6 de outubro de 2009

APOCALIPSE: O DIABO É ENVIADO PARA O DESERTO


“E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele.” (Ap. 12:9).






“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos.” (Ap. 20.1,2).


É numa paisagem de deserto e do nada que o encarniçado inimigo de Deus será encarcerado. No Apocalipse 12:9, ele é chamado “dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo”. Esta linguagem é repetida em Apocalipse 20:1,2.
Os três poderes acampados contra Deus na batalha do Armagedão: “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi saírem três espíritos imundos, semelhantes a rãs.” (Apoc. 16:13), o dragão é o único a conseguir escapar. Os dois outros, a besta que vem do mar e a besta que sobre da terra (o falso profeta), já não se encontram junto ao “dragão”, juntamente com eles desapareceram os reis da terra que ainda subsistiam no tempo do fim.
“...a chave do abismo” (Ap. 20:1), que outrora foi confiada à estrela que caiu do céu, que se tornou príncipe da terra (Apoc. 9:1), está agora nas mãos de um anjo de Deus (Apoc. 20:1). O estado de pré-criação é aqui evocado. A mesma palavra hebraica tehon (abismo) de Génesis 1:2 está por detrás do texto grego. Abismo é o lugar onde o diabo foi lançado.
É importante compreender este ponto; quando Deus lançou no conflito que opôs Lúcifer e os seus anjos contra Deus e consequentemente houve “guerra no céu”, deve ser entendido que Deus não enviou Satanás para a Terra habitada, mas foi depois que a Terra foi habitada que Satanás encontrou acolhimento e por isso se torna o “príncipe deste mundo”.
A terra era vazia. Deus ainda não tinha agido neste espaço do Universo. O vazio “abismo” era o ambiente natural. O Diabo ao ser condenado ao deserto e ao nada, da mesma forma que a Serpente foi condenada a pó (Gén. 3:14). É no período em que não há seres vivos na Terra, ninguém a quem tentar. A tentação que Satanás pôde exercer depois desta Terra ser formada e a criação ter tido o seu epílogo. A tragédia humana não será mais possível, os habitantes que foram salvos, estão no Céu, os habitantes que não foram salvos, estão mortos. O mal está deste modo neutralizado.
Esta lição de esperança já estava inscrita no simbolismo do ritual do Kipur (expiação). O bode por Azazel, que representava Satanás com toda a sua força maléfica, era também condenado ao ser enviado para o deserto: “Quando Arão houver acabado de fazer expiação pelo lugar santo, pela tenda da revelação, e pelo altar, apresentará o bode vivo; e, pondo as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, sim, todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á para o deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles para uma região solitária; e esse homem soltará o bode no deserto.” (Lev. 16:20-22). Este cerimonial fazia parte integrante do processo de salvação de Deus. paralelamente à explicação de “todas as iniquidades dos filhos de Israel” e à purificação do santuário e que assegurava o perdão cósmico de Deus (João 3:16), a cerimónia do dia do Kipur anunciava a reclusão do inspirador do mal.
A mesma profecia é pronunciada nos Evangelhos de João. Durante o “julgamento do mundo”, Satanás “será expulso o príncipe deste mundo” (João 12:31).
Profetizando sobre o julgamento de Deus relativamente ao fim dos tempos, Daniel, vê a cerimónia do Kipur (Daniel 8), uma vez mais temos um flash do plano da salvação, a saber a expulsão de Azazel o diabo no tehom do deserto.
O Apocalipse dá realce particular à destruição do Diabo como um evento real no tempo. Trata-se do milénio. No contexto do Apocalipse, o emprego do período deste número reveste-se de um valor simbólico. Os “mil” que estão em relação com os 140.000 significam mais que um número concreto. A sua aplicação é seguramente a um grupo de pessoas especiais (os “mártires”? ou os que viverão o período fim da graça e vinda de Jesus? Ou ainda representará a elite de uma grande multidão? Deus o sabe). Não resta dúvida que o número se enquadra num contexto de simbolismo, figuras que já o Antigo Testamento aplica à palavra “mil”, vejamos alguns exemplos: “Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil.” (Sal. 84:11), ou “...mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite.” (Sal. 90:4). O mesmo acontece em Eclesiastes, a declaração: “e embora vivesse duas vezes mil anos,...” (Ecl. 6:6), este pensamento é repetido “Se o homem... e viver muitos anos, de modo que os dias da sua vida sejam (multiplicados) muitos...” (Ecl. 6:3).
Olhando do Antigo Testamento para o Apocalipse é séria a compreensão “mil” num sentido simbólico de “muitos anos”. E é de facto o significado que se encontra no final do versículo, ao colocar em contraste com “um pouco de tempo” (Apoc. 20:3).
O profeta Isaías é conduzido pela mesma visão. Na passagem que os comentadores concordam em chamar “o pequeno Apocalipse” (Isaías 24:25), ele descreve o estado de deserto da “terra”, palavra chave do texto (que se repete por 16 vezes), que ele identifica como tohu (sem forma) que caracterizava a terra antes da Criação (Isaías 24:10; cf. Génesis 1:2). Aqui também, o profeta anuncia um castigo de Deus que será aplicado a Satanás e aos seus acólitos: “Naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra.” (Isaías 24:21).
E neste contexto, trata-se de prender durante um período que o profeta define como “serão ajuntados como presos numa cova, e serão encerrados num cárcere; e serão punidos depois de (por) muitos dias.” (Isaías 24:22), o que esclarece uma vez mais o sentido dos mil anos do Apocalipse.
O Apocalipse significa Revelação, assim é de facto, no entanto só o é quando analizado à luz de toda a Bíblia, de outro modo é fácil cair na tentação de dogmatizar uma palavra ou um texto. Devemos, por outro lado, perceber que se trata de uma linguagem simbólica que lhe é particularmente própria, o Apocalipse informa-nos que haverá um tempo em que o poder do mal não terá mais influência sobre os seres humanos. E a intenção do sentido simbólico dos mil anos não exclui por isso a realidade que este período o seja de forma concreta. Mas esta questão não é minimamente importante. Na perspectiva da eternidade e para além da história humana, a noção de tempo não é concebida tal como a concebemos hoje.
Porque “mil anos”, porque este período é também o tempo normal da primeira geração antes do Dilúvio (Adão, 930 anos; Jared 962 anos; Matusalém 969 anos; Noé 950 anos, etc.). O recurso aos “mil anos” significa o retorno ao jardim do Éden até ao Dilúvio. Reencontramos a mesma linguagem no livro do profeta Isaías onde a esperança dos “novos céus” e de “uma nova terra” (Isaías 65:17) é apresentada numa linguagem poética com o sentimento da idade de ouro dos que viveram antes do Dilúvio, quando morrer com cem anos era morrer jovem (Isaías 65:20), e quando os homens viviam como os dias das árvores (Isaías 65:22). A intenção do Apocalipse seria portanto, segundo o diapasão de Isaías, que compreendamos que a felicidade voltará, a qualidade de vida do inicio da história humana será de novo tornada realidade. Os mil anos representam de facto os primeiros passos do género humano na eternidade.
Quer dar estes primeiros passos? Meu Deus como anelo que venham e venham logo, aqui há tristeza, solidão, abandono...então será o inicio de uma vida se choro, sem dor, nem morte. A decisão para essa nova vida é agora. É hoje, hoje começa a esperança.

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