28 de outubro de 2009

AS 7 TAÇAS: O ARMAGEDOM

Esta parte da visão retém a atenção do profeta João. Depois de uma breve lua-de-mel durante a qual todos os poderes se unem para governar em conjunto sob a autoridade da besta (Ap. 17:13, a batalha do Armagedão explode (Ap. 17:14). Os exércitos da terra serão vencidos pelo Cordeiro (Ap. 17:14).
É então que num profundo sentimento de frustração, os reis da terra, decepcionados por aquela que eles tinham adulado e coroado (Ap. 17:17,18), revoltam-se contra ela. Foi esta insubordinação dos dez chifres (os reis da terra) mostrada ao profeta de Patmos: “E os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostituta e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo.” (Ap. 17:16).
Curiosamente, não nos é dito nada sobre o seu destino. A profecia concentra-se por instantes sobre o julgamento de Deus sobre estes que se revoltam e que são o alvo do julgamento, conclui com uma simples constatação: “...Caíu! caiu, a grande Babilónia.” (Ap. 18:2). Esta proclamação do anjo faz paralelo, palavra por palavra sobre o anúncio do segundo anjo que tinha gritado sobre a terra no momento em que a história da terra tocava o seu fim (Ap. 14:8). A repetição da mensagem é um sinal que a profecia cumpre-se na terra. Isto não pode ser de outro modo, porque é o próprio Deus que “em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento...até que se cumpram as palavras de Deus.” (Ap. 17:17).
Como no passado e a propósito do endurecimento do coração de Faraó, Deus toma sobre Ele próprio toda a responsabilidade dos acontecimentos – como um desafio irónico à vontade de independência de Babel, mas também para marcar o carácter definitivo desta iniquidade que atinge o seu ponto sem retorno. Esta verdade está registada até no tom da passagem como se fosse uma máquina calculadora, um computador com um programa preciso e irrevogável.
Em contraponto a esta palavra séria e dura, o texto profético está tecido de paradoxos e ironias. A bela, tão vaidosa e pretensiosa dos seus direitos, vestida de vestes extravagantes, ornamentada com ouro e pedras preciosas (Ap. 17:4) “tendo na mão” com toda a elegância e boas maneiras “um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícies da sua prostituição” (Ap. 17:4). Está sentada com pose de rainha sobre uma besta hedionda dela fluem “nomes de blasfémia” (Ap. 17:3) tais: BABILÓNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA” (Ap. 17:5). Esta a “bela e o monstro” funde-se com a própria besta, ou seja, entra a besta e a personagem que sobre ela está sentada não há diferença (Ap. 17:17,18); e portanto, é da parte da besta que ela receberá o golpe fatal (Ap. 17:16). “A bela e o monstro” é também o lugar de Babel. E ao intitular-se “Babilónia, a Grande”, ei-la arrastada no deserto, transformada em deserto completamente devastado (Ap. 18:2).
Na realidade, toda esta linguagem cheia de aparentes contradições traduz uma filosofia bem definida da história. Para além dos imbróglios políticos e das intenções maléficas que têm a sua inspiração no terreno, Deus controla tudo e faz com que termine segundo os Seus desígnios. Pode dizer-se que a história tem um sentido; mesmo sem depender de Deus e contra Deus, ela não se acabará como se fosse um acidente absurdo e trágico. É ao mesmo tempo uma afirmação da justiça de Deus e uma âncora de esperança. Deus o/a abençoe querido/a amigo/a em Jesus.

27 de outubro de 2009

AS 7 TAÇAS: O ANÚNCIO DA QUEDA DE BABILÓNIA

Ouvi outra voz do céu dizer: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos sete pecados, e para que não incorras nas suas pragas. (Ap. 18:4)

Deus tem sempre dado aos homens advertências dos juízos por vir. Aqueles que tiveram fé na mensagem por ele enviada para o seu tempo, e agiram segundo a sua fé, em obediência aos Seus mandamentos, escaparam aos juízos que caíram sobre os desobedientes e incrédulos.” (D.T.N., 634)

Este apelo já tinha sido registado pelo profeta Jeremias. Visava naquela época os israelitas exilados em Babilónia, para os exortar a deixar a cidade (Jer. 51:45). As razões dadas então, reportavam-se ao futuro e ao presente. Era uma exortação para escapar à cólera de Deus e permitir o retorno ao país (Jer. 50:9, cf. Isaías 48:20); aplicava-se igualmente ao presente, para os proteger da influência nefasta e corruptora da idolatria (Jer. 51:47,52).
O mesmo apelo tinha ressoado por várias vezes durante a história de Israel. Abraão o tinha ouvido em Ur da Caldeia (Gén. 12:1), Lot em Sodoma (Gén. 19:12), os Israelitas no Egipto (Ex. 12:31). No Novo Testamento, os cristãos forma igualmente interpelados (2Cor. 6:14; Ef. 5:11; 1Tim. 5:21). É a mensagem para soltar as estacas e de caminhar para novos horizontes.
O grito do céu, que ressoa sobre a praça de Babilónia, está emprenhado da mesma inquietação e da mesma súplica de Deus. não se trata de abandonar um lugar e imigrar para outro lugar.
Desde a queda de Babilónia histórica, o apelo de sair de Babilónia não é necessariamente acompanhado de se transferir para um outro lugar, de comprar um bilhete de avião e ir para outro país.
Babilónia está em todo o lugar. Trata-se de uma instituição religiosa que marcou com o seu selo gerações de cristãos. Não é o facto de se ter deixado a Igreja católica que se deixou Babilónia. Babilónia, é, está para além dos seus limites físicos, é uma mentalidade, é uma cultura de hábitos e de erros que se transmitiram e se herdaram nos diversos meios religiosos.
Sair de Babilónia significa cessar de fazer da porta de Deus (Babel), de substituir Deus pela organização eclesiástica, e de suplantar a fé por negociações de carácter político/comercial.
Sair de Babilónia, é ao mesmo tempo desembaraçar-se de todos os preconceitos e orgulho. É por exemplo curar-se da crítica aos outros e centrar-se em si mesmo. Sair de Babilónia, é para o cristão lembrar-se das bases fundamentais da fé bíblica.
Sair de Babilónia, é ter a coragem de colocar em causa as suas ideias recebidas das tradições; é ser capaz de abrir-se à verdade eterna de Deus, mesmo se ela entra em conflito com os seus próprios interesses; é correr o risco de crer noutra coisa bem diferente daquela que se recebeu de forma natural pela educação ou nascimento.
Sair de Babilónia, é pois, todo um programa de conversão. Isto é importante, está em jogo a nossa salvação. Sair de Babilónia impõem-se como a única saída possível para escapar ao massacre, mas também para redescobrir a sua própria identidade no país da promessa.
É um apelo à esperança que é lançado nas ruas de Babilónia, quando a cidade ainda se agita com todas as fibras da vida, um apelo que nos concerne a todos.

25 de outubro de 2009

ARMAGEDOM; LAMENTAÇÕES SOBRE BABILÓNIA

9 E os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em delícias, sobre ela chorarão e prantearão virem quando, uma fumaça do seu incêndio;
10 E, estando de longe por medo do tormento dela, dirão: Ai! ai da grande cidade, Babilônia, uma cidade forte! pois numa só hora veio o teu julgamento.
11 E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra, porque ninguém mais compra as suas mercadorias:
12 Mercadorias de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho fino, de púrpura, de seda e de escarlata, e toda espécie de madeira odorífera, e todo objeto de marfim, de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de mármore;
13 E canela, especiarias, perfume, mirra e incenso, e vinho, azeite, flor de trigo e farinha; e gado, ovelhas, cavalos e carros, e escravos, e até almas de homens.
14 Também os frutos que a tua alma cobiçava foram-se de ti; E todas as coisas delicadas e sumptuosas se foram de ti, e nunca mais se acharão.
15 Os mercadores destas coisas, que por ela se enriqueceram, ficarão de longe por medo do tormento dela, chorando e lamentando,
16 Dizendo: Ai! ai da grande cidade, da que estava vestida de linho fino, de púrpura, de escarlata, e Adornada com ouro, e pedras preciosas, pérolas e! Porque numa só hora foram assoladas tantas riquezas.
17 E todo piloto, e todo o que navega para qualquer porto e todos os marinheiros, e todos os resultados obtêm que no mar Puseram se de longe;
(Ap. 18:9-17).
Como convencer? A voz no céu continua o seu argumento dissipando toda uma ilusão a propósito do futuro depois da queda de Babilónia. A terra está agora mergulhada no mais completo lamento (Ap. 18:9-19). O período pós-babilónico e perspectivas sem. Os reis da terra (Ap. 18:9), os mercadores da terra (Ap. 18:11), todos os navegantes (Ap. 18:17), tantos quantos sombra aproveitaram para fazer riqueza à / Protecção dela estão agora sem lucros , perderam choram por causa de todas as coisas que. O pior é que eles Próprios estão na causa da queda de Babilónia. Foram eles que levaram até à uma fogueira (Ap. 17:16). Agora qual criança mimada e caprichosa reclama o seu brinquedo depois de o ter partido, os amantes de Babel esforçam-se em vão.
Este comportamento é (inexplicavelmente) irracional. Digo, inexplicavelmente, de facto tem explicação e esta é que os comportamentos equilibrados têm Deus como inspirador. Ora os habitantes da terra continuam por reflexo a adorar Babilónia, apesar da sua ausência. Os seus lamentos conservam um carácter da adoração de outrora. A prova disto está na exclamação "cidade que se compara à grande cidade" (Ap. 18:18). Há aqui o retomar da antiga fórmula de adoração à besta, "Quem é semelhante à besta" (Ap. 13:4); é também sobre um parentese "Quem é igual a Deus" usado pelos Israelitas no Antigo Israel na adoração ao Altíssimo (Êxodo 15 : 11,12; Miquéias 7:18).
Trata-se de um pranto verdadeiramente extraordinário que a palavra Armagedom anunciava: Um pranto sobre um deus, tal como aquele de Hadade Rimon. Com uma diferença, este deus que é chorado não é da mesma natureza que aquele das religiões cananitas, este era um deus da fertilidade. Este que agora é chorado, não está relacionado com o movimento das estações. Este deus não ressuscitará na Primavera.
Contrariamente às lamentações fúnebres tradicionais (Samuel 1:18-27), estas não se manifestam pela revolta ou pelo consolo. Esta história termina de forma trágica e sem esperança. Para representar uma queda da "grande Babilónia" é lançada por um anjo uma grande "pedra como uma grande pedra de moinho", ao mar: "Assim, com ímpeto, será arrojada Babilónia, uma cidade grande, e nunca jamais será achada." (Ap. 18:21).
O profeta Jeremias tinha tido o mesmo gesto para simbolizar a queda de Babilónia histórica. Obedecendo à ordem de Deus ele tinha lançado uma pedra no Eufrates "E acabando tu de ler este livro, atar-lhe-ás uma pedra e a lançarás no meio do Eufrates; e dirás: Assim será submergida Babilónia, e não se levantará, por causa do mal que vou trazer sobre ela; e eles se cansarão. "(Jr 51:63,64). O gesto é a intenção são os mesmos. Só o Objecto lançado É Diferente ". Desta vez, é uma pedra sem nome, uma pedra ordinária que representa Babilónia. O detalhe é importante, porque representa uma pedra com um nome espiritual Babilônia, e isto é também mencionado como um sinal de vida (Ap. 18:22). O facto que seja lançada uma pedra de moinho, demonstra que não haverá mais ninguém para um JAF, não haverá mais vida. A pedra de moinho era tão Necessária que a lei de Moisés proibia que fosse penhorada ", pois se penhoraria, assim a vida." (Deut. 24:6).
Acresce a isto o facto que uma pedra "grande" também é muito mais pesada que uma pedra vulgar. Será preciso um cavalo ou um burro para um virar. Decorre, que é Necessário "um anjo poderoso" (Ap. 18:21). A grande pedra de moinho afunda-se de forma mais profunda nas águas. O anjo comenta mesmo que ela é lançada "com ímpeto" (Ap. 18:21). Notemos por outro lado que é o mar e não um simples um ribeiro que recebe.
Todos estes detalhes convergem para sublinhar o carácter definitivo da queda de Babilónia. O Pranto sobre Babilónia é definitivo.
E nisto reside um Consolação.
Porque não há mais nada temer um, não mais em perspectiva Reincidência. E esta segurança traz nova, se nos lembrarmos que "nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra." (Apoc. 18:24). O Apocalipse recebe este acontecimento com uma emoção intensa. A alegria do julgamento justo mistura-se com a esperança da garantia.
Perguntamos: não porque Deus fez justiça quando o processo começou mal faz? O Apocalipse traz uma resposta, Deus tem o tempo certo para fazer justiça com tudo e da Misericórdia, ambas se beijam. Louvado seja o Altíssimo. Amem.

16 de outubro de 2009

APOCALIPSE: O TESTEMUNHO DE JESUS E O ESPÍRITO DE PROFECIA - II

“Então me lancei a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: Olha, não faças tal: sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.” (Ap. 19:10)
A felicidade é contagiosa. A bênção maior de participar na festa reside no facto de convidar todos a nela participar.
Assim que João ouviu as palavras, prostra-se aos pés do anjo “para o adorar” (Ap. 19:10). A reacção do profeta é surpreendente. É o gesto de alguém que perdeu a postura, não se contém, tais os sentimentos que o invadem. O anjo por seu lado, apressa-se a lembrar-lhe que é apenas “conservo no serviço”. Só a Deus é devida a adoração. E para fundamentar o seu argumento, o anjo justifica-se dando razões que parecem à priori fora de contexto, “porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” (Ap. 19:10)
Esta declaração mais parece um enigma. Ela é encontrada de novo na conclusão do livro, integrada no mesmo sentido. Também aqui, segue-se uma bem-aventurança pronunciada pelo anjo e o profeta deixa-se de novo levar pela mesma emoção. Tem que ser exortado outra vez “sou teu companheiro no serviço”. O paralelismo entre as duas passagens permite decifrar a intenção do enigma: Comparar Apocalipse 19:10 com Apocalipse 22:8,9.
“Os que têm o testemunho de Jesus” corresponde “àqueles que guardam as palavras deste livro”. Por outras palavras, “o testemunho de Jesus” significa “este livro” (Ap. 22:9), quer dizer; o Apocalipse. Testemunhar de Jesus significa levar a mensagem do Apocalipse; é anunciar as profecias que concernem à salvação final do Universo. A expressão “testemunho de Jesus” deve ser compreendida no sentido de um testemunho que procede do próprio Jesus (em grego genitivo subjectivo). O “testemunho de Jesus” é aqui identificado com o “espírito de profecia”, ou seja, a inspiração do Alto é um fenómeno profético.
O texto indica explicitamente, “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap. 19:10). Não se pode reduzir o testemunho a uma simples ética ou a uma tradição cultural, é necessário a visita do Espírito de Jesus.
Por outro lado, numa outra passagem, o Apocalipse associa o testemunho de Jesus ao dever de observar os mandamentos de Deus (Ap. 12:17). Guardar os mandamentos de Deus, viver segundo os critérios do Altíssimo, é de facto confirmar a profecia. O “testemunho de Jesus” deve portanto compreender um sentido de testemunho sobre Jesus; é testemunhar de Jesus (em grego, genitivo objectivo). Uma vida moral e atenta ao caminho traçado por Deus, é sinal do espírito de profecia e de verdadeira inspiração do Senhor. Não se pode pretender ter inspiração profética sem esta manifesta prova de vida, sem um esforço em conformidade aos princípios do reino que é anunciado. O fanatismo, e os excessos religiosos frequentemente praticados em nome de uma autoridade “profética” fazendo apelo a uma ética e ao radicalismo são aqui excluídos. A expressão “testemunho de Jesus” deveria portanto ser tomada nos dois sentidos: “assim como o testemunho de Cristo foi confirmado entre vós” (1ª Cor. 1:6); 1) confirmado por Jesus; 2)confirmado pela Igreja.
Não é por acaso que o Apocalipse vê neste “testemunho de Jesus e o espírito de profecia” um traço fundamental “ao resto da sua semente” (Ap. 12:17). O que caracteriza as últimas testemunhas que estão sob a atenção de Deus, não é só a sua fidelidade que permaneceu a todos os desvios e a todos os esquecimentos, mas igualmente o milagre da palavra profética que os visita e continua a visitar para os iluminar no caminho nos últimos momentos da história.
Oro para que sinta a alegria que me invade em Jesus.

15 de outubro de 2009

APOCALIPSE: AS BODAS DO CORDEIRO - I

LER O TEXTO BÍBLICO:
“1 Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma imensa multidão, que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus;
2 porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.
3 E outra vez disseram: Aleluia. E a fumaça dela sobe pelos séculos dos séculos.
4 Então os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus que está assentado no trono, dizendo: Amém. Aleluia!
5 E saiu do trono uma voz, dizendo: Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes.
6 Também ouvi uma voz como a de grande multidão, como a voz de muitas águas, e como a voz de fortes trovões, que dizia: Aleluia! porque já reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso.
7 Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se preparou,
8 e foi-lhe permitido vestir-se de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos.
9 E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. Disse-me ainda: Estas são as verdadeiras palavras de Deus.
10 Então me lancei a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: Olha, não faças tal: sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.” (Ap. 19:1-10; cf.4:5).
Como em cada prelúdio a um ciclo de sete, a visão pára sobre uma cena de adoração. Esta introdução está relacionada com a dos sete selos; são encontrados os mesmos temas: o trono celeste, os vinte e quatro anciãos, os quatro seres vivo e o cordeiro. Desta vez, o que está sentado sobre o trono é claramente identificado: “Deus que está assentado no trono” (Ap. 19:4). É a última liturgia.
Pela primeira vez, nem templo nem nenhum dos móveis ou objectos que se encontravam neste lugar, são mencionados. Todos os ritos da expiação que deveriam cumprir-se no templo estão terminados, por esta razão o templo já não tem razão de ser. o ritual do Yom Kipur (Dia da Expiação), os bodes emissários que faziam parte dos sacrifícios (Levíticos 16:9-10,20-26), estes tipos encontraram o cumprimento, o bode por Azazel (bode enviado para o deserto carregando os pecados, tipo de Satanás) foi lançado no “deserto” (os mil anos), o povo no cumprimento do Yom Kupur, ficava completamente liberto do mal.
Na perspectiva profética, a lição é de grande riqueza e de esperança. Deus não se contentou em perdoar os nossos pecados graças ao sacrifício da expiação. Ele vai igualmente livrar-nos para sempre de todo o mal. O diabo, representado pelo bode emissário ou Azazel, será levado para o deserto para ser definitivamente destruído. No final da expiação levanta-se um clamor de alegria e louvor a Deus.
Nos textos acima apresentado (Apocalipse) ressoa a mais plena alegria que festeja a destruição do mal e antecipa a habitação com Deus. Babilónia caiu e os salvos preparam-se para entrar na Jerusalém celeste. A prostituta morreu, consuma-se o casamento! O céu regozija com cinco gritos da multidão: “Aleluia!” (19:1,3,4,5,6).
A expressão hebraica remonta aos cânticos dos Salmos. Alleluiah significa “louvai (hallelu) Yah” (abreviação do nome de Deus YHWH). O sentido deste louvor é sugerido pelas palavras que lhe estão associadas:
* “Cantar”, “compor uma melodia” (Salmo 146:2; 149:3).
* “Dizer, contar, proclamar” (Salmo 22:23)
* “Agradecer”, “render graças”” (Salmo 35:18; 44:9; 109:30)
* “Glorificar” (Salmo 22:24)
* “Abençoar” (Salmo115:17; 145:2)
* “Alegrar-se” (Jeremias 3:7).
É interessante notar que os antigos rabinos começaram a usar no Templo a palavra Alleluiah só a partir do Salmo 104, e particularmente a partir do versículo: “Sejam extirpados da terra os pecadores, e não subsistam mais os ímpios. Bendize, ó minha alma, ao Senhor. Louvai ao Senhor.” (Salmo 104:35).
O chamado Allel agrupa os Salmos (113-118), assim chamado por causa das numerosas aleluias que os pontuam, é o texto principal da liturgia do Yom Kipur; os Salmos eram recitados durante os dias da festa.
É o tipo de aleluia que a grande multidão do Apocalipse entoa, uma aleluia que lembra os cânticos responsos do templo de Jerusalém. A palavra Alleluiah funcionava então como uma resposta da parte dos fiéis de forma alternada com o canto dos solistas. A própria sintaxe da palavra supõe um género litúrgico. É um imperativo no plural que une a multidão no louvor a Deus.
A ALELUIA é cantada por todos, “uma grande voz de numerosa multidão, que dizia: Aleluia!” (Ap. 19:1, cf. 19:6), envolve “numerosa multidão”, os “vinte e quatro anciãos” e os “quatro seres viventes” (Ap. 19:4), representação de toda a criação; e enfim, uma voz anónima que sai do trono de Deus (Ap. 19:5).
As duas primeiras aleluias são pronunciadas pela multidão e têm um sentido (viradas) do passado. A primeira aleluia funde-se sobre o reconhecimento da justiça executada sobre a grande prostituta (Ap. 19:2). A segunda aleluia intensifica-se na emoção ao ver a “fumaça” que “sobe para todo o sempre”, significa a destruição definitiva (Ap. 19:3), implica igualmente a destruição final do mal e da morte. A expressão “para todo o sempre” ou “séculos dos séculos”, que visa a eternidade, é a mesma que se encontra em (Ap. 20:10) para designar a última fase do julgamento, na qual está implicado Satanás e que era representado pelo ritual do Yom Kipur relativo ao “bode emissário” (Lev. 16:10, 21,26).
As duas aleluias seguintes são pronunciadas pelos seres celestes (os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes) e a razão é centrada no próprio Deus, Ele próprio. O terceiro aleluia justifica-se “a Deus, que está sentado no trono,” (Ap. 19:4), quer dizer o Deus que reina e julga. A quarta aleluia é justificada sobre o temor de Deus (Ap. 19:5) que caracteriza os seres humanos, “seus servos” (Ap. 1:1).
A quinta e última aleluia ressoa mais forte que as anteriores. O profeta ouve-a “como a voz de fortes trovões,” (Ap. 19:6). Esta aleluia é decididamente voltada para o futuro. É uma antecipação do reino de Deus. “Aleluia! porque já reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso. Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se preparou,” (Ap. 19:6-8).
Do anúncio da morte da prostituta ao anúncio das bodas com a esposa, o Apocalipse recorre uma vez mais à metáfora conjugal. O povo de Deus toma enfim o seu lugar de esposa legítima do Cordeiro.
A relação que une Deus e o Seu povo é da mesma natureza que a do casal. É uma relação de amor recíproco que se compromete na responsabilidade conjugal.
Nos nossos textos, a responsabilidade da esposa é da mesma forma sublinhada: “já a sua noiva se aprontou” (Ap. 19:7). O texto grego retoma o pronome “ela” (eauten) para colocar em realce o sujeito: “ela aprontou-se ela própria” (tradução literal).
A salvação não é de todo uma atitude passiva. Deus espera uma resposta humana. Segundo o costume, a esposa deve preparar-se para esse grande evento das bodas, cuidadosa em estar bela para agradar ao seu esposo, e conservar-se virgem para ele. A tarefa de se preparar é tão meticulosa que ela tem a necessidade da ajuda das suas amigas. Ela é coberta completamente por um véu que lhe esconde a face, este véu só será retirado na câmara nupcial. À volta da sua cintura terá uma faixa que só será desapertada pelo esposo.
Por outro lado, a profecia, diz: “Foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, resplandecente e puro.” (Ap. 19:8). Não só, o modelo e a qualidade da roupa, mas também, o acto de poder ser vestida, são lhe dados como uma graça do Alto. O “linho fino” representa aqui “os actos de justiça dos santos” (Ap. 19:8), enquanto que este linho fino era um sinal de luxo insolente para a prostituta. A simplicidade do seu vestido “resplandecente e puro” contrasta com o vestido “de linho fino, púrpura, de escarlate, e adornada com ouro, pedras preciosas e pérolas” (Ap. 18:16) da prostituta. O linho, a púrpura e os adornos são obra exclusiva da "mulher" igreja. Ela não dependeu de Deus, depende exclusivamente da sua sabedoria, da sua força, do seu agir.
A humildade e a modéstia da esposa opõe-se ao orgulho e falta de pudor da prostituta. Esta antítese confirma uma vez mais a que ponto no espírito do profeta estava bem claro, que as duas mulheres têm a mesma origem. Tal como a esposa, a prostituta participa da metáfora conjugal e da mesma referência na aliança. A mesma alegria que rompe nas ruas e os cânticos das bodas (Ap. 19:7,9) fazem contraste com a tristeza e lamentações, os gritos e as lágrimas, do próprio silêncio dos músicos (Ap. 18:10-11,16,19,22). E esta grande felicidade invade de repente a cena terrestre de João: “Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro.” (Ap. 19:9).
A esta grande felicidade são todos os homens chamados a desfrutar, você também. Aceite Jesus como seu Senhor. Diga Jesus é meu Salvador e Deus o/a abençoe.

14 de outubro de 2009

APOCALIPSE: AS VITÓRIAS DO ALTÍSSIMO

Nesta visão surpreendemos João prostrado em adoração: “Então me lancei a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: Olha, não faças tal: sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.” (Ap. 19:10). O seu olhar está orientado além do anjo, João vê o “céu aberto” (Ap. 19:11). Até ao presente, só se ouviam vozes ou viam-se anjos; a visão era limitada. Por vezes, a visão consentia uma “porta aberta” (Ap. 11:1) ou uma visão do templo aberto (Ap. 11:19; 15:5).
Pela primeira vez João vê “o céu aberto”. A revelação pretende ser mais completa e mais generosa: os olhos perdem-se no infinito do reino celeste.
Deste horizonte alargado aparece um cavalo branco que vai levar-nos até à última batalha militar de Deus. As vitórias do Altíssimo sucedem-se ao ritmo de temas paralelas aos sete selos:

13 de outubro de 2009

APOCALIPSE: OS DOIS CAVALOS BRANCOS



“Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vencendo, e para vencer.” (Apocalipse 6:2).

“E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga a peleja com justiça.” (Apocalipse 19:11).
Desde o começo do Apocalipse somos alertados para a natureza e relatório da história revelada e os SELOS. Também, é chamada a nossa atenção para uma época que será inaugurada por um cavalo branco. Nos selos, o cavalo branco marca o início vitorioso da Igreja na terra (Ap. 6:2), porém, só cobre a primeira parte da história da mesma.
Presentemente, estamos na fase preparatória do retorno vitorioso do Cavaleiro celeste que terminará a última parte da história da terra contagiada pelo pecado, isso acontecerá com a vinda do 2º cavalo branco.
No ciclo dos selos, o cavalo branco era montado por um cavaleiro com intenções pacíficas; as armas são a Palavra de Deus, a proclamação do evangelho eterno, o evangelho na mais completa pureza a “toda a nação, tribo, língua e povo”. Agora, o cavalo branco é montado por um guerreiro que usa uma espada contra as nações e derrama sangue “Estava vestido de um manto salpicado de sangue; e o nome pelo qual se chama é o Verbo de Deus. Seguiam-no os exércitos que estão no céu, em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações; ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso.” (Ap. 19:13-15). O primeiro cavaleiro a sua coroa era de louros (Ap. 6:2), o 2º cavaleiro tem vários diademas “Os seus olhos eram como chama de fogo; sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.” (Ap. 19:12). Os diademas sugerem uma coroa de outro tipo, uma coroa muito mais relevante. A de louro é concedida para distinguir a vitória numa competição desportiva; o diadema exprime a permanência da realeza. O primeiro cavaleiro era proclamado. Era só uma sombra sem nome. Este, podemos distinguir os seus traços. A sua cabeça e os seus olhos (Ap. 19:12), a sua boca (Ap. 19:15), a sua coxa e as suas vestes. Há uma clara identidade, é claramente revelado.


Este cavaleiro recebe quatro nomes com um sentido progressivo, passa alternadamente da proximidade de Deus que se incarna, ao distanciamento da sua plena grandeza:
1- O primeiro nome, “Fiel e Verdadeiro” (Ap. 19:11), afirma a presença segura e constante de Deus perto de nós e a sua vinda é absolutamente fiel (Ap. 22:6; 22:1-5).
2- O segundo nome, “ninguém conhece” (Ap. 19:12), afirma os segredos do Deus invisível e por outro lado; a sua vinda como surpresa.
3- O terceiro nome, “Palavra de Deus” (Ap. 19:13), ou “Verbo de Deus”, afirma a manifestação de Deus que se revela aos homens pela sua palavra e pelos seus actos. É o Deus pessoal que entra na existência e na história.
4- O quarto nome, “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap. 19:16), afirma a suprema soberania de Deus, Rei do Universo; é o nome com que é designado especificamente o Cordeiro, Jesus Cristo (Ap. 17:14).
A transcendência e imanência de Deus são assim postas em conjunto. Deus é ao mesmo tempo distante e presente (Jeremias 23:33). A incarnação e a presença próxima de Deus, vão a par com a soberania, justiça e a grandeza de Deus. Jesus enuncia este princípio quando orou “Pai Nosso” (o Deus próximo), “que estás nos céus” (o Deus distante).
Da mesma sorte, o reino de Deus é simultaneamente presente e futuro, existencial e cósmico. Após ter afirmado aos fariseus, “o reino de Deus está dentro de vós” (Luc. 17:21), Jesus apressa-Se a acrescentar, “pois, assim como o relâmpago, fuzilando em uma extremidade do céu, ilumina até a outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia.” (Luc. 17:24).
Só uma consciência afinada na certa tensão pela sabedoria de Deus pode ter qualidade de adoração e de culto. Não é por acaso que esta reflexão intervém no momento quando João está de joelho a adorar a Deus (Ap. 19:10), é aqui que a revelação de Deus a João toca o cume, a parousia. A vinda, a vitória, a esperança de todas as esperanças. Louvado seja Deus! Glória a Deus por toda a eternidade.
Entre no louvor e Deus derrame bênçãos mil.

10 de outubro de 2009

APOCALIPSE: AS SEQUELAS DO ARMAGEDOM

“11 E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga a peleja com justiça.
12 Os seus olhos eram como chama de fogo; sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.
13 Estava vestido de um manto salpicado de sangue; e o nome pelo qual se chama é o Verbo de Deus.” (Ap. 19:11-13).

Nesta visão da Vinda vitoriosa do Rei dos reis, o olhar do profeta é projectado para o passado para descobrir o fio condutor do grande Evento. O sangue (v.13) ainda salpica o manto do Cavaleiro, são marcas que demonstram que acaba de se servir da Sua espada. O acontecimento leva ao segundo selo. O sangue derramado pelos opressores corresponde ao sangue derramado em Apocalipse 6:3,4. A resposta que a guerra pede é a guerra, a espada pede espada.
O “ajuntamento” dos “reis da terra” contra o Cavaleiro divino (Ap. 19:19) evoca “ajuntamento” dos “reis da terra” sobre a montanha de Megido contra a vinda “daquele que vem como um ladrão” (Ap. 16:15) ou “a grande ceia de Deus” (Ap. 19:17), faz oposição aos “ demónios, que operam sinais; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo, para os congregar para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso.” (Ap. 16:14). Estes temas têm sempre algo em comum uns com os outros (Actos 9, mostra a perseguição de Saulo de Tarso contra os cristãos, quando Jesus lhe aparece na estrada de Damasco pergunta: “porque me persegues?” – em qualquer época da história do homem perseguir os fiéis, é perseguir a Cristo) e neste caso, o texto da sexta praga e indica que se trata da batalha do Armagedom (chamaremos Armagedão). O Armagedão começa na 2ª Vinda de Cristo e terminará na 3ª Vinda, na 2ª Vinda serão destruídos a “Besta” e o “Falso profeta” (Babilónia e as suas filhas), na 3ª Vinda será destruído para sempre o “Dragão”, consuma-se o Armagedão.
As peripécias da batalha não são detalhadas. O profeta contenta-se em dar o desfecho: a vitória de Deus sobre os Seus inimigos é total. A besta e o falso profeta (a Igreja das Tradições e as Igrejas filhas - observadores do Domingo) estão unidas e todos os movimentos religiosos e ateus seguem a mesma tendência. Os capítulos 17 e 18 do Apocalipse, já nos tinham apresentado os detalhes da derrota dos exércitos de Babel, a queda de Babilónia e o grande luto que se segue, e como os reis da terra a tinham lançado no fogo, ainda que durante algum tempo a consolaram e choraram.
O texto como que pára, fica em suspenso, sem que nós saibamos exactamente em que se tornaram os “reis da terra” que sobreviveram. O anjo retoma outra vez o fio condutor da história desta batalha do Armagedão. Lembramo-nos que o poder de Babilónia e do seu aliado o Falso Profeta, foram lançados no fogo (Ap. 19:20; “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que fizera diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre”, cf. 17:16; Daniel 7:11). No texto precedente, o Falso Profeta não era mencionado (Ap. 17:16), porque o seu destino era o mesmo de Babilónia. Agora compreendemos que os dois poderes já foram ambos castigados.
No que diz respeito aos “reis da terra”, ou seja os poderes políticos, são mortos pela “espada afiada que saía da sua boca (o Cavaleiro ver 19:11), para ferir com ela as nações” (Ap. 19:15). O castigo é diferente do que foi dado as bestas. Contrariamente ao castigo das bestas (a besta que saía do mar e a besta que se levantou da terra) que são lançados no lago do fogo, os “reis da terra” são atacados com a espada. Cada poder é combatido no seu próprio terreno. Os poderes de natureza religiosa são destruídos pelo poder cósmico de Deus o Juiz. Os poderes de natureza política são vencidos pelo poder militar do Deus dos exércitos.
Neste caso a rama que desfere o golpe fatal é tão só a Palavra de Deus. como tinha começado pela Palavra a criação (Gén. 1:3; João 1:1-3), é ainda pela Palavra que leva o mundo ao seu fim. Porque a Palavra de Deus é criador ela pode ser também destruidora. “Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste; pelas quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água; mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios.” (2ª Ped. 3:5-7).
Em hebraico, a palavra significa muito mais que um conglomerado de sons articulados. A palavra (davar: palavra ) significa igualmente história. É de facto a expressão viva, histórica e concreta da pessoa. No contexto da epístola aos Hebreus: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho” (Heb. 1:1,2).
Voltar a Jesus, o descendente efectivo de Deus, é a palavra a mais expressiva de Deus. é por isso que o homem não a pode suportar (Is. 33:20; cf. 1ª Tim. 6:16). Ou ele morre, ou ele muda. A vinda de Jesus significa portanto, para uns a transformação da natureza (1ª Cor. 15:51-52), e para outros a morte.
Sendo deste modo e esta é a verdade absoluta, sem relativismo. Que fazer? Deixaremos que a Palavra nos transforme ou nos devore? A proposta de vida é de Deus, a aceitação ou não, é nossa. Aceite.

8 de outubro de 2009

APOCALIPSE: O MANJAR DOS ABUTRES

“17 E vi um anjo em pé no sol; e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, ajuntai-vos para a grande ceia de Deus,
18 Para comerdes carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e dos que neles montavam, sim, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes.
19 E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos para fazerem guerra àquele que estava montado no cavalo, e ao seu exército.
20 E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que fizera diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre.
21 E os demais foram mortos pela espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo; e todas as aves se fartaram das carnes deles.” (Ap. 19:17-21).

A Vinda de Cristo significa a morte definitiva dos “reis da terra”. Pela primeira vez, Deus é O agente (assume em Pessoa) do castigo ou juízo. De facto, de facto Ele é o Único que está em cena. Até ao presente, o julgamento tinha operado recorrendo a elementos terrenos. A última taça do julgamento é dada directamente por Deus. Estão todos mortos. E o que resta dos seus corpos desaparece sobre os quatro ventos, “todas as aves se fartaram das carnes deles.” (Ap. 19:21).
Babilónia já tinha terminado do mesmo modo. Os dez chifres e a besta tinham comido a sua carne “e os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostituta e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo.” (Ap. 17:16). Presentemente, são eles que são destruídos. Mas como não resta mais ninguém, são as aves do céu que se saciam. A forma como é apresentada esta cena inspira-se na visão do Ezequiel, com alguns pormenores novos e particularmente interessantes. Enquanto que o profeta do A.T., junta as aves e todas as feras dos campos, na visão de João, as feras do campo desaparecem; só as aves estão presentes. Enquanto que Ezequiel limita o massacre aos príncipes, aos heróis, o alimentos são cavalos e cavaleiros (Ezequiel 39:17-20), a visão do Apocalipse transborda este campo de visão de Ezequiel, acrescentando “para comerdes carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e dos que neles montavam, sim, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes.” (Ap. 19:18), e o ponto fulcral que associa os extremos exprime o carácter total da consumação.
De forma irónica, o festim a “antropófago” dos reis da terra também faz eco da fome espiritual que se abateu sobre o povo sob o terceiro selo (Ap. 6:5,6); mas ao mesmo tempo, mas a referência maior relaciona-se com a Grande Ceia do Cordeiro. Nos dois casos, é a mesma palavra grega (deipnon) que é empregue (Ap. 19:17; cf. 19:9). Esta relação simétrica entre os dois banquetes sugere uma vez mais o mesmo acontecimento com duas faces bem distintas, por um lado, a salvação de Deus. A festa das Bodas do Cordeiro que alimentou e partilha agora uma refeição especial com os Seus hóspedes na alegria e segura da vida eterna.
Por outro lado, o banquete do Armagedão que devora os seus convivas, o alimento é a tristeza, a frustração a morte absoluta. Mais nada resta deles, nem mesmos os seus ossos. Nem sequer têm direito a uma sepultura. Os abutres comeram tudo.
É sobre esta imagem mórbida e sinistra que termina a visão. Não é possível ter uma imagem mais real do seu fim. Eles desaparecem totalmente. A terra está completamente vazia.

6 de outubro de 2009

APOCALIPSE: O DIABO É ENVIADO PARA O DESERTO


“E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele.” (Ap. 12:9).






“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos.” (Ap. 20.1,2).


É numa paisagem de deserto e do nada que o encarniçado inimigo de Deus será encarcerado. No Apocalipse 12:9, ele é chamado “dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo”. Esta linguagem é repetida em Apocalipse 20:1,2.
Os três poderes acampados contra Deus na batalha do Armagedão: “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi saírem três espíritos imundos, semelhantes a rãs.” (Apoc. 16:13), o dragão é o único a conseguir escapar. Os dois outros, a besta que vem do mar e a besta que sobre da terra (o falso profeta), já não se encontram junto ao “dragão”, juntamente com eles desapareceram os reis da terra que ainda subsistiam no tempo do fim.
“...a chave do abismo” (Ap. 20:1), que outrora foi confiada à estrela que caiu do céu, que se tornou príncipe da terra (Apoc. 9:1), está agora nas mãos de um anjo de Deus (Apoc. 20:1). O estado de pré-criação é aqui evocado. A mesma palavra hebraica tehon (abismo) de Génesis 1:2 está por detrás do texto grego. Abismo é o lugar onde o diabo foi lançado.
É importante compreender este ponto; quando Deus lançou no conflito que opôs Lúcifer e os seus anjos contra Deus e consequentemente houve “guerra no céu”, deve ser entendido que Deus não enviou Satanás para a Terra habitada, mas foi depois que a Terra foi habitada que Satanás encontrou acolhimento e por isso se torna o “príncipe deste mundo”.
A terra era vazia. Deus ainda não tinha agido neste espaço do Universo. O vazio “abismo” era o ambiente natural. O Diabo ao ser condenado ao deserto e ao nada, da mesma forma que a Serpente foi condenada a pó (Gén. 3:14). É no período em que não há seres vivos na Terra, ninguém a quem tentar. A tentação que Satanás pôde exercer depois desta Terra ser formada e a criação ter tido o seu epílogo. A tragédia humana não será mais possível, os habitantes que foram salvos, estão no Céu, os habitantes que não foram salvos, estão mortos. O mal está deste modo neutralizado.
Esta lição de esperança já estava inscrita no simbolismo do ritual do Kipur (expiação). O bode por Azazel, que representava Satanás com toda a sua força maléfica, era também condenado ao ser enviado para o deserto: “Quando Arão houver acabado de fazer expiação pelo lugar santo, pela tenda da revelação, e pelo altar, apresentará o bode vivo; e, pondo as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, sim, todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á para o deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles para uma região solitária; e esse homem soltará o bode no deserto.” (Lev. 16:20-22). Este cerimonial fazia parte integrante do processo de salvação de Deus. paralelamente à explicação de “todas as iniquidades dos filhos de Israel” e à purificação do santuário e que assegurava o perdão cósmico de Deus (João 3:16), a cerimónia do dia do Kipur anunciava a reclusão do inspirador do mal.
A mesma profecia é pronunciada nos Evangelhos de João. Durante o “julgamento do mundo”, Satanás “será expulso o príncipe deste mundo” (João 12:31).
Profetizando sobre o julgamento de Deus relativamente ao fim dos tempos, Daniel, vê a cerimónia do Kipur (Daniel 8), uma vez mais temos um flash do plano da salvação, a saber a expulsão de Azazel o diabo no tehom do deserto.
O Apocalipse dá realce particular à destruição do Diabo como um evento real no tempo. Trata-se do milénio. No contexto do Apocalipse, o emprego do período deste número reveste-se de um valor simbólico. Os “mil” que estão em relação com os 140.000 significam mais que um número concreto. A sua aplicação é seguramente a um grupo de pessoas especiais (os “mártires”? ou os que viverão o período fim da graça e vinda de Jesus? Ou ainda representará a elite de uma grande multidão? Deus o sabe). Não resta dúvida que o número se enquadra num contexto de simbolismo, figuras que já o Antigo Testamento aplica à palavra “mil”, vejamos alguns exemplos: “Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil.” (Sal. 84:11), ou “...mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite.” (Sal. 90:4). O mesmo acontece em Eclesiastes, a declaração: “e embora vivesse duas vezes mil anos,...” (Ecl. 6:6), este pensamento é repetido “Se o homem... e viver muitos anos, de modo que os dias da sua vida sejam (multiplicados) muitos...” (Ecl. 6:3).
Olhando do Antigo Testamento para o Apocalipse é séria a compreensão “mil” num sentido simbólico de “muitos anos”. E é de facto o significado que se encontra no final do versículo, ao colocar em contraste com “um pouco de tempo” (Apoc. 20:3).
O profeta Isaías é conduzido pela mesma visão. Na passagem que os comentadores concordam em chamar “o pequeno Apocalipse” (Isaías 24:25), ele descreve o estado de deserto da “terra”, palavra chave do texto (que se repete por 16 vezes), que ele identifica como tohu (sem forma) que caracterizava a terra antes da Criação (Isaías 24:10; cf. Génesis 1:2). Aqui também, o profeta anuncia um castigo de Deus que será aplicado a Satanás e aos seus acólitos: “Naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra.” (Isaías 24:21).
E neste contexto, trata-se de prender durante um período que o profeta define como “serão ajuntados como presos numa cova, e serão encerrados num cárcere; e serão punidos depois de (por) muitos dias.” (Isaías 24:22), o que esclarece uma vez mais o sentido dos mil anos do Apocalipse.
O Apocalipse significa Revelação, assim é de facto, no entanto só o é quando analizado à luz de toda a Bíblia, de outro modo é fácil cair na tentação de dogmatizar uma palavra ou um texto. Devemos, por outro lado, perceber que se trata de uma linguagem simbólica que lhe é particularmente própria, o Apocalipse informa-nos que haverá um tempo em que o poder do mal não terá mais influência sobre os seres humanos. E a intenção do sentido simbólico dos mil anos não exclui por isso a realidade que este período o seja de forma concreta. Mas esta questão não é minimamente importante. Na perspectiva da eternidade e para além da história humana, a noção de tempo não é concebida tal como a concebemos hoje.
Porque “mil anos”, porque este período é também o tempo normal da primeira geração antes do Dilúvio (Adão, 930 anos; Jared 962 anos; Matusalém 969 anos; Noé 950 anos, etc.). O recurso aos “mil anos” significa o retorno ao jardim do Éden até ao Dilúvio. Reencontramos a mesma linguagem no livro do profeta Isaías onde a esperança dos “novos céus” e de “uma nova terra” (Isaías 65:17) é apresentada numa linguagem poética com o sentimento da idade de ouro dos que viveram antes do Dilúvio, quando morrer com cem anos era morrer jovem (Isaías 65:20), e quando os homens viviam como os dias das árvores (Isaías 65:22). A intenção do Apocalipse seria portanto, segundo o diapasão de Isaías, que compreendamos que a felicidade voltará, a qualidade de vida do inicio da história humana será de novo tornada realidade. Os mil anos representam de facto os primeiros passos do género humano na eternidade.
Quer dar estes primeiros passos? Meu Deus como anelo que venham e venham logo, aqui há tristeza, solidão, abandono...então será o inicio de uma vida se choro, sem dor, nem morte. A decisão para essa nova vida é agora. É hoje, hoje começa a esperança.

3 de outubro de 2009

APOCALIPSE: DEPOIS DA MORTE A VIDA!

“Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.
Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.
Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.” (Apoc. 20:4-6).

DO abismo em que se tornou esta TERRA, a visão que é transmitida ao servo de Deus preso na Ilha de Patmos, permite-nos em transporte espiritual ver a cena fantástica de vida trepidante nas cortes celestes. Todos os seres que se movimentam são plenamente saudáveis e vigorosos, mas o mais impressionante é o facto de serem pessoas que viveram nesta TERRA! É algo inesperado, os humilhados e os que foram “oprimidos” por Deus “…e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus” (Ap. 20:4), estes cujo o clamor tinha ressoado na visão do quinto selo (Ap. 6:9); não somente eles, mas os mártires e os heróis da fé, igualmente todos os que simplesmente permaneceram fiéis e recusaram comprometer a sua identidade de cristãos (Ap. 20:4); enfim, os justos de todos os tempos. E numa frase definitiva o anjo explica este mistério: são os que pertencem à primeira ressurreição, “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição” (Ap. 20:6).
Esta é a quinta das sete bem-aventuranças; como todas as outras, ela está associada à volta de Jesus Cristo. Esta ideia de uma ressurreição directamente relacionada com a 2ª vinda do Salvador não é nova. O livro de Daniel já a tinha anunciada: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.” (Dan. 12:2).
A vinda de Jesus como VENCEDOR é encontrada no último capítulo de Daniel e o Apocalipse repete esta gloriosa ideia do VENCEDOR que se levanta (em hebreu, amad) como um HERÓI vencedor (Ap. 12:7),”e no fim dos tempos” (Ap. 14:13-16). O Apocalipse associa a ressurreição dos justos à vitória do GUERREIRO montado num “cavalo branco” (Ap. 19:11). O Apóstolo Paulo dá conta da sua fé associando-a a este evento: “Dizemos-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que já dormem. Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.” (1ª Tessalonicenses 4:15-18).
A ressurreição é a única explicação dada pela Bíblia, e especialmente aqui no Apocalipse, para justificar a presença insólita destes mortos vivos. Não há aqui nenhuma ideia de imortalidade da alma, esta ideia foi introduzida pelos filósofos gregos e poluiu tanto a religião judaica como mais tarde a cristã.
A palavra “alma” aqui utilizada (Apocalipse 20:4) deve ser compreendida no sentido hebraico; ela designa o ser vivo completo. Assim, a palavra hebraica nefesh, é geralmente traduzida da Bíblia (versão dos Setenta) e a palavra grega psuché e nas versões portuguesas pela palavra “alma”, implicando uma realidade com todas as funções do ser humano, espirituais, mentais e emocionais, bem como físicas e psicológicas. A nefesh (alma) pode ter fome (Sal. 107:9; Deut. 12:20) ou sede (Sal. 143:6), estar satisfeita (Jer. 31:14), comer bem (Isaias 55:2). Mas nefesh pode também amar (Gén. 34:3; Cant. 1:7), ficar emocionada (Sal. 31:10), gritar (Sal. 119:10), conhecer (Sal. 139:14), ter sabedoria (Prov. 3:22), adorar e louvar a Deus (Sal. 103:1; 146:1). Na Bíblia, o ser humano é concebido na sua totalidade. Se a parte física deixa de funcionar, a parte espiritual deixa também de funcionar (Ecl. 9:5). A morte é total, como a vida.
O Apocalipse enraíza-se nas Escrituras do Antigo Testamento, fala da ressurreição, numa implicação tanto de dimensão física como espiritual, “corpo e alma”, como é dito normalmente. Para a Bíblia, o corpo não é distinto da alma. Porque o corpo, é a alma e o inverso também é verdade.
Assim, os salvos vistos por João no Paraíso estão vivos. Como lá chegaram? Através de que meio passaram da morte para a vida? O anjo não entra em detalhes. Como sempre, o que interessa é o resultado final. E isto é verdade no que diz respeito a todo o milagre registado na Bíblia, da Criação à travessia do Mar Vermelho e à ressurreição de Jesus. O autor inspirado contenta-se em testemunhar o acontecimento sem nunca dar uma explicação científica da mecânica do acontecimento.
O importante é que eles estão no Céu; e esta presença não exige provas ou explicações. Para as justificar, elas impõem-se pela sua realidade. Deus, o milagre por excelência, a Criação, o ser humano, são apresentados na Bíblia como realidades indiscutíveis. O ser vivo é em si um acontecimento que não têm necessidade de provas para ser reconhecido. Eles são a evidência da prova.
O olhar do profeta, por outro lado, centra-se exclusivamente sobre os ressuscitados e a acção que desenvolvem: “Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar.” (Ap. 20:4).
Ou seja, o que interessa a João, é que Deus deu aos que foram vítimas o poder de julgar. Os papéis foram invertidos para que a justiça fosse feita. Juízes com Deus, foram chamados a partilhar com Deus a responsabilidade de decidir a sentença de vida ou morte de todos os homens e de todas as mulheres. E no entanto, a sentença já tinha sido tomada. A presença dos salvos na primeira ressurreição mostra que o julgamento tinha sido já cumprido. Aquando da 2ª Vinda de Cristo, os justos e os ímpios já tinham sido sentenciados.
O livro de Daniel revela claramente e situa o julgamento de Deus no tempo da história humana, no período dos 2300 tardes e manhãs (Daniel 8:14), ou seja a partir de 1844. Do mesmo modo, o comentário relativo à batalha do Armagedão, que agrupa os inimigos de Deus, implica claramente que o futuro de cada um está já definido.
A verdade é que o julgamento só pertence a Deus, o Criador, o Único capaz, pela inteligência esclarecida e pelo Seu Espírito, de “julgar os povos; julga-me, Senhor, de acordo com a minha justiça e conforme a integridade que há em mim. Cesse a maldade dos ímpios, mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas o coração e os rins.” (Sal. 7:8,9); Ap. 2:23). Deus é também o Único a poder combinar com equilíbrio e harmonia a graça e a justiça, e, pelo sacrifício de Jesus Cristo, o Único a poder perdoar. Deus é finalmente, o Único a ser inteiramente puro por consequência apto a discernir entre o mal e o bem e, a ter o direito de concretizar um julgamento (João 8:7).
Deus permite no entanto a justificar-Se diante dos seres resgatados. Deus coloca todos os relatórios e arquivos para que possam analisar e “abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” (Ap. 20:12). Todas as informações e poderes são concedidas aos salvos, “eles reinaram com Ele” (Ap. 20:4,6). Deus quer que eles fiquem completamente informados. Mais ainda, Deus quer que eles compreendam todos os detalhes e razões de uns serem salvos e outros condenados. São investidos de todo o poder do Reino de Deus e, é isto que implica serem sacerdotes e “sacrificadores de Deus e de Jesus Cristo” (Ap. 20:6). Esta relação é realçada no livro de Levíticos onde é descrito as funções do sacerdote e onde o termo qodesh (santidade) se encontra mais de 150 vezes. A mesma palavra-chave, “vós sereis santos, porque eu sou santo” (Levíticos 11:44,45; 19:2; 20:7,26). É significativo que na bem-aventurança que introduz esta promessa, o adjectivo “feliz” está unido a “santo” (Ap. 20:6).
Ao qualificar os ressuscitados como “sacerdotes”, o Apocalipse coloca-os numa relação com Deus da maior intimidade e do maior privilégio. É a santidade (qodesh) que constitui de facto a qualidade essencial de Deus (Is. 6:3; 57:15; Sal. 99:5). Por santidade, Deus revela a intimidade do Seu carácter. Quer dizer, os ressuscitados participam da pureza de Deus, esta torna-os capazes de ver o mal tal como é o mal, e por consequência capazes de julgar.
Deus não se contenta em conceder-lhes as ferramentas de trabalho, informação, inteligência, a santidade. Deus dá-lhes o tempo necessário, mil anos – ultimo testemunho do Seu respeito por eles e da forma isenta do seu trabalho. O amor de Deus, parece ir além do limite.
Não é só os homens que são julgados pelos homens, mas Deus, Ele próprio deixa-SE julgar por eles. Coisa extraordinária! Dá-lhes o poder e os meios para o fazerem! Louvado seja o Deus que eu amo. Quer amá-LO também?