1 de agosto de 2010

OS SETE REIS DE APOCALIPSE 17

“Aqui está a mente que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada; são também sete reis: cinco já caíram; um existe; e o outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo.”
De há uns anos a esta parte tem-se espalhado, cada vez mais, a noção de que estes sete reis mencionados neste capítulo do livro de Apocalipse correspondem literalmente a sete papas que exerceram o seu pofificado desde 1929, altura em que se assinou o Tratado de Latrão, que restituiu ao Vaticano a soberania que este tinha perdido em 1798.
Leia o artigo completo, escrito pelo Pr. Paulo Cordeiro: ENTRE

19 de julho de 2010

OS JUDEUS NA FORNALHA: O MILAGRE - 3

O milagre não se produz graças a poderes técnicos ou mágicos da parte dos homens, mas pela a ação de Deus. Estamos fora de toda a feitiçaria, qualquer farsa da magia ou do ilusionismo. Há um quarto personagem, um quarto, para que o milagre seja possível. É do exterior que a salvação vem, e não deles mesmos. É a primeira lição a retirar da presença de Deus: homem, por muito justo que seja, não pode se salvar a ele mesmo. A salvação do homem torna necessária a intervenção de Deus que não fica acantonado no céu, indiferente. Ele ama, Deus desloca-se e vem ao encontro deste três servos fiéis. Para salvar do fogo, Ele próprio deve passar pelo fogo. O Deus de amor torna-se companheiro do homem perdido, “vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo.” (Dan. 3:25). Mas aqui não para a obra de Deus. deus salva. Os três hebreus saem da fornalha ardente (v.26).
Imediatamente, a multidão junta-se à volta deles. Todos lhes querem tocar, todos querem provas. “E os sátrapas, os prefeitos, os governadores, e os conselheiros do rei, estando reunidos, viram que o fogo não tinha tido poder algum sobre os corpos destes homens, nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem sofreram mudança os seus mantos, nem sobre eles tinha passado o cheiro de fogo.” (Dan. 3:27). Da cabeça aos pés, eles estão perfeitamente indemnes. O Deus dos hebreus não só veio para lhes trazer algum conforto, ou assegurar-lhes da Sua simpatia. Ele também os salva do fogo.
O Deus da Bíblia é antes de tudo o Deus que salva, e não o Deus da experiencia mística, sentimental, ou mesmo intelectual. A religião não se limita a impressões ou a opiniões. dos sátrapas aos conselheiros do rei, todos compreendem que o Deus dos hebreus é o Deus que não só desce e se aproxima do homem, mas ainda é o único Deus que tem poder sobre a morte. Deus define-se como o Deus Criador. A relação é feita de forma directa pelo profeta Isaías:
“1 Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.
2 Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” (Isaías 43)
Só o Criador pode salvar do fogo, só o Criador pode transformar a morte em vida. Os três hebreus estão estupefactos, eles não dizem uma única palavra. Estão surpreendidos. Mas ao mesmo tempo o silêncio deles faz que as ultimas palavras que eles dirigiram ao rei retorne como um eco: “Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei: Ó Nabucodonozor, não necessitamos de te responder sobre este negócio.” (Dan. 3:16). A resposta já tinha sido dada, de forma concreta, física, viva, diante do rei. Eles não tem mais necessidade de falar, o fato de estar ali de pé testemunha do seu Deus e da sua fé, constitui por si só argumento por excelência. Seria de esperar nesta ocasião a um grande discurso da parte dos hebreus; ocasião de vitória era oportuna para dar a Nabucodonosor e a todos os chefes caldeus um forte sermão, eles mereciam-no. Ora não há discurso. Os três hebreus estão em silêncio.
Que lição para os amadores do testemunho sempre prontos a falar, a pregar e a envaidecerem-se do que Deus fez por eles! O exemplo dos judeus lembra que a presença silenciosa fala por vezes mais alto que o mais belo discurso. Porque a experiência autêntica vive-se sem palavras. Verdadeiramente salvos, eles não têm mais nada para dizer – a sua presença fora da fornalha o confirma. Em matéria de salvação e de verdade, quando o essencial está em causa, falar de mais pode tornar-se suspeito. O ruído e a multiplicação de palavras podem trair o poder que Deus manifestou e até levar a alguma suspeita dos ouvintes. É como se quiséssemos convencer de uma verdade que ainda não foi compreendida, como se quiséssemos encher a angústia com o vazio, tal como o fazem hoje em dia os profissionais da palavra. Pratica-se o bem falar e agrada muito falar, porque há pouco a dizer. A presença de Deus faz-se sentir no silêncio!

14 de julho de 2010

OS TRÊS JUDEUS NA FORNALHA - 2

Como vínhamos dizendo Nabucodonosor dá-lhes a possibilidade de se defenderem, ele argumenta, ameaça. Mas não faz mais que isso. O texto bíblico diz-nos que os hebreus recusam em responder. “Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei: Ó Nabucodonozor, não necessitamos de te responder sobre este negócio.” (Dan. 3:16). O termo em aramaico para “responder” significa igualmente “defender-se”. Os hebreus opõem à agressão do rei uma atitude de não-violência que deixa o rei atordoado ou espantado e totalmente sem resposta. A religião de Babel assente sobre o presente e consequentemente legalista, formalista e violenta, os hebreus opõem uma religião assente sobre o futuro e consequentemente livre, desinteressada e não-violenta.
De repente, Nabucodonosor perde o controle de si mesmo. O texto diz que “Então Nabucodonozor se encheu de raiva, e se lhe mudou o aspecto do semblante contra Sadraque, Mesaque e Abednego; e deu ordem para que a fornalha se aquecesse sete vezes mais do que se costumava aquecer.” (Dan. 3:19). Face à tranquilidade e confiança dos hebreus, o rei reage pela cólera e a violência. Ele ordena que aumentem de intensidade o calor na fornalha “sete vezes mais” (v. 19), a expressão idiomática indica que a temperatura foi elevada ao máximo (cf. Prov. 24:16; 26:16) – como se o normal não fosse o suficiente para os queimar. Os hebreus são lançados tal como estavam com os seus vestidos, antes de terem o tempo de mudar de opinião ou de se preparar psicologicamente.
Toda esta precipitação, vai custar a vida dos seus carrascos (v. 22), mostra a que ponto o rei está fora de si, mas evidencia também o sinal do seu desespero e da sua angustia. Qualquer coisa lhe escapa e Nabucodonosor está com medo. Ele é o primeiro a reparar no inacreditável e o primeiro a reagir. Olhando para dentro do forno onde caíram três homens “...estes três, Sadraque, Mesaque e Abednego, caíram atados dentro da fornalha de fogo ardente.” (v. 23) “atado dentro da fornalha de fogo ardente”; Nabucodonosor vê “...quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nenhum dano sofrem; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.” (v. 25). Não só os três hebreus estão ilesos e livres – eles “e nenhum dano sofrem” – mas eles andam no meio do fogo. Com humor, o texto descreve os três hebreus descontraídos e a passear na fornalha; e os seus passos são seguidos pelos funcionários temerosos perante este milagre do único Deus que é indiferente ao poder dos homens.
Um quarto personagem se junta aos três homens dentro da fornalha. Nabucodonosor começa a relacionar que o milagre que presenciou dentro da fornalha terá algo a ver com este personagem estranho e desconhecido. Intrigado, espera durante alguns momentos para observar a aparência do “quarto homem” que “é semelhante a um filho dos deuses” (v. 25). Nabucodonosor conclui que este personagem só pode ser de natureza divina. A expressão que ele utiliza, “filho dos deuses”, para o designar revela bem o que ele pensa. Nas línguas semitas o termo “filho”, em relação com uma palavra torna o termo de natureza idiomática no sentido de dar qualidade ou superioridade. Assim “filho de vinte anos” significa com a idade de vinte anos (Êxodo 30:14); “filho do homem” significa a natureza humana (Jeremias 49:18); “filho de boi” significa que é de natureza bovina (Números 15:8); “filho da morte” significa de natureza mortal (1ª Samuel 2:31), etc. De forma significativa a Septuaginta traduz este texto (Dan. 3:25) por “anjo de Deus”, expressão que voltamos a encontrar no verso 26. ora o anjo de Deus tem na Bíblia hebraica (A.T.) como o mandatário de Deus e como alguém que é identificado com o próprio Deus (ver Génesis 16:10-13; 21:17; 22:15,16; Oseias 12:4; cf. Génesis 32:28, etc.). nesta perspectiva, Nabucodonosor não tem dúvidas. Ele chama os três hebreus e convida-os a sair. Isto fazendo, ele reconhece a sua derrota. Ele admite que eles estão ali, e que eles estão em condições de saírem pelos seus próprios meios. Humilhado, o rei reconhece que este assunto não se trata exclusivamente ao nível humano, mas está bem acima, com o próprio Deus, o Deus que está fora das coisas vulgares. Nabucodonosor não consegue impedir a recordação do seu sonho (Dan. 2) de outrora: é o mesmo Deus. a expressão que ele utiliza para O designar”: Então chegando-se Nabucodonozor à porta da fornalha de fogo ardente, falou, dizendo: Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Logo Sadraque, Mesaque e Abednego saíram do meio do fogo.” Daniel 3:26, lembrando a sua confissão de então “Deus Altíssimo”, ou “Deus dos deuses” (2:47).

12 de julho de 2010

OS TRÊS JUDEUS NA FORNALHA - 1

“Então Nabucodonozor, na sua ira e fúria, mandou chamar Sadraque, Mesaque e Abednego. Logo estes homens foram trazidos perante o rei. Falou Nabucodonozor, e lhes disse: E verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abednego, que vós não servis a meus deuses nem adorais a estátua de ouro que levantei?” Daniel 3:13,14.
Apesar de só três judeus serem acusados pelos caldeus, o rei hesita. Ele não dá ordem imediata de executar os culpados. Ele sabia que estes três hebreus trabalhavam há já alguns anos no palácio sob as suas ordens, e quer dar-lhes uma oportunidade de explicarem o que aconteceu e de se retratarem. Era este o propósito do rei ao convocá-los e colocar-lhe a seguinte pergunta: “É verdades...que vós...” (v.14). Ou seja: será possível que o tenhais feito deliberadamente? Talvez eles não tenham compreendido a ordem do rei e o que isso representava. O rei repete palavra a palavra a ordem de adoração: “Agora, pois, se estais prontos, quando ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, para vos prostrardes e adorardes a estátua que fiz, bom é; mas, se não a adorardes, sereis lançados, na mesma hora, dentro duma fornalha de fogo ardente; e quem é esse deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Dan. 3:15) nesta confrontação sobressaem duas mentalidades religiosas irreconciliáveis:
a) A religião de Nabucodonosor, tal como a de todos os caldeus, é uma religião do imediato: “estais prontos, quando ouvirdes...”, “para vos prostrardes...”, “se não a adorardes, sereis lançados, na mesma hora,” (v:15). Para o rei e para os caldeus só o presente contava, não tem uma perspectiva do futuro “e quem é esse deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (v.15)
b) Para os judeus, a religião está ligada ao futuro. “Eis que o nosso Deus a quem nós servimos pode nos livrar da fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará da tua mão, ó rei.” (Dan. 3:17). Os judeus vão mais longe do que o “se não” (v.15) ameaçador do rei, ao responder: “Mas se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.” (Dan. 3:18). Este “se não” introduz o risco da fé, e projecta-se mais longe que um futuro próximo ou imediato. É a mesma expressão aramaica hen la (se) (...)não, ou senão que é utilizado. Os contrastes entre os dois conceitos de religião são aqui flagrantes. Tal atitude ultrapassa a compreensão do rei que realiza de repente que os hebreus estão para além do seu poder. Ao argumento do imediato eles respondem com a esperança do futuro. Ao argumento do fracasso, eles respondem pelo serviço desinteressado.
Aqui reside toda a diferença entre a idolatria e a religião de Israel. A idolatria é uma religião que se constrói a partir de baixo, religião ao nível do homem e à sua imagem, religião de ídolo-objecto sem vida que pode ser manipulada como um instrumento de bênção ou maldição. A religião de Israel, ao contrário, é uma revelação que se dá a partir do Alto, religião de um Deus vivo com O qual se constrói uma relação pessoal feita de amor mas também de interrogações. Eis a razão, mesmo si este Deus não salva da situação difícil, mesmo se Ele não abençoa, o Hebreu continua a permanecer-Lhe fiel e a dar-Lhe a sua adoração, apesar de tudo.

1 de julho de 2010

OS CALDEUS ACUSAM OS JUDEUS (Sadraque, Mesaque e Abednego).

“Ora, nesse tempo se chegaram alguns homens caldeus, e acusaram os judeus. E disseram ao rei Nabucodonozor: Ó rei, vive eternamente. Tu, ó rei, fizeste um decreto, pelo qual todo homem que ouvisse o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, se prostraria e adoraria a estátua de ouro; e qualquer que não se prostrasse e adorasse seria lançado numa fornalha de fogo ardente. Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abednego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; os teus deuses não servem, nem adoram a estátua de ouro que levantaste.” Daniel 3:8-12.
Uma vez mais, tal como no capítulo 1º capítulo, os hebreus distinguem-se pelo seu comportamento de contra corrente. O texto não especifica onde eles são e nem o que eles fazem para marcar a sua resistência. Ou eles ficaram nas suas casas e portanto são os únicos ausentes em Dura, ou então, estão presentes e colocam-se em destaque pelo facto de não se colocarem de joelhos como todos os outros. Eles são únicos na multidão. O capítulo só realça os três hebreus. Nada é dito a propósito de Daniel e dos outros hebreus. É muito provável que o número dos resistentes não se limita a estes três: Sadraque, Mesaque e Abednego.
O texto faz uma pequena referência “se chegaram alguns homens caldeus, e acusaram os judeus.” (Dan. 3:8,12). Uma evidência dos caldeus se centrarem nestes três homens é por estes terem recentemente sido nomeados administradores de Babilónia. Esta escolha, os caldeus nativos da região e pretendendo para eles tal privilégio não suportaram de bom grado. Por detrás do seu zelo religioso e administrativo esconde-se a inveja mórbida. O seu fervor psedo-religioso não é de inspiração pelo cuidado sincero de manter o culto e a adoração ao seu deus. Trata-se de uma ambição desmesurada que os anima.
Tal evidência releva dos três argumentos que apresenta e que se centram no rei e não no deus. “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abednego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem adoram a estátua de ouro que levantaste.” (Dan. 3:12). O seu comportamento é mais de carácter politico do que religioso. O que lhes interessa não é tanto o facto de eles não se curvarem diante da estátua mas o de pôr em causa a estes judeus e aceder deste modo aos lugares que lhes foram atribuídos.
A expressão aramaica utilizada para traduzir a acusação é em si mesmo sugestiva: “comer os judeus” (v.8). A calúnia tem semelhanças com o canibalismo. Indo relatar ao rei as fraquezas dos colegas, deseja-se colocar em perigo a sua situação, o seu ganha-pão e mesmo a sua vida. Todos estes conceitos levam a supor o desejo de devorar.
Está escondido numa aparência de zelo da parte dos delatores um perfil assassino que visa nem mais nem menos que a morte do rival, o complô tem este objectivo. É a lição que se colhe desta passagem e da leitura deste texto.
No que diz respeito a Daniel, um dos governadores, um “sátrapa”, é superior a eles na ordem hierárquica, e por consequência fora do alcance destes espias. A sua alta posição o excluía de ser posta em causa a sua integridade. O complô estava montado por “alguns homens caldeus” (v. 8). Os sátrapas não estão implicados nesta traição.
Por outro lado, é bem possível que por esta altura as responsabilidades de Daniel o tenham levado para longe deste lugar. Nas últimas palavras do capítulo 2, somos alertados que “Daniel permaneceu na corte do rei.” (2:49). Esta é uma expressão que nos dá ideia das altas responsabilidades desempenhadas por Daniel (ver Deuteronómio 16:2; Rute 4:12; Ester 3:2), a tradição judaica conserva a interpretação que esta linguagem significa que Daniel poderia estar em qualquer parte do império em representação do próprio rei. No contexto percebe-se que esta frase é idiomática no Talmud para designar um escravo que está longe do seu mestre (Erubin 72ª).
Daniel estava fora do alcance deles pela sua posição administrativa, mas também em termos geográficos. Por aquilo que possa representar todos os outros hebreus, os caldeus preferiram nada dizer. Se um grande numero fosse envolvido, o rei teria muito provavelmente desvalorizado a situação. Portanto, a melhor táctica para conseguir os seus fins era de manter alguma modéstia. Assim os caldeus centraram-se nestes três hebreus, até porque eram os únicos colegas directos e por consequência os únicos que verdadeiramente lhes interessava. Limitando-se a estes três, os caldeus asseguravam a eficácia do seu plano.
“A maior batalha que se trava contra o mal só é vencida por aqueles que se exercitam na disciplina moral e se acastelam em um caráter bem formado.” Jean de la La Bruyère.

23 de junho de 2010

NABUCODONOSOR CONVOCA OS GOVERNADORES PARA A DEDICAÇÃO DA ESTÁTUA.

“Então o rei Nabucodonozor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os magistrados, e todos os oficiais das províncias, para que viessem à dedicação da estátua que ele fizera levantar. Então se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os magistrados, e todos os oficiais das províncias, para a dedicação da estátua que o rei Nabucodonozor fizera levantar; e estavam todos em pé diante da imagem. Logo que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, prostrar-vos-eis, e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonozor tem levantado. Portanto, no mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, e de toda a sorte de música, se prostraram todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonozor tinha levantado. “ Daniel 3:2-3,5,7.

Este é um longo parágrafo, com um sentido satírico e cheio de repetições intencionais: o objectivo é realçar o carácter mecânico da adoração. A música joga um papel de grande importância, é notável o número de instrumentos musicais, “toda a sorte de música”, estão aqui para provocar um certo efeito. Três instrumentos de sopro em harmonia com três instrumentos de cordas, tudo com um sentido de organização para uma grande cerimónia.
Esta insistência que surge no texto sobre a minuciosa organização deixa perceber a falta de conteúdo espiritual, a cerimónia está centrada na forma e não no conteúdo, na aparência em vez da substancia, no ritual em vez do culto.
É uma cerimónia burocrática ou política, os que estão no poder estão mais preocupados com a estrutura, os regulamentos, com isso disfarçam a adoração e a fé genuína. O formalismo da religião de Babel procura substituir o vazio espiritual. Portanto, compreende-se a importância dada à música neste contexto. Pelo menos, a emoção produzida pelos instrumentos musicais provoca a ilusão do sentimento religioso.
Os sábios babilócos tinham a arte de manipular e impressionar os fiéis e exorcizar o divino, sabiam suscitar a experiência superficial e mística. Não é por acaso que a musica está tão associada ao uso das drogas e das práticas de mutilação destinadas a provocar o êxtase, sinal de união com um deus. Tudo se situa essencialmente no plano dos sentimentos e do sistema nervoso. O sucesso estava deste modo garantido, imediato e fácil.
Ainda hoje, e talvez mais que nunca graças à eficácia dos nossos “meios de comunicação”, podemos perceber a importância que a música tem sobre as massas. Multidões reúnem-se à volta de músicos e de cantores, que se tornaram os grandes sedutores e manipuladores do nosso tempo. Por um instante, não se pensa em nada, tudo é esquecido, tomados pelo encanto da música. As palavras e a inteligência da mensagem não são necessárias para convencer. O fenómeno é tão comum que invadiu as igrejas. Em reação à racionalidade cerebral dos cultos tradicionais, certos cultos chamados “celebrações” introduziram orquestras e, ao ritmo de instrumentos de “toda a sorte de música”, os fiéis são levados ao êxtase num frenético entusiasmo por vezes atingindo o delírio. Deixa-se de pensar, e as mensagens são reduzidas à mais simples expressão.
Este episódio do livro de Daniel coloca um aviso contra os extremismos, que consistem a viver a religião essencialmente como uma excitação do momento.
A emoção faz parte da experiencia religiosa, mas ela deve ser autêntica e profunda, conjugar-se com a inteligência e o pensamento. O ser na sua totalidade deve estar implicado na adoração, se não queremos correr o risco de nos encontrarmos no meio de uma multidão prostrada diante de qualquer ídolo. Da mesma maneira, na planície de Dura (Dan. 3:1), os pregadores de Babel não tiveram escrúpulos de usar toda a sorte de meios para provocar a “adoração”. A religião é aqui vivida no imediato. Esta dimensão toma nos nossos dias um cunho de grande actualidade.
“Logo que ouvirdes...prostrar-vos-eis, e adorareis” (v. 5). Tomados pela emoção provocada pela música e levados pelo movimento da multidão, caíram de joelhos sem pensar por simples reflexo.
O fogo está aceso, não muito longe, como uma ameaça imediata. Este costume que consistia a lançar ao fogo os recalcitrantes era muito antigo e frequente no Médio Oriente. Confirmado em Larsa, no sul de Babilónia, desde o século XVII a.C., era uma pena prevista pelo código de Hamurabi (25 e 110 O Código de Hamurabi (foto) é um dos mais antigos conjuntos de leis escritas já encontrados, e um dos exemplos mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Segundo os cálculos, estima-se que tenha sido elaborado pelo rei Hamurabi por volta de 1700 a.C.. Foi encontrado por uma expedição francesa em 1901 na região da antiga Mesopotâmia correspondente a cidade de Susa, atual Irã. http://pt.wikipedia.org/wiki/Código_de_Hamurabi). Alguns anos antes, dois falsos profetas, Zedequias e Acabe, tinham sofrido a mesma condenação por ordem de Nabucodozor. Esta morte pelo fogo tinha de tal modo marcado os espíritos dos israelitas que Jeremias fez a seguinte formulação sobre  esta maldição (Jeremias 29:21,22).
Este tipo de fornalhas fazia parte integrante da paisagem da região, elas serviam também ao fabrico de tijolos. As descobertas arqueológicas revelaram vários destes fornos nos arredores de Babilónia. De resto, a construção da Torre de Babel está indirectamente associada a este fogo (Génesis 11:3). É muito razoável pensar que um destes fornos estaria perto da estátua de ouro. Segundo Diodoro da Sicília, os Cartagineses tinham levantado uma estátua em bronze ao seu deus sobre um forno subterrâneo e no qual eram lançadas crianças vivas.
Ou seja, para o povo era algo de normal, tal como o era a sentença imediata para quem não obedecesse. Esta dimensão está presente e é revelada: “E qualquer que não se prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro duma fornalha de fogo ardente.” (Daniel 3:6). Aterrados pela ameaça tão próxima da fornalha, havia um e só pensamento no momento, e por instinto de conservação obedecia-se.
Intolerante e violenta, totalitária e mecânica, a religião de Babel é essencialmente uma religião do presente. Em todo o caso, é uma religião eficaz, porque todos agem como previsto. O programa funciona perfeitamente. Todos, excepto alguns. Assim funcionou naquele tempo de Daniel, assim funcionou durante a Idade Escura, assim voltará a funcionar.

13 de junho de 2010

NABUCODONOSOR MANDA FAZER UMA ESTÁTUA DE OURO

Já pensou porque razão Nabucodonozor mandou construir uma estátua de ouro? Esta você não tinha pensado! Tem que ler para compreender.
Mais uma história sobre uma estátua. Mas desta vez não se trata de um sonho transmitido a Nabucodonosor. É um sonho acariciado por Nabucodonosor. O rei percebeu no sonho da estátua que não iria mais longe da representação da cabeça de ouro. Nabucodonosor decide exorcizar a história. Ele manda construir uma estátua – figura de um homem – à semelhança daquela do sonho, o termo çelem usado para estátua e que deveria fazer com ele lembrasse os seus limites “O rei Nabucodonozor fez uma estátua de ouro, a altura da qual era de sessenta côvados, e a sua largura de seis côvados; levantou-a no campo de Dura, na província de Babilónia.” (Daniel 3:1; cf. 2:13); ele manda reproduzir a estátua que ele teve e que lhe foi revelada por Daniel, agora, ele manda-a fazer toda em ouro, como para amaldiçoar o oráculo.
Ele quer um reino que vá da cabeça aos pés, até ao fim. De facto ele quer ir mais longe. Encontramos um jogo de palavras entre o capítulo 2 e o 3, o texto sugere que Nabucodonosor quer não só cobrir todo o tempo da estátua, mas ele quer igualmente um reino da mesma natureza que o reino suscitado por Deus e representado no capítulo 2 pela pedra: um reino eterno.
De uma maneira significativa no texto aramaico, a mesma palavra heqim (Dan. 2:44) que descreve o estabelecimento do reino de Deus (aqui traduzida por “suscitar”) aparece no capítulo 3 uma palavra-chave que ressoa como um refrão – ela aparece oito vezes (Dan. 3:5,7,12,14,18) – para descrever o estabelecimento da estátua (aqui traduzida por “erigir”, “elevar”). O reino de Nabucodonosor pretende substituir o reino de Deus.

8 de junho de 2010

A ESTRUTURA DO CAPITULO 3 DE DANIEL

A. A vitória de Nabucodonosor (vv. 1-7)
* O rei manda construir uma estátua na Província de Babilónia.

B. A calúnia dos Caldeus (vv. 8-12)
* Decrete contra os Hebreus (vv. 8-12)
* Acusação: “estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti,” (v.12)

C. A prova do fogo (vv. 13-27)
* Diálgo Rei-Hebreus
* Hebreus lançados na fornalha ardente
* Diálogo rei-Hebreus
* Hebreus salvos do fogo

B1. A vingança (vv. 28,29)
• Bênçãos do Deus dos Hebreus
• Decreto a favor dos Hebreus: adorar o Deus dos Hebreus.

A1. O êxito dos Hebreus (v.30)
* “o rei os fez prosperar …na província de Babilónia.

3 de junho de 2010

A QUEM ADOROU NABUCODONOZOR?

“Então o rei Nabucodonozor caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves. Respondeu o rei a Daniel, e disse: Verdadeiramente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos mistérios, pois pudeste revelar este mistério.” Daniel 2:46,47.
Depois de tudo o que o rei presenciou e a forma como Daniel revelou o sonho, Nabucodonosor é impelido a prosternar-se diante de Daniel “então o rei...caiu com o rosto em terra, e adorou a Daniel ...” Trata-se da segunda oração no livro de Daniel. O rei não ousa ainda dirigir-se diretamente ao Deus do céu, está demasiado longe, muito distante, ou talvez grande demais para ele. O rei dirige o seu gesto de prece aos pés de Daniel. O que não significa que Nabucodonosor confunda Daniel com o seu Deus, e que tenha por intenção adorar a Daniel.
Segundo um testemunho de Flávio Josefo, Alexandre o Grande ter-se-á prosternado diante do sacerdote de Jerusalém explicando: “Não é a ele que eu adoro, mas o Deus que ele representa.” (Antiguidades XI, 8,5.). No caso de Nabucodonosor é evidente que ele coloca Deus acima de Daniel: “...o vosso Deus é Deus dos deuses” (v. 47), e isto fazendo, ele testemunha que Deus é “o Senhor dos reis”(v.47), ou seja, é Senhor acima dele que é considerado o rei dos reis.
É claro que não nos devemos fiar nas aparências. Estas fórmulas são ambíguas. A expressão aqui encontrada é nem mais nem menos o título com que é tratado o deus Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Marduk), deus dos babilónios; e o deus Nabu, de quem Nabucodonosor recebeu o nome, o deus Nabu no conceito da época era filho de Marduque (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nabu). Por estas palavras do rei podemos inferir uma confição duvidosa. Nabucodonosor ainda não tinha compreendido Quem era Deus. ao falar do Deus de Daniel ele faz uma transferência ao seu próprio deus: o teu Deus, Daniel, é o meu; o teu poder, tu o deves ao meu deus, meu pai. Nabucodonosor ainda não tinha mudado. A sua adoração é suspeita.
Por esta razão seria imprudente pensar que este capítulo termina com a conversão de Nabucodonosor como seria de esperar, termina, isso sim, por uma oblação generosa: o rei eleva Daniel e atribui-lhe honras e riquezas – forma pela qual o rei substitui a resposta vertical em direcão do Alto por uma resposta horizontal na direcão de Daniel. Nabucodonosor reconhece o valor que se encontre em Daniel, mas a sua apreciação e a sua oração ficam por aqui. A religião de Nabucodonosor toca exclusivamente a pessoa humana de Daniel. Esta é sem dúvida uma questão atual, a quem na verdade se dirige a nossa adoração? A uma pessoa, a uma imagem, a um santo, a um deus ou a Deus?
Esta oração por transferência está caldeada de orgulho do homem que prefere a religião que herdou e escolheu ao Deus que se revela. É mais fácil de prostrar-se diante de uma estátua/imagem, ou até diante de um homem (lembrar a presença de Bento XVI a Portugal e a postura do presidente e demais...) do que prostrar-se diante do Deus invisível, cujo Reino se situa no futuro. Nabucodonosor está convencido, mas não convertido, crê em Deus mas ainda não tem fé; não ousa ter uma relação com o Deus do futuro. O objectivo de Deus em relação a Nabucodonosor fracassou.
Nabucodonosor não compreendeu (à semelhança de tantas pessoas hoje) que o Reino de Deus está simultaneamente no futuro mas muito próximo. O Deus que se manifestou a Nabucodonosor é o mesmo que todos os dias intervém na vida de cada um de nós. Como Nabucodonosor nem sempre estamos prontos a reconhece-l´O e a prestar-Lhe a nossa reverência. Como teria sido outra a história deste rei! Como seria diferente a história da nossa vida! Não permitas transferências, vai directamente ao Deus do Céu e Ele te abençoará com a Sua doce e suave presença.
Em Cristo.