27 de janeiro de 2010

A RELAÇÃO ENTRE O APOCALIPSE E DANIEL

Olá companheiros, tudo bem? Vou com a graça de Deus iniciar mais um tema sobre o Apocalipse. Certamente notaram que comecei pelos últimos capítulos do nosso livro e estou agora a fazer uma viragem, ou seja, a fazer o percurso contrário.
Espírito do Senhor guia-nos a encontrar a palavra e o pensamento certo, seja a Tua sabedoria a conduzir-nos neste estudo por Jesus. Amem!
Ao entrar neste livro temos a sensação de entrar por uma porta numa casa que nos suscita a curiosidade e desafia a nossa inteligência. A primeira palavra, “apocalipse”, soa como uma advertência “o que parece estar no escuro, na verdade está na luz”. E este é o sentido da palavra “apocalipse” que vem de uma palavra grega apocalupto (revelar os segredos). Este verbo é uma das palavras chave do livro de Daniel, onde aparece com um sentido de revelação profética. Este eco do livro de Daniel ressoa no livro de Apocalipse com tanta força que para se entrar na “casa” do Apocalipse precisamos da chave fornecida por Daniel.
Se estivermos atentos verificamos que o Apocalipse começa com uma bem-aventurança que parece transportada da conclusão do livro de Daniel: “Bem-aventurado (feliz) aquele que lê e bem-aventurados (felizes) os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Ap. 1:3).
Tal como no livro de Daniel o “feliz aquele que” é o que está identificado com o evento da esperança: “Bem-aventurado é o que espera e chega aos mil trezentos e trinta e cinco dias. Tu, porém, vai-te, até que chegue o fim; pois descansarás, e estarás no teu quinhão ao fim dos dias.” (Dan. 12:12,13).
Se tivermos em atenção o texto do Apocalipse 1:3, situa-se claramente na linha e no prolongamento directo da profecia de Daniel e esta bem-aventurança é a primeira prova evidente. O livro de Daniel é de facto o livro do Antigo Testamento mais citado no Apocalipse. Ele ressoa as mesmas palavras. Aí encontramos as mesmas visões, os mesmos temas e as mesmas lições tipológicas caminham no mesmo itinerário, os dados cronológicos são expressos frequentemente na mesma linguagem, a mesma perspectiva profética que cobre o período dos tempos, as mesmas lições éticas, e enfim a mesma estrutura em quiasmo.
É fundamental ter em mente estas relações entre os dois livros sagrados para conduzidos pelo Espírito Santo poder ler e compreender estes preciosos livros por Deus inspirados. Tanto mais que o “bem-aventurado” é aquele que “lê”, “ouve” e “guarda”. Isso é significativo na bem-aventurança que introduz o Apocalipse, tal como a bem-aventurança a concluir o livro de Daniel. Um e outro inspiram a ter esperança enquanto se espera a vinda de Jesus.
A descoberta da bem-aventurança “felicidade” implica uma revelação, “um segredo revelado”, um Apocalipse. É nesta descoberta que é necessário começar. Sem esta fé, não é possível continuar e o livro será reduzido a uma amálgama de sons inúteis. A natureza da leitura do Apocalipse tem um carácter essencialmente religioso. Repare estimado leitor, que só o “ler” se conjuga no singular (no original) “aquele que lê”; enquanto que o dois verbos seguintes estão no plural: “aqueles que ouvem”, “aqueles que guardam”. A leitura não é exclusivamente privada; ela deve ser fundamentalmente lida por um e ouvida por vários (não têm razão aqueles que defendem não ter necessidade de pertencer a uma comunidade cristã), Jesus seguia a pratica litúrgica da sinagoga (Lucas 4:16-28).
O Apocalipse não fala unicamente aos místicos e aos sentimentais da religião. Aliás, o seu propósito é “derrubar” os muros mentais e do preconceito, tornar-se em palavra profética, de estudo e interrogação da parte daquele que a recebe. Por detrás da palavra “ouvir” há o conceito hebraico de esforço e responsabilidade da inteligência. Ao mesmo tempo, o dever de passar à acção e viver o que foi compreendido. O Shema Israel (Ouve, ó Israel), não se compreende como sendo uma doce melodia que embala e desperta emoções agradáveis:
“4 Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
5 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.
6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
7 e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.
8 Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos;
9 e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.” (Deut. 6:4-9).
Em hebraico, a palavra “ouvir” (escutar, compreender) significa também “guardar” e “obedecer”.
É precisamente o que diz o verso (Ap. 1:3) “e guardam as coisas que nela estão escritas”. No horizonte da escuta e da leitura que ressoa aos ouvidos, e da exigência à inteligência, o que se espera é uma vida sob o controle de Deus. Porque o que determina a escolha e a orientação, não é a opinião ou a verdade subjectiva, mas são “as coisas que nela estão escritas” (Ap. 1:3).
O Apocalipse define-se deste modo como portador de uma verdade absoluta, uma verdade que existe e chama a nossa atenção (avisa) contra as interpretações pessoais ou fantasiosas.
Este foi o nosso estudo para hoje, rogamos que o Senhor tenha estado ao leme desta apresentação e continue a inspirar e a mover os nossos corações para uma escuta séria e consequente. Deus nos abençoe em Cristo. Amem!

25 de janeiro de 2010

SÓ 144 000! A SÉRIO?

“E ouvi o número dos que foram assinalados com o selo, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos de Israel.” Apocalipse 7:4
“E olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que traziam na fronte escrito o nome dele e o nome de seu Pai.” Apocalipse 14:1

OS 144 000.
É um tema favorito de “conversa de salão” – particularmente nas tardes de Sábado – entre os adventistas, mas não é, de forma alguma, uma brincadeira.
Centra-se num número místico que estimula a imaginação, mas não é um número a ser tomado de ânimo leve.
Esse número emerge de um estudo aprofundado das Escrituras, mas a conversa inclui, inevitavelmente, o pensamento e os comentários da mensageira profética adventista, Ellen White.
Ler de relance os escritos de Ellen White sobre este assunto pode desanimar qualquer tentativa de compreender o que o número 144 000 significa realmente para os crentes. Em 1901, ela escreveu: “Não é a Sua (de Deus) vontade que eles entrem em controvérsia sobre questões que não ajudarão espiritualmente, tais como ´Quem fará parte dos 144 000?´. Isso, os eleitos por Deus saberão, inquestionavelmente, dentro de pouco tempo.” (1)
A palavra “cotrovérsia” dá-nos uma ideia daquilo que ela estava a combater.
Para compreendermos o significado e a importância dos 144 000, é melhor que ponderemos cuidadosamente sobre a teia de palavras em que o assunto é focado.
Normalmente, chamamos a isso contexto. Afinal, o significado é inseparável das relações ou dos relacionamentos.
O número 144 000 aparece apenas duas vezes nas Escrituras – ambas no livro de Apocalipse, e em contextos importantes. Encontramo-lo primeiro entre o sexto e o sétimo selos, antes da Segunda Vinda vista como o dia da ira, o dia da destruição daqueles que se opõem a Deus (Ap. 7:4). A segunda vez, em Apocalipse 14, é antes da mensagem dos três anjos e da segunda vinda de Cristo.
Consequentemente, faz sentido supor que o número designa uma entidade do tempo do fim – o povo de Deus durante a última fase da história deste mudo.
A questão é: Serão os 144 000 um subgrupo especial do povo de Deus, ou será este número uma representação simbólica de todo o povo de Deus? Subjacentes a estas questões estão os conceitos do acesso ao selamento e à salvação, após ter sido atingido o número 144 000, e a questão mais profunda da arbitrariedade dos decretos de Deus ou mesmo a natureza moral do Seu carácter.
Os intérpretes que consideram o número literal – especialmente no mundo Evangélico – normalmente afirmam que o mesmo se refere a judeus que aceitam o evangelho e que contribuirão para a partilha do mesmo com outros judeus. Sugerem que o ritmo agrícola dos primeiros frutos – bem conhecido do antigo Israel – apoia esta maneira de ver.
Contudo, há várias indicações de que é um número simbólico, que não deve ser interpretado literalmente. A própria natureza do número sugere o seu simbolismo:
144 000 é 12 x 12 x 1000. Mas, para compreender o seu significado, temos de explorar a rede de palavras, temas e motivos associados ao seu contexto.
1- Os 144 000 são associados com a ideia de estar em pé.
A primeira ocorrência do número 144 000 é uma resposta a uma das quatro questões encontradas na série de selos. Pessoas aterrorizadas gritam às montanhas e às rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” (Ap. 6.16,17).
Mas há mais questões a responder. Primeiro, quem é digno? (Ap. 5:2); até quando? (Ap. 6:10); e, finalmente, quem são eles e donde vêm? (Ap. 7:13).
Os 144 000 podem ficar em pé porque adoram o Cordeiro. Para além dos anjos que estão em pé no livro de Apocalipse, os seres humanos são capazes de estar em pé porque o Cordeiro está em pé. Apocalipse 5 diz-nos que o Cordeiro foi morto, mas está em pé. Isso refere-se à morte e à ressurreição de Cristo em linguagem apocalíptica. O conceito de vitória está no centro de toda a mensagem do capítulo cinco. Sem a vitória do Cordeiro, não existe outra vitória.
Não é por acaso que Apocalipse 14, quando se refere aos 144 000, os descreve como estando em pé com o Cordeiro no Monte de Sião e que seguem o Cordeiro por onde que vá (Apoc. 14:1-5). Dentro do contexto dos primeiros sete capítulos, aqueles que estão em pé são os que saíram vencedores das diversas situações descritas nas cartas enviadas às sete igrejas. O Espírito convidava os crentes a converterem-se a manterem-se na fé e em fidelidade para com o Senhor Jesus Cristo. Portanto, para podermos continuara estar em pé, temos de ouvir o que o Espírito diz às igrejas.
2- Os 144 000 estão poupados e selados.
No Velho Testamento, os fiéis que foram poupados no julgamento, especificamente da vinda do dia de Yahweh, são descritos de várias maneiras. Um cenário importante é relatado em Ezequiel 9, onde refere os selados e poupados como sendo os que suspiram e gemem por causa das abominações que estão a ser cometidas no meio de Jerusalém. Em Ezequiel 14:12-23, o remanescente justo de Israel é salvo da condenação. A sua atitude, que está longe de ser de justiça própria, é importante. O que sabemos sobre este remanescente justo é que tem uma atitude de profunda contrição por causa da apostasia existente entre o povo de Deus.
Ser selado ou marcado pode referir-se a várias ideias, tais como posse, mas o que se encaixa mais naturalmente no contexto de Apocalipse 7 é a protecção da ira de Deus e do Cordeiro. Falando sobre a dedicação dos 144 000 a Deus, Ellen White escreveu: “Aqueles que têm, na sua testa, o selo do Deus infinito considerarão o mundo e os seus atractivos como estando subordinados aos interesses eternos.” (2)
3- Os 144 000 são chamados servos.
Em Apocalipse 7, os 144 000 são chamados servos. No livro de Apocalipse, a palavra “servo” tem uma conotação de adoração. O seu serviço para Deus não se relaciona com realidades sócio-económicas, mas antes realça uma realidade religiosa ou de culto.
A conotação de adoração deste termo leva-nos de volta ao principal objectivo de Deus conforme é revelado nesse livro: fazer de homens e mulheres de todas as tribos, e línguas e nações, sacerdotes que possam entrar no templo escatológico e adorar, eternamente, Deus, o Criador e Redentor. Subentende-se que estes servos vivem exclusivamente para Deus e para o Seu reino.
Informações mais detalhadas sobre as funções do grupo do tempo do fim podem ser encontradas em Apocalipse 14. O nome do Cordeiro e do Pai está escrito na testa dos membros desse grupo. A ideia da pertença está representada pela escrita dos nomes. Estas pessoas foram redimidas e têm as
Qualificações para aprender um cântico de redenção. Podemos legitimamente deduzir, do contexto de Apocalipse 12-15, que os 144 000 saíram vitoriosos sobre a besta, a sua imagem e a sua marca. (3)
A sua lealdade e dedicação a Deus são representadas por várias imagens. Estes crentes são virgens – incorruptos. Estas imagens simbólicas são uma forma de expressar que o povo de Deus dos últimos dias é dedicado de alma e coração a Deus, tal como uma noiva ao seu noivo. Por outras palavras, são cônjuges fiéis, seguindo o Cordeiro por ode quer que vá.
Uma imagem agrícola também é usada para representar o seu valor para Deus como sendo os primeiros frutos. Mais ainda, uma reflexão sobre a rede contextual daqueles que estão do lado de Deus mostra a sua adesão aos valores designados como mandamentos de Deus e ao testemunho e fé de Jesus.
Concluindo: O que quer tudo isso dizer?
O número 144 000 é um número simbólico que se refere à totalidade do povo de Deus que passará pelas grandes tribulações e decepções do tempo do fim. Ele será vitorioso sobre os desafios do tempo do fim, orquestrados pela trindade satânica descrita em Apocalipse 12 e 13 – o dragão, que imita Deus Pai, o anticristo, e o falso Espírito Santo.
Ellen White, longe de nos desencorajar de qualquer tentativa de compreender as características e funções dos 144 000, fez a seguinte advertência: “Aqueles que o Cordeiro guiará pelas fontes de água viva, e de cujos olhos limpará todas as lágrimas, serão os que estão agora a receber o conhecimento e a compreensão revelada na Bíblia, a Palavra de Deus. (4)
Além disso, ela afirma: “Não devemos imitar nenhum ser humano. Nenhum ser humano é suficientemente sábio para ser nosso exemplo. Devemos olhar para o homem Jesus Cristo, que é completo em perfeição de justiça e santidade. Ele é o autor e consumador da nossa fé. É o homem padrão. A Sua experiência é a medida da experiência que devemos obter. O Seu carácter é o nosso modelo. Tiremos, então, a nossa mente das perplexidades e dificuldades desta vida, e fixemo-la n´Ele, para que ao contemplar possamos ser mudados à Sua semelhança. Podemos olhar para Cristo com confiança. Podemos olhar para Ele com segurança; pois Ele é omnisciente. À medida que olhamos para ele e pensamos n´Ele, Ele será formado dentro de nós, a esperança de glória.” (5)
Mas a última exortação no contexto é a que tem maior significado: “Tentemos, com todo o poder que Deus nos deu, estar entre os cento e quarenta e quatro mil.” (6)
Em essência, a adesão às Escrituras como guia infalível num mundo de ideologias, filosofias e religiões em competição; e emulação de Cristo; e a determinação de Lhe sermos leais seja qual for o custo, são as marcas distintivas do povo de Deus dos últimos dias. Estão selados para uma vida eterna de adoração e companheirismo com o Deus de amor – Pai, Filho e Espírito Santo.
Os 144 000 têm uma ligação orgânica com o remanescente do capítulo 12. a sua devoção a Cristo é reminiscente do facto de que têm as características do remanescente na guarda dos mandamentos de Deus e da fé de Jesus Cristo (Ap. 12:17). Eles adoram Cristo total e completamente. Apocalipse 12:11 diz que eles venceram o dragão “pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho”. Qualquer crente do tempo do fim pode fazer parte deste número.
O mesmo Deus que quer que todos os povos saibam da verdade e sejam salvos (1ª Tim. 2:3,4) não está a limitar, caprichosamente, o número de remidos. O selamento e a salvação no tempo do fim estão abertos para todos.
Referências:
(1) Ellen White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 174
(2) Ellen White, The Advent Review and Sabbath Herald, 13 de Julho, 1897.
(3) Ellen White, O Grande Conflito, pp. 539, 540.
(4) Ellen White, The Advent Review and Sabbath Herald, 9 de Março, 1905, conforme citado no The SDA Bible Commentary, vol. 7, p. 970.
(5) Ibid.
(6) Ibid.

18 de janeiro de 2010

OS LOUCOS DO APOCALIPSE

“Je n´ai jamais connu une personne qui ait entrepris l´étude des prophéties et qui ait écrit là-dessus qui ne soit devenue folle. »
William Ramsey
« C´est le signe d´un bon équilibre mental que de ne s´être jamais occupé de l´Apocalypse. »
Johann G. von Herder
« Ou bien l´Apocalypse trouve un homme fou, ou bien elle le quitte fou. »
Anonyme



É uma legião de loucos que rodeia o Apocalipse. E nunca foram tão numerosos como nestes últimos anos. Depois da Segunda Guerra Mundial, no amanhecer do Holocausto de Hiroshima, e mais recentemente seguindo os cuidados ecológicos, da epidemia da Sida e da explosão demográfica, o Apocalipse tornou-se uma referência dramática. Não só nos meios das ciências religiosas, mas também na literatura, no cinema, musica e a pintura têm sido os transmissores de exprimir esta febre que exprime a angústia nervosa dos nossos contemporâneos.
E quanto mais avançamos nesta década do século 21, mais o movimento se intensifica. Desde os anos 80, se têm verificado “uma verdadeira explosão do tema apocalíptico” (J.-P.PREVOST, Pour lire l´Apocalypse, 1991, p.7; cf. B. McGINN, Apocalyptic Spiritality, Londres, 1980, p. 141; cf. T.K.FREIMAN, Postscripts, p.157: “À medida que o mundo se aproxima do terceiro milénio e a partir dos anos 80, a referencia ao fim torna-se mais e mais intensa.”). Não se trata simplesmente de um “tema” abstracto dado simplesmente para nos entreter ou no melhor dos casos para nossa inspiração. À boca de cena, mais e mais os loucos tornam-se actores do Apocalipse.
Ainda está na nossa consciência David Koresh, nos Estados Unidos. Na base de uma intensa referencia ao Apocalipse, ele citava capítulos inteiros de memória. Vernon Howell, aliás, David Koresh, apresentava-se como messias-Deus, e arrogava o direito de ter relações sexuais com todas as mulheres do seu grupo (casadas ou não, jovens ou menos jovens). Ele armazenou um enorme arsenal de armas e transformou a sua casa numa verdadeira fortaleza. Ele esperava o fim do mundo e desafiou as forças armadas dos Estados Unidos durante um cerco de cinquenta dias. Os seus propósitos incoerentes e os seus actos imprevisíveis tornaram as negociações difíceis. Terminou, dia 19 de Abril de 1993, arrastando mais de uma centena de pessoas, entre elas crianças, para uma morte horrível que chocou todo o mundo.
Uma tragédia parecida aconteceu algum tempo depois no Japão. Desta vez, o messias Shoko Asahara apresentava-se como um guru cabeludo inspirado nas religiões budistas e hindus. A seita, que tinha começado de forma inocente a partir de escolas de yoga, afirma-se na realidade no tipo apocalíptico. Esta seita esperava o fim do mundo e previa o Apocalipse para 1997. No seu livro intitulado “O Desastre Aproxima-se do País do Sol Nascente” (1995), Asahara anunciava a vinda do Armagedom sob a forma de um gás proveniente dos Estados Unidos, enviado por Judeus e franco-maçons. Tal como David Koresh, o guru dominava os seus discípulos e incitava-os a cometer actos criminosos de toda a espécie. O ataque ao metro de Tóquio, a 20 de Março de 1995, tem a sua assinatura. Um gás mortal, o sarin, produzido por nazis com o objectivo de exterminar pessoas de forma massiva, foi utilizado em cinco lugares diferentes a horas de ponta. O balanço elevou-se a vários milhares de pessoas intoxicadas e uma dezena de mortos. A polícia japonesa relatou ter descoberto nos aposentos da seita material suficiente para destruir 4 a 5 milhões de pessoas.
Na Suíça, arredores de Fribourg e também em Valais, a 27 de Outubro de 1994, os habitantes de Cheiry e de Granges-sur-Salvan viveram a mesma angústia. O fogo onde morreram mais de cinquenta pessoas, entre as quais várias crianças, testemunha da loucura de uma outra seita chamada “Templo Solar” cujo messias, Luc Jouret, médico homeopata, pregava, ele também, sobre o Apocalipse e não cessava de repetir que tinha chegado a hora do Apocalipse.
Na propriedade foram descobertos vários cadáveres vestidos de vestes de culto brancas, vermelhas e negras; dispostos em círculo, eles estavam amarrados e tinham recebido uma bala na cabeça. Nunca se chegou a saber se se tratou de um suicídio colectivo ou de um outro tipo de crime. Também aqui, a polícia que investigou descobriu um importante arsenal de armas que a seita tinha adquirido para a batalha final. No ano seguinte, a 23 de Dezembro de 1995, aconteceu o mesmo cenário de horror atingiu a França. Nos arredores de Grenoble, perto da aldeia de Pierre-de-Chérennes, quinze pessoas da mesma seita do “Templo do Sol”, entre as quais várias crianças, foram encontradas abatidas a revólver em igual dramática circunstância.
Estes três exemplos, entre outros (Lembramo-nos dos acontecimentos na Guyane em Novembro de 1978, onde mais de novecentas pessoas se suicidaram por envenenamento sob a ordem do seu guru, Jim Jones), são incontestavelmente o sintoma da nossa civilização. A análise do fenómeno revela um certo número de circunstâncias:
1- Presença de um profeta-messias-Deus do tipo carismático, que pretende deter a palavra da verdade e move um grupo de pessoas a vê-lo como mestre. Estas fazem tudo para lhe agradar.
2- Rejeição do sistema estabelecido e suspeição sobre todos os que não se conformam com as regras e as ideias do grupo. Esta raiva do tipo xenófoba manifesta-se frequentemente por uma vida comunitária fechada a toda a influência do exterior, esta é julgada maléfica. O grupo pratica actos criminosos às ordens do mestre, considerados actos de “justiça”.
3- Fixação sobre a mensagem apocalíptica em detrimento do amor ao próximo, da razão e da ética.
4- Obsessão em ver cumprir-se o Apocalipse já e aqui, o que conduz frequentemente estas “seitas do Apocalipse” (expressão usada pelo o sociólogo americano J.R.Hall, livro “The Apocalypse at Jonestown”) a tornarem-se os actores da profecia e a produzirem acontecimentos do Apocalipse.
Este carácter pode concentrar-se num só indivíduo, que vive concentrado sobre ele próprio, ele é simultaneamente profeta e seita. Nota-se também que o fenómeno aparece em todas as tendências religiosas. Não só entre os cristãos, mas também, entre os judeus, muçulmanos, nas religiões orientais e na Nova Era.
Apesar de algum paralelismo com certos movimentos isolados na história passada do cristianismo (os Taboristas da Boémia no século XV, ou os “exaltados” de Muntzer no século XVI), este fenómeno é novo pelo seu carácter patológico e violento. A nossa civilização está atingida pelo sindroma Apocalipse.
A Igreja que tem uma mensagem a proclamar (Mateus 24:14) no contexto do Apocalipse, deve, como pessoas e como igreja a ser dirigida pelo Espírito Santo. Todos os fiéis anseiam que “as primeiras coisas passem”. Estou a escrever no contexto da Tragédia do Haiti, o meu coração dói, mas meu dever, meu chamado é a proclamar o amor, a paz que o Homem de Nazaré veio trazer, salvação e esperança. Sou chamado a ser muito zeloso no amor, a buscar os perdidos e a falar de Cristo como o “Príncipe da Paz”.
Amigos e amigas que acompanham este blogue quero dar-vos uma palavra de amor e de amizade em Jesus. Sei, uma ou outra vez ficam estupefactos com uma ou outra afirmação, desejo que percebam que estou falando num contexto de análise bíblica e nunca, Deus me livre, num sentido proselitista, menos ainda catastrofista, tudo será dirigido pelo Senhor que tudo fez bem e tudo fará muito bem, amem!

11 de janeiro de 2010

MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO

Uma séria indagação surgiu na mente de alguns que ouviram a mensagem de Justificação Pela Fé, apresentada na Assembléia de Mmneapolis, sobre a relação dessa mensagem com a do terceiro anjo. Em sua perplexidade, alguns escreveram à Sra. E. G. White solicitando-lhe uma manifestação de seu pensamento a respeito.
No que concerne e esta inquirição e sua resposta, temos sua declaração publicada que é a seguinte:
"Várias pessoas me escreveram perguntando se a mensagem de justificação pela fé é a mensagem do terceiro anjo, e respondi-lhes: 'É verdadeiramente a mensagem do terceiro anjo.' "- Review and Herald, 1 de abril de 1890.
Há mais nesta declaração do que uma breve, clara e positiva resposta a uma pergunta. Ela tem sentido profundo e vital. Soa como uma séria vertência, e faz um apelo inteligente e ardente a todo o que crê na mensagem do terceiro anjo. Dediquemos cuidadoso estudo à declaração.
Justificação pela fé, afirma-se, é "a mensagem do terceiro anjo em verdade". As palavras "em verdade" significam, de facto, na realidade, com toda certeza. Isso significa que a mensagem de justificação pela fé e a mensagem do terceiro anjo são idênticas em propósito, objectivo e resultados.
Justificação pela fé é o modo divino de salvar pecadores; a Sua maneira de convencer os pecadores da sua culpa, a sua condenação, e condição inteiramente perdida e sem esperançada. E também a forma divina de cancelar a culpa, livrando os homens da condenação da Sua divina lei, e dando-lhes um novo posicionamento perante Ele e a Sua lei santa. A justificação pela fé é a maneira de Deus transformar homens e mulheres fracos e pecadores em cristãos fortes, vitoriosos e justos.
Agora, se é verdade que a justificação pela fé é a "terceira mensagem angélica em verdade" -de facto, na realidade - deve dar-se que a compreensão e apropriação da terceira mensagem angélica tenha por desígnio realizar naqueles e por aqueles que a recebem a plena obra de justificação pela fé. Que tal é seu propósito, torna-se evidente a partir das seguintes considerações:
1. A grande mensagem tríplice de Apocalipse 14, que designamos pela expressão "a mensagem do terceiro anjo", é tida por "evangelho eterno". Apoc. 14:6.
2. A mensagem traz o solene anúncio de que "é chegada a hora de Seu juízo"
3. Ela admoesta a todos quantos vão encontrar-se com Deus em Seu grande tribunal, para serem julgados por Sua justa lei, a temerem "a Deus" e dar-Lhe "glória," e adorarem "Aquele que fez o céu, e a terra e o mar". Verso 7.
4. 0 resultado, ou fruto, desta mensagem de advertência e recomendação é o desenvolvimento de um povo a respeito do qual é declarado:
"Aquí está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Verso 12.
Em tudo isso temos o fato da justificação pela fé. A mensagem é o evangelho de salvação do pecado, condenação, e morte. O juízo traz os homens e mulheres face a face com a lei de justiça, pela qual deverão ser julgados. Devido a sua culpa e condenação, são advertidos a temer a Deus e adorá-Lo. Isto envolve convicção de culpa, arrependimento, confissão e renúncia. Esta é a base do perdão, purificação, e justificação. Aqueles que passam por esta experiência introduziram em seu caráter a doce e bela graça da paciência, numa época de difundida irritabilidade e temperamentos incendiários que têm destruído a paz, a felicidade, e a segurança da raça humana. O que é isto senão justificação pela fé? A Palavra declara que, sendo justificados pela fé, "temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Rom. 5:1.
Contudo, há ainda mais, pois esses crentes 'guardam os mandamentos de Deus". Experimentaram a maravilhosa mudança do ódio e transgressão da lei de Deus, para o amor e observância de seus justos preceitos. Sua condição diante da lei foi mudada. Sua culpa foi cancelada; sua condenação removida, e a sentença de morte anulada. Tendo aceito a Cristo como Salvador, receberam Sua justiça e Sua vida.
Essa maravilhosa transformação pode ser operada somente pela graça e poder de Deus, e é operada somente por aqueles que lançam mão de Cristo como seu substituto, penhor e Redentor. Portanto, é declarado que "guardam... a fé de Jesus Isso revela o segredo de sua experiência rica e profunda. Eles lançam mão da fé de Jesus - aquela fé pela qual Ele triunfou sobre os poderes das trevas.
"Quando o pecador crê que Cristo é seu Salvador pessoal, então, segundo Suas infalíveis promessas, Deus perdoa seus pecados e o justifica gratuitamente. A alma arrependida reconhece que sua justificação se dá porque Cristo, como seu substituto e penhor, morreu por ele, como sua expiação e justificação." - Review and Herald, 4 de novembro de 1890.
Como já assinalado, encontramos nas experiências daqueles que triunfam na mensagem do terceiro anjo todos os fatos da justificação pela fé:. Por esta razão, é bem verdade que a justificação pela fé é a "mensagem do terceiro anjo em verdade
Seria de bom alvitre aqui chamar a atenção para o fato de que tanto a justificação pela fé quanto a mensagem do terceiro anjo são o evangelho de Cristo em verdade. Isto é tornado evidente por uma declaração do apóstolo Paulo, que declara que o "evangelho ... é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. ... visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé". Rom. 1:16, 17.
Os fatos aqui apresentados são:
1. 0 evangelho é uma manifestação do poder de Deus em operação, livrando os pecadores de seus pecados e implantando neles Sua própria justiça.
2. Isto, porém, é feito somente naqueles que crêem.
3. Isto é tornar justo, pela fé.
4. E este é o propósito tanto da mensagem de justificação pela fé quanto da mensagem do terceiro anjo.
Qual, então, é a importante lição a ser obtida da declaração que tivemos para análise? Que advertência ela oferece? Claramente, o seguinte:
Que todos quantos aceitam a mensagem do terceiro anjo devem passar pela experiência da justificação pela fé. Devem ter a Cristo revelado para eles e neles. Devem saber por experiência pessoal a obra de regeneração. Devem ter mais plena garantia de que nasceram de novo, a partir do alto, e que passaram da morte para a vida. Devem saber que sua culpa foi cancelada, que foram livrados da condenação da lei, e assim estão prontos para aparecer perante o trono do juízo de Cristo. Devem saber por experiência vitoriosa que lançaram mão da "fé de Jesus" e são por ela mantidos, e que por esta fé são capacitados a observar os mandamentos de Deus.
Deixar de passar por esta experiência será perder de vista a virtude redentora real e vital da mensagem do terceiro anjo. A menos que tal experiência seja obtida, o crente terá somente a teoria, as doutrinas, as formas e atividades da mensagem. Isso se provará um erro fatal e terrível. A teoria, as doutrinas, mesmo as mais zelosas atividades da mensagem, não podem salvar do pecado, nem preparar o coração para defrontar a Deus em juízo.
É com respeito ao perigo de cometer este erro fatal que somos advertidos. O formalismo - ter " a forma de conhecimento e da verdade na lei'', sem ter uma experiência real em Cristo - é a rocha oculta que tem despedaçado incontáveis milhares de professos seguidores de Cristo. E contra esse perigo que somos seriamente advertidos.
Há, contudo, mais do que advertência nesta declaração. Há um apelo um ardente e insistente apelo para entrar em comunhão com Cristo Jesus, nosso Senhor. Há um apelo às mais elevadas altitudes da experiência cristã. Há a garantia de que, quando justificados pela fé, temos paz com Deus, e seremos capazes de regozijar-nos continuamente na esperança da glória de Deus. Há a promessa de que não seremos envergonhados por derrota em nosso conflito com o pecado, porque o amor de Deus tem sido derramado amplamente em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Rom. 5:1-5.
Quem dera que todos acatássemos tanto a advertência quanto o apelo que nos advieram de modo aparentemente tão estranho, contudo impressionante, na assembléia de 1888! Quanta incerteza não seria removida, quantos desvios, derrotas e perdas não teriam sido impedidos! Que luz, bênção, triunfo e progresso não nos teriam chegado! Mas graças sejam dadas Aquele que nos ama com amor infinito, que não é demasiado tarde mesmo agora para responder de todo coração à advertência, bem como ao apelo, e receber os grandes benefícios providos.

7 de janeiro de 2010

TERCEIRO ANJO APOCALIPSE: O FILHO DO HOMEM


Estimados amigos antes de entrar no estudo do terceiro anjo, sou obrigado a tratar da conclusão da mensagem deste anjo. Certamente já repararam, estes estudos têm carácter teológico, não tanto pastoral. Estamos a ser fiéis à mensagem original do Apocalipse. Se você é crente Adventista ficará surpreendido, se é evangélico, ficará ainda mais chocado, porque nem um nem outro, alguma vez viram este assunto ser tratado sem fundo partidário. Isto é o que estamos fazendo neste estudo, entendeu?
Também devo pedir desculpa, por tão raras vezes postar temas neste blogue, creio que você entenderá, tenho o meu trabalho pastoral e sustento muitos outros blogues muito menos exigentes que este. Confesso, não sei quantas entradas tem este blogue, desactivei o analitic, comecei a sentir um pouco de presunção, entravam mais de 300 pessoas por dia. Por essa razão desactivei e estou a colocar menos material. Estou convencido que agora entrarão menos pessoas, o que desejo é que entrem só os interessados por estes temas e não curiosos, eu não quero curiosos nestes blog, para isso há muitos outros. Aceite estas palavras com carinho na esperança de nos encontrarmos no Céu. Agiram vamos entrar no tema, vamos lá.
O profeta do Apocalipse começou a sua série de sete sinais sobre as visões no céu com uma mulher vestida do sol … “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.” (Ap. 12:1) de sol e tendo a lua debaixo dos seus pés e tinha na sua cabeça uma corroa com doze estrelas. Presentemente o olhar profético fecha o circulo e para sobre a visão do Filho do Homem no céu... “E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, que tinha sobre a cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada.” (Ap. 14:14) envolvido numa nuvem branca e a Sua cabeça tem uma coroa de ouro. A visão do Filho do homem responde à visão da mulher.
A vinda de Jesus Cristo que surge do fundo das nuvens para, finalmente, tomar posse do governo da terra, como numa resposta ao suspiro da mulher exilada no deserto e que tem como sonho e por este sonho vive a vinda do Esposo.
Esta última visão concentra de facto todas as esperanças cristãs. Não foi por acaso que os primeiros cristãos se saudavam Maran Atha, “O Senhor vem”. O verbo em aramaico atha é precisamente o verbo que no texto de Daniel 7 descreve a vinda do Filho do homem (Daniel 7:13).
É o fim. Este último evento marca o fim de todas as esperas. Para compreender esta mensagem do “fim”, o profeta Amos tinha no seu tempo recebido a visão de um cesto com frutos maduros (Amos 8:2). E a ideia de maturidade e de fim da estação passava por um jogo de palavras. Em hebraico, a palavra “fim” (qetz) mistura-se nos sons da palavra “fruto” (qaytz).
Para os profetas do Antigo Testamento, o fim não trata unicamente de uma paragem trágica, depois da qual não há mais nada. O fim é também portador de novos horizontes. O fim é também esperança. Para ilustrar esta ambivalência do fim, os profetas utilizaram a metáfora da colheita (Joel 4:13). Porque a ceifa implica ao mesmo tempo na violência do corte e a recolha da ceara. Ela sugere simultaneamente a morte e a vida.
O profeta do Apocalipse retoma esta imagem da colheita para evocar o fim (Apocalipse 14:14-19). Mas para tornar mais rica a ideia de ambivalência do fim, o Apocalipse descreve-a sob a forma de duas colheitas que eram comuns na vida agrícola da Palestina na época: a colheita dos grãos na Primavera e as vindimas no Outono.
A colheita do grão representa o “ajuntar” (v.18) dos fiéis (Ap. 14:12-16). A imagem situa-se na linha das primícias. Trata-se “das primícias de Deus” (Ap. 14:4). Esta colheita está directamente associada ao Filho do homem. Porque é a Sua obra, e é do Seu reino que se trata.
A visão do Apocalipse alia-se aqui à visão do profeta Daniel. Também, neste caso, o julgamento é dado como o último acontecimento da história humana na perspectiva da vinda do Filho do homem. No capítulo 7 de Daniel, o Filho do homem estava directamente implicado no processo do julgamento. Ele surge e intervém juntamente com o “Anciãos de Dias”, antes de receber o reino e o domínio (Daniel 7:13,14; cf. 7:26,27).
O texto do Apocalipse segue o mesmo desenvolvimento. Antes de significar a parousia, a volta de Cristo, a vinda do Filho do homem concerne em primeiro lugar o julgamento que separa e une todos aqueles que foram considerados justos. É aqui um julgamento positivo pronunciado em favor dos acusados de (Daniel 7:22, quando tratarmos o livro de Daniel, falaremos com mais detalhes deste assunto). A ceifa traz uma mensagem de vida. A escolha do termo grego para traduzir a ideia de colheita (therismos, therizô) é muito significativo. Esta palavra aplica-se especificamente à recolha ao ajuntar as espigas e não a cortá-las como seria o caso se se quisesse evocar o castigo dos inimigos ou a perdição eterna. Estes grãos recolhidos são grãos da promessa de pão, significa a segurança que finalmente chegou o fim e o destino eterno.
Por outro lado, a colheita das uvas representa o castigo dos infiéis. Neste caso, o ceifeiro é associado ao fogo (Apocalipse 14:18) que, como em Daniel 7, é o instrumento do julgamento negativo (Daniel 7:11). No suporte desta ideia, está o anjo que executa o julgamento saindo do altar onde se tinha ouvido a voz dos mártires de Deus (Ap. 6:9; cf. 8:3-5). Este julgamento dá-se também como um acto de justiça que vinga as vítimas; é a manifestação da cólera de Deus (Ap. 14:19). A ceifa traz em si mesma uma mensagem de morte. Os cachos esmagados de forma violenta provocam que o sumo (suco) ou vinho vermelho saia com a cor do sangue que corre (veja Isaías 63:1-6; Lam. 1:15). O profeta interpreta ao receber a visão ele próprio faz esta interpretação. É o sangue que ele vê correr do lagar (Ap. 14:20), a imagem prolonga-se ao ponto de evocar o campo de batalha com os cavalos caídos no sangue.
O objectivo desta imagem não é a de provocar medo, mas antes de tudo de trazer confiança. É a boa nova da vitória final que é aqui proclamada. A imagem motiva fortes esperanças.
A violência que fará tremer os últimos momentos da história é incrível. Para salvar, Deus é obrigado a confrontar-se com o Seu inimigo. É obrigado de combater e de bater para resgatar as suas ovelhas das garras do leão feroz, e, por fim, redireccionar a história na boa direcção, a direcção da vida e da justiça.
Termino esta reflexão com um AMÉM.