23 de junho de 2010

NABUCODONOSOR CONVOCA OS GOVERNADORES PARA A DEDICAÇÃO DA ESTÁTUA.

“Então o rei Nabucodonozor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os magistrados, e todos os oficiais das províncias, para que viessem à dedicação da estátua que ele fizera levantar. Então se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os magistrados, e todos os oficiais das províncias, para a dedicação da estátua que o rei Nabucodonozor fizera levantar; e estavam todos em pé diante da imagem. Logo que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, prostrar-vos-eis, e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonozor tem levantado. Portanto, no mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, e de toda a sorte de música, se prostraram todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonozor tinha levantado. “ Daniel 3:2-3,5,7.

Este é um longo parágrafo, com um sentido satírico e cheio de repetições intencionais: o objectivo é realçar o carácter mecânico da adoração. A música joga um papel de grande importância, é notável o número de instrumentos musicais, “toda a sorte de música”, estão aqui para provocar um certo efeito. Três instrumentos de sopro em harmonia com três instrumentos de cordas, tudo com um sentido de organização para uma grande cerimónia.
Esta insistência que surge no texto sobre a minuciosa organização deixa perceber a falta de conteúdo espiritual, a cerimónia está centrada na forma e não no conteúdo, na aparência em vez da substancia, no ritual em vez do culto.
É uma cerimónia burocrática ou política, os que estão no poder estão mais preocupados com a estrutura, os regulamentos, com isso disfarçam a adoração e a fé genuína. O formalismo da religião de Babel procura substituir o vazio espiritual. Portanto, compreende-se a importância dada à música neste contexto. Pelo menos, a emoção produzida pelos instrumentos musicais provoca a ilusão do sentimento religioso.
Os sábios babilócos tinham a arte de manipular e impressionar os fiéis e exorcizar o divino, sabiam suscitar a experiência superficial e mística. Não é por acaso que a musica está tão associada ao uso das drogas e das práticas de mutilação destinadas a provocar o êxtase, sinal de união com um deus. Tudo se situa essencialmente no plano dos sentimentos e do sistema nervoso. O sucesso estava deste modo garantido, imediato e fácil.
Ainda hoje, e talvez mais que nunca graças à eficácia dos nossos “meios de comunicação”, podemos perceber a importância que a música tem sobre as massas. Multidões reúnem-se à volta de músicos e de cantores, que se tornaram os grandes sedutores e manipuladores do nosso tempo. Por um instante, não se pensa em nada, tudo é esquecido, tomados pelo encanto da música. As palavras e a inteligência da mensagem não são necessárias para convencer. O fenómeno é tão comum que invadiu as igrejas. Em reação à racionalidade cerebral dos cultos tradicionais, certos cultos chamados “celebrações” introduziram orquestras e, ao ritmo de instrumentos de “toda a sorte de música”, os fiéis são levados ao êxtase num frenético entusiasmo por vezes atingindo o delírio. Deixa-se de pensar, e as mensagens são reduzidas à mais simples expressão.
Este episódio do livro de Daniel coloca um aviso contra os extremismos, que consistem a viver a religião essencialmente como uma excitação do momento.
A emoção faz parte da experiencia religiosa, mas ela deve ser autêntica e profunda, conjugar-se com a inteligência e o pensamento. O ser na sua totalidade deve estar implicado na adoração, se não queremos correr o risco de nos encontrarmos no meio de uma multidão prostrada diante de qualquer ídolo. Da mesma maneira, na planície de Dura (Dan. 3:1), os pregadores de Babel não tiveram escrúpulos de usar toda a sorte de meios para provocar a “adoração”. A religião é aqui vivida no imediato. Esta dimensão toma nos nossos dias um cunho de grande actualidade.
“Logo que ouvirdes...prostrar-vos-eis, e adorareis” (v. 5). Tomados pela emoção provocada pela música e levados pelo movimento da multidão, caíram de joelhos sem pensar por simples reflexo.
O fogo está aceso, não muito longe, como uma ameaça imediata. Este costume que consistia a lançar ao fogo os recalcitrantes era muito antigo e frequente no Médio Oriente. Confirmado em Larsa, no sul de Babilónia, desde o século XVII a.C., era uma pena prevista pelo código de Hamurabi (25 e 110 O Código de Hamurabi (foto) é um dos mais antigos conjuntos de leis escritas já encontrados, e um dos exemplos mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Segundo os cálculos, estima-se que tenha sido elaborado pelo rei Hamurabi por volta de 1700 a.C.. Foi encontrado por uma expedição francesa em 1901 na região da antiga Mesopotâmia correspondente a cidade de Susa, atual Irã. http://pt.wikipedia.org/wiki/Código_de_Hamurabi). Alguns anos antes, dois falsos profetas, Zedequias e Acabe, tinham sofrido a mesma condenação por ordem de Nabucodozor. Esta morte pelo fogo tinha de tal modo marcado os espíritos dos israelitas que Jeremias fez a seguinte formulação sobre  esta maldição (Jeremias 29:21,22).
Este tipo de fornalhas fazia parte integrante da paisagem da região, elas serviam também ao fabrico de tijolos. As descobertas arqueológicas revelaram vários destes fornos nos arredores de Babilónia. De resto, a construção da Torre de Babel está indirectamente associada a este fogo (Génesis 11:3). É muito razoável pensar que um destes fornos estaria perto da estátua de ouro. Segundo Diodoro da Sicília, os Cartagineses tinham levantado uma estátua em bronze ao seu deus sobre um forno subterrâneo e no qual eram lançadas crianças vivas.
Ou seja, para o povo era algo de normal, tal como o era a sentença imediata para quem não obedecesse. Esta dimensão está presente e é revelada: “E qualquer que não se prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro duma fornalha de fogo ardente.” (Daniel 3:6). Aterrados pela ameaça tão próxima da fornalha, havia um e só pensamento no momento, e por instinto de conservação obedecia-se.
Intolerante e violenta, totalitária e mecânica, a religião de Babel é essencialmente uma religião do presente. Em todo o caso, é uma religião eficaz, porque todos agem como previsto. O programa funciona perfeitamente. Todos, excepto alguns. Assim funcionou naquele tempo de Daniel, assim funcionou durante a Idade Escura, assim voltará a funcionar.

13 de junho de 2010

NABUCODONOSOR MANDA FAZER UMA ESTÁTUA DE OURO

Já pensou porque razão Nabucodonozor mandou construir uma estátua de ouro? Esta você não tinha pensado! Tem que ler para compreender.
Mais uma história sobre uma estátua. Mas desta vez não se trata de um sonho transmitido a Nabucodonosor. É um sonho acariciado por Nabucodonosor. O rei percebeu no sonho da estátua que não iria mais longe da representação da cabeça de ouro. Nabucodonosor decide exorcizar a história. Ele manda construir uma estátua – figura de um homem – à semelhança daquela do sonho, o termo çelem usado para estátua e que deveria fazer com ele lembrasse os seus limites “O rei Nabucodonozor fez uma estátua de ouro, a altura da qual era de sessenta côvados, e a sua largura de seis côvados; levantou-a no campo de Dura, na província de Babilónia.” (Daniel 3:1; cf. 2:13); ele manda reproduzir a estátua que ele teve e que lhe foi revelada por Daniel, agora, ele manda-a fazer toda em ouro, como para amaldiçoar o oráculo.
Ele quer um reino que vá da cabeça aos pés, até ao fim. De facto ele quer ir mais longe. Encontramos um jogo de palavras entre o capítulo 2 e o 3, o texto sugere que Nabucodonosor quer não só cobrir todo o tempo da estátua, mas ele quer igualmente um reino da mesma natureza que o reino suscitado por Deus e representado no capítulo 2 pela pedra: um reino eterno.
De uma maneira significativa no texto aramaico, a mesma palavra heqim (Dan. 2:44) que descreve o estabelecimento do reino de Deus (aqui traduzida por “suscitar”) aparece no capítulo 3 uma palavra-chave que ressoa como um refrão – ela aparece oito vezes (Dan. 3:5,7,12,14,18) – para descrever o estabelecimento da estátua (aqui traduzida por “erigir”, “elevar”). O reino de Nabucodonosor pretende substituir o reino de Deus.

8 de junho de 2010

A ESTRUTURA DO CAPITULO 3 DE DANIEL

A. A vitória de Nabucodonosor (vv. 1-7)
* O rei manda construir uma estátua na Província de Babilónia.

B. A calúnia dos Caldeus (vv. 8-12)
* Decrete contra os Hebreus (vv. 8-12)
* Acusação: “estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti,” (v.12)

C. A prova do fogo (vv. 13-27)
* Diálgo Rei-Hebreus
* Hebreus lançados na fornalha ardente
* Diálogo rei-Hebreus
* Hebreus salvos do fogo

B1. A vingança (vv. 28,29)
• Bênçãos do Deus dos Hebreus
• Decreto a favor dos Hebreus: adorar o Deus dos Hebreus.

A1. O êxito dos Hebreus (v.30)
* “o rei os fez prosperar …na província de Babilónia.

3 de junho de 2010

A QUEM ADOROU NABUCODONOZOR?

“Então o rei Nabucodonozor caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves. Respondeu o rei a Daniel, e disse: Verdadeiramente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos mistérios, pois pudeste revelar este mistério.” Daniel 2:46,47.
Depois de tudo o que o rei presenciou e a forma como Daniel revelou o sonho, Nabucodonosor é impelido a prosternar-se diante de Daniel “então o rei...caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel ...” Trata-se da segunda oração no livro de Daniel. O rei não ousa ainda dirigir-se diretamente ao Deus do céu, está demasiado longe, muito distante, ou talvez grande demais para ele. O rei dirige o seu gesto de prece aos pés de Daniel. O que não significa que Nabucodonosor confunda Daniel com o seu Deus, e que tenha por intenção adorar a Daniel.
Segundo um testemunho de Flávio Josefo, Alexandre o Grande ter-se-á prosternado diante do sacerdote de Jerusalém explicando: “Não é a ele que eu adoro, mas o Deus que ele representa.” (Antiguidades XI, 8,5.). No caso de Nabucodonosor é evidente que ele coloca Deus acima de Daniel: “...o vosso Deus é Deus dos deuses” (v. 47), e isto fazendo, ele testemunha que Deus é “o Senhor dos reis”(v.47), ou seja, é Senhor acima dele que é considerado o rei dos reis.
É claro que não nos devemos fiar nas aparências. Estas fórmulas são ambíguas. A expressão aqui encontrada é nem mais nem menos o título com que é tratado o deus Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Marduk), deus dos babilónios; e o deus Nabu, de quem Nabucodonosor recebeu o nome, o deus Nabu no conceito da época era filho de Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nabu). Por estas palavras do rei podemos inferir uma confição duvidosa. Nabucodonosor ainda não tinha compreendido Quem era Deus. ao falar do Deus de Daniel ele faz uma transferência ao seu próprio deus: o teu Deus, Daniel, é o meu; o teu poder, tu o deves ao meu deus, meu pai. Nabucodonosor ainda não tinha mudado. A sua adoração é suspeita.
Por esta razão seria imprudente pensar que este capítulo termina com a conversão de Nabucodonosor como seria de esperar, termina, isso sim, por uma oblação generosa: o rei eleva Daniel e atribui-lhe honras e riquezas – forma pela qual o rei substitui a resposta vertical em direcão do Alto por uma resposta horizontal na direcão de Daniel. Nabucodonosor reconhece o valor que se encontre em Daniel, mas a sua apreciação e a sua oração ficam por aqui. A religião de Nabucodonosor toca exclusivamente a pessoa humana de Daniel. Esta é sem dúvida uma questão atual, a quem na verdade se dirige a nossa adoração? A uma pessoa, a uma imagem, a um santo, a um deus ou a Deus?
Esta oração por transferência está caldeada de orgulho do homem que prefere a religião que herdou e escolheu ao Deus que se revela. É mais fácil de prostrar-se diante de uma estátua/imagem, ou até diante de um homem (lembrar a presença de Bento XVI a Portugal e a postura do presidente e demais...) do que prostrar-se diante do Deus invisível, cujo Reino se situa no futuro. Nabucodonosor está convencido, mas não convertido, crê em Deus mas ainda não tem fé; não ousa ter uma relação com o Deus do futuro. O objectivo de Deus em relação a Nabucodonosor fracassou.
Nabucodonosor não compreendeu (à semelhança de tantas pessoas hoje) que o Reino de Deus está simultaneamente no futuro mas muito próximo. O Deus que se manifestou a Nabucodonosor é o mesmo que todos os dias intervém na vida de cada um de nós. Como Nabucodonosor nem sempre estamos prontos a reconhece-l´O e a prestar-Lhe a nossa reverência. Como teria sido outra a história deste rei! Como seria diferente a história da nossa vida! Não permitas transferências, vai directamente ao Deus do Céu e Ele te abençoará com a Sua doce e suave presença.
Em Cristo.