30 de abril de 2010

A ESTÁTUA DE DANIEL: O VENTRE E AS COXAS DE BRONZE

“Tu, ó rei, na visão olhaste e eis uma grande estátua. Esta estátua, imensa e de excelente esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível. A cabeça dessa estátua era de ouro fino; o peito e os braços de prata; o ventre e as coxas de bronze; as pernas de ferro; e os pés em parte de ferro e em parte de barro.” Daniel 2:31-33.

O ventre e as coxas de bronze. O reino que segue ao reino de prata é representado por bronze. Da mesma maneira que a prata caracterizava a riqueza do reino dos Medos e dos Persas, o bronze deve caracterizar o poder grego que lhe sucede. O bronze parece ter tido sido uma das artes dos gregos. O profeta Ezequiel faz referência ao bronze como símbolo principal de troca e do vigor dos Gregos (ver Ezequiel 27:13). Mas o bronze era particularmente usado pelos soldados gregos. A sua armadura, o capacete, o escudo e mesmo os seus machados de guerra, tudo era em bronze. É dito que quando Psamético I do Egipto consultou o oráculo de Latone para saber como vingar-se dos seus inimigos persas, o oráculo respondeu-lhe que “a vingança viria do mar quando os homens de bronze aparecessem”. Esta resposta deixa o monarca por algum tempo cético até ao dia em que os piratas gregos, completamente equipados das suas armaduras de bronze, desaguaram nas margens egípcias em consequência de uma tempestade. Testemunha desta cena, um indígena precipitou-se a informar o rei Psamético I que “homens de bronze tinham chegado do mar e estavam a chegar, devastando a planície como se fossem gafanhotos…“. Vendo nisto o cumprimento do oráculo, o rei egípcio fez aliança com eles contra os seus inimigos. (Heródoto I, 152,154).
Para além da ideia de decadência, que está implícita entre o ouro, a prata e agora o bronze exprime-se a ideia de conquista, na medida em que este metal evoca igualmente a vinda do soldado invasor. Por outro lado, esta armadura de bronze, famosa entre os Gregos desde os tempos de Homéro, era tanto mais impressionante por contrastar com a simples toga de tecido com que geralmente os soldados se vestiam e em especial os soldados medos e persas (Heródoto VII, 61,62).
Por tanto nada de admirar que o bronze sema colocado em relação com a ideia de conquista. Encontramos aqui uma característica essencialmente deste “terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra.” (Dan. 2:39). A história uma vez mais confirma a profecia. Graças ao exército de Alexandre o Grande, a Grécia tornar-se-á em breve, uma dezena de anos mais tarde, o reino mais vasto desse tempo, estendendo-se até aos confins da Índia e da Pérsia, passando pela Fenícia, Palestina e Egipto. Alexandre o Grande foi não só o maior sucessor dos reis medo-persas – ele arrogou para si o título de “rei dos Persas” – mas mais ainda ele estabeleceu-se como mestre do mundo daquele tempo. Este domínio não se limitava ao plano militar, era extensivo ao plano da cultura e da civilização.
Alexandre compreendeu que não era possível controlar um território tão vasto se não ganhassem a confiança dos habitantes. Alexandre impõe, assim, aos seus soldados de se misturarem à população e mesmo de casar com mulheres dos países conquistados. Ele deu o exemplo em casando com uma princesa persa. Desde então, a língua e a cultura grega espalharam-se por toda a parte até tornar-se um facto mundial, com consequências palpáveis ainda nos nossos dias. A hegemonia grega que durou de 331 a.C., data da vitória de Alexandre sobre os persas, até 168 a.C., momento em que a Macedónia passa para o controlo romano e anexada no ano 142 a.C.
Estamos com estes estudos bíblico-históricos a criar a base para uma compreensão séria das profecias de Daniel. Deus o/a abençoe e anime a prosseguir nesta estudo fantástico.

21 de abril de 2010

ESTÁTUA DE DANIEL: O PEITO E OS BRAÇOS DE PRATA

“Tu, ó rei, na visão olhaste e eis uma grande estátua. Esta estátua, imensa e de excelente esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.
A cabeça dessa estátua era de ouro fino; o peito e os braços de prata; o ventre e as coxas de bronze; as pernas de ferro; e os pés em parte de ferro e em parte de barro.” (Daniel 2:31-33).
Ao reino de Babilónia segue-se um reino inferior, “Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra” (v.39) como é indicado de forma implícita “prata” (ver tema anterior CLICAR). Este reino que sucedeu a Babilónia foi o reino Medo-Persa, assim chamado por causa da dupla origem; medos e persas.
Não foi como afirmam certos comentadores exclusivamente os persas. Até porque o reino persa era contemporâneo do reino babilónico e não seu sucessor. De facto, o reino dos medos já tinha caído sob Ciro o persa, na batalha Astyages por volta do ano 550 antes de J.C., Ciro era de resto, do lado de sua mãe, neto do rei medo Astyages, a quem ele venceu e destronou, agora seu vassalo.
Segundo Heródoto (I, 206), Tomiri, a rainha Massagete, interpelou-o com o título de “rei dos Medos”. A seguir Ciro assumiu o poder dos medos e dos persas. Torna-se conhecido como o rei dos “Medos e dos Persas”. Daniel usa esta expressão em várias circunstâncias para designar o reino que sucedeu a Babilónia (Daniel 5:28; 6:8; 8:21). Um século mais tarde, o livro de Ester testemunha ainda desta pratica (Ester 1:2). Certamente, o reino dos Medos e dos Persas era geograficamente mais amplo que o reino de Babilónia. No entanto, era-lhe inferior no plano da cultura e da civilização. Os conquistadores medos e persas adoptaram a cultura babilónica, porque era muito mais complexa e muito mais avançada do que a deles.
A referência à prata faz alusão a uma característica notável deste reino. Os Persas de facto serviram-se da prata como unidade de impostos. Heródoto (III, 89-95), só os impostos cobrados sobre os vinte régulos da Índia, que era na altura a região mais rica, deveriam ser cobrados a peso de ouro; e mesmo neste caso, a taxa deveria ser equivalente ao valor da prata, prova que este metal era considerado o valor standard dos Persas nesta época. No plano geral, a prata carateriza igualmente o reino que lhe atribuía mais valor do que ao ouro. Era um conceito de riqueza tal como temos hoje em dia e era este conceito que lhes assegura o seu poder. Daniel afirma que o poder politico dos últimos reis persas (Daniel 11:2). Os tesouros acumulados por Dário, Xerxes e Artaxerxes os tornavam na perspectiva histórica como os mais ricos
da época, assim é testemunhado por Heródoto nestas palavras sobre Dario: “alguém que lucrava sobre tudo e qualquer coisa.” (Heródoto III, 89). A superioridade do reino medo-persa durou de 539 antes de J.C., data da queda de Babilónia, até 331 antes de J.C., data da queda do último rei persa Dário III vencido em Arbela pelo exército grego-macedónico.

19 de abril de 2010

A ESTÁTUA DE DANIEL: A CABEÇA DE OURO

Nabucodonosor não tinha necessidade de explicações suplementares da parte de Daniel para compreender o que representava a estátua de ouro. Estavam colocadas uma série de evidências que tornava fácil compreender o que a estátua representava. A ordem decrescente dos metais na medida que se descia da cabeça para os pés; os acontecimentos sucessivos que davam realce à destruição da estátua são uma clara progressão cronológica. Portanto, era-lhe possível deduzir que a cabeça representaria a primeira etapa, até pela palavra “cabeça” (resh) que significava “começo” ou “primeiro”, em hebraico e também em aramaico.
Pode acrescentar-se que o ouro era o metal favorito em Babilónia. Heródoto, historiador grego, tendo ido a Babilónia 90 anos depois deste episódio. Ficou maravilhado com a abundância de ouro nas construções como era o caso do templo e também do palácio real. Os muros, os objectos, as estátuas brilhavam com este precioso material, sinal do esplendor e da glória de Babilónia (Heródoto I, 181, 183; III, 1-7). Esta profusão de ouro que caracterizava Babilónia chamou a atenção do profeta Jeremias que compara Babilónia a uma taça de ouro (Jeremias 51:7). Esta interpretação está explicitada em Daniel:
“Tu, ó rei, és rei de reis, a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força e a glória; e em cuja mão ele entregou os filhos dos homens, onde quer que habitem, os animais do campo e as aves do céu, e te fez reinar sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro.” (Daniel 2:37-38).
O título tal como a função de responsabilidade indica a primazia de Babilónia. O título “rei dos reis” faz parte de uma linguagem de etiqueta usada na corte de Babilónia e foi aplicada a Nabucodonosor em Ezequiel 26:7. os reis babilónicos eram assim designados (em arcádio: Sar Sarrani, rei dos reis) marcando a diferença entre o rei de toda a Babilónia e os reis regionais; submetidos à jurisdição do rei de Babilónia.
Quando Daniel fala este título reveste-se de um significado particular, na medida em que aplicando-se profeticamente à cabeça, primeiro elemento da estátua, e ao ouro, o material precioso, Daniel refere-se ao rei supremo da época. Mais ainda, a ideia de que Deus confia a Nabucodonosor “ o domínio” de todos os animais, isto lembra-nos que este domínio foi dado a Adão, no território do Éden (Génesis 1:28). Nabucodonosor é aqui posto em relação com o primeiro homem, tal como Adão ele é rei da terra, e como Adão ele faz com que a história recomece.
Mas também, Nabucodonosor deve compreender uma lição importante. Ao sublinhar a primazia do rei, Daniel lembra-lhe ao mesmo tempo a sua responsabilidade e a sua dependência de Deus. o poder que ele detém implica a responsabilidade de gerir e proteger, mas é um poder recebido. Isto Nabucodonosor não pode esquecer! A sede pelo poder pode levar ao risco de se esquecer de Quem lhe confere tal poder e ultrapassar os limites. É importante que ele se lembre para não cair no erro de Babel antiga (Génesis 11:1-9).
Dito isto, a profecia vai para além da pessoa de Nabucodonosor e aplica-se ao reino de Babilónia no seu conjunto. Daniel pensa neste momento ao reino de Babilónia como um regime, mais que ao rei Nabucodonosor. A maneira como ele se refere aos seus sucessores é muito significativa: “Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra.” (Daniel 2:39). Na mesma ordem de ideias vem a palavra “rei” é frequentemente usada como sinónimo de “reino” (Daniel 2:44; 7:17). A interpretação da profecia por Daniel leva-nos a identificar “a cabeça de ouro”, o primeiro reino, como o reino de Babilónia, aqui começa com Nabucodonosor em 605 a.C., até à queda de Babilónia em 539 a.C.
Há pois muito mais do que Nabucodonosor, muito mais do que este reino, há algo que não devemos nunca esquecer um Rei, que conhece a história dos reinos. Conhece a tua vida e a minha. Ele é o Rei da vida, gosto deste verso: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:23). A vida de facto pertence a Cristo. Só a podemos gerir para Sua glória. Seja a sua experiência em Jesus. Amem.

12 de abril de 2010

UM SONHO SOBRE REINOS

“Tu, ó rei, na visão olhaste e eis uma grande estátua. Esta estátua, imensa e de excelente esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.” (Daniel 2:31)
Desde as primeiras palavras somos advertidos que o sonho do rei é de natureza profética. O verbo hzh traduzido por “olhar” é o termo técnico na Bíblia para visão sobrenatural do ou dos profetas (Isaías 1:1; 2:1;13:1; Amos 1:1; Miquéias 1:1; Habacuque 1:1; Ezequiel 13:6; Daniel 8:13,15,26, etc.). No nosso texto, este verbo marca duas etapas do sonho. A primeira “tu olhavas” ou “olhaste” (v.31) introduz uma estátua colossal feita de quatro materiais apresentada em ordem decrescente; desde a cabeça de ouro puro até aos pés em ferro misturado com argila. A segunda “tu olhavas” (“Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou.” v. 34) ou “estavas vendo”, introduz a destruição da estátua provocada por uma pedra cortada de uma montanha, esta cai sobre a estátua, transforma-se numa grande montanha que enche a terra.
O sonho do rei Nabucodonosor é muito mais abrangente que o reino de Babilónia; ele estende-se daquele reino, abraça o futuro e atinge o final. É pois possível para nós, seguir este “olhar” em paralelo com a história e verificar se o profeta “viu” com exactidão. A explicação do sonho desenvolver-se-á passo a passo ao ritmo ou paralelo com a história da humanidade.
Para sermos claros, a linguagem da visão é em si suficientemente explicita para o rei, e é muito possível que os astrólogos do rei o tivessem ajudado a decifrar. No mundo do Médio Oriente (Oriente Médio) antigo a imagem de uma estátua de homem é frequentemente utilizada para representar o destino do mundo. E esta metáfora era particularmente familiar aos astrólogos do egípcio, estas sociedades estavam todas infectadas com os mesmos conceitos e tradições.
Mais ainda, o número quatro era particularmente significativo, porque simbolizava a dimensão da terra (Daniel 7:2;11:4; Ezequiel 37:9 e Apocalipse 7:1; 2:8). A este nível, era facilmente compreensível o sonho e adivinhar que duas ordens de coisas estão aqui em jogo. A de natureza terrestre relacionadas com os metais que vai do verso 31 a 33 ver: “31 Tu, ó rei, na visão olhaste e eis uma grande estátua. Esta estátua, imensa e de excelente esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.
32 A cabeça dessa estátua era de ouro fino; o peito e os braços de prata; o ventre e as coxas de bronze;
33 as pernas de ferro; e os pés em parte de ferro e em parte de barro.” Daniel 2:31-33.
A segunda ordem é explicitada nos versos 34 a 35, ver: “34 Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou.
35 Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se podia achar nenhum vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua se tornou uma grande montanha, e encheu toda a terra.”
O único mistério que permanece relaciona-se com o significado de cada um dos metais, e especialmente a pedra. Esta apresenta uma importância que o espaço que lhe é reservado ultrapassa o que cobre os metais.
Vamos ficar por aqui, reconheçamo-lo, este assunto é demasiado sério para ser tratado de forma leve. É melhor compreender um pouco, que entender mal tudo.
Um abraço e até ao próximo estudo se Deus achar por bem. Amem.

7 de abril de 2010

DANIEL PROCURA O SEGREDO ESCONDIDO II

Depois de ter pedido e recebido, Daniel agradece (lei o primeiro tema CLICAR)a Deus por ser Ele a conduzir a história, os acontecimentos e a revelar os segredos que se escondem por detrás da cortina do cérebro humano. Daniel agradece a misericórdia do Deus que desce e se comunica com o homem.
Daniel louva pois o Deus do Céu dizendo: “Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força.” (Daniel 2:20). Mas Daniel louva igualmente Deus porque Ele desceu e deu o que Ele tinha: “Ó Deus de meus pais, a ti dou graças e louvor porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que te pedimos; pois nos fizeste saber este assunto do rei.” (Daniel 2:23). Estas palavras ressoam como um eco que liga os dois intervenientes. Trata-se de uma repetição das palavras e das ideias, e isto tem a intencionalidade de sublinhar a dívida e a dependência de Daniel. Através destas palavras de agradecimento, ele reconhece que tem presentemente “o segredo do rei” – a oração não foi em vão – mas também se trata aqui de um dom do Deus misericordioso (v.21), uma graça
Daniel percebe no mais profundo do seu ser que não tem nenhum merecimento para receber este presente de Deus. Por outro lado, este favor não lhe é directamente destinado. Ainda que, esta graça da revelação do sonho, salve Daniel da morte, não é que um beneficio secundário ao qual ele nem se refere no seu louvor de agradecimento. Porque a resposta de Deus a Daniel envolve muito mais que o próprio Daniel. É o destino do mundo que está a ser revelado, porque o “Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonozor o que há de suceder nos últimos dias. (Daniel 2:28) – envolve também, a vida do próprio rei “a mim me foi revelado este mistério, não por ter eu mais sabedoria que qualquer outro vivente, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração.” (Daniel 2:30).
Aqui também, a oração de Daniel, é uma genuína oração, porque ela não visa o proveito pessoal, mas é oferecida como um serviço a Deus, ao homem e à história. Em vez de ser um apelo a um deus que está na terra, um deus terreno, “feitura humana”, ela parte da terra, a resposta vem do Deus do Céu para a terra, e tudo isto, para que a Sua vontade seja feita. A resposta não deixa de ser um voto do Céu no sentido que o verdadeiro Reino seja estabelecido na terra. Assim, o sonho profético de Nabucodonosor, é antes de tudo uma resposta directa de Deus à oração de Daniel.
Termino por hoje com um pensamento de John Wesley “Deus não faz nada, a não ser em resposta à oração.”
Santo, revela-Te a quem lê e a quem ouve a Tua Palavra. Amem.

2 de abril de 2010

DANIEL PROCURA O SEGREDO ESCONDIDO – I

Vamos continuar o nosso estudo, lembro, para entender este assunto, deve ler o tema que o precede (CLIQUE).
Ao furor e gritos de raiva manifestados pelo rei “Daniel falou avisada e prudentemente” (Dan. 2:14). À angústia de Nabucodonosor responde o recolhimento e a oração de Daniel. Estes dois tipos de reacções são característicos de dois personagens, e iremos encontrá-los ao longo do nosso estudo de forma regular e contrastante.
Daniel retira-se do encontro com o rei e vai com os seus companheiros orar ao “Deus do céu” para poder receber da parte do Senhor “o seu espírito se perturbou” (Dan. 2:1), o que tanto incomodava o rei. Esta é a primeira oração do livro de Daniel. Aqui encontramos todas as qualidades que devem ter uma oração. Em primeiro lugar é uma verdadeira oração. Ela não é mecânica, ditada por um hábito do culto quotidiano ou simplesmente pelo automatismo ritual. Ela não é teatral, comandada pelo desejo de agradar à assembleia, ou motivada por uma crença mais ou menos supersticiosa, também não é um conjunto de belas palavras, como se fossem estas as razões para por Deus ser ouvido. É antes um grito de súplica que vem das entranhas da alma. Daniel e os seus companheiros estão ameaçados de morte a mais horrível. Esta oração não é pois, um gesto para agradar ao rei, é antes um ascender até Aquele que conhece o profundo da alma, e eles tem n´Ele a confiança da resposta.
De facto o Deus do céu responde. “Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; pelo que Daniel louvou o Deus do céu.” (Daniel 2:19). A forma desta revelação sensibiliza Daniel. O profeta não teve acesso a este segredo por meio de uma técnica particular, graças à superioridade da sua sabedoria ou ao valor da sua oração. Daniel compreendeu que não era mais qualificado do que qualquer outro: “E a mim me foi revelado este mistério, não por ter eu mais sabedoria que qualquer outro vivente, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração.” (Daniel 2:30). Notemos ainda que a oração dos seus companheiros também é mencionada. “Então Daniel foi para casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, para que pedissem misericórdia ao Deus do céu sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o resto dos sábios de Babilônia.” (Daniel 2:17,18). Daniel compreendeu que o acolhimento favorável da parte de Deus da oração feita não depende do valor daquele que a oferece.
A diferença entre Daniel e os seus companheiros dos caldeus, trata-se de um movimento; um movimento parte de cima para baixo e o outro de baixo para cima. É neste conceito que reside toda a diferença entre Daniel e os mágicos caldeus. Para os caldeus tudo se passa em baixo, ao nível das técnicas, razão que os leva a querer conhecer o sonho. Para eles, é impossível ter acesso ao Deus do Alto. ”A coisa que o rei requer é difícil, e ninguém há que a possa declarar ao rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne mortal.” (Daniel 2:11). Daniel, ao contrário, não teve necessidade de informações sobre o sonho para encontrar a solução, porque se para os caldeus o “Deus do céu” significa um Deus distante e inacessível, para Daniel, bem pelo contrário, “há um Deus no céu, o qual revela os mistérios.” (Daniel 2:28). É pois muito interessante notar que a expressão “Deus do céu”, que é uma frase chave e repetida ao longo do livro de Daniel, está associada a uma outra palavra “mistério”. Mas esta associação, compreendida pelos caldeus no sentido negativo do mistério reservado ao Deus do céu, é compreendida por Daniel no sentido positivo do mistério que o Deus do céu está disposto a revelar. Toda a vez que esta associação surge, é sempre para sublinhar a ideia que Deus controla a história, veja os seguintes textos:
27 Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exigiu, nem sábios, nem encantadores, nem magos, nem adivinhadores lhe podem revelar;
28 mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonozor o que há de suceder nos últimos dias. O teu sonho e as visões que tiveste na tua cama são estas:
29 Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos sobre o que havia de suceder no futuro. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser.
30 E a mim me foi revelado este mistério, não por ter eu mais sabedoria que qualquer outro vivente, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração. (Daniel 2:27-30).
Outro texto:
“36 Este é o sonho; agora diremos ao rei a sua interpretação.
44 Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre.
45 Porquanto viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro, o grande Deus faz saber ao rei o que há de suceder no futuro. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.” (Daniel 2:36,44,45).
Ver ainda:
“23 Ó Deus de meus pais, a ti dou graças e louvor porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que te pedimos; pois nos fizeste saber este assunto do rei.
24 Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para matar os sábios de Babilônia; entrou, e disse-lhe assim: Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e lhe darei a interpretação.” (Daniel 2:23,24).
O Deus de Daniel, contrariamente ao deus dos caldeus, não fica confinado ao seu canto, indiferente ao curso dos acontecimentos. O Deus do céu, é o Deus que conduz a história, mas também Aquele que revela os segredos, o Deus que desce e comunica com o homem.
Maravilhoso Deus, louvado seja! Tenho tantas vezes vivido essa experiência por Tua única boa vontade para com os filhos dos homens. Louvado e glória para sempre ao Teu santo carácter. Amem!