3 de outubro de 2009

APOCALIPSE: DEPOIS DA MORTE A VIDA!

“Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.
Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.
Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.” (Apoc. 20:4-6).

DO abismo em que se tornou esta TERRA, a visão que é transmitida ao servo de Deus preso na Ilha de Patmos, permite-nos em transporte espiritual ver a cena fantástica de vida trepidante nas cortes celestes. Todos os seres que se movimentam são plenamente saudáveis e vigorosos, mas o mais impressionante é o facto de serem pessoas que viveram nesta TERRA! É algo inesperado, os humilhados e os que foram “oprimidos” por Deus “…e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus” (Ap. 20:4), estes cujo o clamor tinha ressoado na visão do quinto selo (Ap. 6:9); não somente eles, mas os mártires e os heróis da fé, igualmente todos os que simplesmente permaneceram fiéis e recusaram comprometer a sua identidade de cristãos (Ap. 20:4); enfim, os justos de todos os tempos. E numa frase definitiva o anjo explica este mistério: são os que pertencem à primeira ressurreição, “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição” (Ap. 20:6).
Esta é a quinta das sete bem-aventuranças; como todas as outras, ela está associada à volta de Jesus Cristo. Esta ideia de uma ressurreição directamente relacionada com a 2ª vinda do Salvador não é nova. O livro de Daniel já a tinha anunciada: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.” (Dan. 12:2).
A vinda de Jesus como VENCEDOR é encontrada no último capítulo de Daniel e o Apocalipse repete esta gloriosa ideia do VENCEDOR que se levanta (em hebreu, amad) como um HERÓI vencedor (Ap. 12:7),”e no fim dos tempos” (Ap. 14:13-16). O Apocalipse associa a ressurreição dos justos à vitória do GUERREIRO montado num “cavalo branco” (Ap. 19:11). O Apóstolo Paulo dá conta da sua fé associando-a a este evento: “Dizemos-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que já dormem. Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.” (1ª Tessalonicenses 4:15-18).
A ressurreição é a única explicação dada pela Bíblia, e especialmente aqui no Apocalipse, para justificar a presença insólita destes mortos vivos. Não há aqui nenhuma ideia de imortalidade da alma, esta ideia foi introduzida pelos filósofos gregos e poluiu tanto a religião judaica como mais tarde a cristã.
A palavra “alma” aqui utilizada (Apocalipse 20:4) deve ser compreendida no sentido hebraico; ela designa o ser vivo completo. Assim, a palavra hebraica nefesh, é geralmente traduzida da Bíblia (versão dos Setenta) e a palavra grega psuché e nas versões portuguesas pela palavra “alma”, implicando uma realidade com todas as funções do ser humano, espirituais, mentais e emocionais, bem como físicas e psicológicas. A nefesh (alma) pode ter fome (Sal. 107:9; Deut. 12:20) ou sede (Sal. 143:6), estar satisfeita (Jer. 31:14), comer bem (Isaias 55:2). Mas nefesh pode também amar (Gén. 34:3; Cant. 1:7), ficar emocionada (Sal. 31:10), gritar (Sal. 119:10), conhecer (Sal. 139:14), ter sabedoria (Prov. 3:22), adorar e louvar a Deus (Sal. 103:1; 146:1). Na Bíblia, o ser humano é concebido na sua totalidade. Se a parte física deixa de funcionar, a parte espiritual deixa também de funcionar (Ecl. 9:5). A morte é total, como a vida.
O Apocalipse enraíza-se nas Escrituras do Antigo Testamento, fala da ressurreição, numa implicação tanto de dimensão física como espiritual, “corpo e alma”, como é dito normalmente. Para a Bíblia, o corpo não é distinto da alma. Porque o corpo, é a alma e o inverso também é verdade.
Assim, os salvos vistos por João no Paraíso estão vivos. Como lá chegaram? Através de que meio passaram da morte para a vida? O anjo não entra em detalhes. Como sempre, o que interessa é o resultado final. E isto é verdade no que diz respeito a todo o milagre registado na Bíblia, da Criação à travessia do Mar Vermelho e à ressurreição de Jesus. O autor inspirado contenta-se em testemunhar o acontecimento sem nunca dar uma explicação científica da mecânica do acontecimento.
O importante é que eles estão no Céu; e esta presença não exige provas ou explicações. Para as justificar, elas impõem-se pela sua realidade. Deus, o milagre por excelência, a Criação, o ser humano, são apresentados na Bíblia como realidades indiscutíveis. O ser vivo é em si um acontecimento que não têm necessidade de provas para ser reconhecido. Eles são a evidência da prova.
O olhar do profeta, por outro lado, centra-se exclusivamente sobre os ressuscitados e a acção que desenvolvem: “Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar.” (Ap. 20:4).
Ou seja, o que interessa a João, é que Deus deu aos que foram vítimas o poder de julgar. Os papéis foram invertidos para que a justiça fosse feita. Juízes com Deus, foram chamados a partilhar com Deus a responsabilidade de decidir a sentença de vida ou morte de todos os homens e de todas as mulheres. E no entanto, a sentença já tinha sido tomada. A presença dos salvos na primeira ressurreição mostra que o julgamento tinha sido já cumprido. Aquando da 2ª Vinda de Cristo, os justos e os ímpios já tinham sido sentenciados.
O livro de Daniel revela claramente e situa o julgamento de Deus no tempo da história humana, no período dos 2300 tardes e manhãs (Daniel 8:14), ou seja a partir de 1844. Do mesmo modo, o comentário relativo à batalha do Armagedão, que agrupa os inimigos de Deus, implica claramente que o futuro de cada um está já definido.
A verdade é que o julgamento só pertence a Deus, o Criador, o Único capaz, pela inteligência esclarecida e pelo Seu Espírito, de “julgar os povos; julga-me, Senhor, de acordo com a minha justiça e conforme a integridade que há em mim. Cesse a maldade dos ímpios, mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas o coração e os rins.” (Sal. 7:8,9); Ap. 2:23). Deus é também o Único a poder combinar com equilíbrio e harmonia a graça e a justiça, e, pelo sacrifício de Jesus Cristo, o Único a poder perdoar. Deus é finalmente, o Único a ser inteiramente puro por consequência apto a discernir entre o mal e o bem e, a ter o direito de concretizar um julgamento (João 8:7).
Deus permite no entanto a justificar-Se diante dos seres resgatados. Deus coloca todos os relatórios e arquivos para que possam analisar e “abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” (Ap. 20:12). Todas as informações e poderes são concedidas aos salvos, “eles reinaram com Ele” (Ap. 20:4,6). Deus quer que eles fiquem completamente informados. Mais ainda, Deus quer que eles compreendam todos os detalhes e razões de uns serem salvos e outros condenados. São investidos de todo o poder do Reino de Deus e, é isto que implica serem sacerdotes e “sacrificadores de Deus e de Jesus Cristo” (Ap. 20:6). Esta relação é realçada no livro de Levíticos onde é descrito as funções do sacerdote e onde o termo qodesh (santidade) se encontra mais de 150 vezes. A mesma palavra-chave, “vós sereis santos, porque eu sou santo” (Levíticos 11:44,45; 19:2; 20:7,26). É significativo que na bem-aventurança que introduz esta promessa, o adjectivo “feliz” está unido a “santo” (Ap. 20:6).
Ao qualificar os ressuscitados como “sacerdotes”, o Apocalipse coloca-os numa relação com Deus da maior intimidade e do maior privilégio. É a santidade (qodesh) que constitui de facto a qualidade essencial de Deus (Is. 6:3; 57:15; Sal. 99:5). Por santidade, Deus revela a intimidade do Seu carácter. Quer dizer, os ressuscitados participam da pureza de Deus, esta torna-os capazes de ver o mal tal como é o mal, e por consequência capazes de julgar.
Deus não se contenta em conceder-lhes as ferramentas de trabalho, informação, inteligência, a santidade. Deus dá-lhes o tempo necessário, mil anos – ultimo testemunho do Seu respeito por eles e da forma isenta do seu trabalho. O amor de Deus, parece ir além do limite.
Não é só os homens que são julgados pelos homens, mas Deus, Ele próprio deixa-SE julgar por eles. Coisa extraordinária! Dá-lhes o poder e os meios para o fazerem! Louvado seja o Deus que eu amo. Quer amá-LO também?

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