3 de fevereiro de 2009

O REMANESCENTE E OS DISSIDENTES


Historicamente os Adventistas do Sétimo Dia tem-se identificado como a "Igreja remanescente"(l). Tal conceito, embora, com alguma freqüência mal compreendido, mesmo por um bom número de adventistas, não defende que sejamos de qualquer forma melhores do que outras pessoas em diferentes confissões cristãs. A noção de "remanescente," não sugere ainda uma visão ruducionista da salvação - que a salvação se limite à pessoas dentro da comunhão da Igreja Adventista do Sétimo Dia(2). Ao ver-nos como o "remanescente bíblico," não somos motivados por qualquer arrogância espiritual, complexo de superioridade ou triunfalismo, embora, potencialmente, estes perigos estejam presentes.(3)

O remanescente, da perspectiva bíblica, é constituído de herdeiros espirituais do conhecimento das verdades divinas e da responsabilidade missionária que tal conhecimento impõe. No Velho Testamento, o remanescente é consistentemente identificado como relativamente uma minoria que sobrevive à apostasia e calamidades (2 Crón. 30:6; Isa. 10:20-22: Eze. 6:8,9; 9:14; 14:22; Jer. 42:2), permanecendo leal a Deus e aceitando as responsabilidades do concerto (2 Reis 19:30, 31; Isa 66:18-19).

O remanescente é também descrito como "povo escolhido," contudo é fundamental lembrar que tal escolha nunca é baseada em qualquer virtude, mérito, santidade corporativa (é significante observar, que remanescente corporativo, em todas as épocas, é definido mais pela luz que possuo do que pela santidade dos seus membros), superioridade moral ou espiritual do escolhido, mas na liberdade e graça d´Aquele que escolhe (Deut. 7:6-8).

Tal eleição deve ser entendida em termos de um chamado para um papel definido dentro da história da salvação, que, certamente, envolve privilégios, mas que, sobretudo, envolve a responsabilidade de um propósito.

Embora nem sempre percebido, os adventistas têm reconhecido várias Igrejas que emergiram da Reforma Protestante do século 16, como um outro remanescente histórico, divinamente comissionadas para restaurar o evangelho, por mais de mil anos sepultado sob a escura e volumosa heresia medieval* Deploravelmente, contudo, "um a um destes grupos tomou-se satisfeito com o seu conceito parcial da verdade"(4). Falharam em avançar na medida que a luz da Palavra de Deus continuou brilhando. Cada recusa levou Deus a suscitar outros instrumentos para proclamarem Suas verdades. Com a chegada do 'tempo do fim," indicado pela profecia bíblica, quando a última mensagem divina deve ser proclamada ao mundo (Apocalipse 14:6-11)

Deus suscitou o "remanescente" final, como designado em Apocalipse 12:17 " que se ergue na linhagem sucessória dos representantes divinos através dos séculos, com a específica missão de pregar o "evangelho eterno," para testemunho de todas as gentes. Assim, ao se considerarem o "remanescente" no contexto do fim, os adventistas apenas querem dizer que eles foram suscitados para uma tarefa específica, que prepara o mundo para evento dos séculos: o segundo advento de Jesus.

QUÃO DIFERENTES?

Ao se considerarem o remanescente bíblico escatológico, testemunhando do "evangelho eterno" os adventistas reivindicam que eles são diferentes de todos os outros grupos religiosos. Quão diferentes, ou, o que os toma diferentes? Do ponto de vista estatístico as diferenças não são grandes.
Embora os Adventistas do Sétimo Dia não subscrevam um credo formal, eles desenvolveram suas Crenças Fundamentais, as quais marcam a compreensão adventista dos ensinos bíblicos essenciais.

Evidentemente nem todos os cristãos concordam uns com os outros em cada aspecto religioso ou teológico. Encontramos dentro do Cristianismo doutrinas nas quais não há unanimidade entre as vários grupos, ou outras nas quais a unidade é apenas parcial. É precisamente tal divergência que explica a existência e diversidade das muitas denominações. Uma leitura cuidadosa da grade doutrinária adventista revela que o seu conteúdo pode ser classificado em três categorias distintas: grupos A, B e C. No grupo A, que corresponde aproximadamente a 59% destas crenças, os adventistas concordam 100% com os grupos evangélicos ortodoxos. Nesta categoria estão incluídas doutrinas tais como: As Santas Escrituras; A Trindade; Deus o Pai; Jesus Cristo, O Filho; o Espírito Santo; A Criação; A Salvação; A Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, etc.

A análise das Crenças Fundamentais dos Adventistas, demonstra ainda que, naquilo que podemos considerar como grupo B, e que corresponde a aproximadamente 32%, estamos de acordo com um ou mais grupos evangélicos, enquanto que, com este ou estes, discordamos de outros. Nesta área encontramos doutrinas tais como o Baptismo (embora, por exemplo, concordemos nisto, com os Baptistas, discordamos dos Presbiterianos). O Sábado (os adventistas não são os únicos a observarem o sábado, sétimo dia da semana, como o dia de repouso, embora para os adventistas a compreensão desta doutrina tenha nuances teológicas exclusivas); os Dez mandamentos (embora discordando quanto ao quarto mandamento, um bom número dos grupos evangélicos afirma a validade da lei); A mortalidade da alma (condicionalismo) e a punição dos ímpios (5), etc. Assim, nestas duas categorias maiores, A e B, que somam um total de 91% das suas Crenças Fundamentais os Adventistas estão de acordo, com vários, ou com pelo menos um dos grupos cristãos contemporâneos. Mais importante, contudo, é que em todos estes casos, os adventistas estão solidamente fundamentados no ensino bíblico!

A nossa observação das Crenças Fundamentais Adventistas, entretanto, revela uma terceira área, a que chamamos de grupo ou categoria C, e que corresponde a aproximadamente 9% da sua totalidade (6). Aqui encontramos as marcas distintivas dos adventistas como povo remanescente: O Santuário Celestial, onde Jesus Cristo, nosso Sumo-sacerdote realiza a última fase de seu ministério em favor da humanidade (7), o Espírito de Profecia, manifesta no ministério profético de Ellen White (8) e as três mensagens angélicas de Apocalipse 14 (9).

Quão diferentes? A decisiva diferença entre os adventistas e as outras confissões cristãs, é que somos o povo da profecia, chamado para ocupar um exclusivo papel nos eventos finais da história terrestre. Chegamos à compreensão desta verdade porque ela está firmemente ancorada na segurança profética. Deus tem muitos fiéis cm outras denominações, muitos dos quais chegam quase a envergonhar a devoção dividida e mornidão de milhares de adventistas nominais, mas a nenhum outro movimento foi dado tão clara compreensão do tempo do fim e suas implicações para aqueles vivendo neste ponto da história.

Dito de outra forma, os Adventistas reivindicam serem distintos de todos os outros grupos cristãos em três aspectos específicos: Primeiro, eles se vêm como o único povo ao redor do globo que encontram suas raízes proféticas em Daniel 7, 8, e Apocalipse capítulo 10. Daniel 7 e 8 indicam o tempo quando o remanescente final surgiria (depois do domínio da "ponta pequena," por 1260 dias proféticos). Em Apocalipse 10 os adventistas encontram o movimento criado por Guilherme Miller e os seus desdobramentos posteriores amplamente prefigurados. Segundo, os Adventistas se vêm como o único povo que encontra a sua mensageira profética em Apocalipse capítulo 12 e 19:10.

Muitas igrejas reivindicam terem em seu meio uma voz profética, mas apenas os Adventistas do Sétimo Dia dirigem-se às Escrituras para validarem a presença profética entre eles. Terceiro, os Adventistas do Sétimo Dia são o único grupo cristão a descobrir em Apocalipse, capítulo 14, a sua mensagem profética. Não é portanto de surpreender que desde o seu início os adventistas nunca se viram como uma outra denominação. Ao contrário, eles entenderam o seu movimento e mensagem como o cumprimento da profecia. (10)

Há mais de cento e cinquenta anos, esta percepção da sua identidade e papel profético, tem motivado, compelido e impelido os adventistas ao redor do globo, resultando na igreja com os meios evangelisticos mais difundidos na história do Cristianismo (l l). A cada quarenta e oito segundos, afirmam as estatísticas, um novo membro se une à igreja; a cada cinco horas uma nova igreja é organizada. De origens humildes, quase insignificantes, os Adventistas do Sétimo Dia espalharam-se em mais de 85% dos países do globo, reconhecidos pelas Nações Unidas, com uma extraordinária rede de Igrejas, instituições educacionais, médicas e humanitárias, comparativamente inigualável.

Porém mais que estatísticas, os números têm nomes. Eles representam pessoas, homens e mulheres, de todas as idades, raças, contextos e geografias, que levam a sério a ordem de marcha de Jesus Cristo em S. Mateus 28:18-20 "Ide e pregai o evangelho, a todas as nações, tribos, língua e povos..." A visão adventista, contudo, apropria-se da grande comissão intensificada pelo brado profético de Apocalipse 14:6, 7, e colocada dentro do contexto do fim: "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, a terra, o mar c as fontes das águas." A clara consciência profética de sua missão, integrada às suas doutrinas, inseridas na moldura das três mensagens angélicas, tem suprido os adventistas com um senso de urgência, propósito e poder de sacrifício que os distingue de todos os outros grupos cristãos.

O DESAFIO DE VOZES INDEPENDENTES

Na proporção em que a história avança em sua fase final, nenhum Adventista do Sétimo Dia deveria ter ilusões quanto a natureza do conflito que aguarda a Igreja. Apocalipse 12 desperta-nos para a realidade de um inimigo - "o dragão vermelho..- a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, que engana a todo o mundo..." (Apoc. 12:3,9), enfurecido e em guerra contra o remanescente (v. 17). A fúria do dragão, deve-se notar, tem também dimensão escatológica; ela é intensificada pelo conhecimento de que "resta-lhe pouco tempo" (v. 12). O tempo do fim, portanto, acrescenta nuances especificas à natureza do conflito no qual a Igreja encontra-se envolvida.

Em dois livros perceptivos, recentemente publicados, The Fragmenting of Adventism,(12) da pena de William G. Johnsson, editor do Adventist Review, e, The Fat Lady and the Kingdom,(13) por George R. Knight, professor de história da Igreja, no Seminário Teológico da Andrews University, os autores ocupam-se em uma análise dos elementos que hoje ameaçam a Igreja, gerando conflito e tensões que desafiam sua identidade e missão. Tais forças desagregadoras são de natureza diferente e algumas delas podem apresentar variações de impacto de lugar para lugar, contudo, o elemento comum entre todas estas ameaças» é o carácter primariamente interno delas. Se perseguição externa pode ser considerada o plano "A" do diabo, através da história, é o plano "B" do inimigo, conflitos e problemas internos, que tem sido mais efectivo e devastador em sua fúria contra a Igreja.

Não seria necessário muita imaginação para se concluir com Johnsson e Knight que, pela primeira vez na sua história, o adventismo depara-se com a ameaça de uma fragmentação em vários corpos independentes.

Congregacionalismo – sistema de governo eclesiástico marcado por confusão intrínseca, e sérias fraquezas administrativas e de missiologia, a sorte que se abateu virtualmente sobre todos os outros grupos protestantes em geral e todas as demais ramificações nascidas originárias do “grande desapontamento de 1844” em particular – agora surge entre nós, a última fortaleza da resistência. A Igreja Adventista, que até aqui de forma extraordinária tem existido como uma comunhão de fé universal e confissão doutrinária, unida em missão, estilo de vida, solidariedade, estrutura e esperança, depara-se com o desafio do divisionismo, com ênfase na independência absoluta da expressão local da Igreja.
A exclusiva unidade da Igreja, tem sido percebida pêlos adventistas como crucial para o seu senso básico de identidade como o remanescente bíblico para o tempo do fim, e para o cumprimento de sua missão global.

Crendo terem sido divinamente chamados, como um povo para uma missão universal, a Igreja Adventista tem-se visto como o "movimento do destino cuja tarefa é levar o evangelho eterno, a cada nação, tribo, língua e povo à face da terra. Fragmentação, portanto, facilmente pode ser vista como algo frontalmente contrário, tanto à preservação desta identidade como à realização do seu chamado e vocação. A Igreja Adventista dificilmente poderia ser submetida à qualquer forma de desmembramento, sem que as partes, tragicamente não perdessem a sua força. Fragmentação da estrutura adventista significaria uma desfiguração tão séria das características vitais para a sua missão em escala global, que colocaria a igreja além da possibilidade de reconhecimento.

Entretanto, para tristeza dos líderes da Igreja e dos seus membros, esta é precisamente uma das sérias ameaças enfrentadas. Grandemente influenciados pelo individualismo que absorveu a cultura moderna, as décadas recentes deram origem a um considerável número de movimentos dissidentes.

Vozes autónomas, algumas das quais se têm auto-identificado como "ministérios independentes," proclamando a sua versão pessoal da fé adventista, insistindo na fragmentação e anunciando uma "nova ordem" que deve substituir a estrutura estabelecida. Tal noção, contudo, é no mínimo problemática tanto na dimensão prática, como a nível teológico.

REFORMA OU INDEPENDÊNCIA?

Provavelmente a maioria., senão a totalidade dos Adventistas do Sétimo Dia, concordaria que a Igreja remanescente — ao mesmo tempo e ironicamente, também identificada como Laodicéia, a Igreja morna -- convive hoje com uma urgente necessidade de reavivamento e reforma. Tal percepção, contudo, não é descoberta recente. Ellen White, em seus dias concluiu que "um reavivamento da verdadeira piedade entre nós é a maior e mais urgente de todas as nossas necessidades. E buscá-la deveria ser o nosso primeiro esforço (14). Na mesma página, ela observa ainda que "Não há nada que Satanás mais tema de que o povo de Deus prepare o caminho e remova os obstáculos para que o Senhor derrame o Seu Espírito sobre a Igreja... Se estivesse em seu poder, ele [Satanás] impediria qualquer despertamento, grande ou pequeno, até o fim dos tempos." Quase no mesmo contexto, contudo, Ellen White define a origem de tal reforma:
"Reavivamento e reforma devem acontecer sob o ministério do Espírito Santo" (l5) A busca de reavivamento e reforma, portanto, é prioridade consistente com o melhor da tradição adventista. Os dissidentes, entretanto, parecem mais interessados em sua agenda de "reformas" sem referência séria à "verdadeira piedade" (o objecto da reforma) ou ao reavivamento, sob o ministério do Espírito (o fundamento e método dela). "Reavivamento da verdadeira piedade, "não apenas deve preceder qualquer tentativa de reforma mas é precisamente aquele que garante a autenticidade desta. Sem “reavivamento,” realidade que tem dimensão primariamente pessoal, as tentativas de reforma frequentemente se degeneram em actos de depredação e anarquia. Por causa da natureza humana caída, facilmente buscamos iniciar “reformas” começando fora de nós, com os outros. E naturalmente, "confessar" ô s pecados alheios é sempre o mais fácil e conveniente. Tal mentalidade, contudo, deixa de perceber tanto a necessidade individual da reforma, como a hipocrisia da atitude de expor as faltas dos outros. Difícil, mas precisamente por onde devemos começar, é reconhecer nossa própria necessidade e iniciar a reforma interiormente.

Uma dificuldade adicional com os "reformadores," é que eles provocam uma confusão elementar entre reforma e independência. No fundo, portanto, o que se busca não é a verdadeira reforma, mas independência da autoridade da Igreja organizada, um substituto precário para aquilo que realmente necessitamos. De maneira superficial os "reformadores" imaginam que todos os males desaparecerão simplesmente por mudarmos a "presente ordem de coisas." Esta foi precisamente a ilusão marxista, adoptada pelo comunismo, na luta contra o vilão capitalista. Resultado? O registo da história está aberto para a comprovação. Os "opressos revolucionários," depois subverteram o sistema e destronaram aqueles que eles julgavam os "dragões" a serem aniquilados, tornam-se invariavelmente os novos opressores, repetindo os mesmos erros que eles eram tão prontos a condenar nos outros. Tal mentalidade está em manifesta oposição à óptica de Jesus Cristo, que consistentemente identificou a raiz dos problemas e das distorções humanas, conectando-as com sua causa profunda: ó coração inconverso! É daí que procede a longa lista de males denunciados por Ele em Mateus 15:19. Assim o Senhor expôs a fatuidade dos tratamentos superficiais e das soluções cosméticas.

Mudanças no sistema são muitas vezes necessárias, e não deveríamos fechar os olhos para elas. São precisamente tais mudanças que, por vezes, criam a possibilidade de conversão para aqueles que se acomodaram à práticas que colocam em dúvida a sinceridade do nosso testemunho corporativo. Mas erramos ao absolutizar ou radicalizar tal necessidade de "reforma," como se o sistema fosse a única ou a primeira coisa a ser reformada. Os defensores da "independência" alegando as distorções estruturais deveriam ouvir com atenção as sérias palavras de advertência de Ellen White:
Se o mundo observar uma perfeita harmonia existindo na Igreja de Deus. esta será uma poderosa evidência em favor do cristianismo. Dissensões, diferenças infelizes e rusgas, desonram o nosso Redentor. Tudo isto poderia ser evitado se o eu se submetesse a Deus e os seguidores de Cristo obedecessem a voz da Igreja. A descrença sugere que a independência individual aumenta a nossa importância, e que é fraqueza submeter nossas próprias ideias e direitos ao adequado veredicto da Igreja; mas deixar-se dominar por tais sentimentos e pontos de vista é inseguro e trará anarquia e confusão... Que o julgamento individual submeta-se à autoridade da Igreja. (16)
Expressões tais como "obediência à voz da Igreja," "submissão à autoridade da Igreja," "independência individual" como resultado da descrença, "submissão [de sentimentos e pontos de vistas] ao veredicto da Igreja," podem parecer ofensivas àqueles que escolheram o caminho da dissidência, contudo, integridade espiritual e intelectual exige que, se alguém diz crer no Espírito de Profecia, e utiliza os seus textos quando estes parecem convenientes aos seus propósitos, reconheça também a autenticidade e autoridade de outras afirmações, quando estas não concorrem com suas ideias "reformadoras" ou claramente as contradizem. “0 Redentor do mundo não sanciona experimentos e exercícios em questões religiosas independentes de Sua Igreja organizada e reconhecida”(17). Estabelecer questões religiosas de maneira independente da Igreja de Deus organizada, não é algo sancionado por Cristo e abre o caminho para o escândalo, a descrença de outros e para anarquia. Estas não são questões leves, inocentes ou inconsequentes. As palavras de E. White, neste texto são de clareza inconfundível, que as colocam além da possibilidade de dúvida razoável. Vale repetir: "O Redentor do mundo não sanciona, em questões religiosas, experimentos e exercícios independentes da Sua Igreja organizada."
Integridade cristã exige darmos atenção a textos tais como: "Eu sei que o Senhor ama a Sua Igreja. Ela não deve ser desorganizada ou fragmentada em átomos independentes [congregacionalismo?]. Não há a mínima consistência nisto; não há a mínima evidência de que isto deva acontecer" (18). Ainda em Mensagens Escolhidas, ela adverte, "Não podemos nos afastar agora um só passo do fundamento que Deus estabeleceu. Não podemos agora entrar em qualquer nova organização; pois isto significaria apostasia da verdade"(19). E ainda: "Deus tem uma Igreja sobre a terra, a qual é o Seu povo escolhido. Ele não está liderando, grupos separatistas, Ele não está liderando um aqui e outro lá, mas um povo"(20).

Em resposta a tais conselhos inspirados, alguns pregoeiros da separação e do congregacionalismo sugerem que as citações positivas de Ellen White acerca da Igreja organizada não se aplicam mais, devido a sua condição actual. Contudo, tal linha de raciocínio não encontra qualquer endosso nos escritos inspirados. Ao contrário, Ellen White afirma convicção positiva inquebrantável quanto ao futuro da Igreja: Fui instruída a dizer aos Adventistas de todo o mundo, [que] Deus chamou-nos como um povo para ser-Lhe um tesouro peculiar. Ele tem indicado que Sua Igreja na terra deverá permanecer perfeitamente unida no Espírito e no conselho do Senhor dos exércitos até o fim do tempo (21).

Ellen White observa ainda que, "Nenhum conselho ou sanção é dado na Palavra de Deus de que aqueles que crêem na mensagem do terceiro anjo sejam levados a supor que eles podem se separar. Isto vós podeis concluir para sempre. São as mentes divididas e não santificadas que encorajariam um estado de desunião... Não deve haver qualquer separação neste grande tempo de prova" (22).

Evidentemente, não cabe a ninguém pronunciar julgamento sobre os motivos e razões daqueles que assumiram papel de "reformadores" da Igreja, impiedosamente atacando seus males, quer reais ou imaginários. Tal julgamento pertence a Deus que sabe o que está dentro de cada um (João 2:25). Por outro lado, é dever deles próprios, em boa consciência examinarem o que realmente os impele e anima. Seria., entretanto, uma grosseira ilusão, tanto dos reformadores como da audiência deles, julgarem que o espírito ou intenções dissidentes sejam invenções da última década do século vinte. Ellen White escreveu há mais de cem anos:
O espírito de separar-se dos co-obreiros, o espírito de desorganização, está no próprio ar que respiramos. Para alguns, todos os esforços para se estabelecer a ordem, são considerados perigosos - uma restrição à liberdade pessoal e portanto deve ser temido como o novo papado. Eles declaram que nunca tomarão em consideração aquilo que qualquer homem diga, e que eles não são responsáveis perante os homens. Fui instruída de que é o especial esforço de Satanás guiar homens a sentirem que Deus se agrada que eles escolham o seu próprio curso, independente do conselho dos irmãos...
Oh, como Satanás se regozijaria se ele tivesse sucesso em seus esforços de introduzir-se entre o povo [de Deus] e desorganizasse a obra, em um tempo quando a organização é essencial, e será o maior poder para manter fora as insurreições espúrias e refutar as reivindicações não aprovadas pela Palavra de Deus. Nós desejamos manter as linhas harmoniosamente, de tal forma que não haja desorganização do sistema de organização e ordem que foi edificado por sábios e cuidadosos esforços. Nenhuma licença deve ser dada aos representantes da desordem, que desejam controlar a obra neste tempo. Alguns desejam promover o pensamento de que ao nos aproximarmos do fim, cada filho de Deus deverá agir independente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que neste trabalho não há tal coisa como cada um agindo de maneira independente. Para que a obra do Senhor avance solidamente. Seu povo deve avançar unido(23).

A voz profética aos adventistas adverte com absoluta firmeza que o resultado da independência, será a confusão e o caos. '"Não é bom sinal quando alguns homens recusam se unirem aos seus irmãos e preferem agir sozinhos. Em lugar de se isolarem, que eles se unam em harmonia com os seus co-obreiros. A menos que eles façam isto, suas actividades trabalharão no tempo errado e da maneira errada. Eles estarão servindo em oposição aquilo que Deus tem feito, [e] assim seus esforços farão mais para o mal do que simplesmente serem desperdiçados" (24).

Responder a tão claras afirmações com a alegação de que 'tentamos trabalhar com a Igreja, mas a apostasia dela toma impossível pregar a verdade dentro de sua estrutura," pode parecer argumento sincero, mas realmente não passa de um mero álibi, envenenado por uma atitude de enorme justiça própria. Tal desculpa reflecte, na melhor das hipóteses a suspeita de uma irrealidade, e na pior delas, uma desculpa superficial para rebelião aos conselhos inspirados. Como afirmado na citação do parágrafo anterior, o que está em jogo aqui não é o mero desperdício de esforços mas um extraordinário potencial para a destruição. E isto deveria ser motivo de séria reflexão para aqueles que se aventuraram pelo caminho da dissidência!

A METOLODOGIA DA DISSIDÊNCIA

Qualquer um, mesmo com conhecimento superficial da história adventista, identifica de imediato a falta de originalidade do método dos dissidentes actuais. O panfletarismo, a propaganda negra, o terrorismo verbal, continuam sendo maior trunfo. Deploravelmente tais ataques são dirigidos para a audiência mais vulnerável: aqueles cuja credulidade é excedida apenas pela incapacidade de discernir. A tentativa não é levar o evangelho aos que estão fora do círculo de Cristo. O esforço não é expandir o reino de Deus, em cumprimento da grande comissão evangélica. O que consome as energias e se converte na obsessão dos reformadores equivocados, é "pescar dentro do aquário." Envenenar outros - irmãos fracos " na própria igreja, com a divulgação de um "evangelho" ao reverso, constituído de "más novas," das faltas e escândalos — novamente, imaginários, exagerados ou reais — de pastores, líderes e instituições. O alvo deste "friendly fire"(25) como facilmente se pode constatar, são os próprios irmãos, aqueles que mais facilmente podem ser levados a se escandalizar e passarem a ver com suspeita a Igreja e os seus líderes.

Se o método não é novo, também não é novo o espírito da empreitada. Os precedentes históricos têm raízes de larga abrangência. Em tempos imemoriais, eles incluem os belicosos amalequitas, a ofensiva da tribo que, embora contra-parentes dos Israelitas, no caminho de Canaã, se colocou na retaguarda, quando Israel "ia cansado e afadigado" (Deut. 25:17, 18), e impiedosamente causou trágicas baixas entre os mais indefesos e fracos. Em tempos mais recentes, há aproximadamente quarenta anos, Francis D. Nichol, então editor do Review, publicou uma série de artigos expondo os vários grupos independentes da época, buscando seguidores entre irmãos adventistas. As acusações feitas pêlos dissidentes de então, o método e a estratégia, em nada difere daquilo que estamos presenciando hoje nos jornais, panfletos, revistas, circulares, livros e tapes dos "amalequitas" modernos. Os nomes mudaram, mas de resto, pouco mais mudou.

O que mudou ainda, e isto é o que precisamente toma os dissidentes actuais mais "eficientes" e multiplica a influência deles, são os recursos da tecnologia à disposição. Qualquer pessoa hoje com um computador e, para os mais sofisticados, com algum conhecimento da Internet e web-site, facilmente encontra os canais de divulgação do seu "ministério" de crítica e acusação. Eles sentem que sua missão não é ajudar o mundo perdido em necessidade do evangelho eterno, ao contrário, os auto-falantes estão voltados para dentro. Os holofotes e lentes de aumento estão focalizados na igreja e suas faltas. Hiper-críticos e julgadores, os "reformadores" sentem que sua tarefa é buscar repreender de forma cáustica as faltas, como eles as vêm e entendem, dos líderes adventistas e seus ministros.

William Johnsson correctamente observa que, "Se não houvesse a Igreja Adventista do Sétimo Dia estes [acusadores] não poderiam existir.... Eles se valem da obra edificada por tantos anos de trabalho e lágrima. O termo é duro," continua o redactor do Adventist Review, "mas adequado, assim, deixe-me dize-lo em amor: eles são parasitas da Igreja; sobrevivendo às custas daqueles que por uma razão ou outra, foram persuadidos por suas publicações... Eles sempre se apresentam em uma luz favorável, como leais, fundamentalistas. Adventistas históricos. Alguns usam o título de "pastor" embora não tenham qualquer credencial reconhecida pela Igreja. Alguns ocultam que nem mesmo membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia eles são..."(26). É provável que nem todos estes detalhes se ajustem aos diferentes dissidentes, mas eles oferecem um perfil da estratégia comum.

Tudo isto é muito trágico! É deplorável, que num tempo quando, mais que nunca, o corpo de Cristo deveria estar unido, o grande inimigo, o inspirador e origem de toda dissensão, consegue fazer-nos diluir e malbaratar atenção e energia em questões que apenas desviam-nos para os seus atalhos, bifurcações e becos sem saída. É deplorável que o manto de Cristo seja assim rasgado, como resultado, muitas vezes, de teorias infundadas, ou, outras vezes, de ressentimentos, amarguras pessoais, transportados para o nível institucional. É trágico que o precário argumento ad hominen, se tome a arma comum, dirigindo o ataque ao carácter do oponente, sem ouvir a seus argumentos, razões ou defesa; ou, que, de outra forma, apela às emoções, preconceitos e interesses particulares daqueles que os ouvem. E assim, o que se busca é apenas "ganhar o caso," sem qualquer respeito a princípios ou à ética cristã.
A mentalidade "anti-líder," tão comum em nossa cultura, ameaça invadir a Igreja. Tal disposição, que desafia e rejeita a autoridade, deleita-se em apontar as falhas dos líderes, a ponto de os cansar e levá-los ao desânimo, com o negativismo e a "mentalidade de morcego," que apenas vê o mundo de cabeça para baixo. A falha destes "analistas" é não perceberem que a atitude de apontar problemas e criticar falhas, está muito longe de ser sinónimo de sugerir soluções. Soluções inteligentes, criativas, e sobretudo, que reflictam o espírito de Cristo.

O individualismo é o fermento cultural dos tempos. Individualismo obsessivo gera o pluralismo, que por sua vez conduz ao relativismo. Combinados tal espírito toma a sociedade e a igreja quase ingovernáveis, e transforma a tarefa dos líderes virtualmente impossível. Vivemos nos dias da cultura centralizada no eu. Como indica, William Johnsson: "Meus prazeres, aquilo que eu gosto, aquilo que eu não gosto, minha gratificação pessoal governa o tempo em que vivemos. Esqueça-se acerca do futuro... Esqueça-se quem vai pagar depois, esqueça-se acerca das regras, esqueça-se acerca de Deus. "Não ouse a atravessar no meu caminho.' Se me parece bem, é isto que eu quero e agora, e é isto que eu vou conseguir"(27)
Tal mentalidade, entretanto, corre em directa linha de colisão com aquilo que Deus deseja realizar de belo e novo através da Igreja. Enquanto Deus busca preparar um corpo universal, com uma missão universal, a ideia dos separatistas é fragmentar a Igreja, dividi-la em átomos isolados sem qualquer elemento unificador. "Cada um por si," vivendo e morrendo em si mesmos, recebendo e utilizando os recursos dentro dos seus próprios limites individuais, como células cancerosas, que se separam do sistema, para o seu colapso e morte.

Aqueles que se alimentam dos escândalos explorados pelos dissidentes, devem aprender duas lições fundamentais. Primeiro, apenas porque alguém resolveu fazer relatos de "corrupção," "imoralidade" ou artigos do género, isto não significa que tais "notícias," sejam verdade. Aqui ainda, devemos lembrar, que mesmo que tais informações sejam verídicas, estas distorções não representam a Igreja Adventista ou o ministério adventista. Devemos ter em mente ainda, que o ânimo cristão não deve deixar-se apagar pôr causa dos maus exemplos de alguns, não importa quem sejam eles. Os cristãos não seguem a outros cristãos, mas a Cristo! Segundo, os que recebem o bombardeio da propaganda dissidente, devem estar conscientes de que aqueles que se regozijam com as falhas dos outros, de alguma forma se esqueceram da instrução bíblica, "o amor não se alegra com a injustiça..." (I Cor. 13:6), ou "o amor cobre uma multidão de pecado s"(I Pedro 4:8).

É fácil levantar o dedo acusador, espalhar as falhas alheias, fabricando-as ou exagerando-as maliciosamente, muitas vezes sob a pretensão de “defesa da verdade.” Difícil é construir, é erguer as pessoas, mas é precisamente isto que Deus espera dos filhos do Reino. Quando a graça de Cristo irrompe no coração, ela transforma a esfera dos relacionamentos humanos, ela toma-nos mais humanos, misericordiosos e pacificadores. Cristo não deixou aberto para os seus discípulos o caminho do revanchismo e da retaliação. Seu exemplo fechou para sempre tal avenida, indicando-nos que os cristãos alcançam reformas profundas quando eles agem como “luz e sal.” A justiça deles não é vista em termos de escrupulosidade semelhante à dos escribas e fariseus. Os males da Igreja e na vida dos seus ministros já são em si mesmo escabrosos o suficiente e não necessitam de maior divulgação, e de fato, expô-los pode parecer, as vezes, “politicamente correcto” mas dificilmente é algo de natureza cristã. Com extraordinário insight, Ellen White aconselha que “[Os males encontrados na Igreja] são mais para serem deplorados do que acusados”(28). Noutro contexto ela afirma, “Desviai os vossos olhos daquilo que é escuro e desencorajador, e contemplai a Jesus o nosso grande líder’ ‘ (2 9)

Os que se escandalizam com as falhas de lideres estão sugerindo que eles nunca leram a Bíblia. O testemunho bíblico não deixa qualquer dúvida, de que o povo de Deus e seus líderes, tanto no Velho como no Novo Testamento, constantemente falharam em viver os ideais divinos para eles. O refrão sobre reis de Israel, representantes directos de Deus, que “fizeram o que era mal aos olhos do Senhor,” se repete com constância na narrativa bíblica. Os escritos de Ellen White têm muito a dizer sobre corrupção na sede da Igreja em Battle Creek. O jogo do poder exercido por pequenos grupos de homens que abusaram de suas posições, e buscavam controlar a Igreja. Injustiças cometidas pela Review and Herald Publishing Association contra
seus obreiros e escritores. Além disto, muitos daqueles irmãos conviveram com os mesmos pecados que vemos hoje na Igreja. Aqueles que tenham qualquer dúvida quanto a existência de pecados entre o povo de Deus, leiam cuidadosamente a primeira carta de Paulo aos Coríntios. Leia-se o próprio registo dos “heróis da fé,” em Hebreus 11, e sem dúvida concluiremos que o único herói da Igreja é Jesus Cristo, que apela, aceita e transforma a vida dos faltosos, sem se desanimar deles e sem publicar a lista dos seus pecados!

Robert Splangler, um dos mais dignos e respeitados representantes do ministério adventista, por muitos anos editor do Ministry, em um livro publicado depois de sua recente morte, num trágico acidente automobilístico, numa das freeways de Los Angeles, com extraordinário candor descreve seus próprios sentimentos no inicio do seu ministério. Suas palavras, que constituem o testemunho de um pastor a outros pastores, são permeadas por uma aura de indizível tristeza. Diz Splangler: “Ao permitir-nos transitar através do vale do vinagre, a doçura daquilo que Cristo está realizando por meio de Sua igreja passa despercebido. A mente vê aquilo em que foi treinada a permanecer. Malícia, cepticismo e cinismo são males difíceis de serem vencidos.” Splangler, então fala de sua experiência pessoal, do espírito de crítica desenvolvido e alimentado em seus primeiros anos de trabalho. “Com tristeza, eu confesso que no início do meu ministério alimentei-me das faltas dos líderes da Igreja. Lembro-me de uma carta hostil que escrevi ao meu antigo amigo F. D. Nichol. Sua doce resposta desarmou-me completamente. Aquilo que eu tentava demonstrar não estava completamente errado. mas errados estavam o meu espírito e atitude. Na medida em que os anos se passaram, encontrei-me alimentando-me mais e mais dos problemas da Igreja. Não os criticava publicamente, mas em meu coração descobria um afastamento dos meus irmãos, que me deixava vazio. Meu relacionamento com Jesus Cristo tomou-se extremamente frágil. As devoções pessoais eram
frequentemente interrompidas por irritações sobre algo que eu sabia estar acontecendo na Igreja. O dia chegou quando concluí que minha alma estava em perigo. Eu estava construindo barreiras entre meu próprio coração, os outros obreiros e o meu Deus. Gradualmente, através da ajuda do Senhor, aprendi a buscar o bem e o melhor. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas agradeço a Deus pela direção na qual ele tem estado a guiar-¬me.”(3 O)

Inquestionavelmente, a Igreja tem problemas e líderes cometem faltas que necessitam ser reconhecidas e resolvidas. Consultada quanto ao uso incorrecto de dízimos e ofertas, por líderes da Igreja, Ellen White sugeriu três princípios básicos para se tratar com esta e outras distorções: “Façais a vossa queixa de maneira clara e aberta, no espírito coreto, e às pessoas certas,” e então ela acrescenta, ..... mas não vos afasteis da obra de Deus, provando-vos infiéis, por que outros não estão agindo correctamente”(3 1). Portanto, se por um lado, os cristãos não recorrem à conveniência do silêncio, por outro lado, o fórum para a discussão de problemas na vida da Igreja não é o recurso das circulares, jornais e das “marretas” anónimas (anonimato é sempre instrumento da covardia, dos que se omitem ao preço de suas convicções). A solução destes males não é encontrada na sementeira do cinismo, da crítica e da incredulidade. Tal atitude violenta a experiência espiritual daqueles que devotam seu talento e energia a este propósito. Devemos nos lembrar ainda das outras vítimas. Profundas impressões são feitas na mente daqueles que ouvem e lêem tais relatórios. Questões são suscitadas e dúvidas fortalecidas. E, afinal, quem responderá por aqueles que foram desencorajados e ficaram pelo caminho? Pelos que foram desviados por aqueles que não foram responsáveis no uso da sua influência? Quem poderá erradicar o veneno que foi injectado neles?
Ellen White não teve qualquer ilusão quanto a humanidade e natureza caída daqueles que formam a Igreja. Em sua fase militante, o Corpo de Cristo, em sua peregrinação, é frequentemente maculado pela poeira da caminhada. Entretanto, o optimismo da voz profética é inabalável. “Embora existam males na Igreja, e eles estarão connosco até o fim dos tempos, a Igreja nestes últimos dias deve ser a luz do mundo, poluído e desmoralizado pelo pecado. A Igreja, fraca e defeituosa, em necessidade de reprovação, advertência e conselho, é o único objecto sobre a terra, ao qual Cristo concede Sua suprema atenção” (3)

SEM PROVISÃO TEOLÓG1CA

Um último aspecto deve ainda ser abordado em nossa discussão. Para fechar o círculo deste artigo, retomamos à questão inicial do remanescente. Aqueles melhor orientados teologicamente podem argumentar que a história revela que foi precisamente o fracasso dos que foram originalmente chamados que provocou a necessidade do remanescente. A Israel foram feitas, sob condições, promessas de que ele permaneceria como povo escolhido. Ao fracassar, Deus suscitou a Igreja cristã. Quando esta tomou-se corrompida em doutrinas e práticas, Deus levantou os reformadores para se separarem e formarem o corpo protestante. Então estes também falharam em avançar na Luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o movimento adventista com uma missão especial para o fim da história. O modelo é consistente: até aqui os fiéis saíram do remanescente apostatado para constituírem um novo remanescente. Quer isto dizer que este ciclo do chamado, apostasia e novo chamado continua aberto indefinidamente?

E precisamente aqui que o cenário do fim impõe uma nova dinâmica. Obviamente este ciclo deve ser quebrado em algum ponto, do contrário, por causa da natureza humana, ele recorreria constantemente, sem qualquer
resolução final. Note que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não tomou Deus de surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia da apostasia, tanto de Israel, da Igreja crista como da própria reforma protestante. Contudo, não existe qualquer provisão profética para um novo remanescente em substituição ao movimento adventista. Isto é evidente no Apocalipse, quanto ao remanescente final (Apocalipse, capítulos 3 e 12). Sete Igrejas, e não mais, simbolizam a trajetória da Igreja através da era cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo do juízo, com todos os seus defeitos e fraquezas fecha o circulo. Qualquer outra conclusão é estar em descompasso com o tambor da revelação.

Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se não há provisão profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço dos dissidentes1 Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramente delineou como Ele há de administrar o crise final da Igreja, mas Sua agenda, devemos entender, não inclui a probabilidade de um novo movimento separando-se de Sua Igreja. No passado, como visto, o chamado foi para que os fiéis se separassem do corpo apostatado. Mas, este processo, repetimos para efeito de ênfase, não pode continuar indefinidamente. Nas cenas finais da história, ao contrário das reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão a Igreja. A sacudidura tomará o lugar do clássico
“chamado para sair.” Estes dois métodos de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos:

“Haverá uma sacudidura [peneiramento]. A palha deve, no tempo certo, ser separada do trigo. Porque a iniquidade aumenta, o amor de muitos se esfria.
Este é precisamente o tempo quando o genuíno deverá ser mais forte.
Haverá uma separação de nós por parte daqueles que não apreciaram a luz nem caminharam nela”(33)

Qual o resultado final deste “peneiramento”? A palha, representando os infiéis e destituídos de sinceridade que presentemente são encontrados na Igreja, será separada do trigo, símbolo dos cristãos genuínos. O grupo classificado como “momo” (Apocalipse 3:15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em Laodicéia, há então de desaparecer para sempre, quer identificando-se com o “quente,” ou assumindo o grupo dos “frios.” A polarização é inevitável, e não poderia ser diferente! Como um ato de sabotagem, Satanás traz o joio para dentro da Igreja (5. Mateus 13:24-30, 36-43). “Enquanto o Senhor traz para a Igreja aqueles que são verdadeiramente conversos, Satanás, ao mesmo tempo, traz pessoas que não são convertidas para a sua [da Igreja] comunhão”(34). Contudo, como E. White indica, este estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja”(3 5).

Quem são os que deixarão a Igreja sob a ação da sacudidura, identificados de forma geral sob as figuras do “joio,” “palha,” e “mornos" ?
E. White. em seus vários escritos sugere uma ampla identificação: “Os auto-enganado s”(Testemonies vol. 4. págs. 89, 90; vol. 5, págs. 211, 212); “Os descuidados e indiferentes,” (Idem, vol 1, pág. 182); “Os ambiciosos e egoístas”(Early Writings, pág. 269); “Os que se recusam sacrificar” (Idem, pág. 50). “Os orientados pelo mundanismo” (Testemonies, vol. 1, pág. 288); “Os que transigem e comprometem a verdade” (Idem, vol 5. Pág. 81); “Os desobedientes” (Idem, vol. 1, pág. 187); “Os invejosos e críticos,” (Idem, pág. 251); “Os fuxiqueiros; os que acusam e condenam” (The Upward Look, pág.
122); “A classe conservadora superficial” (Testemonies, vol. 5, pág. 463); “Os que não controlam o apetite” (Idem, Vol 4, pág. 31, 232); “Aqueles que
promovem a desunião”(Review and Herald, 18 de Junho de 1901); “Os que estudantes superficiais da Bíblia”(Testemonies to Ministers, pág. 112); “Aqueles que perderam a fé no dom profético,”(Selected Messages, Livro 3, pag. 84). Aqui, dois fatos são evidentes: primeiro, a ampla variedade deste catálogo, e, segundo, que todas estas categorias estão hoje representadas na Igreja.

Ellen White, estabelece uma clara convergência entre estes dois aspectos, observando que, “Na medida em que a tempestade se aproxima, uma numerosa classe que tem professado fé na terceira mensagem angélica, mas que nunca foi santificada através da obediência à verdade, abandonará sua posição e se ajuntará às fileiras da oposição” (36). Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que abandonarão a Igreja. “Logo o povo de Deus será testado por severas provações e uma grande proporção daqueles que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil. Em lugar de serem fortalecidos e confirmados pela oposição ameaças e
abusos, eles, covardemente, tomarão o lado dos oponentes... Permanecer em defesa da verdade e da justiça - quando a maioria nos há de abandonar para lutar as batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos - este será o nosso teste. Neste tempo devemos tirar calor da frieza de outros, coragem da covardia deles, e lealdade de sua traição”(37).

A purificação da Igreja virá no tempo indicado, mas não através das reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos dissidentes. A Igreja será purificada afinal, mas o movimento será precisamente o inverso daquilo que aconteceu ao longo dos desdobramentos da história: sairão os destituídos de sinceridade, enquanto, os fiéis permanecerão na comunhão da Igreja. E exactamente por isto, não há provisão divina para um novo remanescente. Aqueles que hoje buscam pureza eclesiástica através da crítica e da acusação,
e finalmente se afastam do corpo remanescente de Cristo, cometem um colossal erro de cálculo!

Enquanto aguardamos a resolução final da história e a purificação da Igreja, devemos lembrar-nos que “Deus não deu a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às Suas advertências e reprovações. Quando o Espírito Santo habita no coração, Ele guiará o agente humano a ver os seus próprios defeitos de carácter, a ter piedade das fraquezas dos outros, a perdoar como ele deseja ser perdoado. Ele será misericordioso, cortês, e semelhante a Cristo (38).

PALAVRA FINAL

O carácter não é construído nas crises, apenas revelado por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da natureza da árvore e certamente, se o Senhor não pode mudar-nos o carácter, dificilmente Ele poderá mudar nosso destino final. Cada dia, nossa submissão ou rebelião à voz do Espírito está definindo as formas de nossa construção eterna. Ninguém precisa ser enganado pelas aparências. “Quando homens se levantam clamando ter uma mensagem de Deus, mas em vez de lutarem contra as potestades e poderes das trevas deste mundo, eles formam uma barricada, e voltam as armas da luta contra a igreja militante, tenhais medo deles. Eles não são podadores das credenciais divinas. Deus não deu a eles qualquer missão”(39)

Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e analistas do negativismo percebam a condição do remanescente de Deus, o Senhor está no controle. Fracasso de nossa parte em crer neste fato, nos levará ao desencorajamento ou ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com as nossas mãos. Mas estas são tentações que devem ser resistidas. “A Igreja pode parecer quase a cair, mas ela não cairá. Ela permanece, enquanto os pecadores em Sião serão peneirados - a palha será separada do precioso grão. Este é um terrível processo, contudo ele deve acontecer”(40).

O remanescente de Deus não fracassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão. Podemos afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos fundamentais. Primeiro, porque Cristo é o cabeça da Igreja. Isto evidentemente, não nos coloca, individualmente, além da possibilidade do fracasso. Segundo, porque não há qualquer provisão profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacional, indiferença ou falsa segurança na prática do pecado, ao contrário, ela deve conduzir-nos à crescente submissão ao Senhor da Igreja. Terceiro, as vitórias da Igreja através das crises de sua história - crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram insuperáveis, dão-nos segurança de que as crises do futuro serão administrados pela eficiência dAquele que não pode falhar. Finalmente, o quadro profético do Apocalipse quanto a Igreja dos últimos dias, é esboçado em termos positivos de vitória (Apoc. 14;1-5, 7:9, 10, 13-17). Não há nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja, ao enfrentar o mar tormentoso dos últimos eventos.
Segundo a tradição ligada ao Titanic -- o navio considerado insubmersível pelo seu capitão. E. J. Smith, mas que fatalmente desceu para o seu mergulho sem retorno nas águas gélidas do Atlântico Norte, na madrugada de 15 de Abril de 1912 -- no domingo seguinte à tragédia, na cidade de Southampton, de onde o navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam muitas das vítimas, membros da tripulação, um pregador americano convidado para uma série evangelística, pregou um poderoso sermão sob o título ‘O Navio Que Não Pode Afundar.” O sermão, evidentemente, não era
ima referência ao Titanic, mas a uma outra embarcação, 1900 anos antes, também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da Galiléia (Mat. 8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o pregador com extraordinário senso de propriedade, é aquele em que Cristo está presente. Esta é a única segurança da Igreja ao enfrentar a tempestade do mar aberto, nos instantes finais da sua jornada. A nossa garantia não se encontra na habilidade ou na perfeição dos homens, na suficiência ou fortaleza da “embarcação,” mas na presença e autoridade d´Aquele a quem “os ventos e o mar obedecem” (v. 27).

Mesmo antes que a denominação adoptasse o nome “Adventista do Sétimo Dia,” em 1860, pioneiros adventistas, já viam o movimento como o “povo remanescente,” prefigurado em Joel 2:28-32. A primeira referência aos adventistas como “remanescente,” aparece num folheto intitulado “To the Little Remanant Scattered Ãbroad,” publicado em 1846, e republicado em 1847 como parte do panfleto “A Word to the Little Flock.” No Review and Herald, de 28 de Fevereiro de 1856, Uriah Smith responde a alguém que escreve perguntando porque os adventistas se auto-reconheciam como “remanescente.” Posteriormente, James White faz uma defesa da propriedade do uso do conceito de aplicado aos adventistas (Heview and Herald, 8 de Janeiro 1857), apelando para a identidade profética do remanescente nos últimos dias. Veja também C. Mervyn Maxwell, “The Remnant lii SDA Thought" em, Adventists Afirm, Vol. 2, No. 2, Outono 1988, págs. 13-20. Em 1980 a Igreja Adventista incluiu, pela primeira fez, em suas Crenças Fundamentais, uma declaração sobre o seu conceito do remanescente. Veja, Seveni’h-day Adventists Believe. . .(Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1988), págs. 161-168.


Referências:

1. Em 1911, quatro anos antes de sua morte, Ellen White mais uma vez relembrou aos adventistas que a “maioria” do povo de Deus ainda se encontrava naquilo que a Bíblia chama de “Babilônia” espiritual (The Great Controversy, pág. 390). Eles não apenas estão espalhados através das Igrejas, mas encontram—se “espalhados,” também “através de todas as nações”(Pafriarchs and Prophets, pág. 447).

2. Deve-se lembrar que o “remanescente,” é um conceito, bíblico, portanto divino, não humano. Além disto, quando correctamente entendido, tal noção deveria promover primariamente a humildade, face a extraordinária responsabilidade que ele envolve. Deploravelmente, em tempos recentes, na tentativa de evadir ao perigo do triunfalismo, alguns têm se refugiado no extremo oposto, afastando-se da designação do remanescente. Para estes a ideia promove o orgulho espiritual. Eles têm sugerido ainda. que o termo é uma relíquia anacrónica de um estágio perfeccionista e confronto da história adventista. Veja por exemplo, Steve Daily, Adventism for a New Generation (Portland: Better Living Publishers, 1992); praticamente todo o livro de Daily, está imerso nesta mentalidade “progressista,” que convoca a Igreja a afastar-se da “teologia do remanescente,” e avançar para um espírito inclusivo de afirmação religiosa (pág. 314) Não é de admirar que tal defesa tenha gerado, em alguns sectores, perda de nossa identidade distintiva e do papel especial marcado por Deus para o seu povo nos eventos finais da história (Veja Gerhard F. 1-Iasel, “The Remmnant in Scripture and the End Time", em Adventiss Affirm, Vol 2, No. 2, pág. 5.

3. Don F. Neufeld, editor, Sevent’h-day Adventist Encyclopedia
(Washington, D.C. Review and Herald Publishing Association, 1976), pág.
1200.

4. A noção bíblica do homem como “alma vivente,” tem sido defendida em tempos recentes por vários exegetas protestantes. Veja Claus Westermann, Creation (Philadelphia: Fortress Press, 1974), págs. 75-77; também o clássico estudo de Hans Walter Wolft Antropologia do Velho Testamento (São Paulo, Edições Loyola, 1965),. Págs. 87-98). Por outro lado, a tradicional doutrina da imortalidade da alma em concessão com o ensino do inferno eterno tem, nas últimas décadas passado por séria revisão entre vários representantes do protestantismo tradicional. Para uma boa introdução ao tema e bibliografia, veja Samuele Bachiochi, Immortality or Resurrection? (Berrien Springs, Biblical Perspectives, 1998). O livro Universalism and the Doctrine of Hell, ed. N.M.S. Cameron (Grand Rapids: Baker Book House, 1992), que oferece um relatório da Fourth Edinburgh Conference on Christian Dogniatics, inclui um capítulo por John Wenham entitulado “The Case for Conditional Immortality,” apresentando uni excelente sumário do debate entre os evangélicos sobre o inferno. Clark Pinnock o conhecido teólogo evangellco, que escreve a introdução do livro de Bachiochi, escreveu também o volume Four Views of Hell (Grand Rapids: Zondervan, 1992). Depois de sólida argumentação contrária a noção do inferno, Pinnock conclui, “Embora hajam muitas boas razões para se questionar a tradicional idéia quanto a natureza do inferno, a razão mais importante é o fato de que a Bíblia não ensina tal noção. Contrário ao alto clamor dos tradicionalistas, isto [o ensino do inferno] não é uma doutrina bíblica” (ídem, págs. 145, 146). Veja também, do reconhecido evangélico John R. W. Stott Essentials (London: Hoddeer & Stoughton. 1988) págs. 306-326. Para um objetivo sumário do debate envangélico quanto ao inferno, veja o artigo “Annihilation or endeless torment,” de Brian P. Phillips, em Ministry (August, 1996), pags, 15-18. Curiosamente. mesmo o Catolicismo Romano, tradicional defensor das chamas eternas, em recente pronunciamento do papa João Paulo, afirma que “o inferno não é um lugar físico.” The Toronto Sun, “No Hell Below: Pope” Tudesday, July 27, 1999.

5. O termo “aproximadamente,” utilizado nos percentuais de minha análise da grade doutrinária Adventista, representa a flexibilidade de quem não deseja dogmatizar em exactidão matemática, permitindo assim, espaço para pequenas variações. Um outro aspecto a ser relembrado é que os 9% da categoria C, que atribuem identidade peculiar aos adventistas, dão cores especiais a praticamente todos os outros ensinos adventistas.

6. Os Adventistas do Sétimo Dia são praticamente os cristãos únicos a encontrarem em Daniel 7, 8 e Apocalipse 14:6, 7 as evidências bíblicas para um julgamento que precede o segundo advento de Crísto. Ao denominar tal julgamento de "pré-advento,” denotamos o tempo em que ele ocorre, e por “investigativo,” indicamos o seu método. Em contexto polêmico, a partir dos anos 80s, eruditos adventistas, tanto da Andrews University, como do Biblical Research Institute, têm produzido em enorme quantidade de material tratando sobre o santuário, respondendo às objecções tradicionais e colocando tal doutrina em sólida base bíblica (Veja os volumes 1 a 6 do Daniel & Revelation Committee Series, publicados pelo Biblical Research Institute).

7. Em Êxodo 25:9, 40, 26:30, Moisés é ordenado a construir um santuário de acordo com o “modelo” (tabnith/Mishpat) que lhe fora dado. Em Hebreus 8:5, o autor explica que os sacerdotes levíticos serviram de
(hypodeigma) e “sombra” (skia) das coisas celestiais, de acordo com o “model& (typos) que fora mostrado no monte a Moisés. Hebreus 9:9 refere ao serviço do tabernáculo terrestre como uma parábola (parabole) do presente ministério de Cristo como sumo-sacerdote celestial. O santuário terrestre - com seus serviços, cerimonias e símbolos - não era senão uma pálida sombra, um recurso didático temporário, apontando para o genuíno e real. A própria estrutura física do tabernáculo terrestre, com suas tres dimensões fundamentais e rituais associados com cada uma delas, apontava para as três fases da obra redentora de Cristo: 1) O altar do sacrificio > a Cruz; 2) o Lugar santo> a intercessão e 3) o lugar santíssimo > o julgamento. Veja de Roy Adams, The Santuary, Understanding the Heart of Adventist Theology (Hagerstown, MD, Review and Herald Publisbing Association, 1993). Em função da massiva ignorância quanto ao ensino bíblico do santuário. Cristãos e lideres religiosos em geral tendem a limitar o plano da redenção à primeira divisão do santuário, ao pátio externo, que representava o sacrifício do Cristo. Contudo, tão importante e fundamental quanto sejam a cruz e o calvário, estes não esgotam ou limitam a obra de Cristo em favor da humanidade. O livro de Hebreus olha partir do calvário e afirma o sacerdócio de Cristo no santuário celestial (veja Hebreus 8:1 e 1; 9:24).

Daniel 7, 8 por outro lado, situam a cena do julgamento/purificação, numa sequência cronológica de inquestionável clareza. Tal julgamento/purificação, acontece depois do domínio da ponta pequena (que emerge do quarto império e duraria 1260 anos, de 538 AD — 1798) e antes do segundo advento de Cristo para o estabelecimento do reino que será entregue aos santos do altíssimo. Tal cenário cronológico e sequência histórica traçados por Daniel 7, 8, 9, em conexão com Apocalipse 12 e 13, são um poderoso golpe que desacredita os estratagemas e ginásticas interpretativas da escola preterista, em sua tentativa de fazer de Antíoco Epifânio - o relativamente inexpressivo antigo rei da dinastia seleucida (uma das divisões do terceiro império, a Grécia)- a formidável “ponta pequena” de Daniel, e portanto algo que toma lugar no segundo século A.C. Veja Norman Gulley, Christ is Coming! (Hagerstown, MD. Review and Herald Publishirig Association, 1998), pág. 415. Interpretes biblicos quase universalmente crêm que Antioco representa a “a abominação da desolação” mencionada em Daniel 8:11-13. 9:27; 11:31 e 12:11, contudo, o que eles deixam de notar é que Jesus referiu-se á “a abominação da desolação,” como algo ainda no futuro
(Mat. 24:15). Além disto, a tentativa de interpretar o período profético de “1260 tardes e manhãs” como dias literais (portanto, aproximadamente 6 anos), ou, dias sacrificiais (portanto, 1.150 dias literais) reduz a profecia a um nível completamente irracional, sem qualquer significado.

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