30 de maio de 2010

A PEDRA CORTADA SEM MÃOS

Eis-nos chegados à parte mais importante, aquela que ocupa o maior espaço no sonho do rei, e para a qual tudo converge. É considerada a segunda parte do sonho, a explicação segue a estrutura em dois tempos. Daniel tinha começado a sua explicação com a referência ao “Deus dos céus” quem dá o reino (Tu, ó rei, és rei de reis, a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força e a glória 2:37). Agora, Daniel introduz esta segunda parte também com a referência ao “Deus dos céus” (Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre. Porquanto viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro, o grande Deus faz saber ao rei o que há de suceder no futuro. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação. Daniel 2:44,45), que desta vez suscita um reino.
Por este paralelo a nível de introdução, somos alertados que estas partes devem compreender uma relação de contraste mútuo. Num primeiro tempo os reinos são dados ao homem, o qual se torna o mestre e senhor; num segundo tempo o reino é suscitado pelo “Deus dos céus”, que Se assume como Mestre e Senhor. Segue-se que a segunda ordem das coisas se opõe à primeira a todos os níveis:
1. A nível dos materiais.
A unidade da pedra opõe-se à diversidade dos materiais da estátua. A segunda ordem é constituída por um só reino, enquanto que a primeira é formada de vários reinos. A simbologia da pedra contrasta com a dos outros materiais da estátua. Na civilização bíblica, a pedra é especialmente utilizada nas alianças com Deus, para construir o altar (Êxodo 20:15), o monumento (Deuteronómio 27:4), o templo (1ª Reis 6:7) ou para gravar a Lei que contem o contrato desta aliança (Êxodo 24:12). Por esta razão, o mandamento tem o cuidado de especificar que a pedra não deve ser talhada (Êxodo 20:25). Porque o talhar a pedra pode rapidamente tomar a forma improvisada do fabrico de imagens e consequentemente degenerar em idolatria (Levítico 26:1). A pedra no estado bruto, como material de construção, evoca por associação a dimensão divina, bem como por extensão acaba por simbolizar Deus e o próprio Messias (Salmo 118:22; Isaias 28:16; Zacarias 3:9; Actos 4:11).
2. A nível da origem.
O surgimento da pedra que (Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Daniel 2:34) é “cortada, sem auxílio de mãos”, contrasta com a forma como aparecem os materiais da estátua que se sucedem de uma forma mecânica, sem uma iniciativa inteligente vida donde quer que seja. O reino da pedra distingue-se dos reinos da estátua por aquilo que ele é, “suscitado” pelo Deus dos céus (Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre. Daniel 2:44). A sua origem é do Alto. Na sua aplicação, Daniel chega a precisar que a procedência da pedra é “da montanha” (v. 45).
No pensamento babilónico, “a montanha” significa o lugar da habitação dos grandes deuses e especialmente Enlil, o deus dos deuses cuja a morada é no céu. Segundo a crença babilónica, esta montanha toca o céu e constitui por esta razão o apoio à habitação de deus. Para Nabucodonosor, a evocação da montanha é pois particularmente clara; provindo “da montanha”, queria dizer que provinha do céu, a pedra representa um reino de origem celeste. Para o profeta hebreu, o motivo da montanha revestia um sentido ainda mais específico. Significava Sião, ou Jerusalém (Daniel 9:16,20; 11:45), é pois, uma perspectiva vista do céu. A linguagem do Salmo 48:3 deixa perceber esta visão na medida em que a montanha de Sião está situada “na extremidade Norte” (literalmente: “extremidades do Zafon”), expressão técnica que designa a morada celeste de Deus (Isaías 14:13).
3. A nível da natureza.
A pedra opõe-se à estátua no sentido em que ela é lançada contra a própria estátua. O verbo (Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se podia achar nenhum vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua se tornou uma grande montanha, e encheu toda a terra. Daniel 2:35) “ferir” sugere uma agressão e um choque entre as duas ordens. Porque o reino suscitado por Deus não se situa no prolongamento natural dos reinos humanos, mas ele implica o contrário o corte absoluto. Todos os reinos humanos são esmiuçados (v.35). É um novo reino que não tem nenhuma relação com os precedentes. Este reino, nem com a argila tem nada em comum pois que ela é destruída, com o mesmo sopro com que é destruído o ferro (vv.35,45).
Enfim, este reino é diferente dos outros porque (Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre. Daniel 2:44) “não será jamais destruído”, porque “subsistirá para sempre”. Os reinos terrestres mantêm-se por algum tempo e desaparecem. Este reino, ao contrário, durará para sempre. O eterno reino opõe-se ao efémero.
É uma linguagem difícil, vivendo na terra não podemos conceber o céu, e menos ainda conceber o céu sobre a terra. A imaginação choca com a razão, e a tentação teológica do debate terminaria em filosofia de uma concepção puramente humana.
Creio que é bom concluir tal como Nabucodonosor: “Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.” Daniel 2:45.
Estas são as últimas palavras apelam à nossa fé. O rei pôde compreender o alcance da lição, e de retirar as implicações para ele próprio. Que lições tira para você? Que significa para si esta pedra? A que se refere? Que reino será este? Irá você ser habitante desse reino? Tal como Nabucodonosor pôde alcançar a lição e a retirar as implicações para ele próprio. Isto é o que eu desejo para você e para mim. Amem.

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