31 de agosto de 2013

O CÉLEBRE EDITO DE CONSTANTINO

NINGUÉM nega que no dia 7 de março de 321, o imperador Constantino promulgou uma lei que assim reza:

"Que todos os  juízes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequa4o à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo céu." – Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).

Este acontecimento influiu decisivamente para transformar o "festival da ressurreição" num autêntico "dia de guarda" no império romano.

Os nossos oponentes, visando fazer confusão, procuram dar sentido tendencioso ao histórico decreto, ao mesmo tempo que propalam ser ensino nosso que a instituição dominical fora criara pelo imperador. Nada mais falso. Equivocam-se grandemente os que afirmam ser ensino adventista que o domingo foi instituído por Constantino e por um determinado papa. Jamais ensinamos que Constantino fosse o autor do domingo, mas sim que, na esfera civil, deu o passo para que se tornasse dia de guarda, promulgando a primeira lei neste sentido, coroando assim a gradual implantação do domingo na igreja e no mundo.

Contudo, dizer que muito antes de Constantino nascer já os cristãos GUARDAVAM o domingo é afirmação temerária, destituída de veracidade histórica. Os testemunhos que o oponente alinhou nada provam em favor da OBSERVÂNCIA já estabelecida do primeiro dia da semana como dia de culto cristão. Não merecem inteira fé, por serem duvidosos, falíveis e incongruentes. Não invoca SEQUER UM testemunho bíblico ou histórico exato, incontrariável, irrecorrível. Não pode fazê-lo. O máximo que se poderia afirmar é que, antes de Constantino, boa parte dos cristãos, já em plena fermentação da apostasia gradual, reuniam-se de manhã no primeira dia da semana, para o "festival da ressurreição," e depois voltavam aos misteres costumeiros. Nada de guarda, observância ou santificação do dia. Isso ninguém jamais provará.

O nosso acusador cita o edito dominical de Constantino. Cita-o para dar-lhe uma interpretação distorcida, às avessas. Segundo ele o édito destinava-se a favorecer os cristãos. Não se dirigia aos pagãos. Concordamos que o imperador tinha em mira agradar aos cristãos de seus dias, porém para conciliá-los com a observância do dia do Sol, que os pagãos observavam. Mero jogo político.

 Confusões e Contradições

Afirma o acusador: "Era um édito para favorecer particularmente os cristãos..."

Vamos analisar esta afirmativa. Notemos o seguinte: se a observância dominical, pelos cristãos, já era fato líquido e certo, não careciam eles de leis seculares para os favorecer. E prossegue: "[o edito] não foi feito para agradar os pagãos." Não foi mesmo porquanto os pagãos vão precisavam de leis que lhes ordenassem guardar o "dia do Sol", considerando que o mitraísmo era religião dominante no Império, sendo o próprio Constantino mitraísta. Diz a História que ele era adorador do Sol que se "converteu" ao cristianismo. Isso lança luz nas verdadeiras intenções do édito.

Mas agora surge a confissão interessante: Diz o autor do O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus: "O édito era dirigido aos pagãos e por isso empregou-se a expressão dia do Sol em vez de dia do Senhor..." (Digamos, entre parênteses, que há aqui um equívoco, pois o edito era dirigido a todos, moradores das cidades e dos campos indiscriminadamente. Os pagãos, sem dúvida, constituíam a imensa maioria.)

Voltaríamos a insistir: Por que empregou Constantino a expressão "dia do Sol"? A resposta será dada pelo acusador. Diz ele: "Está provado, por homens abalizados, que esses [os pagãos] jamais guardaram esse dia [o primeiro dia da semana]." Isto até provoca riso. O oponente diz candidamente que os pagãos jamais em tempo algum observaram o primeiro dia da semana.

Prestaram os leitores atenção? Pois bem. Leiam agora estoutra declaração na mesma página e no mesmo parágrafo, a respeito do édito de Constantino: Era dirigido aos pagãos" por isso Constantino "usou a expressão DIA DO SOL para que pudessem [eles, os pagãos] compreendê-lo bem." Ai está a confissão. E insistimos com o autor: Por que os pagãos compreenderiam bem a expressão "dia do Sol" em vez de "dia do Senhor"? Por quê? Insistimos, por quê? A resposta é uma só: PORQUE GUARDAVAM O DIA DO SOL. Era o dia de guarda do mitraísmo, religião professada pelo próprio Constantino. Por essa contradição se pode ver a insegurança do acusador.

Mais adiante cita outro famoso apóstata adventista, o briguento A. T. Jones, quando este assevera que a primeira lei feita sobre o domingo, foi feita a pedido da igreja." E cremos que o foi realmente, mas a pedido... de qual igreja? A pedido da igreja semiapóstata, igreja que já levava no bojo inovações do paganismo, igreja conluiada com o Estado, igreja já desfigurada, que então usava velas, altares, praticava o monasticismo, borrifava água benta, impunha penitência, o sinal da cruz, e até ordens sacerdotais. Esta a igreja que solicitou o édito de Constantino. Esta a igreja que algumas décadas a seguir, num concílio, decretou a abstenção do trabalho no domingo e quis impedir a observância do sábado, no concílio de Laodicéia. Se o oponente aceita essa igreja como expressão do verdadeiro cristianismo, contente-se. É um direito seu. Nós não aceitamos. Não nos conformamos com ele, e continuamos a insistir na tese da origem pagã da observância dominical. Temos a História a nosso favor. Temos os fatos que depõem em abono de nossa mensagem. A verdade não precisa de notas forçadas para sobreviver. Impõe-se por si.

E agora, a nuvem de testemunhas. O nosso ponto de vista vai ser confirmado exuberantemente, por depoimentos da mais alta idoneidade. Vejamos o que dizem os eruditos, os enciclopedistas, os historiadores: Ei-las:

"O mais antigo reconhecimento da observância do domingo, como um dever legal, é uma constituição de Constantino em 321 A.D., decretando que todos os tribunais de justiça, habitantes das cidades e oficinas deviam repousar no domingo (venerabili die Solis), com uma exceção em favor dos que se ocupavam do trabalho agrícola." –Enciclopédia Britânica, art. "Sunday".

Note-se a expressão "mais antigo reconhecimento", que prova não ser então liqüida e certa a observância dominical. Antes disso não o era certamente.

"Constantino, o Grande, baixou uma lei para todo o império (321 A. D.) para que o domingo fosse guardado como dia de repouso em todas as cidades e vilas; mas permitia que o povo do campo seguisse seu trabalho." – Enciclopédia Americana, art. "Sabbath".

Esse primeiro dia era o "dia solar" dos pagãos, que já o guardavam. Pelo decreto, o dia devia ser por todos (inclusive os cristãos) "guardado como dia de repouso" em todas as cidades e vilas. Muito claro.

"Inquestionavelmente, a primeira lei, tanto eclesiástica como civil, pela qual a observância sabática daquele dia se sabe ter sido ordenada, é o edite de Constantino em 321 A.D." – Chamber, Enciclopédia, art. "Sabbath".

Notemos que Chamber diz ser a lei também eclesiástica. Por quê? Devido à fusão com o cristianismo, à influência religiosa, e à habilidade de estadista que quer agradar a gregos e troianos. Dessa forma o incipiente "festival da ressurreição" das manhãs do primeiro dia da semana se fundiria com o dia solar pagão do mitraísmo, e não haveria descontentes. Constantino atingia seus objetivos.

A influência da igreja semiapóstata na elaboração do decreto é evidente. Eusébio, contemporâneo, amigo e apologista de Constantino escreveu: "Todas as coisas que era dever fazer no sábado, estas NÓS as transferimos para o dia da Senhor." – Eusébio, Commentary on the Psalms.

Essa expressão "nós transferimos..." é sintomática, e prova que esse dia de guarda é invenção humana, puramente humana, de procedência pagã, de um paganismo já amalgamado com o cristianismo desfigurado da época.

"Os cristãos trocaram o sábado pelo domingo. Constantino, em 321, determinou a observância rigorosa do descanso dominical, exceto para os trabalhos agrícolas... Em 425 proibiram-se as representações teatrais [nesse dia] e no século VIII aplicaram-se ao domingo todas as proibições do sábado judaico." – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, art. "Domingo".

O grande e abalizado historiador cardeal Gibbon, com sua incontestada autoridade assevera o seguinte: "O Sol era festejado universalmente como o invencível guia e protetor de Constantino....

"Constantino averbou de Dies Solis (dia do Sol) o 'dia do Senhor' – um nome que não podia ofender os ouvidos de seus súditos pagãos." – The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, cap. 20 §§ 2°., 3°. (Vol. II, págs. 429 e 430).

Ainda sobre o significado do célebre edito diz-nos o insuspeito pastor Ellicott:
"Para se entender plenamente as provisões deste edito, deve-se tomar em consideração a atitude peculiar de Constantino. Ele não se achava livre de todo o vestígio da superstição pagã. É fora de dúvida que, antes de sua conversão, se havia devotado especialmente ao culto de Apolo, o deus-Sol. ... O problema que surgiu diante dele era legislar em favor da nova fé, de tal modo a não parecer totalmente incoerente com suas práticas antigas, e não entrar em conflito com o preconceito de seus súditos pagãos. Estes fatos explicam as particularidades deste decreto. Ele denomina o dia santo, não de dia do Senhor, mas de "dia do Sol' – a designação pagã, e assim já o identifica com seu antigo culto a Apolo." – Pastor George Ellicott, The Abiding Sabbath, pág. 1884.

Se isto não bastar, temos ainda o insuspeito Dr. Talbot. Só citamos autores não adventistas. Ei-lo:
"O imperador Constantino, antes de sua conversão, reverenciava todos os deuses (pagãos) como tendo poderes misteriosos, especialmente Apolo, o deus do Sol, ao qual, no ano 308, ele [Constantino] conferiu dádivas riquíssimas; e quando se tornou monoteísta o deus ao qual adorava era – segundo nos informa UHLHORN – antes o "Sol INCONQUISTÁVEL" e não o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. E na verdade quando ele impôs a observância do dia do Senhor (domingo) não o fez sob o nome de sabbatum  ou Dies Domini, mas sob o título antigo, astrológico e pagão de Dies Solis, DE MODO QUE A LEI ERA APLICÁVEL TANTO AOS ADORADORES DE APOLO E MITRA COMO AOS CRISTÃOS." (Versais nossos.) – Dr. Talbot W. Chamber, Old Testament Student, janeiro de 1886.

Isto é confirmado por Stanley, que diz:
"A conservação do antigo nome pagão de "Dies Solis" ou "Sunday" (dia do Sol) para a festa semanal cristã é, em grande parte, devido à união dos sentimentos pagão e cristão, pelo qual foi o primeiro dia da semana imposto por Constantino aos seus súditos – tanto pagãos como cristãos – como o "venerável dia do Sol"... Foi com esta maneira habilidosa que conseguia harmonizar as religiões discordantes do império, unindo-as sob uma instituição comum." Deão Stanley, Lectures on the History on thc Eastern Church, conferência n°. 6, pág. 184.

Comentando a chamada "conversão" de Constantino, escreve o erudito bispo Arthur Cleveland Coxe:
"Foi uma conversão política, e como tal foi aceita, e Constantino foi um pagão até quase ao morrer. E quanto ao seu arrependimento final, abstenho-me de julgar." – Elucidation 2, of "Tertullian Against Marcion", book 4.

Comentando as cerimónias pagãs relacionadas com a dedicação de Constantinopla (cidade de Constantino) diz a autorizado MILMAN:
"Numa parte da cidade se colocou a estátua de PITIAN, noutra a divindade SMINTIA. Em outra parte, na trípode de Delfos, as três serpentes representando PITON. E sobre um alto triângulo, o famoso pilar de pórfiro, uma imagem na qual Constantino teve o a atrevimento de misturar os atributos do Sol, com os de Cristo e de Si mesmo ... Seria o paganismo aproximando-se do cristianismo, ou o cristianismo degenerando-se em paganismo?" – History of Christianity, book 3, chap. 3.

Outro testemunho interessante é o de Eusébio:
"Ele [Constantino] impôs a todos os súditos do império romano a observância do dia do Senhor COMO UM DIA DE REPOUSO, e também para que fosse honrado o dia que se segue ao sábado." – Life of Constantine, Book 4, chap. 18. (Versais nossos.)

Uma fonte evangélica:
"Quando os antigos pais da igreja falam do dia do Senhor, às vezes, talvez por comparação, eles o ligam ao sábado; porém jamais encontramos, anterior à conversão de Constantino, uma citação proibitória de qualquer trabalho ou ocupação no mencionado dia, e se houve alguma, em grande medida se tratava de coisas sem importância... Depois de Constantino as coisas modificaram-se repentinamente. Entre os cristãos, o "dia do Senhor" – o primeiro da semana – gradualmente tomou o lugar do sábado judaico." – Smith's Dictionary of the Bible, pág. 593.

Lemos na North British Review, Vol. 18, pág. 409, a seguinte declaração:
"O dia era o mesmo de seus vizinhos pagãos e compatriotas; e o patriotismo de boa vontade uniu-se à conveniência de fazer desse dia, de uma vez, o dia do Senhor deles e seu dia de repouso... Se a autoridade da igreja deve ser passada por alto pelos protestantes, não vem ao caso; parque a oportunidade e a conveniência de ambos os lados constituem seguramente um argumento bastante forte para uma mudança cerimonial, como do simples dia da semana para observância do repouso e santa convocação do sábado judaico."

Um livro idóneo é Mysteries of Mithra, de Cumont. Nas páginas 167, 168 e 191 há valiosas informações corroboradas pelas História e pela Arqueologia a respeito do mitraísmo. Poderíamos acrescentar dezenas de outros depoimentos, porém o espaço não o permite. Os citados, no entanto, provam à saciedade a tremenda influência do edito de Constantino em implantar definitivamente a guarda do primeiro dia da semana.


Extraído do Livro Sutilezas do Erro.

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