Como vínhamos dizendo Nabucodonosor dá-lhes a possibilidade de se defenderem, ele argumenta, ameaça. Mas não faz mais que isso. O texto bíblico diz-nos que os hebreus recusam em responder. “Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei: Ó Nabucodonozor, não necessitamos de te responder sobre este negócio.” (Dan. 3:16). O termo em aramaico para “responder” significa igualmente “defender-se”. Os hebreus opõem à agressão do rei uma atitude de não-violência que deixa o rei atordoado ou espantado e totalmente sem resposta. A religião de Babel assente sobre o presente e consequentemente legalista, formalista e violenta, os hebreus opõem uma religião assente sobre o futuro e consequentemente livre, desinteressada e não-violenta.
De repente, Nabucodonosor perde o controle de si mesmo. O texto diz que “Então Nabucodonozor se encheu de raiva, e se lhe mudou o aspecto do semblante contra Sadraque, Mesaque e Abednego; e deu ordem para que a fornalha se aquecesse sete vezes mais do que se costumava aquecer.” (Dan. 3:19). Face à tranquilidade e confiança dos hebreus, o rei reage pela cólera e a violência. Ele ordena que aumentem de intensidade o calor na fornalha “sete vezes mais” (v. 19), a expressão idiomática indica que a temperatura foi elevada ao máximo (cf. Prov. 24:16; 26:16) – como se o normal não fosse o suficiente para os queimar. Os hebreus são lançados tal como estavam com os seus vestidos, antes de terem o tempo de mudar de opinião ou de se preparar psicologicamente.
Toda esta precipitação, vai custar a vida dos seus carrascos (v. 22), mostra a que ponto o rei está fora de si, mas evidencia também o sinal do seu desespero e da sua angustia. Qualquer coisa lhe escapa e Nabucodonosor está com medo. Ele é o primeiro a reparar no inacreditável e o primeiro a reagir. Olhando para dentro do forno onde caíram três homens “...estes três, Sadraque, Mesaque e Abednego, caíram atados dentro da fornalha de fogo ardente.” (v. 23) “atado dentro da fornalha de fogo ardente”; Nabucodonosor vê “...quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nenhum dano sofrem; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.” (v. 25). Não só os três hebreus estão ilesos e livres – eles “e nenhum dano sofrem” – mas eles andam no meio do fogo. Com humor, o texto descreve os três hebreus descontraídos e a passear na fornalha; e os seus passos são seguidos pelos funcionários temerosos perante este milagre do único Deus que é indiferente ao poder dos homens.
Um quarto personagem se junta aos três homens dentro da fornalha. Nabucodonosor começa a relacionar que o milagre que presenciou dentro da fornalha terá algo a ver com este personagem estranho e desconhecido. Intrigado, espera durante alguns momentos para observar a aparência do “quarto homem” que “é semelhante a um filho dos deuses” (v. 25). Nabucodonosor conclui que este personagem só pode ser de natureza divina. A expressão que ele utiliza, “filho dos deuses”, para o designar revela bem o que ele pensa. Nas línguas semitas o termo “filho”, em relação com uma palavra torna o termo de natureza idiomática no sentido de dar qualidade ou superioridade. Assim “filho de vinte anos” significa com a idade de vinte anos (Êxodo 30:14); “filho do homem” significa a natureza humana (Jeremias 49:18); “filho de boi” significa que é de natureza bovina (Números 15:8); “filho da morte” significa de natureza mortal (1ª Samuel 2:31), etc. De forma significativa a Septuaginta traduz este texto (Dan. 3:25) por “anjo de Deus”, expressão que voltamos a encontrar no verso 26. ora o anjo de Deus tem na Bíblia hebraica (A.T.) como o mandatário de Deus e como alguém que é identificado com o próprio Deus (ver Génesis 16:10-13; 21:17; 22:15,16; Oseias 12:4; cf. Génesis 32:28, etc.). nesta perspectiva, Nabucodonosor não tem dúvidas. Ele chama os três hebreus e convida-os a sair. Isto fazendo, ele reconhece a sua derrota. Ele admite que eles estão ali, e que eles estão em condições de saírem pelos seus próprios meios. Humilhado, o rei reconhece que este assunto não se trata exclusivamente ao nível humano, mas está bem acima, com o próprio Deus, o Deus que está fora das coisas vulgares. Nabucodonosor não consegue impedir a recordação do seu sonho (Dan. 2) de outrora: é o mesmo Deus. a expressão que ele utiliza para O designar”: Então chegando-se Nabucodonozor à porta da fornalha de fogo ardente, falou, dizendo: Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Logo Sadraque, Mesaque e Abednego saíram do meio do fogo.” Daniel 3:26, lembrando a sua confissão de então “Deus Altíssimo”, ou “Deus dos deuses” (2:47).
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