer coisa que é concedida por um superior a um subordinado. É a parte de Deus na salvação do homem.
A fé é atitude de quem se eleva para o Alto. O subordinado que olha para o seu superior. É a parte do homem na sua redenção.
A fé é frequentemente colocada ao mesmo nível da crença. E, efectivamente, as duas palavras, crença e fé, têm origem na mesma palavra grega. A fé do cristão não significa a crença num conjunto de dogmas. Mas significa, essencialmente, uma disposição do espírito e do coração a olhar para Jesus Cristo.
A fé não crê em qualquer coisa que agrade. A fé não aceita qualquer coisa em que queiram que creiamos. A fé crê numa pessoa, e essa Pessoa é Jesus, o único que morreu para nos salvar. Ele é a causa e o fim da fé cristã. É Ele que nos leva ao encontro do Pai e do Espírito Santo. Mais ninguém.
“E em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Actos 4:12
Quando a graça de Deus é vista por nós, no sacrifício de Jesus Cristo, o dom da salvação é-nos comunicado com certeza pelo Espírito Santo, que inicia uma obra de cura interior, de rejuvenescimento. E a salvação passa a ser o maior desejo da nossa vida.
Eu tenho visto tantas pessoas que ao viverem esta experiência se tornam pessoas mais novas, mais alegres, mais felizes, porque sentem a presença de Deus, a graça salvadora.
Mas a graça e a salvação, e é importante saber isto, não nos são concedidas para continuar a pecar! O pecado e a graça estão em posições tão opostas como o estão o Pólo Norte e o Pólo Sul.
Os problemas com que muitas igrejas cristãs se confrontam hoje, relacionam-se com um “ensinamento” de que quando uma pessoa está sob a graça, não precisa da Lei de Deus.
Será que a Graça de Deus anula a Lei?
Ilustração: Imaginem o seguinte cenário. Todos ouviram falar daquele jovem que matou e violou uma menina nos Açores. Parece que esse jovem tinha antecedentes de delinquência, e já tinha estado preso, mas tinha recebido uma amnistia por bom comportamento.
Quando a polícia o apanhou e o prendeu, ele tirou do bolso um documento e mostrou-o à polícia:
– Vocês não me podem prender. Leiam o que diz aqui.
O polícia leu e dizia: “o portador deste documento foi amnistiado por graça do Sr. Presidente da República”.
– Está a ver? Largue-me, eu não estou debaixo da lei. Eu estou debaixo da graça do Senhor Presidente.
O que é que acham que o polícia respondeu? Creio que não é difícil de imaginar a resposta.
– Você não está debaixo da graça. Você está sob ordem de prisão. Siga-me!
É verdade ou não?
Há muitas igrejas que ensinam que quando uma pessoa está sob a graça está salva e salva para sempre. Lutam contra a Lei de Deus, e dizem que ela não tem valor. Afirmam que Jesus a aboliu na cruz do Calvário e agora cada um pode fazer o que quer. Alguns citam até textos da Bíblia para provar tal coisa. Gritam a plenos pulmões: A Lei foi abolida. Eles tornam a graça em desgraça.
Sabem qual é o texto de que todas as religiões se servem para dizer que a Lei que Ele escreveu com o Seu próprio dedo foi abolida?
“Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” Romanos 6:14
Não há dúvida de que é um lindo texto! Pergunto: aquele jovem criminoso dos Açores, enquanto não fazia mal, estava debaixo da lei ou debaixo da graça?
Ele estava debaixo da graça. Mas no dia em que ele matou e violou uma menina que já era um cadáver, ele tornou-se um transgressor da lei e por isso ficou debaixo da lei. Levou ordem de prisão, e foi preso com pena de 25 anos. Pena máxima.
Sabem o que é que quer dizer este versículo? Ele proclama a vitória sobre o pecado e a supressão da condenação para todo aquele que está debaixo da graça de Jesus Cristo.
Devemos lembrar-nos o que é o pecado.
“Todo aquele que comete pecado, transgride a lei, pois o pecado é a transgressão da lei.” I João 3:4
Aquele jovem foi amnistiado dum crime que tinha cometido. Se ele não voltasse a transgredir, ele podia viver livre, viver sob a jurisdição da lei que o protegia. Mas a partir do momento que ele transgredisse, colocava-se debaixo da condenação da lei. Infelizmente foi o que ele fez.
A função da lei.
A Lei de Deus não salva ninguém. Nunca foi essa a intenção de Deus. Se o fosse não seria necessário que Jesus tivesse vindo morrer na Cruz do Calvário. Já tínhamos a Lei, ponto final. A Lei de Deus é como um detector de pecados.
Não sei se alguma vez já viajaram para outros países, de avião. Se o fizeram tiveram que passar por uma passagem que detecta se levam metais, armas.
Se não viajaram, já entraram em lojas que têm à saída detectores de peças roubadas. Isto é, a peça de roupa tem um código e, ao passar, é detectado. O dispositivo com um alarme dispara. É essa a função da Lei de Deus. De nos advertir. Antes de roubar, toca a nossa consciência e avisa-nos: Tu estás com vontade de levar essa peça de vestuário sem pagar. Não o faças. Não só porque serás apanhado. Mas porque é ilícito.
Então a Lei de Deus toca a nossa consciência para nos levar ao bom caminho. A lei não oferece perdão para a transgressão, nem dá poder para obedecer. Ela mostra simplesmente o que está bem e o que está mal: “Porque a lei opera a ira. E onde não há lei não há transgressão.” Romanos 4:15
E a seguir diz: “Pois antes da lei estava o pecado no mundo. Mas, não havendo lei, o pecado não é imputado.” Romanos 5:13
É porque Deus continua a ter uma Lei Moral para governar os Seus filhos que eles são responsáveis pelas suas faltas. É por causa do pecado que precisamos de um Salvador. É o Salvador que concede a graça. E ao receber a graça de Jesus, inclino-me diante do meu querido Jesus e digo:
Obrigado, Jesus, pela Tua graça. Por ela ser-Te-ei sempre fiel.
Decida ser fiel a Jesus a todo o preço e verá como Ele lhe dará força e graça para viver em paz.
Para si as preciosas e maravilhosas bênçãos de Deus!
Pr. José Carlos Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário