14 de maio de 2008

PAZ PARA VIVER: 04 - Viver a Identidade

Introdução: Foi aos 7 anos que entrei pela primeira vez numa igreja. Era Domingo, a minha mãe tinha ido ao mercado e eu, como de costume, fui visitar a vila, a vila de Soure. Para mim era uma grande vila. Tinha um Castelo, um rio e o mais importante de tudo, um grande jardim com baloiço e outras coisas onde podia brincar.

Naquele Domingo fui para outra zona da minha grande vila. Fui para o centro. Recordo-me como se fosse hoje: havia uma praça, bancos onde nos podíamos sentar, e a grande catedral de portas abertas. Aquele Domingo era destinado à minha exploração do que estava para além daquelas grandes portas.

Fiquei de imediato extasiado. Era grande, o fundo dourado, pinturas no tecto. Na galeria um coro cantava harmoniosamente. Um homem vestido até aos pés começou a falar e fiquei preso a cada palavra. Falava de Deus, do juízo e do inferno ... e eu gostei.

Durante a semana ansiei que chegasse o Domingo. Quando chegou levantei-me cedo para ir à missa. Desse Domingo em diante, e até ao meus 14 anos, tornei-me um crente praticante. Comunguei em particular, em solene e fui crismado. Amava a minha igreja. Mas não sabia que Deus me amava.

Um dia, uma senhora a quem nós chamávamos “protestante”, disse-me: “Carlitos, Jesus ama-te.”

Era tímido e fiquei sem palavras. Passaram-se algumas semanas. Finalmente, perguntei-lhe: “Porque é que diz que Jesus me ama?”

Ela chamou a filha e pediu-lhe que trouxesse uma Bíblia. Nunca tinha visto uma Bíblia. Senti que a Sagrada Escritura, era especial. Era a Palavra de Deus. A Bíblia tinha os estatutos do reino de Deus. Eu percebi que na Bíblia estava a religião em que o nosso Senhor Jesus Cristo foi criado, e que conhecê-la era conhecer Jesus Cristo.

Que a Bíblia era a voz d’Aquele que Se assenta no trono do Céu. Sabia que cada livro da Bíblia, cada capítulo, cada sílaba, cada letra era um pronunciamento directo do Altíssimo.

Fiquei impressionado. Perguntei se lhe podia tocar. Responderam-me: “É tua.”

“Minha!” Exclamei com alegria. Desde então, a minha fé tem sido alimentada pelo que está nas Escrituras. Ela tem sido a luz para o meu caminho, mesmo quando a minha vida está envolta em nevoeiro. Ela é a lâmpada que guia os meus pés.

Realmente a Bíblia diz, do princípio ao fim, que Deus me ama e vos ama. A questão é:

Por que razão Deus me desejou e abençoou?
Por que razão Ele me amou, me ama e me amará para sempre?
Por que razão Deus vos ama?

A Bíblia não o explica. Ela repete vezes sem conta que cada ser humano é um ser amado, mas não entra em explicações. E a verdade, porém, é que estamos prontos a dizer isto mesmo a toda a gente: “Deus ama-te”. Mas temos alguma dificuldade em concretizar que esta verdade se aplica a nós pessoalmente.

Por esta razão afirmo e convido a todos a fazerem esta noite uma afirmação: DEUS AMA-ME.

Quando Deus proclamou o Seu nome perante Moisés, Ele disse: “Senhor, Senhor, Deus misericordioso e compassivo”. A palavra em hebraico para compaixão vem do termo rehem, matriz, útero. A matriz ou útero é o órgão no qual se faz o desenvolvimento do feto e do embrião. Lugar onde alguma coisa se gera ou se cria.

Deus ama-nos com um amor concreto que vem das Suas entranhas, com ternura maternal.

O Salmo 103:13 retoma esta ideia: “Como um pai sente compaixão dos seus filhos, o Senhor tem compaixão daqueles que O temem.”

Deus ama a cada um dos Seus como se houvesse apenas um deles para amar. Deus não nos fez porque pretendia ganhar alguma coisa com isso, mas simplesmente por amor.

O amor de Deus não se consegue porque somos dignos de amor, mas jorra como de um poço artesiano, das profundezas da Sua natureza.

Desta maneira Deus é um pai que vos ama com os sentimentos de uma mãe. Estão, no seu amor, os sentimentos de pai e de mãe. Ele é ao mesmo tempo pai e mãe.

Diz a Bíblia: “Cuidarei de vocês como a mãe que amamenta o filho, o leva nos braços e o acaricia sobre os joelhos. Assim como uma mãe consola o seu filho, também eu vos consolarei.” Isaías 66:12, 13 TIC

Alguém ao ler esta mensagem tem no coração a dor de ter sido mal compreendido, ou mal interpretado, ou ser usado? Alguém sente amargura no coração porque percebe que as suas opiniões nunca têm importância para os outros? Alguém sem saber muito bem explicar os seus sentimentos, sente que ninguém dá importância aos seus valores ou acções?

Vive em permanente estado defensivo porque se sente como um animal encurralado e atacado? É vítima de críticas maliciosas ou de mexericos venenosos que o tentam levar a uma confusão emocional, de tal modo que se sente esgotado e ansioso?

Muitos de nós respondemos a estas perguntas com um doloroso sim! Todos nós, num ou noutro momento da vida, já fomos feridos e caluniados. Recordações de crítica, de incompreensão, de ter sido usado, permanecem em nós durante anos e anos. É possível que muitos dos que me lêem estejam a passar por isso no presente. Como consequência de todas as ofensas que tem sofrido sem o desejar, o seu coração tornou-se caloso. As mágoas, tantas vezes repetidas, deixaram cicatrizes profundas. Estão cansados de ser magoados, e já não se importa o que possam dizer ou pensar os outros. Mas a verdade é que importa! A verdade é que isso não deixa de incomodar! Está como prisioneiro dos sentimentos!

O que fazer? Como pode ter a mente aberta e conservá-la sã apesar de tudo o que se possa dizer e ainda com isso aprender a amar sem ser levado pelo ciclone do desânimo?

Para mim é um bálsamo ter conhecido a Bíblia e o amor de Deus nela revelado. O facto de saber que Deus me ama com um amor que é ao mesmo tempo um amor maternal e paternal tem sido a fonte do meu descanso.

Gostaria de recomendar a leitura do Salmo 17. Leia e procure colocar-se no lugar de David. David, quando escreveu o Salmo 17, era perseguido. Andava escondido nas montanhas porque o rei de Israel, Saul, tinha muitos ciúmes de David e esses ciúmes afundaram-no naquele sentimento a que os psicólogos chamam hoje depressão.

A história desse ciúme é muito conhecida. David, por ter matado Golias, grande inimigo do povo de Deus, recebera grandes honras da parte de Saul, e tornara-se muito popular. Esta popularidade foi crescendo à medida que David se tornava um belo jovem, guerreiro e líder muito apreciado. O povo, e especialmente as mulheres, começaram a compará-lo com o rei e cantavam: “Saul feriu os seus milhares, porém David os seus dez milhares.” I Samuel 18:7.

A princípio Saul sentia apenas alguma inveja, mas pouco a pouco começou a ser corroído pelo ciúme e medo de perder o trono. Apesar de receber provas sem conta da fidelidade do jovem David, a inveja deu lugar ao ciúme e o ciúme é uma avenida aberta para Satanás entrar no coração. E desta forma o desejo de matar passou a ser uma obsessão na mente de Saul.

E David teve de fugir para as montanhas em busca de segurança. É aí que ele abre o coração numa oração: “Guarda-me como à menina do olho; esconde-me à sombra das tuas asas, dos ímpios que me oprimem, dos meus inimigos mortais que me andam cercando.” Salmo 17:8, 9.

O coração exilado de David tinha-se voltado para o Senhor. Pediu-lhe forças e coragem no meio das acusações mais hostis de traição contra o rei e de blasfémia contra Deus. O salmo que David apresentou em oração é, para nós, uma fonte de inspiração sobre como e o que orar quando nos dói por dentro por causa de críticas e juízos falsos.

Quando precisamos da perspectiva e do poder do Senhor no meio ao conflito, este salmo ajuda a readquirir a segurança no amor de Deus e o desejo de abrir o nosso coração ferido à luz da Sua cura. Antes de reagirmos ao que as pessoas nos dizem ou dizem a nosso respeito, precisamos de olhar nos olhos de Deus. Foi isso que fez David. E o que é que ele viu nos olhos do Senhor?

O Salmo 17 começa assim: “Ouve, ó Senhor, a minha causa justa; atende ao meu clamor. Dá ouvidos à minha oração, que não é feita com lábios enganosos. Saia a minha sentença de diante do teu rosto; atendam os teus olhos à razão.” (versos 1 e 2).

A primeira coisa que devemos fazer quando somos magoados, é levar o assunto à presença do Senhor. Permitir que os Seus olhos examinem todos os aspectos do problema, os motivos e as razões mais profundas por detrás daquilo que nos fere. Podemos perguntar: “Senhor, estás a procurar ensinar-me algo com o que foi dito a meu respeito? Há nisso alguma verdade? A Tua avaliação e o Teu juízo, em última análise, é a única coisa que importa.”

Foi justamente isso que David fez. Ele examinou-se a si mesmo sob o olhar penetrante do Senhor, alheou-se da acusação de ser um traidor e procurou ver-se aos olhos de Deus. Não procurou justificar-se a si mesmo, mas pediu a intervenção de Deus. Dentro de nós existe um núcleo dinâmico para o qual o Senhor olha. Sabemos o que fizemos e o que temos sido. Não precisamos de ocultar-nos do Senhor nem de nós mesmos.

Na presença d’Ele não precisamos de defender-nos, nem acusar-nos, nem sequer desfalecer sob a pressão de opiniões alheias. Esse tipo de honestidade com Deus capacita-nos a pensar: Nada do que me aconteça me colocará em perigo, porque o que Ele começou na minha vida, fá-lo-á até ao fim, para meu próprio bem.

Pode ser que a retribuição do Senhor não satisfaça o nosso senso de justiça, ela é tudo o de que precisamos. Sabemos que Ele não fecha os olhos aos nossos pecados. Mas, quando as palavras dos outros nos levam a Deus pedindo o Seu julgamento, o Seu parecer, a Sua opinião, podemos estar certos de que Ele nos ajudará a mudar o que precisa de ser mudado e nos dará forças quando as críticas forem falsas.

Muitos carregam culpas não resolvidas de pecados do passado. Ao ser criticado, a acusação nova atinge o ponto sensível da recordação antiga e não curada e a culpa não resolvida torna-nos vulneráveis. Ainda que sejamos inocentes, reagimos com auto-culpabilização. Cedemos rapidamente e dizemos: “Tem razão, certamente que tem razão. Eu errei, uma vez mais estou errado. Não faço outra coisa na vida que errar. Sou um falhado.” E isto até quando não estamos errados, mas porque o que foi dito tocou numa culpa não resolvida.

Experiência:
Em 1994, estive em Angola, vindo de São Tomé. Estava previsto que o avião partiria ao meio-dia, mas saiu por volta das 20 horas. Quando chegámos a Luanda era muito tarde.

Era suposto ter várias pessoas à minha espera que me conduziriam a um hotel, mas como o avião estava atrasado alguns foram-se embora. Ficou decidido que ficaria alguém até que o avião chegasse. Ele esperou algum tempo, mas, sem notícias, decidiu ir-se embora.

Eram 2 horas da manhã quando consegui levantar as minhas malas e sair para o local, ponto de encontro. Olhei ansioso, à procura de ver uma mão animadora levantada a dizer-me: “Estou aqui”. Mas ninguém me esperava. Enquanto me aproximava da porta de saída, ia imaginando vários cenários: “Estão lá fora à minha espera. Bom, se não estiver ninguém apanho um táxi e vou para um hotel.”

Não havia ninguém à minha espera. Nem táxi. Fiquei durante algum tempo paralisado. Interiormente sentia um vulcão: “Isto não é possível, devo estar a sonhar, mas como é que vou daqui para a cidade? São vários quilómetros. Não é possível que isto me esteja a acontecer, Senhor!” O tempo passava, e o Aeroporto fechou. Andavam por ali três soldados de metralhadoras na mão. E eu continuava a perguntar a Deus e, agora com alguma revolta interior, e também com alguma autocrítica, pensando, “Eu mereço isto. O Senhor está a dar-me o que eu mereço. E agora?”

Entretanto chegou um jovem num carro. Aproximei-me imediatamente dele e pedi-lhe por gentileza para me levar para um hotel em Luanda. Ele não queria, mas finalmente aceitou mediante uma quantia de dinheiro em dólares.

Eu já conhecia um pouco da cidade de Luanda, especialmente dois hotéis onde tinha ficado em anos anteriores. Fomos ao primeiro mas não havia nenhuma reserva em meu nome. E estava lotado. No segundo exactamente a mesma coisa. Pedi que me deixassem ficar no hall de entrada. Mas foi-me recusada tal possibilidade.

Pensei que poderia, com alguma facilidade, encontrar a Igreja Adventista Central. A igreja tem um alto e forte gradeamento e lá dentro eu estaria seguro. Poderia ficar sentado em cima da minha mala e esperar pelo amanhecer. Pedi ao jovem para me levar e falei-lhe nesta possibilidade. Depois de muitas voltas, não conseguimos encontrar a igreja.

O jovem começava a dar sinais de grande impaciência, e dizia-me: “Sabe, é muito perigoso andar de noite em Luanda. Os soldados podem matar-nos só para me roubar o carro” (um Mercedes). Sentia no meu coração um tremendo incómodo contra mim próprio e contra aquelas pessoas que deveriam estar à minha espera. Pensava que eles não me deveriam ter desprezado. Ainda que eu não me desse valor a mim próprio, pensava que por ética eles deveriam ter lá estado. Pensava eu; “para eles eu não passo de um branco sem valor.” A minha auto-estima, estava de rastos.

De repente o jovem despertou-me dos meus pensamentos, gritando: “Um jipe do exército! Saia depressa!”

Obedeci e num minuto ele desapareceu na noite. Um carro militar parou ao meu lado e rapidamente fui rodeado por cinco militares. Com metralhadoras que encostaram à minha cabeça. Riam-se e perguntavam o que é que eu estava ali a fazer?

Agora sim, senti que a minha vida não valia nada. Continuando a rir, um disse: “Matamos o branco!” De repente senti que só havia um lugar onde me podia refugiar, e esse era o olhar de Deus. E podem crer que senti os Seus olhos sobre mim e o valor que tinha para Ele.

Disse em voz bem alta, que era ministro do evangelho. Levantei a minha mão e, apontando, afirmei: “Aqui mora um pastor, vou encontrar-me com ele.”

Eles responderam: “Então vai!”

Subi as escadas e bati à porta. Passados alguns minutos esta abriu-se e era, para espanto meu, o pastor Albino Vieira de Angola – a pessoa que deveria estar à minha espera no Aeroporto. Eu não sabia onde ele vivia, nunca antes tinha estado em sua casa, não tinha a mínima ideia do seu endereço. Se ele lê esta mensagem, será o primeiro a reconhecer que o que estou a contar é verdade. A sua esposa estava hospitalizada sofrendo de malária, ele tinha os seus filhinhos em casa sozinhos, por isso teve de abandonar a espera no Aeroporto. Os soldados entraram no carro e foram-se embora.

Aquela noite foi tão importante para mim! Naquela noite senti que era muito querido aos olhos de Deus. Fosse onde fosse, Ele olhava para Mim: “Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me, à sombra das tuas asas.” Salmo 17:8

A expressão “menina dos olhos” é repetidamente usada nas Escrituras. No hebraico, essa expressão significa realmente “homem pequenino nos olhos” ou “filha dos olhos” e tem como base o que vemos quando olhamos bem de perto nos olhos de alguém. Vemos a nossa própria imagem. Se estamos muito perto da pessoa, vemos o nosso próprio reflexo.

Querido amigo, querida amiga, aplique isto ao seu relacionamento íntimo com Deus. A verdade é que Ele está a olhar para si, é o centro da Sua atenção e que pode ver tal como somos, somente quando nos virmos a nós mesmos através dos olhos de Deus.

Outra interpretação de “menina dos olhos” é que Deus nos estima e nos dá tanto valor como damos à nossa própria vista. Nesse caso, a menina dos olhos é a pupila. Reconheçamos que nenhuma outra parte do nosso corpo é mais preciosa, mais delicada e mais cuidadosamente guardada do que os olhos. E o sábio Criador colocou os olhos num lugar bem protegido. Estão cercados por ossos que se projectam como os montes ao redor de Jerusalém.

Além disso o Autor da nossa vida circundou os nossos olhos com muitas túnicas interiores. Rodeou-os de uma cerca que são as nossas sobrancelhas, uma cortina que são as nossas pálpebras com as pestanas. Deus deu-nos um sentido especial do perigo que pode atingir os nossos olhos, pois é a primeira coisa que protegemos. Assim como cuidamos dos nossos olhos, Deus cuida de nós.

Somos vistos pelo Senhor. Ele conhece-nos, cuida de nós e nunca nos abandonará. O Seu amor é sem limites. Ele cura as nossas mágoas. Sentimos a Sua graça ilimitada ao nos apercebermos que somos a “menina dos olhos” de Deus, como eu o fui naquela noite em Luanda.

Quando olhamos para Deus, o reflexo que aparece nos Seus olhos, não é a pessoa que pensamos que somos, a pessoa que temos sido. O que vemos nos olhos de Deus é o milagre em que nos podemos tornar. Filhos únicos, desejados e amados.

Perto do final da sua vida, Moisés olhou para o passado, e então convidou os israelitas a louvarem o Senhor pelo Seu cuidado constante: “Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacob é a parte da sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário povoado de uivos; rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos seus olhos.” Deuteronómio 32:9-10.

Não tenho dúvida, era isto que David tinha no pensamento ao reclamar que Deus o ouvisse. David conseguia suportar tudo desde que soubesse que estava a ser guardado pelo Senhor.

Meus queridos amigos, ouçam o vosso coração. Não estão a ouvir Deus chamar-vos a “menina dos Seus olhos?” Podem perspectivar a pessoa que Ele quer que sejam? Sentem-se amados apesar de tudo o que a vida vos tem trazido? Eu sei que sim!

A seguir, David usa uma outra metáfora para representar a forma como Deus nos protege: a sombra das asas do Senhor. Subentende-se aqui o amor protector da galinha pelos seus pintainhos.

Experiência:
Aconteceu na quinta, a meados de Setembro, a ceara estava madura. Ninguém sabe como mas, num palheiro, onde era guardado o pasto para os animais, de repente irromperam chamas enormes. Os animais fugiram. O fogo avançou na direcção da ceara e reduziu tudo a cinzas.

O proprietário fez tudo o que pôde para apagar o fogo e salvar os seus animais, mas praticamente tudo ficou reduzido a cinzas. Ele caminhava triste. A certa altura, ele viu um montículo. Desesperado deu um pontapé. Com surpresa viu sair de debaixo do montículo uma ninhada de pintos.

Ao tentar salvar os seus filhos, a galinha tinha-se colocado sobre os seus filhos. As chamas vieram, queimaram-na e ela morreu. Mas quando aquele monte de carvão foi tirado pelo proprietário, de lá saiu vida.

Com esta confiança podemos enfrentar a escura noite da alma. Podemos enfrentar as chamas mais terríveis da crítica e da calúnia. Quem se coloca debaixo das asas do Todo-poderoso, encontra não um substituto para os sintomas, mas encontra-O a Ele que é a cura para a causa.

Ouçam o que diz a Bíblia: “Mas, Deus prova o seu amor para connosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8

Nós queremos “fazer” qualquer coisa para merecer o amor de Deus. Mas só a fé nos torna agradáveis a Deus. Ele pede só para crer e receber a Sua graça. O facto de me sentir indigno, miserável, em nada diminui o Seu amor incondicional para comigo.

Mesmo que tenhamos ignorado a Sua santidade e a Sua justiça, Ele continua ao alcance da nossa mão. Eu sinto Deus, Ele está aqui.

Nada me agrada mais do que caminhar ao longo da praia, ou num bosque. Estar num lugar onde eu sei que ninguém ouve que estou a falar em voz alta ... e falar, exprimir as minhas tristezas, alegrias, os meus sentimentos.

Experiência:
Recordo-me como, no mês de Abril, caminhava sozinho ao longo da praia. A areia era branca, estava sol, e corria uma brisa suave que penetrava agradavelmente no meu cabelo.

Pouco a pouco comecei a falar com Deus e a pedir-Lhe desculpa pelos erros do meu carácter: “Senhor, zanguei-me com a minha mulher. Ela tem defeitos mas eu tenho muito mais do que ela. Sinto um grande amor e um desejo enorme de que ela seja feliz.”

Senti os raios do sol, ainda que suaves, tocarem no meu coração. Deus aproximava-se da mesma maneira que Jesus Se aproximou dos discípulos de Emaús.

Eu disse: “Senhor, sei que estás aqui e posso ouvir a Tua voz. Senti a agradável presença do Senhor, e caminhei, falámos um com o outro, recebi os Seus conselhos. Senti-me verdadeiramente rejuvenescido e animado a ser melhor. Quando terminei este encontro com Deus, o meu coração sentia uma alegria imensa pela minha mulher, pelo meu filho, e por tudo o que me rodeava.

Lembrei-me dum pensamento de Adela Rogers St. Johns, que diz: “Para mim, a alegria está um degrau acima da felicidade – a felicidade é uma espécie de ambiente em que por vezes, quando temos sorte conseguimos viver. A alegria é uma luz que nos enche de esperança, fé e amor.” (em “Alguns já Nascem Grandes”)

Foi essa alegria que senti. Sabem porquê?

Porque percebi que sou precioso aos olhos de Deus. Senti que Jesus assumia em plenitude a minha redenção. Veio à minha memória, de uma forma especial, aquele texto que diz: “Jesus foi feito pecado por mim, a fim de que nele me torne justiça de Deus.” II Coríntios 5:21

E logo de seguida: “Para que o mundo conheça... que os tens amado a eles como me tens amado a mim.” João 17:23

Quem sou eu para contestar as palavras de Deus? Deus ama-me como Ele amou Jesus. E, na medida em que permaneçamos em Cristo, o amor de Deus nos envolve no mesmo amor que Ele tem pelo Seu filho Unigénito. Estes dois amores não estão dissociados.

Dizer a Deus: “Senhor eu não SOU digno do Teu amor” ou “Não olhes para mim, eu não valho nada.” É uma falsa humildade, muito próxima do orgulho.

Recebamos, com simplicidade, este amor total e incondicional, mesmo se temos o hábito de amar condicionalmente aqueles que nos rodeiam.

Os pais que têm um bebé com poucos dias sabem o que é um amor incondicional: aquilo que eles sentem por aquele pequeno ser tão indefeso, que não faz nada para merecer tanto amor, não sorri, não fala, acorda-os durante a noite, suja as fraldas e grita. Nada diz para conquistar a simpatia dos seus pais.

Mas, mesmo assim, os nossos filhos são muito amados. Amamo-los não porque nos dêem alguma coisa. Simplesmente porque são nossos filhos. É assim que Deus nos ama, incondicionalmente.

Um amor pessoal.

Um grande passo na direcção da cura interior é quando tomamos consciência de que Deus nos ama, e nos ama de uma maneira muito especial, de maneira pessoal, a Bíblia tem este convite: “Provai, e vede que o Senhor é bom.” Salmo 34:8

É nos momentos de intimidade com Jesus que Ele nos sussurra: “Eu amo-te”. São as pedras que constroem a nossa personalidade, lá no mais profundo, lá onde a cura total é irreversível. Lá onde as feridas são curadas.

Peçamos ao Senhor que nos revele o Seu amor e a Sua infinda ternura. A meditação em certos versos bíblicos, torna-se espírito e vida, no nosso coração: “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas, segundo o teu amor, lembra-te de mim, pela tua bondade ó Senhor.” Salmo 25:7; “Mas é de eternidade a eternidade o amor do Senhor sobre aqueles que O temem.” Salmo 103:17

“Como o Pai me amou, assim também eu vos amo; permanecei no meu amor.” João 15:9; “Que grande amor o Pai nos tem testemunhado que sejamos chamados filhos de Deus.” I João 3:1

Tudo o que existe no Universo visível, tem a sua origem no amor de Deus. Por detrás da vontade de Deus e do Seu grande desígnio pela humanidade, não existe simplesmente um pensamento perdido, uma razão fria e impessoal, mas um coração que bate, o coração do Pai.

O amor de Deus é a chave de toda a compreensão. Isto quer dizer que não podemos procurar uma explicação do mundo puramente racional. Só conseguimos chegar à sabedoria de Deus, à compreensão das coisas através do amor de Deus.

A primeira coisa que nos leva à cura dos nossos problemas: seja a falta de confiança em nós próprios, os complexos, as angústias, as neuroses e depressões que afligem tantos homens e mulheres... a primeira coisa para o homem se tornar realmente pessoa é discernir o amor de Deus por detrás de todas as coisas.

Um dos objectivos do Criador é precisamente conduzir-nos na compreensão justa do Seu amor, por etapas sucessivas, do exterior para o interior. Nós conhecemos o Seu amor do exterior: na Natureza, nas flores, no mar, na saúde. Mas Deus deseja que nós O conheçamos do interior para o exterior, que entremos no Seu coração de Pai. Que sintamos o amor do Pai.

Satanás, o pai da mentira, vai, ao longo de toda a nossa vida, fazer tudo para levar-nos a duvidar, não da existência de Deus, mas do Seu amor.

Nas situações mais difíceis, doenças, mortes, conflitos, a questionar: Onde está Deus? Seremos tentados a dizer: Os destinos de Deus são tão escuros, tão incompreensíveis!”

A curvar-nos para que passe o furacão, a dobrar-nos como as árvores do deserto sopradas pelos furacões. Mas quem conhece o amor de Deus, realmente, sabe que Deus não está no furacão mas com os que sofrem as catástrofes da vida. A cruz é toda a expressão do amor de Deus! Foi lá que Ele manifestou o Seu pleno amor.

Duas forças antagónicas: “Vê, hoje te proponho a vida e o bem, a morte e o mal.” Deuteronómio 30:15

Diante de nós estão colocados dois caminhos perfeitamente perceptíveis, um de paz e segurança interior e outro de insatisfação e instabilidade.

No entanto a Bíblia afirma que fomos criados por Deus, segundo a Sua imagem, isto é, livres para decidir. Deus, em momento algum, me obrigará a ir para debaixo das Suas asas. Vou se quiser. Sou livre. Temos a faculdade de pensar e agir como individualidades.

A individualidade é uma faculdade muito valiosa. Cada pessoa é única. Não há ninguém semelhante a mim em nenhuma parte do mundo, nem em nenhum outro mundo possível. E essa individualidade é de muito valor diante de Deus. Hoje é frequente ver pessoas muito empenhadas em conservar certas espécies em vias de extinção. E isso é bom, mas se a humanidade faz tantos esforços para evitar a extinção de certas espécies animais, quanto maior é o valor da existência humana?

Sabemos que Deus deu ao ser humano um valor incalculável. Prova-o só o facto de ter dado o Seu Filho para o resgatar quando o ser humano estava ameaçado de morte eterna, infelicidade eterna.

O valor da pessoa, é a sua individualidade. É o que a faz única, e esse tesouro, essa matriz colocou-a Deus no interior da mente. A mente é o atributo da alma, centro da vontade, a capital do corpo, centro do governo da vida, centro das decisões. É o que nos torna semelhantes a Deus. O Senhor deu a chave da mente ao homem. Ninguém pode entrar nela sem o nosso consentimento.

Nem Deus, nem o Diabo.

Porque o governo de Deus é moral. O Seu governo exerce-se unicamente sobre seres livres, que decidam amá-l’O e servi-l’O voluntariamente, porque compreenderam o que é justo e correcto.

Deus não impõe o Seu governo e declara: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolhe a vida, para que vivas, tu e os teus filhos, amando o Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e apegando-te a ele.” Deuteronómio 30:19, 20. Aconselha: “Escolhe a vida”.

Deus aconselha e espera.

Ilustração:
Um homem segue pelo caminho que é recto e justo. Porém, há um momento em que chega a um cruzamento, e tem de decidir que caminho seguir. Está em jogo a vida eterna, ou a morte. Deus faz tudo o que é possível para o iluminar com a Verdade eterna, através do Espírito Santo, da Bíblia e dos Seus mensageiros, os anjos. No momento da decisão final, Deus diz: “Está em jogo a vida ou a morte, porém só ele pode decidir. Deixem-no só. Ele deve ser livre para fazer a sua própria escola.

O coração de Deus comove-se. As almas são muito preciosas aos Seus olhos. Foi por este mundo que Jesus chorou em agonia. Foi por este mundo que Ele foi crucificado. A vontade de Deus é de correr ao nosso encontro e apontar o melhor caminho, mas não o pode fazer, porque a prerrogativa da liberdade seria posta em causa.

Assim, só o homem é responsável pelas consequências. O que encontrar no final do caminho é da sua exclusiva responsabilidade. Não poderá culpar ninguém. Tudo foi feito, tudo deve ser feito para o iluminar, mas cada um é livre para escolher. O Senhor Deus decidiu, desde os tempos eternos, que a alma humana deve ser livre.

O problema. Satanás não conhece princípios nem respeita alianças: “Satanás vigia continuamente a fim de surpreender a mente num momento de descuido”. “Satanás procura continuamente influenciar as mentes humanas através de artes subtis.” – Mente, Carácter e Personalidade, p.18.

Desde a Criação que a mente humana é palco de uma tremenda luta. Quem será adorado no templo da alma? Em cada momento esta batalha continua a ter lugar pelo domínio da mente: “Satanás está atarefado a preparar planos para o último e tremendo conflito em que todos hão-de definir a sua atitude.” – Testemunhos Selectos, vol. 2, p. 369.

A mente é um campo de batalha onde se decide o destino eterno! O grande objectivo de Satanás, a grande vitória que espera ganhar a cada instante, é conseguir apoderar-se da mente de cada pessoa.

O apóstolo Paulo exclama em II Coríntios 2:11: “Porque não ignoramos os seus ardis”

Quer dizer, todo aquele que ignora a forma subtil como o inimigo trabalha está em desvantagem. O inimigo não se compadece perante a ignorância ou um conhecimento incompleto do plano da salvação. Satanás fica em vantagem, com uma habilidade superior.

Todos nós, sem a poderosa influência da Palavra de Deus, estamos em desvantagem contra um inimigo que não vemos e que tem poderes angélicos. O apóstolo Pedro em I Pedro 5:8, 9 exorta-nos: “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o diabo, anda em derredor, rugindo como leão, buscando a quem possa tragar. Resisti-lhe, firmes na fé,...”

Viver como se esta solene advertência não existisse é loucura e não independência!

Leia e espírito de reflexão a seguinte declaração: “Há milhares de anos que Satanás tem estado a fazer experiências sobre as propriedades da mente humana, e tem aprendido a conhecê-la bem. Mediante uma obra subtil está a ligar a mente humana com a sua própria, imbuindo-a dos seus próprios pensamentos; e ele está a fazer a obra de maneira tão enganadora, que os que aceitam a sua direcção não sabem que estão a ser conduzidos por ele segundo lhe apraz. O grande enganador espera confundir a mente de homens e mulheres de tal maneira que nenhuma outra voz senão a sua seja ouvida.” – Ellen G. White; Mensagens Escolhidas, vol. 2, pp. 352, 353.

Realcemos alguns pontos desta citação.

* Satanás, durante milhares de anos, tem feito e continua a fazer experiências com a mente humana e conhece-a muito bem.

* Conhece todas as motivações, as acções e a forma concreta de impressionar a mente.

* Está a ligar a mente humana com a sua própria mente, introduzindo os seus próprios pensamentos.

* E isto de forma subtil mas efectiva.

* A obra está a ser tão bem sucedida que muitos aceitam a sua direcção, inconscientes de que agem sob o comando de Satanás.

* Milhares de pessoas que encontramos dia a dia, com quem convivemos, que aparentemente estão felizes e triunfadoras, aceitaram a direcção do arqui-engandor.

* É possível que muitos homens, possivelmente os mais inteligentes, que exaltam os méritos da sua liberdade pessoal e do seu poder intelectual, já estejam sob a direcção de Satanás sem sequer imaginarem.

* O grande objectivo de Satanás é confundir a mente dos seres humanos. Dominar de tal maneira, que chegue o dia em que se encontrem incapacitados física, mental e espiritualmente. Passam a ouvir só a voz dele, do inimigo.

* É um propósito assombroso. É algo só ao alcance de Satanás. Só a ele é possível incapacitar uma pessoa no sentido de ouvir a voz de Deus.

* O tema científico dos neurotransmissores é certamente, um dos assuntos da química, física e da fisiologia que mais o apaixonam.

Ilustração: A muralha da China.
A muralha da China tem 3000 km de comprimento. É tão grande que consegue ver-se da Lua à vista desarmada. Esta muralha tem torres onde estavam colocados guardas a uma distância tal que podiam ver-se e ouvir-se uns aos outros. Foi construída para proteger o Império do sol nascente, dos ataques dos inimigos do norte, especialmente dos mongóis. Mas tanto esta muralha, como os guardas e os portões de bronze não serviram de nada. Os inimigos subornaram um guarda que tinha a responsabilidade de um portão. Este abriu a porta e a China foi invadida. Todo o império estava confiante atrás da sua inexpugnável muralha, mas esta não serviu de nada.

“Satanás não pode tocar a mente ou o intelecto, a menos que lho permitamos.” – Mente, Carácter e Personalidade, p. 26.

Milhares de pessoas estão a entregar a chave da sua mente a Satanás. É verdade que ele não pode tocar a mente ou o intelecto se não lho entregarmos. Mas também é verdade que ele pode subornar cada pessoa para que lhe entregue a mente. Vivemos num tempo em que é muito difícil manter a privacidade da alma humana.

Deus também quer ligar a Sua mente à nossa. Ele também quer introduzir na nossa mente os Seus pensamentos. Ele também quer que chegue o dia em que os Seus filhos só escutem a Sua voz e não outra: “Na verdade, na verdade vos digo que, aquele que não entra pela porta, no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sai voz; mas, de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a vos dos estranhos.” João 10:1-5.

Deus quer que chegue o dia em que os Seus filhos não ouçam mais a voz de Satanás, que não reconheçam esse timbre de morte, que a esqueçam. Ele quer que vivamos felizes, que encontremos a fronteira da paz, mas quer fazê-lo com o nosso consentimento. Que iremos decidir?
Pr. José Carlos Costa

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