"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a
nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis
o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos
de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima,
e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que
faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são
fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ómega,
o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da
vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será
filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos
assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os
mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a
saber, a segunda morte" (Apoc. 21:1-8).
Esta visão de João continua a série de visões
("Vi") que começaram com a do segundo advento em Apocalipse 19:11.
Alguns inclusive consideram Apocalipse 21:1-8 como "a parte mais
importante de seu livro".
Apocalipse 20 e 21 estão unidos por muitos elos. Ambos falam
de "céu e terra" (20:11; 21:1), do "mar" (20:13; 21:1), do
"livro da vida" (20:12; 21:17), do "trono" de Deus (20:11;
21:3), da "segunda morte" (20:14; 21:8) e do "lago de fogo"
(20:15; 21:8). Estas conexões confirmam que a visão da Nova Jerusalém é a
culminação da longa cadeia de visões que aparecem em Apocalipse 19:11 a 21:8.
Em outras palavras, a visão de "um novo céu e uma terra nova" (21:1).
Segue à segunda vinda de Cristo (19:11-16) e ao milénio.
A descida da presença constante de Deus sobre a terra
renovada é o propósito do plano de Deus e dos seus juízos sobre a humanidade
pecadora. Por conseguinte, a visão de Deus morando com os homens em Apocalipse
21:1-8 forma o ponto culminante de todas as visões anteriores de João, e a
consumação da esperança dos mártires. A inspiração do Espírito Santo, os dois
últimos capítulos de seu livro [o de João] formam o cântico mais sublime.
Agora João recebe visões repetidas da Nova Jerusalém (Apoc.
21:1-8, 10-27; 22:1-6), que revelam progressivamente o esplendor da cidade de
Deus. O fato de que João volta a ouvir a voz de Deus desde trono ordenando que
escrevesse palavras que são "fiéis e verdadeiras" (21:5) é
significativo. Desta maneira Deus autentica a veracidade do que João viu. As
palavras de Deus estão formuladas nas promessas do Antigo Testamento que eram
familiares ao povo de Israel. João usa estas alusões para enfatizar a
continuidade do pacto de Deus. Destaca o seu compromisso repetindo sete vezes
que Deus e o Cordeiro estão unidos inseparavelmente com a Nova Jerusalém (21:9,
14, 22, 23, 27; 22:1, 3). Dessa maneira, João transmite que as suas visões da
Nova Jerusalém são em essência diferentes da esperança nacional judaica do seu
tempo. A sua esperança futura se centra em Cristo Jesus e no seu povo
universal.
Ao adoptar a linguagem gráfica de Isaías e Ezequiel, João
descreve a realidade indescritível do céu... o quadro mais detalhado que alguma
vez se deu na Escritura da realidade incomparável que Deus preparou para seus
filhos.
O Significado
Religioso de Jerusalém no Antigo Testamento
Os nomes de Jerusalém e o monte Sião são usados em forma sinónima
no Antigo Testamento (ver Miq. 3:12; 4:8; Isa. 10:12). Jerusalém devia a
santidade ao traslado que fez David da arca de Jeová, o símbolo do trono de
Deus ao monte Sião (2 Sam. 6; Sal. 132:13-16). Sião funcionou como o centro da
inspiração, salvação e adoração divinas (vejam-se os salmos 46, 48, 76). O
Salmo 46 não glorifica a Jerusalém em si, excepto como o lugar onde Deus mora:
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem
presente nas tribulações... Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de
Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será
abalada; Deus a ajudará desde antemanhã" (Sal. 46:1, 4, 5).
O Salmo 46 termina com uma perspectiva escatológica da
majestade de Deus:
"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado
entre as nações, sou exaltado na terra" (Sal. 46:10).
Espraiando-se sobre esta esperança paradisíaca, o salmista
descreve a Jerusalém em termos ideais: "Há um rio, cujas correntes alegram
a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo" (Sal. 46:4). Como
pôde o salmista dizer que Jerusalém tinha um "rio" quando não possui
nenhum arroio, excepto um pequeno manancial perto de Giom? (ver 1 Reis 1:33,
38). Sua visão percebeu o tempo de salvação messiânico.
Vários profetas também descreveram Jerusalém escatológica
como possuindo uma ligação com o marco do paraíso restaurado (ver Isa. 33:21;
35:6, 7; Joel 3:18; Ezeq. 47:1-12; Zac. 14:8). Dessa maneira, a cidade
histórica de David chegou a ser na "teologia de Sião" de Jerusalém um
símbolo da esperança escatológica, um tipo profético do reino messiânico. Dois
profetas fizeram de Jerusalém a parte central do seu panorama futuro e portanto
merecem a nossa atenção.
Ezequiel mostrou que Deus não estava atado
incondicionalmente a Jerusalém, mas que a julgaria por sua apostasia religiosa,
moral e social (Ezeq. 8-11). Deus abandonaria o templo e voltaria só para um
Israel renovado moralmente (36:24-28; 37:26, 27), promessa que se amplia na
descrição do novo templo em Ezequiel 40 a 48. Esse templo da visão de Ezequiel
é de origem divina. É uma realidade celestial criada pelo próprio Jeová e
transplantada para permanecer na terra. Virá à terra só quando o Israel de Deus
seja purificado e quando o Messias tenha vindo a Israel (37:24, 25). A
característica do novo templo será um rio doador de vida fluindo debaixo do
templo (47:1-12). Esta característica forma um elo com o jardim do Éden (ver Gén.
2:8-14).
Isaías viu, na sua perspectiva profética, como os gentios
irão à Nova Jerusalém com a confissão religiosa: "Só contigo está Deus, e
não há outro que seja Deus" (Isa. 45:14; cf. 1 Cor. 14:25). Tudo estará
unido por sua fé messiânica antes que por laços étnicos ou políticos. Isaías
emprega os símbolos das pedras preciosas e jóias resplandecentes para descrever
a beleza de seus muros e portas (Isa. 54:12), desenho que evoca a volta da
opulência paradisíaca (ver Ezeq. 28:11-15; Isa. 51:3). Embora isto assinale uma
qualidade transcendente da Nova Jerusalém, não há indicação em Isaías de que
esta cidade tenha uma origem extraterrestre. A sua glória sobrenatural emana da
presença de Deus. A essência de seu atractivo único não é tanto a sua beleza
externa como a promessa de que Jeová voltará e de novo estará unido ao seu povo
(Isa. 60:1, 2, 19; 62:11).
Portanto, a cidade recebe um nome novo (Isa. 62:2). Já não
necessitará mais a luz do sol ou a da lua, porque "o Senhor será a tua luz
perpétua, e o teu Deus, a tua glória" (60:19; cf. Apoc. 21:23; 22:5).
Isaías mescla seu conceito da Sião do tempo do fim com seu motivo de uma nova
criação usando as cores realistas de um paraíso terrestre (Isa. 65:17-25).
Embora tenha anunciado mais explicitamente que nenhum outro profeta a criação
de "novos céus e terra nova" (v. 17), esta descrição poética da Jerusalém
renovada permanece em continuidade com o contexto histórico (v. 20). Permanece
como uma realidade terrestre embora transformada. Sua bênção mais rica não será
a longevidade ou a prosperidade, a não ser a presença de Jeová para responder
suas orações (v. 24). Mas também estará presente o Messias, porque terá chegado
o jubileu messiânico (61:1-3, 10; cf. Luc. 4:17-21).
Por esta análise breve do panorama profético de Jerusalém
que temos nos salmos, no Isaías e no Ezequiel, sabemos que a cidade de
Jerusalém desempenha o papel de tipo de uma Jerusalém futura e mais gloriosa.
No Apocalipse de João vemos como se cumprirá esta promessa, muito além das
expectativas dos profetas hebreus, na Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22.
Depois de tudo, a Nova Jerusalém desce de cima, como uma
criação nova de Deus, e por conseguinte será completamente diferente da velha
Jerusalém.
Esperanças Judaicas
Durante o Período Intertestamentário
Muito pouco tempo depois da revoltados macabeus (168-164
a.C.), os "sonhos-visão" do Apocalipse do “profeta” Enoc, escrito por
volta dos anos 165-161 a.C., predisseram que com a aparição do Messias e a
ressurreição dos justos mortos se construiria uma Nova Jerusalém, "uma
casa nova, maior e mais alta que a primeira, e a pôs no lugar da que tinha sido
recolhida" (1 Enoc 90:29).(6) Alguns escritos apocalípticos judeus depois
de 70 d.C. expressaram a esperança de uma Nova Jerusalém "preparada
antes", quando Deus decidiu criar o paraíso (2 Baruc 4:3).7
"Aparecerá a esposa como uma cidade e se verá a terra que está actualmente
oculta... Com efeito, se manifestará meu Filho o Messias com os que estão com
ele, e encherá de gozo os (justos) que sobrevivam durante quatrocentos
anos" (4 Esdras 7:26-28).(8)
Aparentemente, alguns conciliábulos de judeus piedosos
contavam com que Deus tinha "preparado e edificado" (4 Esdras 13:36)
uma Sião ou Nova Jerusalém no céu que desceria à terra com o amanhecer do novo
mundo. O autor do livro Apocalipse Eslavónico de Enoc (2 Enoc 55:2), também
afirmou que a Nova Jerusalém estava situada no céu.
A literatura rabínica não continuou com estas expectativas
judaicas, excepto na época posterior dos Midrash. Os rabinos em general
acreditavam que imediatamente depois do juízo dos ímpios, Deus ou o Messias
edificariam uma Nova Jerusalém sobre a terra.
As portas e as muralhas da Nova Jerusalém seriam construídas
com safiras e com pedras preciosas e as suas ruas com puro mármore branco
(Tobias 13:16, 17). A cidade seria tão grande, que as suas grandes muralhas se
estenderia tão longe como Jope ou Damasco para albergar a "a raça
celestial dos judeus bem-aventurados" no futuro (Oráculos sibilinos
5:250-252).(12) Deus viveria na cidade que levaria o nome de Deus. A
característica central desta Jerusalém reconstruída seria o novo templo. Para o
pensamento judeu, era completamente patente que a Nova Jerusalém não careceria
de templo. A declaração do vidente cristão, 'e não vi nela templo' (Apoc.
21:22) teria sido inconcebível na velha sinagoga.
Esta recapitulação das diversas esperanças no judaísmo
tardio indica que a esperança apocalíptica de João em uma Nova Jerusalém sem um
templo é uma esperança distintivamente cristã, que se centraliza na presença de
Cristo.
A Teologia de Paulo
de uma Jerusalém Celestial
Paulo continuou o ensino de Cristo, de que Jerusalém e seu
templo já não eram o lugar onde Deus habitava (ver Mat. 23:38; Gál. 4:25;
também Heb. 12:22). Paulo escreveu que a igreja apostólica
tinha chegado a ser
o templo terrestre onde Deus estava presente: "Porque nós somos santuário
do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei
o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16; cf. Lev. 26:12; Jer.
32:38; Ezeq. 37:27; também Ef. 2:19-21).
Esta verdade do evangelho não compete com a eficácia do templo
do novo pacto no céu, onde Cristo ministra como nosso Sumo-Sacerdote e
intercessor e de onde envia seu Espírito vivificante (Heb. 7:25; 8:1, 2; 10:19;
Rom. 8:34; 1 João 2:1). Paulo cria que a Jerusalém "de cima" é a
"mãe" de todos os crentes cristãos, porque todos são renascidos por
seu Espírito (Gál. 4:26, 29).
Enquanto no judaísmo rabínico a ideia de uma Jerusalém
celestial se concebia em termos de um equivalente da Jerusalém terrestre em
topografia e mobiliário, Paulo contempla a Jerusalém celestial como isenta de
todas as noções geográficas, étnicas e nacionais. A Jerusalém celestial é a
pátria dos cristãos, onde Cristo está e em que todos os cristãos têm sua
cidadania (políteuma) registrada no livro da vida do Cordeiro (Filip. 3:20;
4:3; também Heb. 12:22, 23; Apoc. 21:27). Por Apocalipse 21:27 chega a ser
evidente que o livro da vida do Cordeiro é a lista dos que estão inscritos como
cidadãos da Jerusalém celestial.
A cidade celestial não é uma estrutura vazia; é a comunidade
adoradora da igreja na terra com os anjos e os redimidos no céu (Heb. 12:22).
Alguns identificaram a Nova Jerusalém com a igreja. Entretanto, deve
conservar-se a distinção entre a cidade celestial e a igreja na terra, da mesma
maneira que Hebreus 12 declara que a igreja se aproximou hoje a Cristo e à
Jerusalém celestial (vs. 22-24). Como Cristo está ao mesmo tempo no céu e (por
meio de seu Espírito) na terra, assim também existe uma relação espiritual
íntima entre a Jerusalém celestial e a igreja sobre a terra. Assim como Cristo,
que descerá fisicamente do céu à terra (Filip. 3:20), assim também a Jerusalém
celestial descerá do céu à terra (Apoc. 21:2)! O objecto da esperança cristã
não é meramente o "céu" e sim a cidade celestial: a Nova Jerusalém.
Nossa cidadania actual nesta santa cidade representa mais que a segurança da
salvação presente. Também nos dá a certeza de nossa entrada na cidade de
descanso e gozo eternos (ver Heb. 4:9; 11:13-16). Assim como Abraão, os
cristãos têm confiança absoluta procurando a "cidade... por vir"
(Heb. 13:14). Virá depois do juízo final.
É chamativo que a esperança de uma Jerusalém celestial se
descreva no contexto de uma polémica antijudaica, não só no Gálatas 4:26 e 27 e
em Hebreus 12:18-24, mas também em Apocalipse 3:9 e 12. João destaca a verdade
evangélica de que só o Cristo ressuscitado "tem a chave de Davi, que abre
e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3:7). À luz de seu
significado original em Isaías 22:22, esta declaração ensina "que a Cristo
pertence toda a autoridade com respeito à admissão ou exclusão da cidade de
Davi, a Nova Jerusalém". Cristo é a fonte de segurança para os crentes
fiéis de que herdarão a cidade celestial. Diz Jesus:
"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus,
e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da
cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu
Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12).
A Nova Jerusalém em
Contraste com Babilónia
A Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22 se descreve com a
mesma imagem simbólica de uma "mulher" ou "esposa" como se
tem descrito a igreja no Novo Testamento (ver 2 Cor. 11:2; Ef. 5:25-27). A
visão que teve João da Jerusalém celestial como a "a noiva, a esposa do
Cordeiro" (Apoc. 21:9), conecta a Jerusalém vindoura com a formosa
"mulher" que aparece em Apocalipse 12:1 e 2. Na Nova Jerusalém a
igreja já não sofrerá por causa da perseguição ou da adoração apóstata. Por
isso Apocalipse 12 e 21 representam duas eras consecutivas: a era actual da
igreja e a era por vir.
A Nova Jerusalém está colocada em contraste com Babilónia, a
cidade prostituta. A prostituta tem gravado sobre sua fronte as palavras
"mistério: Babilónia, a grande" (Apoc. 17:5), e está representada em
Apocalipse 18 como a cidade condenada. "A mulher que viste é a grande
cidade que domina sobre os reis da terra" (v. 18). Este simbolismo duplo
de Babilónia (Apoc. 17, 18) contrapõe-se com o da Nova Jerusalém em Apocalipse
21 e 22 por meio de uma antítese perfeita.
Todos os habitantes da terra que não procurem refúgio no
monte Sião (Apoc. 14:1), pertencem a Babilónia; os seus nomes não estão
escritos no livro da vida do Cordeiro (13:8). Estão obrigados a beber não só do
cálice do vinho de Babilónia mas também do cálice do vinho da ira de Deus sem
mescla de misericórdia (14:10). Esta ira divina a descreve simbolicamente com a
imagem da condenação de Sodoma e Gomorra ("com fogo e enxofre")
(14:1; cf. Gén. 19:24), e a de Edom ("a fumaça de sua tortura sobe pelos
séculos dos séculos", Apoc. 14:11; cf. Isa. 34:9, 10). Esta linguagem
figurada expressa a finalidade do juízo de Deus. Os impenitentes nunca entrarão
no descanso de Deus (Apoc. 14:11 ; cf. Sal. 95:11 ).
O Apocalipse de João põe em contraste a Jerusalém como a
cidade do Cordeiro (Apoc. 21:2, 9) com Babilónia como a cidade da besta (caps.
17 e 18). É significativa a forma idêntica como as introduz o anjo do juízo:
APOCALIPSE 17:1
"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou
comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha
sentada sobre muitas águas".
APOCALIPSE 21:9
"Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças
cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a
noiva, a esposa do Cordeiro".
Este arranjo literário ensina que a Nova Jerusalém é a única
alternativa para Babilónia. Ambas as visões desenvolvem mais correspondências
opostas (ver Apoc. 17:3-5 e 21:10-14). Ambas as seções literárias sobre Babilónia
(17:1-19:10) e a Nova Jerusalém (21:9-22:6) concluem com a mesma segurança de
que estas revelações descansam não meramente sobre a autoridade de um anjo e
sim sobre Deus mesmo e, portanto, são "fiéis e verdadeiras":
APOCALIPSE 19:9
"Então, me falou o anjo: Escreve: ...São estas as
verdadeiras palavras de Deus".
APOCALIPSE 22:6
"Disse-me [o anjo] ainda: Estas palavras são fiéis e
verdadeiras".
A reacção de João de adorar ao anjo depois de cada visão
recebe a mesma exortação: "Adora a Deus!" (Apoc. 19:10; 22:8, 9). Enquanto
tanto as seções sobre Babilónia e sobre Jerusalém começam e terminam da mesma
forma, seus contextos ampliam os contrastes entre a cidade prostituta e a
cidade santa.
A Segurança e Consolo
Final do Apocalipse
Em Apocalipse 21 e 22 João revela "o último das últimas
coisas", o ponto culminante de todas suas visões e de toda a Bíblia. A
revelação principal é a aparição de uma nova criação e a descida da Nova
Jerusalém (21:1, 2), que será a consumação do propósito eterno de Deus para o
planeta terra. Deus garante de uma maneira explícita a confiabilidade de suas
promessas (v. 5). Uma voz que sai do trono de Deus explica seu significado para
a humanidade:
"Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o
tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de
Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a
morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram" (vs. 3, 4).
Estas palavras resumem a essência da esperança de todos os
profetas e santos. Disse um comentador a respeito desta passagem:
"Na verdade, é gozo inefável, porque aqui se descreve o
propósito final da igreja sofredora e a única recompensa que desejam realmente
os mártires de Cristo, quer dizer, o próprio Deus na companhia de todos os que
o amam".
As palavras de João, "Vi novo céu e nova terra; porque
o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Apoc.
21:1), apontam ao novo acto criador de Deus que está confirmado por sua
declaração: "Eis que faço novas [kainá] todas as coisas!" (v. 5). O
termo grego kainós ("novo"), que se emprega 4 vezes nos versículos
1-5, significa algo fundamentalmente novo, e enfatiza com mais vigor que o
termo néos o carácter de cumprimento escatológico.
Em sua visão anterior do grande trono branco, João declarou:
"Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença
fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles" (Apoc. 20:11).
João já declara que a velha terra e seus céus atmosféricos serão substituídos
por uma nova criação. A nova característica dominante será a cidade santa, a
Nova Jerusalém. Sua perspectiva está afiançada sobre este centro de existência
para os redimidos. Vê a cidade Nova Jerusalém "que descia do céu, da parte
de Deus" (21:2). Portanto, não é uma velha Jerusalém reconstruída na
Palestina, e sim uma nova criação. Cumprirá a esperança de Abraão, "que
esperava a cidade que tem fundamentos, cujo arquitecto e construtor é
Deus" (Heb. 11:10). Pedro acrescenta a esperança de uma sociedade
transformada: "Atendo-nos a sua promessa, aguardamos um céu novo e uma
terra nova nos que habite a justiça" (2 Ped. 3:13, NBE).
Tanto Pedro como João fundamentam suas expectativas nas
predições de Isaías (ver Isa. 65:17-19; 66:22, 23). A promessa do pacto de Deus
será levada a cabo na Nova Jerusalém sobre a terra feita nova:
"Eis o tabernáculo [skené] de Deus com os homens
[anthrópon]. Deus habitará [literalmente, 'tabernaculará'] com eles. Eles serão
povos de Deus [literalmente 'povos'], e Deus mesmo estará com eles" (Apoc.
21:3).
A expressão que diz que Deus "habitará" com os
"homens" é profunda, porque recorda a presença redentora de Deus no
antigo tabernáculo [skené] de Israel: "E me farão um santuário, e
habitarei no meio deles" (Êxo. 25:8). Em segundo lugar, o verbo
"habitar, fazer morada" recorda João 1:14, onde se expressa a
encarnação do Verbo de Deus com as palavras: "Habitou [literalmente,
'acampou', 'pôs seu tabernáculo'] entre nós".
Dessa maneira a promessa da Nova Jerusalém conecta a glória
de Deus com a glória de Cristo e assegura à igreja que Deus deverá habitar
entre os "homens" em cumprimento de sua promessa do pacto, o que
significa que o primeiro advento de Cristo é a garantia da futura vinda de Deus
com os seres humanos. As expressões "homens" e "seus povos"
(em plural no texto original) indicam a inclusão de todos os crentes em Cristo
na sociedade do futuro. Inclusive serão abolidos os limites da igreja e de
todas as denominações religiosas. A raça humana sobre a terra nova será o povo
de Deus porque todos são "seus povos" (Apoc. 21:3). E ele estará
"com eles" sempre como o "Deus-com-eles" (v. 3, BJ).
O resultado desta comunhão com Deus é: "E lhes enxugará
dos olhos toda lágrima" (Apoc. 21:4). Aqui se repetem as promessas divinas
de Isaías 25:8, 35:10 e 65:19 para indicar seu cumprimento dramático na Nova
Jerusalém. Então se cumprirá a esperança mais elevada de todos os santos: "Verão
seu rosto..." (Apoc. 22:4). Este ver a Deus dos seres humanos foi a
esperança dos crentes hebreus:
"Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu
me satisfarei da tua semelhança quando acordar" (Sal. 17:15).
"Depois que me arranquem a pele, já sem carne, verei
deus; eu mesmo o verei, e não outro, meus próprios olhos o verão. O coração me
desfaz no peito!" (Job. 19:26, 27, NBE).
Esta foi a promessa explícita de Cristo:
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"
(Mat. 5:8). Esta foi a segurança do Paulo: "Então veremos face a
face" (1 Cor. 13:12). E a de João: "Haveremos de vê-lo como ele
é" (1 João 3:2). A confiabilidade desta promessa está recalcada por Deus:
"Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o ómega, o Princípio e o Fim... "
(Apoc. 21:6).
Só o Criador pode pronunciar palavras que criarão uma
realidade nova (ver Gén. 1). Disse Cristo na cruz: "Está consumado!"
(João 19:30), e sua missão de oferecer sua vida em expiação pela raça humana
ficou consumada. No fim das 7 últimas pragas a voz de Deus voltará a dizer:
"Feito está!" (Apoc. 16:17), então, se consumará o juízo de Babilónia.
Quando a Nova Jerusalém descenda sobre a terra e Deus morre com os redimidos,
voltará a dizer: "Feito está!" (21:6).
Então se cumprirá a oração do Pai-nosso: "Venha o teu
reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mat. 6:10).
Como "o Alfa e o Ómega", Deus é o iniciador e aperfeiçoador da
criação. Apenas Ele dá à história humana seu começo e seu objectivo. O objectivo
se realizará tão certamente como seu começo. Outras duas promessas de Deus
também nos afectam hoje em dia:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente [doreán]
da fonte da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu
Deus, e ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7).
A linguagem figurada de "estar sedento" era
familiar para os santos hebreus (ver Isa. 55:1). Para eles significava gozar de
comunhão com Deus. Colocaram um valor mais elevado neste companheirismo com
Deus que no da própria vida física. Davi descarregou seu coração neste cântico
poético:
"Ó Deus, tu és meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem
sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem
água... Valendo teu amor mais que a vida, meus lábios te glorificarão"
(Sal. 63:1, 3, BJ).
"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim,
por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus
vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?" (Sal. 42:1, 2).
Esta experiência da alma foi realizada só de maneira
intermitente e parcial. Pela fé em Cristo está à nossa disposição uma nova
comunhão com Deus para todos os que a busquem: "Se alguém tem sede, venha
a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão
rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de
receber os que nele cressem" (João 7:37-39).
Quando Deus promete no Apocalipse de João que nos dará
"gratuitamente da fonte da água" (Apoc. 21:6), oferece-nos o Espírito
de Cristo, quem pagou o preço definitivo por nós. Esta comunhão também oferece
aos vencedores "gratuitamente" [doreán: "livremente" ], um
termo muito importante em Paulo (ver Rom. 3:24).
O paraíso, como a presença de Deus, é oferecido a todos os
vencedores pela graça de Deus. Este carácter-da-graça volta-se a recalcar na
segurança de que o vencedor "herdará todas as coisas" (Apoc. 21:7).
Uma herança nunca se pode ganhar, só pode receber-se pela vontade do testador.
Paulo explicou esta condição de herdeiro ao conectar a herança futura de uma
forma indissolúvel com Cristo como o dom maior de Deus. "Ora, se somos
filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com
Cristo... Aquele que não poupou o seu
próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará
graciosamente com ele todas as coisas?" (Rom. 8:17, 32). O Apocalipse não
é menos cristocêntrico que Paulo". Isto é evidente pelas sete vezes que o
Cordeiro é mencionado em Apocalipse 21 e 22. A entrada na Nova Jerusalém é dada
só a "os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (21:27).
Este é o propósito pastoral que João também indicou em seu
contraste entre as duas mulheres simbólicas: a meretriz (Apoc. 17:1-19:5) e a
esposa de Cristo (19:6-10; 21:1-22:17). O interesse pastoral de João para a era
actual é alertar a cada crente a permanecer fiel no Senhor.
A razão pela qual dedica tanta ênfase à meretriz e à noiva é
que nas sete cartas escritas às sete igrejas (Apoc. 1:4, 11) a alternativa
básica a que tinham que fazer frente [os membros] era se iriam formar parte da
verdadeira igreja, a noiva, ou da falsa igreja, a meretriz.
É nosso privilégio escutar o testemunho final de Cristo às
igrejas:
"Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que
guarda as palavras da profecia deste livro" (Apoc. 22:7).
"Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras
no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e
entrem na cidade pelas portas" (Apoc. 22:14).
O Interesse Pastoral
de João para com a Igreja da Actualidade
João usa um estilo interessante para descrever a novidade da
era futura. Define a nova criação em termos negativos 7 vezes: não haverá mais
mar (21:1); não haverá mais morte, lágrimas, pranto, clamor ou dor (v. 4); não
haverá mais templo (v. 22); não haverá mais necessidade do Sol ou da Lua
(21:23; 22:5); não haverá noite, nem as portas nunca serão fechadas (21:25;
22:5); não haverá mais pecado (21:27); e não haverá mais maldição (22:3). Este
estribilho de coisas que na última visão de João "não serão mais",
indica como relaciona as suas visões às necessidades presentes dos seus membros
de igreja. Escreve com um profundo interesse pastoral para os seus leitores que
sofriam perseguição e estavam ameaçados pelos poderes anticristãos do mar,
João não escreve simplesmente para nos informar a respeito dos
acontecimentos futuros ou para satisfazer a nossa curiosidade a respeito de
realidades futuras. O seu propósito prático é inspirar os crentes que deviam
passar por provas a perseverar na Palavra de Deus e no testemunho de Jesus
apesar da cruel oposição. Insiste com cada crente para que tome a sua decisão
final entre a fidelidade ou a deslealdade a Cristo Jesus. Este requerimento se
apresentou primeiro nas sete cartas de Cristo às igrejas (Apoc. 2, 3). A
promessa da recompensa descreveu-a na visão dos selos (6:9-11; 7) e na das
trombetas (cap. 11). João assume constantemente que a causa de Cristo triunfará
porque o Cordeiro de Deus é "o Rei dos reis e Senhor dos senhores"
(17:14; 19:16). A hora da restauração do reino de Deus virá no próprio tempo de
Deus durante a última trombeta:
"E o sétimo anjo tocou a trombeta, e houve grandes
vozes no céu, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e de
seu Cristo; e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).
O propósito de João é animar a cada cristão a fazer um
compromisso total com Cristo. João obtém este objectivo colocando em contraste
o Cordeiro e a besta, a esposa e a prostituta, e a Nova Jerusalém e Babilónia.
Este dilema de pertencer a uma comunidade ou à outra, insiste connosco a fazer
agora uma eleição existencial porque nela estão envoltos destinos eternos.
João não proporciona informação abstracta para as predições
especulativas. Apresenta claramente a sua preocupação pastoral quando destaca
que há só duas classes de pessoas: os salvos ou os perdidos, os vencedores e os
perdedores (ver Apoc. 21:7, 8; 22:11, 14, 15), os que "têm sede" da
água de vida e os que não a têm (21:6; 22:17). Esta última distinção aponta à
necessidade espiritual das pessoas mais que à sua conduta moral. Os que
procuram a Deus em primeiro lugar para satisfazer a sua sede espiritual
comparam-se com os vencedores:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente da fonte
da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e
ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7).
É iluminador descobrir que as características dos que são
excluídos da Nova Jerusalém são as mesmas com as que se define a Babilónia e aos
seus habitantes: imundos (Apoc. 21:27; 18:2); abomináveis, que fazem
abominação, abominações (21:8, 27; 17:4, 5); homicidas (17:6; 18:24; 21:8);
fornicários (17:1, 2, 5, 15, 16; 18:3, 9; 21:8); feiticeiros, feitiçarias
(18:23; 21:8); idólatras (19:20; 21:8); e mentirosos (19:20; 21:8).
Badenas vê estas listas de vícios (Apoc. 21:8 e 22:15) como
uma admoestação pastoral contra os que preferem outras relações à relação com
Deus. Isto é o que os exclui da santa cidade (cf. 21:27). Por outras palavras,
João não se está a referir a feitos isolados de pecado mas sim à atitude de
maldade e idolatria que separa o pecador de Deus.
Não deveria escapar à nossa atenção o facto de que João
começa a lista com "os covardes" (Apoc. 21:8). Os "covardes"
são os que fogem de confessar a Cristo na hora da prova e por isso falham em
perseverar na fé (ver Heb. 10:36-39). Quando Paulo se referiu à ameaça de
"covardia" [deilías], admoestou imediatamente a Timóteo dizendo:
"Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor..." (2
Tim. 1:7, 8), e lhe assinalou o dom do "espírito... de poder".
Em Apocalipse 21:8, João menciona pelo menos sete classes de
pessoas que serão excluídas da santa cidade. Como uma oitava classe menciona a
"todos os mentirosos", Pohl considera que se refere a uma
recapitulação das sete anteriores. A lista dos perdedores que João menciona,
cumpre a função da contraparte dramática das sete classes de vencedores
mencionados nas cartas às igrejas nos capítulos 2 e 3. A designação dos
"mentirosos" é significativa, porque assinala a mentira religiosa que
perverte a verdade a respeito de Deus e do Cordeiro. Giblin denomina a esta
mentira a mentira definitiva, porque a mentira é a negação da verdade,
preeminentemente como a falsificação de Deus e do que deve a ele. Os mentirosos
estão em notório contraste com os 144.000 israelitas que seguem ao Cordeiro, de
tal maneira que "em suas bocas não foi achada mentira" (Apoc. 14:5).
Desde a primeira característica (a covardia) até à última (a
mentira), o interesse de João aponta a elevada vocação do crente de confiar em Cristo,
de seguir ao Cordeiro e de confessar o seu senhorio. A lista mais pequena dos
vícios em Apocalipse 22 conclui outra vez com "todo aquele que ama e
pratica a mentira" (v. 15), o que indica que tais pessoas vivem a
"mentira" como uma filosofia de vida, de carácter e de adoração. A
mentira como a contraparte da verdade foi também a recapitulação que faz Paulo
da apostasia final em 2 Tessalonicenses 2:9-12.
O Significado do
Esplendor da Nova Jerusalém
Apocalipse 21:9 a 22:5, contêm uma descrição da Jerusalém
celestial. O anjo a compara com a interpretação da condenação de Babilónia em
Apocalipse 17:1 a 19:10. Reconhece-se que as duas seções são contrapartes
intencionais. Felizmente, a visão que João teve da Nova Jerusalém é a mais
longa e elaborada do Apocalipse. Amplia as profecias gráficas de uma Nova
Jerusalém que são apresentas por Isaías 54 a 60 e Ezequiel 40 a 48.
Assim como Ezequiel, João vê na visão "um monte muito
alto" (Ezeq. 40:2; Apoc. 21:10). A glória de Deus na Nova Jerusalém (Apoc.
21:11) corresponde à glória de Jeová que vem do oriente no novo templo da visão
do Ezequiel (Ezeq. 43:1, 2). A diferença é que agora Deus mesmo é a glória
constante da santa cidade (Apoc. 21:11). Ezequiel se concentra sobre o novo
templo, mas João descreve uma cidade imensamente maior sem um templo particular
(Apoc. 21:22).
João dedica uma atenção especial às suas amplas muralhas e às
doze portas. Usa o número "doze" doze vezes em Apocalipse 21, número
que está carregada de significado. O anjo tem uma vara de medir, de ouro,
"para medir a cidade, suas portas e seu muro" (Apoc. 21:15). A cidade
é descrita como um cubo perfeito medindo cada lado doze mil estádios, que
literalmente seriam 2.400 quilómetros em cada direcção, até para cima, muito
além da estratosfera! Não é maravilha que os intérpretes responsáveis tenham
advertido contra um dogmático literalismo com respeito às visões de Apocalipse
21 e Ezequiel 40 a 48.
Nestas profecias tão gráficas, o grau de identificação segue
sendo um problema que deverá ainda ser interpretado. Giblin declara que João tenta
evocar a imagem de um gigantesco 'lugar muito santo' que era um cubo perfeito,
recoberto de ouro (1 Reis 6:20). As dimensões de cubo da cidade sugerem
claramente que toda a "santa cidade" é o lugar santíssimo sobre a
terra, o trono de Deus. Isto transcende a necessidade de ter qualquer templo
local. O apóstolo o explica assim:
"E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor,
Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro...
"E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a
uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal
resplandecente" (Apoc. 21:22, 11).
Não pode haver dúvida de que o propósito de João em
Apocalipse 17 e 18 é colocar esta cidade de Jerusalém em contraste directo com
a cidade de Babilónia. A beleza sobressalente da Nova Jerusalém consiste na
presença de Deus e a dos redimidos. As incríveis dimensões dos doze mil
estádios têm um claro significado simbólico: a cidade contém o Israel de Deus
de toda a história da salvação. Badenas o explica assim: Eclipsando Babilónia e
Roma, a Nova Jerusalém é a cidade verdadeira, e a única cidade universal.
Os muros da cidade têm uma altura de 144 côvados (Apoc.
21:17), literalmente 66 metros, destacando outra vez o número 12 (12 x 12 =
144). Por definição, uma muralha não só significa segurança, mas também
separação do "exterior" (Apoc. 22:15), o que se refere basicamente ao
lugar do "lago de fogo" (21:8). Este símbolo pode entender-se melhor
como uma referência ao juízo pós-milénio de Apocalipse 20:7-15. A muralha é
feita de jaspe cristalino (21:18) e brilha como um diamante. Está assentada
sobre doze fundamentos de pedras preciosas, cada uma das quais é uma gema
enorme (vs. 19, 20), cada uma com um nome escrito com um nome de "os doze
apóstolos do Cordeiro" (v. 14). Entretanto, sobre as doze portas estão os
nomes das "doze tribos dos filhos do Israel" (v. 12). Tudo em seu
conjunto significa que o Israel profético de Deus inclui a todos os seguidores
do Cristo, o que constitui a mensagem fundamental da visão de João a respeito
da vida na Nova Jerusalém.
As características das doze pedras preciosas e das doze
portas de pérola complementam a mensagem básica de que Deus unirá a todos os
seus filhos em um rebanho enquanto reconhece que também permanecem diversificados
em seus caracteres individuais. Cada tipo de carácter reflectirá a natureza
divina, assim como cada pedra preciosa reflectirá a glória de Deus em sua
própria forma. Entretanto, a investigação mostra que as pedras do Apocalipse
não podem correlacionar-se com tribos específicas, apóstolos, signos do zodíaco
ou direcções geográficas.
As doze pedras preciosas da Nova Jerusalém simbolizam
basicamente a presença de Deus, a origem divina da cidade, e o novo povo de
Deus. As doze pedras preciosas também cumprem a função de ser contrapartes das
pedras preciosas que adornam a Babilónia a prostituta (Apoc. 17:4; 18:12, 16).
Desde esta perspectiva, as pedras preciosas da santa cidade são "um
emblema para sustentar a fé na vitória final de Deus.
O esplendor da Nova Jerusalém, com o trono de Deus e a
árvore da vida, transmite esta mensagem: O paraíso será restaurado com uma
glória maior que a do jardim do Éden porque o Criador estabelecerá sua presença
e seu trono ali para sempre. Cada crente pode cobrar ânimo e saber que as
promessas do pacto que Deus fez com o Israel se cumprirão em uma manifestação
gloriosa inimaginável no futuro.
A profecia diz que as nações caminharão à sua luz, e até ela
os reis da terra levarão seu esplendor... E levarão até ela o esplendor e a
honra das nações (Apoc. 21:24, 26, CI), é provocadora, já que esta predição usa
a descrição de Isaías 60 mas a adapta ao estado eterno. Agora os reis da terra
já não desfilarão como conquistadores (Isa. 60:10, 11) ou como trazendo tributo
(vs. 5-7). Virão antes como gentios redimidos para contribuir com sua glória em
sua adoração a Deus e ao Cordeiro durante o festival de louvor e acção de
graças na Nova Jerusalém. Ellul explica que tudo o que foi a obra cultural,
científica, técnica, estética e intelectual; toda a música e a escultura; toda
a poesia e a matemática; toda a filosofia e o conhecimento em todas as ordens,
todos entrarão nesta Jerusalém, e serão empregados por Deus para estabelecer
esta obra perfeita final.
Que conceito emocionante! Quem não desejará ser parte desta
educação superior na vida futura do povo de Deus? Cristo e a Nova Jerusalém
convidam a cada pessoa que procura Deus a formar parte do estado eterno onde
reinará a felicidade:
"E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga:
Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida"
(Apoc. 22:17).
Hans K. LaRondelle
José Carlos Costa, (fez a adaptação, conservando a ideia
original).
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