Marcos 13 (E
PARALELOS)
APOCALIPSE 6
Esta comparação mostra que devemos considerar os selos
consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de seu
discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes
aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos predizem
não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos messiânicos durante toda
a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adotou o estilo apocalíptico de Daniel de
repetição e ampliação. Duas vezes Jesus começou seu esboço com sua própria
geração e depois passou rapidamente adiante na história até o fim da era da
igreja, como se pode ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as
guerras que viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam
imediatamente a sua volta:
"Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos
assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a
fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será
pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc.
21:9, 24).
Jesus lhes advertiu especificamente contra uma expectativa
iminente:
"Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque
muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os
sigais" (Luc. 21:8).
Se os selos desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então
os selos igualmente se estendem sobre os séculos do período da era cristã. Esta
perspectiva histórica dos selos expressa o fluxo estrutural do livro do
Apocalipse da época histórica até o juízo final.
O Significado da Era
Cristã
É instrutivo refletir sobre o significado das predições de
Cristo de guerras, desastres na natureza, perseguições dos santos e uma
crescente apostasia da verdade, o amor e a moral. Os selos de Apocalipse 6
assinalam o significado de toda a história ao colocá-los em uma perspectiva do
tempo do fim, isto é, à luz dos destinos eternos. Tanto a igreja como a
história mundial recebem seu significado transcendental da soberania e os
juízos de Cristo (cap. 5). Ele coloca a história do homem no contexto mais
amplo do conflito espiritual entre Deus e Satanás e seus respectivos princípios
de governo. O apóstolo Paulo reconheceu isto:
"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).
O crisol da história humana é o meio pelo qual Cristo
santifica os que aceitam seu senhorio e testemunho de verdade sob as
circunstâncias mais adversas. Por outro lado, demonstra sobre a terra os
amargos frutos da rebelião contra ele, perdoando as vistas de seus inimigos,
desde Caim para frente. Ellen White oferece esta profunda revelação:
"Satanás está constantemente em atividade, com intensa
energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de
Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a
agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser
infinito e toda sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal,
Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não
somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da
mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como
Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu
trato com o mal".2
Cada calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o
homem caído se volte para Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos
acontecimentos de seu próprio tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2, 3).
No passado do Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre
seu povo do pacto, que era rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev.
26:23-26; Deut. 32:23-25, 42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21).
Mas esses juízos nunca foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos
preliminares, para motivar seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver Osé.
5:14, 15; 6:1-3). Quanto a isto também o Antigo Testamento é um livro de lições
para a igreja (1 Cor. 10:11 ).
Cristo deseja que a igreja compreenda que os juízos
vindouros ainda estão limitados por sua vontade. Deus ainda está no comando
mesmo que seus filhos morram como mártires. Também coloca limites ao cavaleiro
amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De igual maneira, Apocalipse 12 e 13
afirmam que o anticristo recebe não mais de 3 ½ tempos proféticos, enquanto à
última rebelião é concedida apenas "uma hora" (Apoc. 17:12).
Apocalipse 5 ensina que a responsabilidade pelos juízos de
Deus foi transferida a Cristo. Os selos apocalípticos, e por extensão as
trombetas e as pragas, todos devem entender-se como juízos messiânicos. O
Cristo entronizado é o Senhor da história, ou como Leão de Israel ou como o
Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6). Isto significa que os que rechaçam o sangue do
Cordeiro terão que enfrentar a "ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16, 17).
Pela fé em Cristo os homens podem confiar que a era cristã tem significado,
porque leva a humanidade adiante, a seu destino glorioso.
Desenrolando o Livro
da Providência
Em Apocalipse 6, os selos desenvolvem a visão da coroação de
Cristo como o Cordeiro imolado que aparece no capítulo 5. O Cordeiro só abre os
selos do rolo da escritura da providência. Sempre que Cristo abre um dos 4
primeiros selos, um dos 4 serafins diz "como com voz de trovão":
"Vem e vê!" Em resposta aparecem 4 cavalos em forma consecutiva, cada
um com uma cor diferente: branco, vermelho, preto e amarelo. Estes cavalos
levam cavaleiros diferentes. São enviados à terra um depois que o outro cumpriu
sua missão atribuída. Entendemos que cada cavalo se une aos prévios já
enviados, de maneira que finalmente os 4 cavalos cavalgam juntos sobre a terra
até o fim da era cristã.
Isto quer dizer que os primeiros 4 selos ainda não estão
completos, inclusive no tempo do fim. João está em dívida com o Antigo
Testamento para esta linguagem figurada de cavalaria celestial. Em suas visões,
Zacarias descreve 4 cavalos com cores diferentes (Zac. 1:8-17 e 6:1-8). Isto
indica que devemos considerar o significado dos 4 cavalos simbólicos do
Zacarias antes de interpretar os 4 cavaleiros apocalípticos.
Em Zacarias 1 atribuiu-se aos cavaleiros o dever de
inspecionar o mundo gentio com o fim de observar qualquer movimento para
restaurar Jerusalém e Judá (1:10). Este relatório foi frustrante: nada estava
acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus assegura ao profeta que apesar das
aparências contrárias, ele estava trabalhando por Jerusalém e Sião com grande
zelo (v. 14), enquanto que ao mesmo tempo estava irado contra as nações (v. 15).
O Deus do Israel voltaria para Sião, e seu templo e sua cidade seriam
reconstruídos. Seriam estabelecidas paz e prosperidade permanentes (8:12).
No capítulo 6, o profeta apresenta o complemento de sua
primeira visão. Esta vez vê 4 cavalos diferentes com carros de guerra
[merkaba], cada um enviado pelo Deus do céu em todas as direções da terra, para
levar a cabo o plano redentor de Deus para Jerusalém. O anjo que interpreta,
explica que os 4 carros significam "os quatro ventos dos céus" que são
enviados como ministros do Senhor para cumprir a vontade redentora de Deus em
todo mundo hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer. 49:36; Isa. 66:15).
A "terra do norte", ou Babilónia, é escolhida como
um lugar exemplar onde o Deus de Israel deseja governar e estabelecer seu
descanso (Zac. 6:8). Isto significa que os 4 carros de guerra da visão foram
enviados ao mundo com uma missão dupla: (1) submeter todos os poderes políticos
do mundo à vontade do Deus de Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a
todos os crentes israelitas e gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac. 8:8,
20-23). O propósito fundamental é a realização do plano de redenção de Deus e a
restauração da verdadeira adoração (vs. 22, 23).
No Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à
terra, desta vez com uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar os
corações humanos a Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e para levar a
humanidade à reflexão por meio de alguns juízos limitados como antecipações do
castigo final de Deus por sua rebelião contra Cristo.
O Primeiro Selo
"Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro
com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer"
(Apoc. 6:2).
O cavalo branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de
vencedor, saindo como "vencendo e para vencer". Alguns expositores
modernos interpretam este cavaleiro apocalíptico como símbolo da avidez do
homem para conseguir poder e domínio mundial. O argumento é que os 4 cavaleiros
de Apocalipse 6 iniciam juízos, de modo que parece "inapropriado ao
contexto" ver aqui a conquista de Cristo por meio do evangelho. Os cavalos
se usavam para liberar a guerra. Entretanto, cada símbolo deve receber seu
significado de seu próprio contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa
guerra.
Os selos desenvolvem mais amplamente a visão do trono de
Apocalipse 5, onde Cristo é descrito como o Senhor ressuscitado, simbolizado
pelo Leão que tinha triunfado (Apoc. 5:5). Estabeleceu sua vitória por sua
morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6). Depois enviou os
discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as nações e fazer discípulos
(Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito Santo para conquistar para ele, até
os fins da terra (At. 1:8), assim como conquistou a seu "inimigo"
Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9). Continua conquistando através do
poder do evangelho e a "espada de dois fios" de sua Palavra (Heb.
4:12), com o fim de ganhar para seu reino os corações sinceros de homens e
mulheres até o fim do tempo de prova.
Além disso, a estrutura quiástica do Apocalipse coloca a
Cristo como o Guerreiro em Apocalipse 19:11-16, como a contraparte
significativa e como a consumação do tempo do fim de Apocalipse 6:2. As
profecias messiânicas do Antigo Testamento representavam ao Rei davídico como
conquistando com arco e flechas (ver Sal. 45:4, 5; Deut. 32:23; Hab. 3:8-11;
Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio trazer a "espada" para
todos os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34; Luc. 12:51-53). Portanto podemos
interpretar o cavalo branco do primeiro selo como o cavalo do evangelho que
oferece a todos os homens a justiça perfeita de Cristo. Este cavaleiro
evangélico ainda conquista homens e mulheres ao redor do globo (1 João 5:4, 5).
A última confissão de fé de Paulo ilustra o poder do cavaleiro do cavalo
branco: " Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé"
(2 Tim. 4:7).
O Segundo Selo
"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser
vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro,
foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos
outros; também lhe foi dada uma grande espada" (Apoc. 6:3, 4).
Os três seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade
para trazer consigo juízos severos sobre a terra. Não devemos considerar estas
incursões que produzem morte, fome e praga como os resultados das guerras
seculares. Durante séculos houve paz no Império Romano, a "pax
romana", desde Arménia até Espanha.
O cavalo vermelho representa o espírito de oposição ao
cavaleiro do evangelho, ou guerra contra o povo de Cristo. Jesus tinha
advertido que o testemunho de seus seguidores causaria uma oposição encarniçada:
"Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, senão
espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32 e 33 e Luc. 12:51-53).
Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como pode ver-se nas cartas de
Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10, 13). Por outro lado, só
Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não
vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E a paz de Deus, que
ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em
Cristo Jesus" (Filip. 4:7).
Os césares romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo
como o supremo Rei e Senhor. Tentaram erradicar todas as testemunhas públicas
cristãs até o tempo da conversão do Constantino no século IV. A interpretação
de que o cavalo vermelho significa a perseguição religiosa-política por causa
de Cristo fica confirmado pela carta de Cristo à igreja da Esmirna (Apoc.
2:8-11 ) e o clamor dos mártires degolados sob o quinto selo (6:9).
Em qualquer lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os
resultados são luta e violência, não só dentro da igreja mas também na
sociedade. O derramamento de sangue nos selos se cumpre em dois níveis:
primeiro, dentro da igreja de Cristo e segundo, contra a igreja ao executar os
seguidores de Cristo durante toda a época da igreja.
O Terceiro Selo
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser
vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com
uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes
dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um
denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6).
A cor "preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o
contrário exato do primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se
desconhece a justiça de Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual,
o que nos
recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimónias não podem alimentar a alma, tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O terceiro selo se aplica especialmente a esse período da história da igreja quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a consciência humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.
recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimónias não podem alimentar a alma, tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O terceiro selo se aplica especialmente a esse período da história da igreja quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a consciência humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.
O Quarto Selo
"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do
quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu
cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada
autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a
mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8).
O cavaleiro do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo
Hades (a tumba). Os quatro juízos foram enviados antes pelo Deus de Israel a
seu povo do antigo pacto (ver Ezeq. 14:21). A cor de um pálido mortal sugere um
estado contínuo de decadência espiritual e de um endurecimento maior do
coração. O resultado é a apostasia da alma. Podemos pensar nas heresias e enganos
como uma consequência de rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc. 2:20-23). É
o caminho à morte eterna. Então, as "feras da terra" são uma
antecipação simbólica das bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais
também receberam permissão de "fazer guerra contra os santos e
vencê-los" (vs. 7, 14, 15). O quarto cavaleiro concentra os resultados do
trabalho dos cavaleiros anteriores: morte e condenação. Representa a situação
prolongada da igreja medieval.
Os primeiros 4 selos seguem o esboço do discurso profético
do Jesus em Mateus 24:6-8. A diferença entre Mateus 24 e os selos apocalípticos
está no fato de que no Apocalipse pode detectar-se um significado mais profundo
porque o primeiro cavaleiro é o evangelho de Cristo.
Os selos 2 a 4 mostram um endurecimento crescente da
incredulidade dos habitantes da terra, ao rechaçar a mensagem do evangelho do
cavaleiro do cavalo branco. Sua morte espiritual será selada finalmente na
morte eterna quando receberem a "ira do Cordeiro" durante o sexto selo
(Apoc. 6:15-17).
Embora haja uma progressão histórica, os selos refletem a
experiência de todos os que aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo. Isso
significa que a história pode repetir-se e que o passado outra vez pode chegar
a ser o futuro. Ellen White faz esta aplicação pastoral do terceiro e quarto
selos:
"Hoje se vê o mesmo espírito que o que está
representado em Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a
ser. Este espírito trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão
em cada nação, tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para
seguir a luz que Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas
agências assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo revelará debilidade.
Na igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3
Em resumo, os cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4
encontraram seu cumprimento da igreja pós-apostólica que se corrompeu, mas a
apostasia e a perseguição não estão limitadas à história passada. Como declara
Roy C. Naden: "Uma vez solto, cada cavalo contínua até a segunda vinda".4
O Quinto Selo
"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar,
as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por
causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até
quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma
vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até
que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser
mortos como igualmente eles foram" (Apoc. 6:9-11 ).
Esta imagem simbólica deve interpretar-se pela Escritura.
Jesus tinha anunciado que depois das revoltas políticas e os cataclismos
naturais, seus discípulos seriam perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21).
Depois de abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que
se faça justiça divina de todos os que morreram uma morte violenta "por
causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc.
6:9). Este clamor não sai de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas
"almas" depois de ter sido derramado seu sangue, assim como no caso
de Abel, o primeiro mártir. Deus pediu contas a seu assassino com estas
palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim"
(Gên. 4:10). Isto nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus filhos fiéis e
faz responsáveis a seus assassinos! Considera o lugar onde suas testemunhas
morreram como um "altar" onde foi derramado o sangue de seu
sacrifício (cf. Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo considerou que sua iminente
decapitação pela ordem do imperador Nero, era uma morte como sacrifício a Deus
(2 Tim. 4:6).
A visão do quinto selo serve como um paralelo esclarecedor
de pisotear e pisar os santos que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12). A
visão do Daniel 7 se estende dos impérios mundiais sucessivos, através da
divisão de Roma, até o surgimento do chifre pequeno e a perseguição dos santos
durante a Idade Média, até o tempo do fim com a cena de seu juízo majestoso na
sala do trono de Deus. Naquele tempo, o "Ancião de dias" pronunciará
seu veredicto em favor dos santos (v. 22).
O significado do quinto selo deve ser aberto com a chave de
Daniel. Especialmente a visão de Daniel da prevaricação assoladora e do pisar
dos verdadeiros adoradores aparece no antecedente do quinto selo. O clamor dos
mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o nosso sangue"
(Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8: "Até quando durará
a visão...entregando o santuário e o exército para serem pisoteados?" (v.
13).
O quinto selo revela que o momento para a vindicação deve
esperar "um pouco de tempo", porque incluso não chegou a perseguição
do tempo do fim. A resposta de Deus à pergunta das testemunhas assassinadas em
Apocalipse 6 é: "Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e
lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo..." (v. 11). As
vestimentas brancas dadas aos mártires expressam o cumprimento da predição de
Daniel de uma vindicação forense dos santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25).
Isto dá segurança ao povo de Deus de que ele cuida deles,
ouve seu clamor por justiça divina e os vindicará publicamente. Esta
consideração leva à conclusão de que o quinto selo alcança até o fim da era
cristã, quando Deus executará seus juízos com respeito aos santos e seus
perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos mártires cristãos evoca "a
ira do Cordeiro" sobre os que mataram os seguidores de Cristo.
A Palavra de Deus e o
Testemunho de Jesus
Antes de passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à
causa declarada pela qual morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto selo
diz que morreram "por causa da palavra de Deus e por causa testemunho que
sustentavam" (Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos pensar que o "testemunho"
que tinham se refere ao testemunho pessoal de sua fé em Cristo e na palavra de
Deus. Isto certamente é verdade. Mas uma comparação com as referências cruzadas
que há no Apocalipse indica que "o testemunho" pelo qual deram sua
vida foi o testemunho da própria revelação de Jesus, transmitida pelo Espírito
de profecia através dos apóstolos (ver 19:10).
João usa usualmente o termo "testemunho" para
referir-se ao testemunho dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse
é chamado "o testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc.
22:16). João escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra de
Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido mais
amplo da frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho
como a revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto significa que os
Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de Jesus.
O Apocalipse se abre com a declaração que continua a revelação que Deus
deu a Jesus para a igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no Apocalipse, João dá
testemunho sobre "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo"
(v. 2). O Apocalipse como um todo, junto com a proclamação do evangelho do Novo
Testamento é parte do testemunho de Jesus. Identifica a igreja remanescente que
aparece na profecia do capítulo 12 por esta dupla característica: "Os que
guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (v.
17). O Apocalipse chama à igreja a ser fiel a esta dupla norma da verdade. Esta
expressão repetida no livro do Apocalipse serve como uma linha de demarcação
entre a adoração verdadeira e falsa de Deus durante toda a era cristã (ver
20:4). Dentro deste amplo contexto chega a ser claro que os mártires durante a
era cristã sofreram uma morte violenta por causa de ter mantido a palavra de
Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os mártires se aferraram [éijon] ao
testemunho que tinham recebido de Jesus e dessa forma foram testemunhas fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a ele,
e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra'
era uma posse objetiva dos mártires".6 Para um estudo mais amplo do termo
apocalíptico "o testemunho de Jesus", ver mais adiante, no capítulo
XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17.
O Sexto Selo
"Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio
grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como
sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada
por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um
pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do
seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos
e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos
montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da
face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o
grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:12-17).
A abertura do sexto selo descreve a resposta final de Cristo
ao clamor das almas "debaixo do altar" (Apoc. 6:10). Anuncia sua
chegada como o Guerreiro divino com os mesmos sinais cósmicos no céu e na terra
como as que fez Deus quando apareceu como o Rei de Israel. Moisés descreveu a
manifestação do Jeová no monte Sinai dizendo:
"Houve trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre
o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava
no arraial se estremeceu. ... Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor
descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e
todo o monte tremia grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez
mais" (Êxo. 19:16,18, 19).
Esta vinda de Deus sobre o monte Sinai esteve acompanhada
por um terremoto violento, o escurecimento do sol com uma nuvem espessa e
fumaça, e um som forte de trombeta. Fez com que todo o povo tremesse com temor
(Êxo. 20:18, 19). Esta descrição de Moisés foi adotada pelos profetas de Israel
como o arquétipo de todas as teofanias seguintes. Descreveram cada visitação do
Senhor em favor de seu povo com sinais cósmicos similares às da teofania do
monte Sinai.
Além do terremoto e dos trovões, acrescentaram granizo, uma
forte chuva e seca repentina do rio, um pânico aterrador entre os inimigos de
Deus e seu povo, e até o sol, a lua e as estrelas como participando da guerra
santa de Deus a favor de seu povo do pacto (ver Jos. 3:13; 4:22-24; 5:1; Qui.
5:20, 21; 1 Sam. 7:10; 14:15, 20; Jos. 10:11-14). Este aspecto cósmico proveu
uma prova dramática de que o Deus do pacto também era o Criador do céu e da
terra. Fez com que as nações pagãs reconhecessem que o Deus vivente estava do
lado do Israel (Êxo. 14:25). Raabe de Jericó disse: "Ouvindo isto, desmaiou-nos
o coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença;
porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra"
(Jos. 2:11 ).
Um grande terremoto, chuva e tormenta de granizo e o
obscurecimento do sol e das estrelas chegaram a ser parte dos anúncios da
aparição de Deus nas predições do "dia de Jeová" (Yom Yahveh) como o
dia do juízo (ver Ezeq. 38:19-23; Joel 2:30, 31; Isa. 24:1-4, 13, 18-23; Jer.
4:23-28).
A Teologia Hebraica
dos Sinais Cósmicos
A predição de sinais cósmicos no céu e na terra não tinha o
propósito de ser uma predição de alguns fenómenos isolados e intermitentes. Os
sinais cósmicos têm um significado teológico na teologia hebraica porque foram
descritas como manifestações do Criador vindo como Rei e Guerreiro santo em
favor de seu povo do pacto (ver o estudo de 8 exemplos no cap. VI, sob o
subtítulo: "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos"). Joel declara
que o obscurecimento do sol ocorrerá "antes que venha o dia grande e espantoso
de Jeová" (Joel 2:31). Entretanto, em suas outras duas predições Joel não
indica nenhuma perspectiva dos sinais celestes fora do ponto de vista padrão
profético: que os sinais introduzem e acompanham a manifestação do dia do juízo
(2:10, 11; 3:15, 16).
Os profetas nunca sugeriram que podemos esperar para ver
algum sinal insólito no céu ou na primeira terra, antes de nos converter ao
Senhor. O simbolismo cósmico tinha o propósito de motivar o povo de Deus a
arrepender-se agora (ver Joel 1:15; 2:1, 10-17). Os profetas nunca estiveram
preocupados em ensinar uma ordem determinada de sinais cósmicos. De fato,
sentiram-se livres para mudar o modelo dos sinais, algumas vezes deixando que o
terremoto precedesse aos cataclismos celestes e outras vezes que o seguisse
(Joel 2:10 e 3:15, 16; também Isa. 13:10-13 e 24:18-23; além disso, Jer.
4:23-28).
O profeta Ageu inclusive menciona um terremoto apocalíptico
como um sinal cósmico: "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a
pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer a
todas as nações..." (Ag. 2:6, 7). Este futuro terremoto universal não se
apresenta como um desastre isolado para informar o mundo da presciência de Deus
a respeito de um terremoto vindouro. Ageu apresenta sua predição de uma maneira
similar a que houve no Monte Sinai para anunciar a visitação final de Deus
sobre a terra, para julgar o mundo e para estabelecer sua glória messiânica
sobre a terra (v. 7). A carta aos hebreus aplica a predição do Ageu ao
terremoto cósmico ao fim da era cristã:
"Agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por
todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda
uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido
feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. Por isso, recebendo
nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo
agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo
consumidor" (Heb. 12:26-29).
Esta aplicação do terremoto profetizado por Ageu mostra que
o Novo Testamento toma sua linguagem descritiva literalmente para falar de um
terremoto cósmico de todas as "coisas criadas" que ocorrerá no fim da
era cristã. Isto corresponde exatamente com a abertura do sexto selo em Apocalipse
6:12: "Houve um grande terremoto..." Não será alguma sinal de
advertência que proporcionará lugar para um período de arrependimento.
Simplesmente introduzirá a era vindoura de glória messiânica (ver Ag. 2:7-9). O
propósito moral tanto de Ageu como da carta aos Hebreus é claramente levar a um
compromisso para adorar a Deus agora, não quando ocorrer o terremoto cósmico!
Além disso, aprendemos a lição importante de que o terremoto apocalíptico não
se apresenta como um precursor isolado do dia do juízo, mas sim como a mesma
manifestação desse dia.
A Predição de Cristo
de Grande Aflição para seus Escolhidos
O discurso profético de Jesus está apoiado no livro
apocalíptico do Daniel (ver Mat. 24:15). Indicou a seus discípulos onde estavam
no esboço profético da história da salvação. Naquele tempo Jerusalém e seu
templo estavam a ponto de ser destruídos pelo inimigo de Israel que se
aproximava (Luc. 21:21-24), em cumprimento da profecia de Daniel (Luc. 21:22;
Dan. 9:26, 27). Além disso, Jesus ressaltou uma preocupação ulterior para seus
discípulos que ficariam depois da destruição de Jerusalém. "Porque nesse
tempo haverá grande tribulação [thlípsis], como desde o princípio do mundo não
tem havido até agora e nem haverá jamais" (Mat. 24:21). Esta maneira de expressar
também se deriva da profecia de Daniel e exige um olhar mais detido:
Existe um consenso comum de que Cristo em sua predição da
"grande tribulação" referiu-se à tribulação do tempo do fim do povo
de Deus em Daniel 12:1, a que será abreviada pelo levantamento de Miguel como o
Guerreiro divino. Entretanto, Jesus aplicou essa tribulação vindoura a seus
próprios seguidores durante toda a era cristã (ver Mat. 24:21, 22, 29). Jesus
não restringiu sua aplicação da tribulação do tempo do fim de que fala Daniel a
um período determinado dentro da época da igreja.
O contexto imediato em Mateus 24 (e em Mar. 13) conecta a
"tribulação" diretamente com a destruição de Jerusalém (Mat. 24:21;
ver Mar. 13:18, 19). Jesus cobre todos os períodos de angústia para seus
verdadeiros seguidores, começando com a tribulação sob o judaísmo e Roma
imperial (ver Mar. 13:9; Apoc. 2:10), e depois com a morte de seus discípulos
"por todas as nações" (Mat. 24:9, CI) durante os séculos da Idade
Média aos quais tinha indicado Daniel 7:25. Mas agora Jesus usou a frase
"grande tribulação" (Mat. 24:21, 22) não de Daniel 7 mas sim de
Daniel 12:1 (ver o gráfico anterior). Assim como em Daniel 12:1, Jesus
enfatizou também a natureza sem precedentes da tribulação na história humana
(Mat. 24:21). Anunciou que a tribulação seria "abreviada” por causa dos
escolhidos naqueles dias ou nenhum sobreviveria àquela aflição (Mat. 24:22;
Mar. 13:20). Este "abreviar" os dias corresponde exatamente com a
promessa que apresenta Daniel, que Miguel se levantaria "naquele tempo” (o
"tempo do fim", Dan. 11:40-45) para liberar a seu povo por meio de
sua intervenção sobrenatural (Dan. 12:1). A libertação de Miguel abrevia a
última aflição, ou não sobreviveria nenhum do povo de Deus.
A divina "interrupção" da aflição global para
prevenir a aniquilação completa dos escolhidos dos quais Jesus fala no Mateus
24:22, pode aplicar-se como um cumprimento parcial do surgimento do
protestantismo e do seguinte período do Iluminismo ou o "século das
luzes", que obteve gradualmente a liberdade religiosa e o fim da perseguição.
Em resumo, Jesus predisse dias de "aflição" para
seus seguidores não singularizando um tempo particular de perseguição sob o
judaísmo, sob Roma imperial, sob Roma papal ou sob a cristandade apóstata.
Abrange todo o período entre os dois adventos, com uma ênfase especial sobre a
aflição universal e intensiva no fim da história, a qual assinala em Mateus
24:21 com palavras derivadas de Daniel 12:1. Este alcance exaustivo dos dias de
aflição é também o alcance do quinto selo em Apocalipse 6:9-11. O clamor dos
mártires mortos não provém exclusivamente de um período de perseguição, mas sim
de todo o tempo da era cristã "até que se completasse o número de seus
conservos, que também tinham que ser mortos como eles" (Apoc. 6:11). A
aflição final para os seguidores de Cristo será abreviada pela intervenção e a
libertação divinas.
Os Sinais Cósmicos
Seguem-se à Aflição Final
Jesus terminou sua predição profética com esta promessa: "Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol
escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e
os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do
Homem..." (Mat. 24:29, 30).
Nesta metáfora cósmica, Jesus também usa as palavras dos
profetas. Inclusive combina em uma imagem o que Isaías descreveu em dois
conceitos sobre o dia do Senhor (Isa. 13:10 e 34:4). Como a perspectiva de
Isaías não se focava nos sinais astronómicos em si, a não ser sobre a
aparição do Jeová como o Santo guerreiro, assim a mensagem central do Jesus no
Mateus 24 não se centra sobre os sinais celestiais como tais, a não ser no
"sinal" de que virá como o designado "filho de homem" da
profecia do Daniel (Mat. 24:30), e que ele juntará não a nação escolhida, a não
ser seus próprios escolhidos de todas as tribos da terra (V. 31; Mar. 13:27;
cf. Mat. 8:11, 12).
A frase, "logo em seguida à tribulação daqueles
dias" (Mat. 24:29), ou "naqueles dias, após a referida
tribulação" (Mar. 13:24), encaixa no tempo do fim de Daniel 12:1, o qual
também assinalava ao quinto selo de Apocalipse 6:11. Essa
"tribulação" seria abreviada por causa dos escolhidos de Cristo
mediante o resgate imediato de Miguel (Dan. 12:1), quem aparece com os sinais
cósmicos como o Filho do Homem em seu carro de nuvens (Mat. 24:30; Mar. 13:27).
Toda a ideia-chave do discurso profético de Jesus é a nova
reinterpretação cristológica do dia de Jeová, e esta foi uma notícia espantosa
para o judaísmo. O dia do Senhor chegou a ser o dia do Senhor Jesus. Esta
verdade fundamental chegou a ser uma parte essencial do evangelho apocalíptico
(ver 1 Cor. 1:8; 2 Cor. 1:14; 2 Tes. 2:2; Filip. 1:10). O simbolismo cósmico
padrão de Israel, centrado na teofania de Jeová, é reconstituído por Jesus como
apoiando-se em sua própria cristofania gloriosa. O segundo advento de Cristo
revelará a todas as nações sua glória messiânica como o Filho de Deus.
Exegese Literal do
Sexto Selo
Seguimos o método reconhecido para fazer uma exegese
responsável quando examinamos o uso anterior da linguagem e o tema do sexto
selo nos outros livros da Bíblia. Nenhum texto no Apocalipse deve ser
interpretado isolado de seu contexto imediato e de seu contexto mais amplo. O
procedimento contextual é nosso amparo contra qualquer exegese especulativa ou
forçada. Permite lançar um olhar novo a nossas interpretações correntes com a
possibilidade de descobrir uma compreensão mais adequada.
Temos descoberto uma teologia consistente dos sinais
cósmicos nas profecias e teofanías do Antigo Testamento que estão enraizadas na
narração da criação de Génesis 1. O fato de que o Deus do pacto de Israel é ao
mesmo tempo o Criador do céu e da terra proporciona a razão fundamental
teológica para os fenómenos naturais excepcionais que ocorrem à aparição do
Criador. Tais transtornos, literais e dramáticos, nas leis da natureza
sobressaltam tanto a crentes como a incrédulos com um esmagador sentido de
insegurança de enfrentar o Criador como o Juiz de toda a terra. Virtualmente,
todas as profecias de condenação inclui a linguagem figurada cósmica como a
introdução ao dia final da guerra santa a favor do Israel de Deus.
Aprendemos do discurso profético de Jesus (Mat. 24 e
paralelos) que sua volta como o "filho de homem" de Daniel 7 foi o
"sinal" designado (Mat. 24:30) para o qual olhar. Os sinais
celestiais sobrenaturais introduzirão e acompanharão imediatamente sua vinda.
Então se lamentarão todas as linhagens da terra, quer dizer, estarão cheios de
um remorso amargo por causa dele (Mat. 24:30; Apoc. 1:7). Não há nenhuma
sugestão em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 de que os sinais celestiais são
sinais de admoestação para arrepender-se e preparar-se para sua vinda.
Só o Evangelho de Lucas nos diz que quando acontecerem os
cataclismos finais sobre a terra e nos céus, "exultai e erguei a vossa
cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Esse não será o
tempo para que os que não se prepararam recebam outro apelo ao arrependimento.
George R. Knight o recapitula adequadamente: "Dessa maneira, o modelo do
Mateus 24 parece ser que os sinais reais não são sinais da proximidade e sim
sinais da vinda. Os sinais menos precisos são para animar os crentes a
manter-se vigiando, esperando e trabalhando".7
No Apocalipse, Cristo reiteradamente coloca o evento de sua
volta no centro, inclusive como a medula de todo o livro (Apoc. 1:7; 6:12-17;
14:14-20; 17:14; 19:11-21). O sexto selo começa com um estremecimento cósmico
que sacode tanto a terra como os céus (6:12-14). Descreve o efeito universal
sobre os moradores da terra que não têm refúgio contra a "ira do Cordeiro"
(vs. 15-17).
O sexto selo nos deixa com a impressão de que haverá uma
ruína universal de toda a humanidade. Todos exclamam: "Quem poderá ficar
de pé?" (Apoc. 6:17, BJ). A resposta a esta pergunta cheia de ansiedade se
apresenta em forma extensa no capítulo 7, um dos capítulos mais consoladores no
livro do Apocalipse. Ali encontramos a verdadeira motivação para o
arrependimento em preparação para sua vinda: precisamos ser selados com o selo
do Deus vivo antes que se soltem os ventos finais de juízo (7:1-3).
O Terramoto
Apocalíptico
O sexto selo se abre com: "E sobreveio grande
terremoto" (Apoc. 6:12). Este característico requer uma atenção cuidadosa
olhando as referências recíprocas em outros livros da Bíblia. No Antigo
Testamento, um "terremoto" tem um significado teológico. Constitui
uma característica regular da aparição de Deus a Israel (uma teofania), do
tempo quando desceu sobre o monte Sinai com um terremoto (Êxo. 19:18; Sal.
68:7, 8; ver também Sal. 144:5; Isa. 64:1, 3).
Enquanto o Antigo Testamento fala frequentemente de terremotos
locais como manifestações das visitações de Jeová como Santo Guerreiro em favor
de Israel, os profetas descrevem o último terremoto na história da salvação
como um estremecimento cósmico que sacudirá a terra e todos os corpos
celestiais (ver Joel 2:10, 11; Isa. 2:19-21; 13:10, 11, 13; Sof. 1:2, 3). Este
estremecimento global do céu e da terra como a introdução à glória messiânica
de uma nova terra se apresenta na perspectiva apocalíptica de Ageu:
"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez,
daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e
farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei
esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos
" (Ag. 2:6, 7).
A predição de Ageu se aplica a um tremor literal cósmico que
introduz a segunda vinda de Cristo em Hebreus 12:26 e 27. Este terremoto
apocalíptico se distingue claramente de todos os terremotos locais anteriores
que Jesus tinha anunciado como o "princípio de dores" (Mat. 24:7, 8;
Mar. 13:8). Todos os terremotos locais podem ser interpretados como chamados a
despertar para preparar-se para a vinda de Cristo; como fortes motivações para
arrepender-se antes que seja muito tarde (ver Luc. 13:4, 5).
A qual das duas categorias pertence o "grande
terremoto" do sexto selo (Apoc. 6:12), à cósmica ou a local? Não todos os
terremotos que aparecem no Apocalipse se descrevem com o tremor cósmico que
sacode tanto o mundo como os corpos celestiais. Por exemplo, o "grande
terremoto" em Apocalipse 11:13 está caracterizado por sua colocação em
"o segundo ai", durante a sexta trombeta, como um sinal preliminar de
advertência, com o propósito de levar ao arrependimento. Além disso o descreve
como um tremor local, porque "a décima parte da cidade se derrubou, e pelo
terremoto morreram em número de sete mil homens; e todos outros se
aterrorizaram e deram glória ao Deus do céu" (Apoc. 11:13). Este tremor
local se distingue do terremoto universal que ocorrerá durante a sétima
trombeta ou o "terceiro ai" em Apocalipse 11:19, que ulteriormente se
amplia na sétima praga (16:17-21).
O Grande Terramoto do
Sexto Selo (Apoc. 6:11-14)
Menciona o sexto selo dois terremotos diferentes, um local
(Apoc. 6:12) e um cósmico (v. 14)? Nem a sétima trombeta nem a sétima praga mencionam
dois terremotos. Em Mateus 24, Jesus não se referiu a nenhum terremoto
particular no tempo do fim. Entretanto, a resposta a nossa pergunta pode
encontrar-se no mesmo contexto do sexto selo. O estilo literário de Apocalipse
6:12-14 e 15-17 assinala a seu significado. A primeira unidade dos versículos
12-14 mostra o modelo do ABB1A1, a estrutura típica do paralelismo inverso:
A. Há um grande terramoto.
B. O sol, a lua e as estrelas funcionam mau.
B1. O céu se desvanece como um pergaminho que se enrola.
A1. Todo o monte e toda a ilha se removem do seu lugar.
O argumento literário descreve uma sacudida do céu e da
terra, exatamente como haviam predito Ageu (2:6) e Hebreus (12:26, 27).
"Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus
e a terra, o mar e a terra seca". Nenhum terremoto local pode igualar a
finalidade e as dimensões universais das descrições de Ageu, de Hebreus e a do
sexto selo.
Apocalipse 6:12-14 descreve em primeiro lugar os sinais
cósmicos na terra e no céu (A e B); depois continua descrevendo os efeitos
destes sinais na ordem inversa: no céu (B1) e na terra (Ao terremoto mencionado
em "A" é a origem dos efeitos universais mencionados em "A1: o
desaparecimento dos montes e das ilhas. Uma descrição similar de causa e efeito
pode ver-se na sétima praga, onde se menciona primeiro um terremoto tremendo e
universal (ver Apoc. 16:18), seguido por seu efeito sobre Babilónia e sobre os
montes e as ilhas (vs. 19, 20). A descrição da sétima praga é um paralelo
literário surpreendente com a do sexto selo! Precisamos entender ambos da mesma
maneira. Este paralelo indica que o sexto selo não projeta dois terremotos
diferentes, com centenas de anos entre eles (em Apoc. 6:12-14).
Para entender a
composição literária que João apresenta dos cataclismos no céu durante o sexto
selo, é instrutivo observar sua adoção da descrição que faz Isaías do juízo
mundial devastador de Deus:
"Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se
enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da
vide e a folha da figueira" (Isa. 34:4).
"Porque as
estrelas dos céus e os astros não deixarão brilhar a sua luz; o sol se
escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz... Pelo que farei estremecer os céus; e a terra
se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos Exércitos e por causa
do dia da sua ardente ira" (Isa. 13:10, 13).
Nesta linguagem figurada tão vívida que formula os aspectos
espantosos do dia do Senhor, não temos à vista uma ordem de acontecimentos e
tampouco há indicação bíblica de que o sexto selo tenha o propósito de ensinar
uma ordem específica de eventos (ver no cap. VI a seção "A teologia de
Cristo dos sinais cósmicos").
Na unidade seguinte
(Apoc. 6:15-17), João descreve o impacto universal do estremecimento cósmico
sobre o mundo político, militar, económico e social. Em vão tratam de procurar
refúgio ante o Juiz da terra.
Dessa maneira o sexto
selo descreve a ordem progressiva de causa e efeito. Se compararmos as
descrições do terremoto apocalíptico do Apocalipse, observamos uma ampliação
gradual do mesmo na sétima trombeta e na sétima praga:
"E sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro
como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela
terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus
figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então,
todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar".
"E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto".
"e sobreviveram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e
grande saraivada."
"E sobreviveram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu
grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal
foi o terremoto, forte e grande ... Todas as ilhas fugiram, e os montes não
foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada".
Este desenvolvimento progressivo do terremoto cósmico não é,
obviamente, a predição de dois ou mais terremotos. A composição literária do
Apocalipse ensina um terremoto final e cósmico, que se amplia na descrição de
cada série seguinte, em harmonia com a crescente severidade dos juízos das
trombetas e as pragas à medida que se aproxima o fim.
É significativo que João se apropria em forma consistente
das antigas profecias do dia do Senhor para sua descrição do sexto selo. Isto é
especialmente verdade de sua adoção dos sinais cósmicos de Isaías (13:10, 13;
24:18, 19, 23; 34:4, 8) e do Joel (2:10, 11, 30, 31; 3:14-16). João não
encontrou nos profetas uma lista uniforme de sinais cósmicos! Inclusive troca o
arranjo de sua fonte principal, Isaías 34:4, em sua própria descrição em
Apocalipse 6:12-14. A preocupação dominante de João não é criar uma ordem
cronológica determinada de sinais cósmicos, a não ser colocá-as ao redor de
Cristo como o novo centro e meta dos cataclismos finais no universo, em
harmonia com o próprio entendimento de Jesus em Mateus 24:29-31. Este
empréstimo penetrante do Antigo Testamento destaca a unidade teológica de ambos
os Testamentos e seu panorama apocalíptico comum. Ambos os Testamentos revelam
um Criador-Redentor e um dia de juízo (ver Heb. 1:1, 2; Apoc. 6:17).
Em conclusão, o sexto selo não pode ser entendido
corretamente por si mesmo, divorciado dos cinco selos anteriores. O sexto selo
é a consumação dos selos anteriores. O clamor dos mártires por vindicação foi
respondido só em um sentido preliminar com a vindicação celestial ("as
vestimentas brancas") sob o quinto selo. Têm que "esperar um pouco de
tempo", até que se complete a tribulação do tempo do fim para o povo de
Deus (Apoc. 6:11). O sexto selo não se abre com outro período de espera para os
santos mortos e vivos, a não ser com a chegada do dia de ajuste de contas, o
dia de justiça e vindicação.
O Sétimo Selo
O sétimo selo não acrescenta nenhum evento adicional, só
"silêncio no céu como por meia hora" (Apoc. 8:1). Este silêncio
sugere que a justiça de Deus foi plenamente apoiada sobre as expectativas de
Israel (Isa. 62:1; 65:6, 7; Sal. 50:3-6). É interessante notar que o 4° livro
de Esdras, escrito na última parte do século I de nossa era, relata uma crença
judaica que menciona que o fim da história trará um "silêncio"
correspondendo ao silêncio antes da criação do mundo:
"E o mundo voltará para silêncio primitivo por sete
dias, como foi no primeiro princípio; de maneira que ninguém ficará".8
O sétimo selo parece declarar um "silêncio no céu"
como o fim da "grande voz" dos mártires por justiça divina. Dessa
forma, o ciclo profético dos selos ressegura à igreja que Cristo é o Senhor da
história e um fiel guardador do pacto. As bênçãos do pacto prometidas à igreja
em Apocalipse 2 e 3 serão outorgadas aos que perseveram na fé ou no testemunho
de Jesus até o fim! Este tema de cumprimento chega a ser o enfoque principal de
consolo na visão de João de Apocalipse 7.
Hans K.
LaRondelle
Referências
1.
Beasley-Murray, Revelation, p. 129.
2. Ellen
White, PP 78.
3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372.
4. Naden,
The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 110.
5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310.
6. Ibid.,
p. 313.
7. Knight,
Matthew. Bible Amplifier, p. 237.
8.
Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 537 (4 Esdras 7:30).
Sem comentários:
Enviar um comentário