29 de setembro de 2010

DANIEL 4: A ÁRVORE EM PLENA MATURIDADE

“Eram assim as visões da minha cabeça, estando eu na minha cama: eu olhava, e eis uma árvore no meio da terra, e grande era a sua altura; crescia a árvore, e se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até o céu, e era vista até os confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e dela se mantinha toda a carne.”Daniel 4:10-12
Heródoto, mestre da história
A imagem da árvore não era estranha para Nabucodonosor. Ela fazia parte do seu universo simbólico. Assim, Heródoto regista o caso de Astyage (último rei dos Medas), o cunhado de Nabucodonosor, que ele também teve um sonho duma árvore simbolizando o seu domínio sobre uma parte do mundo (Heródo I, 108). Nabucodonosor ele mesmo, numa inscrição, compara Babilónia a uma grande árvore que sobre a sombra da qual os povos se refrescam (S. Langdom, Building inscriptions of the Neo-Babylonian Empire, 1905, nº 5 19: Wadi Brisa, B. Col VII 34.).
Nabucodonosor estava pois em condições de compreender a simbologia da árvore. Acrescente-se, o paralelo entre a árvore e a visão da estátua do capítulo 2 torna-se suficientemente explícito. Como Nabucodonosor no capítulo 2 versículo 38, a arvore oferece uma protecção universal descrita nos seguintes termos: “...e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada”, abriga e alimenta (Daniel 4:12,21). Da mesma maneira que a cabeça da estátua (2:37), a proeminência da árvore é reconhecida até às extremidades de toda a terra (Dan. 4:11,12). A árvore está associada à cabeça da estátua e representa deste modo o rei Nabucodonosor.
Através desta imagem da árvore podemos ver o carácter orgulhoso de Nabucodonosor que é evidenciado. O texto compara Nabucodonosor a Adão na sua função de gerente do universo (Gén. 1:28), e a árvore da vida (ou do conhecimento do bem e do mal) no meio da terra (Gén. 2:9; 3:3). Esta árvore eleva-se até ao céu (vs. 11,20). A árvore do sonho do rei Nabucodonosor não é uma árvore vulgar ou normal. Todo o contexto está elaborado para realçar a sua superioridade.
De facto, por detrás desta exaltação ilimitada reconhece-se uma critica disfarçada. Porque esta comparação desproporcionada visa o orgulho de Nabucodonosor. o profeta Ezequiel utiliza a mesma metáfora para representar o orgulho da Assíria (Ezequiel 31:3-9). Este texto partilha o sentido comum de Daniel 4. Também em Ezequiel a árvore abriga as aves do céu e toda a espécie de animais do campo (Ez. 31:6); assim como a árvore está plantada no meio do jardim (v. 9) e é maior que todas as outras (vs. 2,5). Certamente, o texto de Daniel faz eco com esta passagem de Ezequiel. Ora o orgulho é aqui explicitamente mencionado em relação à altura da árvore.
“Portanto assim diz o Senhor Deus: Como se elevou na sua estatura, e se levantou a sua copa no meio dos espessos ramos, e o seu coração se ufanava da sua altura.” (Ezequiel 31:10)
Esta árvore que se eleva até ao céu, protectora e majestosa, constitui de facto um insulto claro a Deus.
É interessante de notar que a mesma imagem da árvore abrigando “as aves do céu”, é utilizada no Novo Testamento, para representar o Reino de Deus.
“É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta; cresceu, e fez-se árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.” (Lucas 13:19).

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