“Então o rei Nabucodonozor caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves. Respondeu o rei a Daniel, e disse: Verdadeiramente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos mistérios, pois pudeste revelar este mistério.” Daniel 2:46,47.
Depois de tudo o que o rei presenciou e a forma como Daniel revelou o sonho, Nabucodonosor é impelido a prosternar-se diante de Daniel “então o rei...caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel ...” Trata-se da segunda oração no livro de Daniel. O rei não ousa ainda dirigir-se diretamente ao Deus do céu, está demasiado longe, muito distante, ou talvez grande demais para ele. O rei dirige o seu gesto de prece aos pés de Daniel. O que não significa que Nabucodonosor confunda Daniel com o seu Deus, e que tenha por intenção adorar a Daniel.
Segundo um testemunho de Flávio Josefo, Alexandre o Grande ter-se-á prosternado diante do sacerdote de Jerusalém explicando: “Não é a ele que eu adoro, mas o Deus que ele representa.” (Antiguidades XI, 8,5.). No caso de Nabucodonosor é evidente que ele coloca Deus acima de Daniel: “...o vosso Deus é Deus dos deuses” (v. 47), e isto fazendo, ele testemunha que Deus é “o Senhor dos reis”(v.47), ou seja, é Senhor acima dele que é considerado o rei dos reis.
É claro que não nos devemos fiar nas aparências. Estas fórmulas são ambíguas. A expressão aqui encontrada é nem mais nem menos o título com que é tratado o deus Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Marduk), deus dos babilónios; e o deus Nabu, de quem Nabucodonosor recebeu o nome, o deus Nabu no conceito da época era filho de Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nabu). Por estas palavras do rei podemos inferir uma confição duvidosa. Nabucodonosor ainda não tinha compreendido Quem era Deus. ao falar do Deus de Daniel ele faz uma transferência ao seu próprio deus: o teu Deus, Daniel, é o meu; o teu poder, tu o deves ao meu deus, meu pai. Nabucodonosor ainda não tinha mudado. A sua adoração é suspeita.
Por esta razão seria imprudente pensar que este capítulo termina com a conversão de Nabucodonosor como seria de esperar, termina, isso sim, por uma oblação generosa: o rei eleva Daniel e atribui-lhe honras e riquezas – forma pela qual o rei substitui a resposta vertical em direcão do Alto por uma resposta horizontal na direcão de Daniel. Nabucodonosor reconhece o valor que se encontre em Daniel, mas a sua apreciação e a sua oração ficam por aqui. A religião de Nabucodonosor toca exclusivamente a pessoa humana de Daniel. Esta é sem dúvida uma questão atual, a quem na verdade se dirige a nossa adoração? A uma pessoa, a uma imagem, a um santo, a um deus ou a Deus?
Esta oração por transferência está caldeada de orgulho do homem que prefere a religião que herdou e escolheu ao Deus que se revela. É mais fácil de prostrar-se diante de uma estátua/imagem, ou até diante de um homem (lembrar a presença de Bento XVI a Portugal e a postura do presidente e demais...) do que prostrar-se diante do Deus invisível, cujo Reino se situa no futuro. Nabucodonosor está convencido, mas não convertido, crê em Deus mas ainda não tem fé; não ousa ter uma relação com o Deus do futuro. O objectivo de Deus em relação a Nabucodonosor fracassou.
Nabucodonosor não compreendeu (à semelhança de tantas pessoas hoje) que o Reino de Deus está simultaneamente no futuro mas muito próximo. O Deus que se manifestou a Nabucodonosor é o mesmo que todos os dias intervém na vida de cada um de nós. Como Nabucodonosor nem sempre estamos prontos a reconhece-l´O e a prestar-Lhe a nossa reverência. Como teria sido outra a história deste rei! Como seria diferente a história da nossa vida! Não permitas transferências, vai directamente ao Deus do Céu e Ele te abençoará com a Sua doce e suave presença.
Em Cristo.
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