19 de maio de 2014

O PROJETOR PROFÉTICO SOBRE O POVO DE DEUS DE APOCALIPSE 10

Apocalipse 10 e 11:1-13 apresentam visões vinculadas à sexta trombeta por meio de um interlúdio. Dirigem a luz da profecia à igreja cristã do tempo do fim antes que soe a sétima trombeta. Este enfoque de Apocalipse 10 está recalcado pelo juramento solene do anjo poderoso que proclama: "Já não haverá demora! [kronos, "tempo"] mas sim nos dias [em que se ouça] a voz do sétimo anjo, quando for dar o toque de trombeta, cumpriu-se o mistério de Deus, como o anunciou a seus servos os profetas" (Apoc. 10:6, 7, Cl; cf. BJ). Esta proclamação trata com o som da sétima trombeta. Declara que agora não haverá mais demora ou, mais exatamente, "não haverá mais tempo!"

Surge então a pergunta: O tempo que o anjo menciona aqui [kronos], refere-se ao tempo em geral ou a um período de tempo específico mencionado no livro apocalíptico de Daniel (Dan. 7:25; 8:14; 12:7)? Não pode ser tempo em geral, porque o tempo se estende com uma nova ordem para pregar em uma medida universal (ver Apoc. 10:11). A descrição do anjo em Apocalipse 10, que levanta sua mão ao céu para jurar (Apoc. 10:5, 6), tem um paralelo surpreendente em Daniel 12:7.

Daniel profetizou que seria permitido ao anticristo perseguir os santos por três tempos e meio (Dan. 7:25; 12:7). O juramento do mensageiro divino em Daniel 12 foi a resposta do céu à pergunta: "Quando será o fim destas maravilhas?" (V. 6). No Apocalipse de João ouvimos o clamor constante dos santos martirizados: "Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" (Apoc. 6:10). Enquanto que em Daniel 12 a resposta a esta pergunta foi esperar até que os "três tempos e meio" de perseguição tivessem expirado, e em Apocalipse 6 a resposta foi esperar "por pouco tempo" (V. 11), em Apocalipse 10 a resposta é ao fim as boas novas: "Já não haverá demora!" (v. 6).
Portanto, devemos entender o "tempo" deste anjo como referindo-se aos períodos de tempo proféticos de Daniel. Estes expirarão antes que toque a sétima trombeta. Nesse tempo pode dizer-se que não ficaram já mais períodos de tempo proféticos. Agora fica em marcha de maneira irrevogável o tempo do fim. Neste sentido, não haverá mais demora! André Feuillet expressou esta ideia básica:

"Por esta passagem [Apoc. 10:6, 7] do Apocalipse, sentimo-nos constrangidos a concluir que a história da salvação está em sua última etapa, a que precede imediatamente ao toque da [sétima] trombeta".1

O anjo forte é descrito com características messiânicas: "Envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo (Apoc. 10:1). Como declarou uma comentadora: "Pode ver-se como o Príncipe da luz em contraste com o príncipe das trevas [no Apoc. 9:1, 2]".2 Refletindo o caráter de Deus, aparece como o antigo Anjo do Pacto. Portando, alguns o denominam "o anjo do pacto". Desce como Deus desceu ao Sinai: em uma nuvem, com trovões e raios (Êxo. 19:16), indo diante de seu povo em uma coluna de nuvem e de fogo (13:21, 22). O arco-íris sobre a cabeça deste anjo do pacto nos recorda o arco-íris que rodeia o trono de Deus (Apoc. 4:3).

A voz do anjo ressonou como se fossem "sete trovões" (Apoc. 10:3). As vozes destes trovões em Apocalipse 10 inclusive não ia ser revelada, e sim selada (v. 4). A ordem para "selar" o conteúdo dos 7 trovões pode indicar que já não haverá juízos de advertência, em vista da presciência de que tais juízos não levarão as pessoas ao arrependimento (ver Apoc. 9:20, 21). Os juízos finais vêm somente depois que tenha terminado o tempo de graça, na forma das 7 últimas pragas.3

O "anjo forte" de Apocalipse 10:1 corresponde ao "anjo forte" de Apocalipse 5:2. Ambos os anjos poderosos assinalam os rolos celestiais que contêm os decretos de Deus para a humanidade: o primeiro para o mundo (Apoc. 5), o último para a igreja (Apoc. 10). Enquanto o anjo do capítulo 5 anuncia dessa forma o começo dos juízos messiânicos, tal como estão revelados nos selos e nas trombetas, o anjo do capítulo 10 revela o plano de Cristo para a missão final de sua igreja (Apoc. 10:6) em preparação para o segundo advento (v. 7). O significado especial de Apocalipse 10 é que vai introduzir as visões do tempo do fim dos capítulos 11 a 22. Anuncia ao mundo que se alcançou uma nova época de tempo, o período que Daniel chamou "o tempo do fim" (Dan. 8:14, 17, 19).

O anjo de Apocalipse 10 abre o selo das profecias de Daniel para o tempo do fim (Dan. 8-12). Estando

6 de maio de 2014

A MISSÃO PROFÉTICA DAS TESTEMUNHAS DE DEUS - APOCALIPSE 11

Apocalipse 11 pode entender-se como a extensão adicional do capítulo 10 e não como uma visão desconexa, já que nesta visão das duas testemunhas se revela o que João experimentou simbolicamente ao comer o livrinho. Muitos comentadores bíblicos consideram a visão a respeito das duas testemunhas de Deus em Apocalipse 11:1-13 como o desenvolvimento adicional da visão do livrinho aberto de Apocalipse 10. Mounce conclui dizendo que "[Apoc. 11:1-13] forma o conteúdo do 'livrinho' do capítulo que foi doce ao paladar e amargo ao ventre (Apoc. 10:9, 10)".1

Uma opinião assim se apoia no fato de que ambas as visões são parte do mesmo interlúdio do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta. Mas também existe o mesmo desenvolvimento temático entre Apocalipse 10 e 11. A proclamação do livrinho aberto é denominada "profetizar" (Apoc. 10:11), o que se descreve como a mesma missão das duas testemunhas em Apocalipse 11:3, 6 e 10. Além disso, a mensagem do livrinho e o das duas testemunhas se dirige aos mesmos ouvintes no mundo (Apoc. 10:11; 11:9). Apocalipse 10 está ampliado na visão seguinte do capítulo 11, e separar o capítulo 11 de sua introdução no capítulo 10 é separar o que Deus uniu. Nosso primeiro assunto é ver de que maneira Apocalipse 11 desenvolve o tema de Apocalipse 10.

A Natureza Simbólica da Visão de Apocalipse 11
Assim como a visão preliminar de Apocalipse 10 é simbólica em suas apresentações, também o é a visão do capítulo 11. Este capítulo aponta diretamente a sua descrição simbólica quando declara que a grande cidade é "simbolicamente" (CI, BJ [pneumatikós, "espiritualmente", RA]; "alegoricamente", JS; "linguagem figurada", DHH) "Sodoma e Egito" (Apoc. 11:8). A descrição do capítulo 11 é distintivamente hebraica em caráter. Toma sua linguagem e imagens de Daniel, Ezequiel, Zacarias, e também das vidas de Moisés e Elias. Entretanto, a descrição da morte das duas testemunhas, sua ressurreição e sua ascensão visível está obviamente tirada da vida de Jesus narrada nos Evangelhos.

Os apóstolos usaram de forma consistente termos e imagens hebraicas como linguagem simbólica para descrever a missão de Jesus e de sua igreja. Um exemplo revelador está em Hebreus 12:22-24, onde se menciona o "monte Sião" para representar a igreja, porque o mediador do novo pacto de Deus agora é Cristo Jesus. A visão de João dos 144.000 israelitas em Apocalipse 7 deve ser interpretado igualmente de acordo com a hermenêutica do evangelho (ver o cap. VIII desta obra). Uma aplicação literal dos símbolos hebraicos em Apocalipse 11 nega o evangelho e ignora que o Apocalipse está centrado em Cristo.

A Natureza Proléptica de Apocalipse 11:1-13
João usa com frequência o estilo literário da prolepse, quer dizer, antecipar um acontecimento futuro introduzindo um símbolo novo que se explica mais tarde. Em Apocalipse 1 antecipa o evento culminante de todo o livro: "Eis que vem com as nuvens..." (Apoc. 1:7), tema que João desenvolverá em Apocalipse 6:12-17, 14:14-20 e 19:11-21. Todas as promessas divinas nos capítulos 2 e 3 são descrições prolépticas breves do que se desenvolve extensamente nos capítulos 21 e 22.

Outro exemplo está em Apocalipse 14:8, onde apresenta pela primeira vez a "Babilônia" por meio de uma prolepse e desenvolve seu significado completo nos capítulos 16 a 18. As 7 últimas pragas se mencionam brevemente primeiro em Apocalipse 15, e depois se desenvolvem detidamente em Apocalipse 16.

Todo o Apocalipse é uma revelação coerente, indivisível e progressiva, e nele estão intimamente relacionadas todas as visões. Sempre que seccionamos um capítulo da unidade total e tratamos de aplicá-lo ao mundo ou à história da igreja, estamos destinados a interpretar mal seu significado. Portanto, uma exegese responsável pelo Apocalipse respeitará a conexão estrutural de todas as suas visões. Com respeito ao capítulo 11, muitos consideram que é um dos capítulos mais difíceis de interpretar do livro; outros o vêem como um resumo proléptico dos capítulos 12 a 22.

Joseph S. Considine concluiu em seu estudo instrutivo sobre Apocalipse 11, que os capítulos 10 e 11 "narram um relato contínuo, no qual o capítulo 10 forma uma introdução solene para o capítulo 11", de maneira que o 11 antecipa prolepticamente os acontecimentos de Apocalipse 12 e 13. Também se deu conta dos interlúdios paralelos dentro dos selos (cap. 7) e das trombetas (caps. 10 e 11 ), e por isso declarou:

"Mas é mais que um paralelo; completa o que nos disse no episódio entre o sexto e o sétimo selo, já que o que não se diz em um, diz-se no outro. Estas visões interpostas nos dão um quadro da vida interior da igreja de Cristo durante a luta... as visões interpostas apontam à obra e à fé dos verdadeiros filhos de Deus... Os acontecimento preditos nos capítulos 7 e 10-11:1-13 são necessários como prelúdios do fim".2

Se reconhecermos estas relações estruturais, não podemos tratar mais estas seções como digressões desnecessárias, mas sim antes como partes essenciais que encaixam exatamente na estrutura total do livro. Nenhuma perícope pode separar-se ou dividir-se do que a rodeia. Toda a linguagem figurada de Apocalipse 11 fica esclarecida pela própria Bíblia, o que significa que Apocalipse 11 deve interpretar-se por seu contexto imediato (quer dizer, dos capítulos circundantes que tratam com o tempo do fim) e por seu contexto mais amplo no Antigo Testamento, antes que se possa empreender a tarefa de fazer qualquer aplicação à história.

Apocalipse 11 oferece uma antecipação da última crise de fé para os crentes verdadeiros que vivem no mundo; será uma crise universal (menciona-se 4 vezes a palavra "terra" ) causada pelo testemunho corajoso das testemunhas de Deus entre uma população hostil descrita pela frase estereotipada "os moradores da terra" (v. 10).

Para João, "os moradores da terra" definem-se teologicamente como os que são enganados pela adoração idolátrica da besta (ver Apoc. 13:8, 12, 14; 17:2) e cujos nomes não estão escritos no livro da vida (17:8). São inimigos do povo de Deus e culpados do sangue dos santos (6:10). Entretanto, a aparente derrota dos que adoram no templo de Deus será finalmente mudada pelo ato de Deus. Serão vindicados por sua ressurreição dos mortos e por sua ascensão visível ao céu "em uma nuvem" (11:11, 12), o mesmo que seu Senhor experimentou durante sua vida na terra. Nesse momento, a recompensa dos justos está acompanhada por um grande terremoto que obriga muitos a darem "glória ao Deus do céu" (v. 13).

É evidente que Apocalipse 11:1-13 não é uma profecia isolada sobre o povo judeu ou de acontecimentos seculares da história do mundo, mas sim está inextricavelmente tecida na malha do Apocalipse de João,