8 de outubro de 2009

APOCALIPSE: O MANJAR DOS ABUTRES

“17 E vi um anjo em pé no sol; e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, ajuntai-vos para a grande ceia de Deus,
18 Para comerdes carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e dos que neles montavam, sim, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes.
19 E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos para fazerem guerra àquele que estava montado no cavalo, e ao seu exército.
20 E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que fizera diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre.
21 E os demais foram mortos pela espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo; e todas as aves se fartaram das carnes deles.” (Ap. 19:17-21).

A Vinda de Cristo significa a morte definitiva dos “reis da terra”. Pela primeira vez, Deus é O agente (assume em Pessoa) do castigo ou juízo. De facto, de facto Ele é o Único que está em cena. Até ao presente, o julgamento tinha operado recorrendo a elementos terrenos. A última taça do julgamento é dada directamente por Deus. Estão todos mortos. E o que resta dos seus corpos desaparece sobre os quatro ventos, “todas as aves se fartaram das carnes deles.” (Ap. 19:21).
Babilónia já tinha terminado do mesmo modo. Os dez chifres e a besta tinham comido a sua carne “e os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostituta e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo.” (Ap. 17:16). Presentemente, são eles que são destruídos. Mas como não resta mais ninguém, são as aves do céu que se saciam. A forma como é apresentada esta cena inspira-se na visão do Ezequiel, com alguns pormenores novos e particularmente interessantes. Enquanto que o profeta do A.T., junta as aves e todas as feras dos campos, na visão de João, as feras do campo desaparecem; só as aves estão presentes. Enquanto que Ezequiel limita o massacre aos príncipes, aos heróis, o alimentos são cavalos e cavaleiros (Ezequiel 39:17-20), a visão do Apocalipse transborda este campo de visão de Ezequiel, acrescentando “para comerdes carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e dos que neles montavam, sim, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes.” (Ap. 19:18), e o ponto fulcral que associa os extremos exprime o carácter total da consumação.
De forma irónica, o festim a “antropófago” dos reis da terra também faz eco da fome espiritual que se abateu sobre o povo sob o terceiro selo (Ap. 6:5,6); mas ao mesmo tempo, mas a referência maior relaciona-se com a Grande Ceia do Cordeiro. Nos dois casos, é a mesma palavra grega (deipnon) que é empregue (Ap. 19:17; cf. 19:9). Esta relação simétrica entre os dois banquetes sugere uma vez mais o mesmo acontecimento com duas faces bem distintas, por um lado, a salvação de Deus. A festa das Bodas do Cordeiro que alimentou e partilha agora uma refeição especial com os Seus hóspedes na alegria e segura da vida eterna.
Por outro lado, o banquete do Armagedão que devora os seus convivas, o alimento é a tristeza, a frustração a morte absoluta. Mais nada resta deles, nem mesmos os seus ossos. Nem sequer têm direito a uma sepultura. Os abutres comeram tudo.
É sobre esta imagem mórbida e sinistra que termina a visão. Não é possível ter uma imagem mais real do seu fim. Eles desaparecem totalmente. A terra está completamente vazia.

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