“Nos dias do Império
Romano, Pisa, no centro norte da Itália, tinha importante porto para a marinha
imperial. Durante a época medieval, a cidade teve grande destaque económico e
político. Hoje, Pisa é famosa por sua Universidade, os tesouros de arte e seus
marcos históricos. E a mais notável das atrações é a torre, que tem uma
inclinação de cinco metros para o lado.
No topo da Torre de Pisa, a quase quatro séculos, o
cientista Galileu realizou, segundo dizem, experimentos com a gravidade. Mais
tarde, ele focalizou seu telescópio recém-inventado para o céu, descobrindo as
montanhas na lua e as manchas no sol. Ele também concluiu que o astrónomo
polonês Copérnico estava certo: a Terra gira como todos os outros planetas,
enquanto o sol parece estar parado.
Você provavelmente deve estar perguntando que ligação pode
haver entre o cientista medieval Galileu e o título “Guerra Civil do
Anticristo”. Galileu, o primeiro cientista de sua época, não desconhecia as
manobras políticas. Ele deu nome aos quatro satélites de Júpiter que apareceram
no telescópio em homenagem ao Grão-duque da Toscana, na esperança de receber
dinheiro dele. Funcionou. E dessa base aparentemente segura, Galileu achou que
poderia promover sua nova compreensão do nosso sistema solar. Porém, isso não
funcionou muito bem.
Copérnico havia ofendido aos católicos e protestantes com
suas descobertas. Até Martinho Lutero reclamou:
“As pessoas dão ouvidos ao recém-surgido astrólogo que tem
se esforçado para mostrar que a terra gira… mas as Escrituras Sagradas nos
dizem que Josué deu ordem para que o sol parasse e não a terra.”
O reformador João Calvino declarou:
“Quem arriscará a colocar a autoridade de Copérnico acima da
do Espírito Santo?”
Mas Galileu não via contradição entre a ciência e a fé na
Bíblia. Ele explicou que Deus, em Sua palavra, Se detém à verdade espiritual e
geralmente deixa intato qualquer conceito errado sobre a ciência.
O antigo Josué imaginou que o Sol se movia pelo céu, por
isso a Bíblia registra assim embora, na verdade, a Terra é que gira em torno do
Sol.
Ninguém, no século 17, poderia refutar as conclusões de
Galileu, mas os líderes cristãos o denunciaram como herege. O Papa Urbano II o
intimou diante dos horrores da Inquisição.
Estava em jogo a reivindicação de Roma ao controle da consciência pessoal, como os únicos intérpretes da Bíblia. E como a Igreja já tinha condenado o ponto de vista de Copérnico como “falso e oposto às Sagradas Escrituras”, Galileu teve que desacreditar o seu telescópio ou enfrentar a morte. Ele preferiu retratar-se para não ser queimado na estaca. A igreja sentenciou o humilhado cientista à prisão perpétua por “veemente suspeita de heresia”, pelo crime de ensinar aquilo que o mundo inteiro sabe hoje.
No ano anterior ao nascimento de Galileu, Roma havia
decidido agir contra aqueles que desafiassem sua autoridade. A igreja vinha
sofrendo enormes perdas para os protestantes. Por volta de 1540 toda a
Escandinávia havia se tornado protestante juntamente com o norte da Alemanha e
vastos territórios em toda a Europa. Alguma coisa tinha que ser feita para pôr
fim nessa debandada de Roma.
Os reformadores estavam exigindo que o Papa convocasse um
concílio para discutir suas idéias. Muitos líderes da igreja concordaram,
embora não pela mesma razão. Eles queriam que Roma reforçasse sua autoridade e
unisse os católicos para esmagar a Reforma. Durante anos o Papa Paulo III
hesitou. Mas, finalmente, em 1545, ele convocou os líderes da Igreja na cidade
de Trento, ao norte da Itália.
O concílio de Trento continuou com os debates por 18 anos,
concluindo finalmente em 1563. Ele marcou o ponto de virada na História,
trazendo nova vida para a velha Igreja. Muito do que vemos no Catolicismo veio
de Trento.
O concílio corrigiu alguns problemas, mas recusou-se a
reformar seus ensinamentos. Os líderes da Igreja reafirmaram seu credo e
tomaram a ofensiva, lançando o que ficou conhecido como a contra-reforma.
Através de manipulação política, de forças militares e da
Inquisição, Roma reconquistou grandes territórios perdidos para os
protestantes.
Bem, os jesuítas foram as grandes estrelas da
contra-reforma. Essa nova ordem do clero foi treinada vigorosamente para virar
a maré contra a Reforma. Dois de seus destacados estudiosos, Luís de Alcazar e
Francisco Ribera defenderam a mais séria acusação levantada pelos protestantes:
a igreja de Roma havia se tornado o anticristo.
Na verdade, poucos estudiosos na Idade Média ensinaram que a
Igreja, através de seu abuso da fé cristã, havia feito de si mesma o
anticristo. Todos os grandes reformadores partilhavam das convicções e
conclusões de Lutero: John Knox, da Escócia, o rei James I (que comissionou a
versão King James da Bíblia em inglês), e o famoso cientista e estudante da
Bíblia, sir Isaac Newton.
Vários homens, em diferentes épocas, chegaram à mesma
conclusão. Agora, muitos cristãos estão curiosos para saber o que convenceu os
reformadores sobre o anticristo. Estavam todos enganados? Ou eles descobriram
alguma coisa que não vimos?
O estudioso jesuíta Luís de Alcazar afirmou que as profecias
relativas ao anticristo tinham sido cumpridas no passado com a Roma pagã, antes
da época dos papas. Sua posição tornou-se conhecida como Preterismo.
Ribera, o pai do Futurismo, ensinou o oposto. Ele disse que
o anticristo seria um inimigo futuro do cristianismo. De qualquer modo, se o
anticristo aconteceu ou não, os jesuítas haviam alcançado o seu propósito.
Haviam conseguido aliviar a pressão do pontífice.
Como foi que Ribera conseguiu colocar no futuro as profecias
relativas ao anticristo? Através de sua ótima manipulação da profecia de Daniel
9, que predisse o ano da morte de Cristo.
Ribera retirou o âmago de Daniel 9, colocando Cristo com o
anticristo. Veja como ele fez. Daniel havia predito o que o Messias faria
durante 70 semanas: “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e na
metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta…” Daniel 9:27.
Tudo isso aconteceu quando Jesus morreu e o véu do templo se
rasgou, simbolizando o fim dos sacrifícios com animais. Mas Ribera negou a obra
de Cristo na confirmação do concerto. Ele disse que o anticristo cumpriria
Daniel 9 no futuro. Ribera não tinha autoridade das Escrituras para aplicar
essa profecia ao anticristo. Em primeiro lugar, Daniel 9 obviamente envolve a
salvação vicária de Cristo na cruz. Em segundo, aquele que faz o concerto lá o
confirma. Não há pausa como os futuristas afirmam que o anticristo fará.
Finalmente, em parte alguma da profecia, encontramos o anticristo fazendo um
concerto com alguém. A ardilosa interpretação de Ribera sobre Daniel 9 chega
até nós como a “teoria da lacuna”. Ele separou a septuagésima semana do resto
da profecia por uma lacuna de muitos séculos no futuro. Mas o texto de modo
algum fala de uma pausa ou lacuna entre a sexagésima nona e a septuagésima semana
de Daniel 9.
Finalmente, Roma encontrou uma resposta para a acusação
protestante de que a Igreja havia se tornado o anticristo. Não é de admirar que
os católicos em toda parte se juntaram ao redor da tese jesuíta. O Futurismo de
Ribera se tornou bastante popular. Seu brilhante discípulo, o cardeal Roberto
Bellarmine, é o autor de Controvérsias, uma obra de três volumes que se opõe à
Reforma. Bellarmine ganhou fama como “o maior adversário das igrejas
protestantes”.
Como seria de se esperar, os protestantes rejeitaram o
futurismo católico romano. Entre 1639 até o final do século 17, todos os 25
proeminentes escritores da Reforma se referiram ao anticristo como o papado.
Eles também acreditavam que Cristo havia cumprido as 70 semanas de Daniel.
Porém, de modo curioso e incrível, os protestantes nos últimos dois séculos têm
abandonado a fé profética dos reformadores, adotando o futurismo dos jesuítas.
De todos os incríveis fatos na história da Igreja, nada supera esse.
George Eldon Ladd, um respeitado estudioso de nossa era,
documenta em seu livro A Abençoada Esperança, publicado por Eardmans:
“Será provavelmente um choque para muitos futuristas
modernos descobrirem que o primeiro pesquisador de uma relativa era moderna,
que retornou à interpretação futurista patrística, era um Jesuíta espanhol
chamado Ribera. Em 1590, Ribera publicou um comentário sobre o Apocalipse como
uma contra-interpretação à visão predominante entre os protestantes à qual
identificava o Papado com o Anticristo. Com exceção dos capítulos iniciais,
Ribera relacionou todo o Apocalipse mais ao tempo do fim do que à história da
igreja. O Anticristo seria um indivíduo perverso que seria recebido pelos
judeus e reconstruiria Jerusalém, aboliria o Cristianismo, negaria a Cristo,
perseguiria a igreja e reinaria sobre o mundo por três anos e meio.” – A
Abençoada Esperança, George Eldon Ladd.
Os ensinamentos católicos sobre o anticristo encontraram
guarida no mundo protestante. Não há dúvida quanto a isso. As igrejas da
Reforma mudaram drasticamente suas crenças proféticas. Como isso aconteceu?
Tudo começou no século 19, nas Ilhas Britânicas. Edward
Irving, um pastor da igreja da Escócia, tornou-se interessado na segunda vinda
de Cristo e fundou a Sociedade Para a Investigação da Profecia. Infelizmente,
ele aceitou o futurismo de Ribera e até traduziu um livro escrito por um
missionário jesuíta espanhol.
Irving pregou com grande sucesso, cativou o interesse da
alta sociedade de Londres e pregou uma vez ao ar livre para 12 mil pessoas na
Escócia.
Numa manhã de domingo, em 183l, uma mulher falando em
línguas, interrompeu o sermão de Irving. Experiências incomuns de cura pela fé
se seguiram. Irving achou que tudo aquilo podia ser obra do Espírito Santo. E
tornou-se mais envolvido na questionável doutrina antes que membros
descontentes o acusassem de heresia e votassem sua saída do púlpito.
Edward Irving morreu muito magoado aos quarenta e poucos
anos. Entretanto, sua influência permaneceu.
Através de Irving, o irlandês anglicano John Nelson Darby
adotou o futurismo de Ribera.
Esse jovem sincero começou a viajar pela Europa e cruzou o
Atlântico até os Estados Unidos, espalhando sua crença por toda parte. Quando
morreu, em 1882, Darby já tinha perto de 100 grupos de estudo somente na
América dedicados às suas ideias.
Após a morte de Darby, a tocha do futurismo passou para C.I.
Scofield, compilador das notas de estudo da Referência Bíblica de Scofield.
Publicada inicialmente em 1909, a bíblia de Scofield
continua bastante popular hoje. E, desde 1970, o “best-seller” de Hal Lindsey,
A Agonia do Planeta Terra, tem persuadido milhões de protestantes a crerem no
ensinamento futurístico sobre o anticristo. Tratava-se de um ensinamento
diversionário da Igreja de Roma incrivelmente aceito pelo mundo protestante!
Com toda essa confusão sobre a profecia bíblica, será que fomos forçados a um
encontro inesperado com o anticristo no Armagedom? Podemos apreciar o renovado
interesse atual na profecia bíblica e na segunda vinda de Jesus, mas qualquer
um que entende a Reforma deve estar preocupado que podemos ter perdido a
herança profética. A contra-reforma católica ganhou mais terreno do que
Francisco Ribera podia ter imaginado. A Igreja não precisava mais combater a
acusação dos reformadores de que o papado era o anticristo. Roma permanece
segura agora que os protestantes conservadores estão ensinando o futurismo
católico.
Que incrível mudança de eventos, não concorda? Não estamos
vulneráveis agora às falsas teorias sobre o anticristo? Alguém perguntará: “Que
diferença isso faz, uma vez que somos cristãos sinceros?” Mas se somos
realmente sinceros, levaremos a profecia a sério quando ela nos alertar sobre a
mentira, não acha?
Nos dias de Cristo, a ignorância das profecias bíblicas
levou muitos a rejeitarem Jesus. Eles esperavam um Messias que iria expulsar o
exército de ocupação romano. Quando Jesus apenas curou os enfermos e
ressuscitou os mortos, eles não O acharam qualificado! Até o fiel João Batista
ficou confuso. Ele mandou dois mensageiros até Jesus com a pergunta: “És tu
aquele que havia de vir, ou esperamos outro”? Mateus 11:3.
Essas dúvidas e enganos confundiram toda a nação. A
controvérsia teve o clímax durante os últimos meses da vida de Cristo. E em
João 7 encontramos Jesus assistindo à festa dos Tabernáculos em Jerusalém. “E
havia grande murmuração entre a multidão a respeito dele. Diziam alguns: Ele é
bom; e outros diziam: não, antes engana o povo”. João 7:12.
O debate sobre Jesus ia de um lado para o outro. Mais uma
vez, um conceito popular errado da profecia bíblica levou os ouvintes de Cristo
a duvidarem de sua identidade. João 7:27 diz: “Bem sabemos donde este é; mas,
quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele é”.
Muitos criam que o Messias apareceria súbita e
misteriosamente, como por encanto. Quanto a Jesus, Ele estava por ali há algum
tempo e por isso não podia ser o Messias, pensaram. Sua total ignorância da
profecia fez com que eles descartassem o Salvador.
Muitos nos dias de Cristo não se preocuparam em estudar a
Bíblia por si mesmos; o que importava a eles era: “Creu nele porventura algum
dos principais ou dos fariseus”? João 7:48.
Em outras palavras, “alguém famoso crê? Eu não vou seguir a
verdade até que algum líder religioso importante siga na frente”. Nós ainda
ouvimos pessoas dizendo o mesmo hoje? Bem, você conhece a triste história
daquela época. Jesus não atendeu às expectativas de Israel, de modo que eles
não O aceitaram. Tudo por causa da indisposição de investigar as profecias com
o coração aberto. Corremos o mesmo perigo hoje? O alerta de Paulo sobre o
anticristo é: “Ninguém de maneira alguma vos engane”. II Tessalonicenses 2:3.
Estamos sendo instados a vasculhar o horizonte em busca de
algum anticristo futuro, quando todo o tempo ele tem surgido em nosso próprio
quintal? É algo para pensarmos com todo cuidado. O povo de Deus não reconheceu
a Cristo quando Ele veio porque esperava um tipo diferente de Messias do que a
profecia bíblica de fato predisse. Talvez, em nossos dias, não iremos
identificar o anticristo por causa da confusão similar da profecia. Alguns
cristãos, sem saber, até cooperarão com o anticristo em suas mentiras. Que
cenário para o Armagedon!
Seja qual for a tribulação que enfrentaremos no futuro,
graças a Deus, podemos achar segurança no Senhor Jesus Cristo e em Sua verdade.
Charles Glass, veterano jornalista americano, entrou no sul
de Beirute para investigar uma história. De repente, dois carros bloquearam seu
caminho. Quando ele se apercebeu, terroristas o fizeram cativo. Então,
seguiram-se dois meses de sofrimento e solidão, pontuados por muito terror. Uma
noite, ele ouviu os guardas roncando. Aquela era sua oportunidade. Descendo
pela janela até um terraço, ele conseguiu escapar. Por volta de duas da manhã,
entrou pelo saguão do hotel Summerland e gritou: “Sou Charles Glass. Preciso de
um lugar para me esconder.” O refúgio foi concedido e, em pouco tempo, ele
estava de volta em segurança nos braços de sua família.
À medida que este mundo corre para sua crise final, também
precisamos de um lugar para nos refugiarmos. Precisamos dos poderosos braços de
Deus para nos abrigar em Seus cuidados. Abra seu coração a Ele agora mesmo e
diga: “preciso de um lugar para me esconder”.
Pr. George Vanderman
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