14 de maio de 2008

PAZ PARA VIVER: 05 - Viver o Amor

Hoje vou falar da evolução do amor. Não do amor de Deus. Já falámos noutros temas desta série de Paz para Viver. Mas vou falar do nosso amor, de como dirigir os nossos sentimentos num sentido correcto e revitalizador para com as pessoas que são o nosso mundo. Como dar brilho à bondade, como podem as nossas atitudes ter o cunho do altruísmo ou seja, como ter e projectar a estima que sentimos pelos outros.

A Ciência descobriu, não há muito tempo, os efeitos da bondade sobre a saúde. Chamo a vossa atenção para um excerto de um pesquisador Americano: “O dia chegará em que o vosso médico vos aconselhará, exercício físico regular, alimentação sã e um gesto amigo feito a alguém.”

Fazer bem aos outros, ser generosos, aumenta, de forma significativa, a nossa esperança de vida. Imaginem as boas novas que trago para esta noite. Vejo muitas pessoas com mais de sessenta anos. Depois de ouvirem a mensagem que tenho para esta noite, irão desfrutar dez anos a mais na vida. Isto é, se fossem morrer aos setenta, irão morrer depois dos oitenta. Se a sua vitalidade os levasse até aos oitenta, correm o risco de ir viver até aos noventa. Bom, se isto não vos agrada, é melhor saírem agora. Mas eu sei que todos nós queremos viver, especialmente, viver com melhor qualidade de vida.

Estudos feitos pela Universidade Michigão nos E.U, mostram que as pessoas com poucos amigos e que fogem dos familiares, têm uma taxa de mortalidade duas vezes maior que as que vivem bem com elas próprias e com os outros.

Isto quer dizer que pessoas com a mesma doença, mas que evitam as amizades, a estima pelos outros, correm o risco de viver muito menos tempo que as outras. Já Anseiller, o especialista e inventor da palavra Stress, constatou que as pessoas amáveis, compreensivas, que dão atenção aos outros tinham muito menos stress do que os outros. Ele foi o primeiro a descobrir que quando dispensamos calor humano aos outros, há uma descarga no nosso corpo de uma hormona, chamada endorfina (um derivado da morfina) e que é a hormona do bem-estar.

Outros estudos demonstraram que os glóbulos brancos são, no organismo, os responsáveis por limpar do nosso corpo todas as bactérias, o que nos ataca e prejudica a saúde.

Estes glóbulos brancos são muito sensíveis às neuroptativas que são segregadas pelo nosso cérebro quando praticamos uma boa acção. Portanto as acções altruístas estimulam a acção dos glóbulos brancos. Isto pode admirar-vos e de facto é admirável. No entanto não será isto a demonstração do que diz a Bíblia?

“O homem bondoso faz bem à sua própria alma, mas o cruel perturba a sua própria carne.” Provérbios 11:17

O psicólogo de Harvard, David McleLarn, fez uma outra experiência. Antes de projectar um filme sobre a Madre Teresa de Calcutá, ele retirou um pouco de saliva dos jovens que iam assistir ao filme. No final do filme, ele retirou mais um pouco e no segundo exame ele constatou que a “hemoglobina A” tinha aumentado. Esta “hemoglobina A” é a que luta contra os anticorpos das vias respiratórias.

Tudo parece indicar que o nosso corpo foi feito para fazer funcionar ao máximo as suas possibilidades e para lutar contra a doença. E que o carburante é a justiça, a bondade e o amor.

Ilustração: A história mais bonita que eu conheço sobre o amor que cura é a de Elizabeth Barrett e Robert Browning. Neste romance a mulher tinha 39 anos. Estava enclausurada e semi-inválida. Vivia numa casa vulgar, numa rua calma da Londres vitoriana. A sua vida, na prática, era a de uma prisioneira em casa do seu pai.

Amargurado pela perda da mulher, do filho e da fortuna, Edward Barret tornou-se um tirano para os nove filhos restantes: três raparigas e seis rapazes, tendo chegado ao extremo de proibir que qualquer deles casasse.

Elizabeth, para além destas limitações impostas pelo pai, sofria de uma tuberculose óssea que só lhe possibilitava viver num espaço extremamente exíguo. Em 1845, Elizabeth estava há cinco anos confinada a um quarto escuro e fechado, onde permanecia todo o dia deitada, visitada apenas pela família e por alguns amigos permitidos pelo pai.

Os seus companheiros habituais eram a criada Wilson e Flush, o cão de estimação. Excepcionalmente culta, dedicava os seus dias à literatura grega, latina, francesa e alemã, à correspondência com as amigas e, acima de tudo à criação poética.

Robert Browning, também ele poeta, leu dois livros de poesia de Elizabeth. Ao ler estes livros ele declarou: “Eu amo estes livros de todo o meu coração.” Procurou saber a morada da autora e escreveu-lhe, acrescentando “e amo-a a si também”. Nessa altura ainda não se conheciam. Ela respondeu-lhe imediatamente, e assim nasceu um dos mais comoventes e dramáticos romances de todos os tempos.

Inicialmente, ela escrevia-lhe, mas recusava-se a vê-lo. Talvez tivesse receio de que o encantamento que pouco a pouco crescia entre ambos, através das, se desvanecesse quando se encontrassem. Elizabeth era doente e não era bonita. Mas, finalmente, face à persistência de Browning, cedeu e, passados cinco meses, a 20 de Maio de 1845, encontraram-se pela primeira vez.

Ninguém sabe o que se passou nesse primeiro encontro. Mas os receios de Elizabeth provaram ser infundados, pois o amor de Browning saiu fortalecido. E também Elisabeth, pouco a pouco, lhe correspondeu. Mas o namoro tinha de manter-se secreto, pois Elizabeth não conseguia libertar-se do terror do pai. “Caminhamos sobre brasas”, escreveu, “e se, por milagre, ainda não nos queimámos, não devemos contar com o prolongamento desse milagre.” Cautelosamente, não fez qualquer confidência à família, e as visitas de Browning, limitadas a três por semana, chegavam por vezes a ser canceladas.

Com o desabrochar do seu amor, desabrochou também a saúde de Elizabeth. Aventurou-se primeiro a deslocar-se até ao andar de baixo, depois ao exterior. Finalmente, sentiu-se com forças para passear no jardim.

Passou um ano e quatro meses até que Elizabeth ousasse dar o passo irreversível. O casamento realizou-se à pressa, e em segredo, numa igreja vizinha e depois Elizabeth voltou para casa. Uma semana mais tarde, enquanto a família jantava, Elizabeth, com o seu cão o Flush nos braços para que não ladrasse, fugiu de casa acompanhada pela sua criada Wilson. Encontrou-se com o seu marido e juntos atravessaram o Canal da Mancha a caminho de Paris. Mais tarde fixaram-se em Florença na Itália, aos 43 anos deu à luz um saudável rapaz. Este casamento foi um verdadeiro romance.

O amor transformou aquela jovem doente, paralítica, numa pessoa saudável. O amor é poderoso, é uma fonte de saúde e alegria.

Muitas senhoras dirão, que pena o meu marido não estar aqui a ouvir esta mensagem! Esta é uma boa razão para o convidar para vir amanhã.

Há muitas semelhanças entre as leis da Natureza e as leis espirituais. Por exemplo: uma célula saudável tem permanentes contactos com todas as outras células que se encontram à sua volta. Enquanto que uma célula cancerosa fica centrada sobre ela própria.

A mesma coisa acontece com o Mar da Galileia e o Mar Morto. O Mar da Galileia é impressionante pela quantidade de peixe. Ele recebe a água do rio Jordão, e o mais curioso é que ele deixa que o rio Jordão continue a correr, até chegar ao Mar Morto. Este recebe e não dá e como vocês sabem, neste mar não há vestígios de vida. Porque recebe e não dá.

Foi August Aguillar quem escreveu que “O homem está condenado a amar, porque quando não ama essa escolha deixa-o na solidão e destruição.”

É curioso ler a biografia de grandes personalidades da política, do cinema e da música. Constata-se que são pessoas que apesar de serem admiradas, idolatradas, são frustradas e desgostosas. Mesmo que tenham tido muito êxito e dinheiro, se não descobriram a forma de amar, não descobriram o caminho da vida.

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” Actos 20:35.

A seguinte história é elucidativa; Havia uma viúva que sofria de todas as doenças que há neste mundo. Por isso ia frequentemente visitar o médico. Aproximava-se o Natal, o Inverno era rigoroso e ela sentia-se a morrer. Uma vez mais, naquele ano, foi visitar o médico. Começou por lhe dizer:

– Sr. doutor é a última vez que o venho ver.

– Porquê? – perguntou o médico.

– Porque já não vou viver muito tempo.

O médico passou-lhe a receita médica normal e depois escreveu algo, numa outra folha, que juntou à prescrição e estendeu-lhas. A senhora leu uma e outra, e viu que o que estava escrito na folha era simplesmente um endereço. O médico confirmou, dizendo:

– Sim, é um endereço. Peço-lhe para ir visitar estas pessoas. São uma família e vivem muito pior do que a senhora. Estou certo que a sua visita lhes fará muito bem.

Ela saiu um pouco zangada mas, quando chegou a casa, leu de novo o endereço, e disse de si para si: Como não tenho nada para fazer, nem nada que perder, vou.

Ela, aliás, estava habituada a fazer tudo o que o seu médico lhe dizia.

Foi e encontrou um casal com dois meninos. A saúde destes era muito frágil. Viviam muito mal. A casa não era mais do que uma pequena cozinha. Ao ver aquilo, ela saiu, dirigiu-se a um supermercado e comprou tudo o que achou necessário para aquele casal e filhos. Mas mais do que isto ela decidiu passar a noite de Natal com eles. Preparou uma excelente refeição e comeram, conversaram. Então ela sentiu que a vida ainda tinha um propósito para ela.

Nos finais de Janeiro voltou ao médico. Este quase não a reconhecia. E perguntou:

– O que se passa com a senhora? Está com um aspecto saudável. Vejo que o Natal lhe fez bem!

– Sim, tem razão, doutor. Devo dizer-lhe que foi o melhor Natal da minha vida. E sinto uma grande vontade de viver.

Eu creio que isto é verdade, que a vida só tem sentido quando nos damos, quando amamos e nos deixamos amar. Porque foi para este propósito que Deus nos criou.

Prezados amigos, se queremos desfrutar da paz, da felicidade plena, devemos alinhar a nossa vida, e orientar a nossa personalidade por aquilo que a Bíblia diz. Isso não só nos ajuda no sentido espiritual, mas também no físico e emocional.

Foi feita uma sondagem em França, há uns anos atrás, sobre qual era a pessoa que mais admiravam e se gostariam de viver como essa pessoa: eram várias personalidades do mundo social, político e religioso.

86% das pessoas disseram que gostariam de ter uma vida como a Madre Teresa de Calcutá. Uma vida consagrada, uma vida com sentido, uma vida cheia de actos nobre.

Na verdade nós vivemos na mesma proporção em que amamos.

No entanto eu devo dizer que, ligado ao amor, está muitas vezes associado o sofrimento. No entanto não é menos verdade que não amar é morrer. Porque pode viver-se mas uma vida como se se estivesse morto.

As pessoas que têm grande êxito profissional, mas que não descobriram a verdadeira dimensão do amor, vivem mas vivem como mortos.

Jean Lacroix, dizia: “O amor impõe uma desarticulação antecipada de si próprio, mas este difícil desenraizar-se é, também, uma nova criação, porque é colocar outro dentro de nós, que se torna mais importante que nós próprios. Amar é morrer para realmente ressuscitar.”

Tudo isto nos leva a uma pergunta: onde encontrar a força para amar assim? Devo dizer também, que este propósito, sem a ajuda de Jesus, é difícil, para não dizer completamente impossível.

Isto é tão verdade que a nossa experiência o prova. E se não acreditamos perguntemos à nossa esposa.

As três etapas no amor.

O livro Cânticos dos Cânticos conta a história do amor de uma jovem pelo seu namorado, ou seja do cristão pelo Senhor.

Devern Fronke coloca em três etapas a evolução do amor autêntico.

1- O amor-reconhecimento (1ª etapa).

Cântico dos Cânticos 2:16 e 3. “O meu amado é meu e eu sou dele.”

Reparem no “EU”, tão frequente no início de todo o livro. A jovem é o centro de tudo, ela é egoísta. É a imagem do cristão egoísta. É o cristão mais consciente daquilo que o Senhor fez por ele, dos dons, dos bens, da saúde, das coisas que tem do que preocupado com o Senhor.

É o cristão que diz: “Eu amo o Senhor porque Ele ouve a minha voz.”

“Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro.”

Este amor reconhecimento é bom e legítimo. Deus reconhece-o e aceita-o, mesmo se é a forma mais simples do amor. É o nível da criança. Ela ama porque é amada. Ama porque recebe.

Não há dúvida de que as bênçãos alimentam o meu louvor ao Senhor. Amo o Senhor na medida dos bens e das vantagens que Ele me concede.

Se recebo pouco, amo pouco. É o amor egoísta. O Senhor aceita-nos como estamos, mas quer levar-nos mais longe.

A mulher de Job vivia a este nível. O seu marido sofria, e ela sugere: “Sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.” Job 2:9.

Job declara: “Como fala qualquer doida, assim falas tu. Receberemos o bem de Deus, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Job com os seus lábios.” Job 2:10

Numa passagem anterior tinha dito: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor o deu e o Senhor o tomou, bendito seja o nome do Senhor.” Job 1:21.

No livro Cântico dos Cânticos. O noivo afasta-se, para bem da jovem. Afasta-se com o propósito de a conduzir a uma etapa de amor mais profundo. As circunstâncias que Deus permite na nossa vida, vão purificar o nosso amor por Ele: “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus.” Romanos 8:28

As pessoas que dão o coração a Jesus, sentem paz, alegria, sentem a graça de Deus e em tudo vêem sinais do Seu amor por eles. Quando, porém, os sinais diminuem, Deus não os ama menos, mas mais!

Deus está com eles, a ensiná-los a amar, não por aquilo que recebem, mas amar Deus por aquilo que Ele é.

2- O amor admiração: 2ª etapa.

A jovem passa a uma segunda fase: Cânticos dos Cânticos 5:10, 16 “O meu amado é alvo e rosado, o primeiro entre dez mil. A sua boca é muitíssimo doce; ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.”

O seu egoísmo começou a diminuir. Ele pensa agora no seu noivo e menos nela. Ela começou a inverter a ordem dos valores, dirá mesmo:

“Eu sou do meu amado e o meu amado é meu.” Cântico dos Cânticos 6:3.

Mas há ainda uma noção de dar e receber. O cristão começa a amar a Deus por aquilo que Ele é. E isto é um grande progresso. Os cristãos que permanecem no primeiro estado terão grandes problemas. Quando não receberem a sua dose quotidiana ou semanal de bênçãos, a sua religiosidade começa a diminuir. Ou passa a uma religiosidade fictícia de aparência, de tradição, de costume, fazer para que não pareça mal.

Ou seja, o medo de ser visto a falar de uma religião diferente daquela que herdou dos pais. Vivem a religião numa relação empregado-patrão. Esforçando-se para nada esquecer, a missa das sete, as ofertas para os pobres, as leituras obrigatórias.

Fazem, mas o Seu relacionamento com Deus é o relacionamento do dever e não do prazer.

O que conhece Deus de forma pessoal, sabe quem é Deus, e relaciona-se com os homens e com o Senhor num perfeito equilíbrio.

O crente ouve a pergunta que Jesus fez a Pedro: “Pedro, amas-me?” E a boa resposta é: “Senhor, Tu sabes que eu Te amo.”

Tu conheces o meu coração. Tu conheces o meu jardim secreto. Tu sabes tudo. E então Ele exorta-nos a cuidar do jardim do nosso amor. Naturalmente que em qualquer jardim não existem exclusivamente belas fores. Pode haver legumes (as nossas obras), são com certeza úteis, mas para Jesus, o perfume do nosso amor, essa parte da nossa vida espiritual, é o essencial aos Seus olhos.

Estas duas etapas do amor têm qualquer coisa em comum. Ama-se Deus “porque... ou porque Ele o dá, ou por aquilo que Ele é.

Ora, o amor que necessita de uma justificação, é um sentimento racional e ainda não chegou à sua etapa final, completa.

3- O amor perfeito: 3ª etapa.

“Eu sou do meu amado e...” Cântico dos Cânticos 7:11.

Neste amor, há um elemento que escapa a toda a explicação racional. Não pode, nem tenta justificar a sua existência. O cristão já não diz: “Eu amo porque...”; murmura simplesmente a Deus: “Eu amo-Te”.

O amor perfeito não conhece os “porquês”, quando ao princípio a jovem declarava: “É com razão que te amam...” (1:4). No amor perfeito o crente não procura razões. Não procura o seu próprio interesse, mas o que o Senhor deseja. Ele diz: “Eu amo Deus, estou n’Ele, e Ele em mim. Não sei porque O amo, mas amo-O”.

É assim o amor que Abraão sente por Deus. Não hesita em oferecer-Lhe o seu filho. Ele sabe que o Deus que pede e recebe só pode ser tratado na relação do amor. Por isso Abraão é chamado o “amigo de Deus”, porque ele vive a este nível da amizade, em que o amigo ama em todo o tempo e em qualquer altura.

4- Apoiados sobre o nosso Amado.

“Quem é aquela que sobe do deserto, e vem encostada tão aprazivelmente ao seu amado?” Cântico dos Cânticos 8:5

O deserto são todas as circunstâncias peníveis, dolorosas, adversas (amizades traídas, calúnias, doenças, solidão, incompreensão) que Deus permite, com o objectivo de que nos apoiemos sobre Ele. Para progredirmos nas três etapas do amor.

Digamos ao Senhor: “Amo-te voluntariamente, de forma disponível e com prazer”. Mas se amanhã, para a semana, a prova vier, não fugirei, não me afastarei (como Pedro na hora em que Jesus foi julgado), não me lamentarei, não recuarei no meu amor por Ti, porque sei que és o mesmo ontem, hoje e amanhã, e que o Teu propósito é, através de todas as experiências, fazer com que eu avance um passo mais no caminho do amor perfeito.

Ilustração: Pegadas na Areia

Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava a andar na praia com o Senhor e, através do céu, passavam cenas da minha vida.
Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia:
Um era meu e o outro era do Senhor.

Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia e notei que muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas, na areia.

Reparei, também, que isto aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver.
Fiquei deveras aborrecido e perguntei então ao Senhor: Senhor, Tu disseste que, quando eu decidisse seguir-Te, Tu andarias sempre comigo, todo o caminho. Mas vejo que, durante as maiores tribulações do meu viver, havia na areia do caminho da vida apenas um par de pegadas. Não compreendo porque nas horas em que eu mais necessitava de Ti, me deixaste.

O Senhor respondeu-me: Meu precioso filho, eu amo-te, nunca jamais te deixarei, e muito menos, nas horas da tua prova e do teu sofrimento. Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi exactamente aí que Eu te levei nos Meus braços.

Os nossos interesses. A oração.

Naturalmente que temos toda a liberdade de pedir a Deus que cuide dos nossos interesses, que esteja atento às nossas necessidades. Mas quando há amor, verdadeiro amor, nunca se olha para Deus como se Ele fosse como aqueles antigos merceeiros. Temos uma lista de coisas de que necessitamos, e rogamos para nos vender e apontar no livro das dívidas.

Olhamos para o merceeiro com um olhar de dependência, receando que em relação a alguma das nossas necessidades que colocámos na lista, ele diga: “Isto não pode ser, nunca terias possibilidades de me pagar.”

Quando vamos a Deus em oração, falamos com Ele com um coração aberto, como se fala a um amigo.

E é Ele que nos leva a sentir necessidade do que realmente nos faz falta. Porque aprendemos a ir numa relação pessoal, numa relação de amor espontânea e natural. Não estamos permanentemente preocupados em pedir-Lhe que nos abençoe ou que nos conceda tal ou tal coisa.

Não somos como aquele homem que trabalhava a uma grande altura, sobre um andaime, que fez um movimento falso e eis que se precipita no vazio. Na queda, grita a Deus, pedindo: “Senhor, salva-me!”

Uma rede estendida por baixo do andaime, susteve a queda. Sentindo-se em segurança, continuou a gritar: “Senhor, já não tenho necessidade da Tua ajuda!”

O orgulho.

O orgulho faz do ser humano um ser desregulado. Alguém disse: “Há dois tipos de orgulho: um, em que nos aprovamos a nós próprios, o outro, em que não podemos aceitar-nos. Este é, provavelmente, o mais requintado.” Henri-Frédéric Amiel.

Em oposição à justiça própria que é também um obstáculo no caminho da relação com Deus. Jesus coloca o orgulho, no mesmo plano que o adultério ou o crime por morte (o que os judeus orgulhosos Lhe queriam fazer).

Todos temos certamente experimentado que, nos nossos períodos de dificuldade, a humildade nos conduz aos pés de Jesus, muito perto d’Ele. Ao contrário, o orgulho leva-nos a “inchar” como um balão, e Deus fica cada vez mais longe.

“Olhar altivo e coração orgulhoso e até a lavoura dos ímpios é pecado.” Provérbios 21:4.

Esta noite quero dirigir-me ao coração de cada ouvinte. Permitam que o vosso coração se torne sensível. Olhem para Jesus! O Seu amor, Ele está diante de nós e diz: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” Mateus 11:28-30

Ilustração/Apelo: Conta-se a história de um comboio que, certa noite, fazia o seu percurso normal. Tinha chovido torrencialmente durante todo o dia. Com o cair da noite, um intenso nevoeiro descera sobre o vale por onde ele passava. De repente, o maquinista avistou uma pessoa com os braços abertos em desespero. Lentamente, foi travando. Ouve um terrível ruído das rodas contra os carris. Finalmente o comboio parou.

O maquinista saiu para ver o que se passava. Não avistou o homem mas, um pouco mais à frente, viu que a ponte estava caída sobre as tumultuosas águas do rio. Juntamente com alguns passageiros procuram a pessoa que tinha posto a sua vida em perigo para os salvar, mas não encontraram ninguém.

Foi então que o maquinista, examinando os faróis da máquina do comboio, reparou numa cena estranha. Uma grande mariposa de asas abertas estava morta e colada ao farol. Foi o reflexo da sua agonia que serviu de aviso.

Este incidente da mariposa pode ser comparado ao amor de Cristo pela humanidade. Por cada um de vós. O reflexo do corpo de Cristo, de braços abertos sobre a cruz do Calvário, tem salvo a vida de milhares e milhares de almas, através dos séculos. Hoje, Jesus ainda está de braços abertos.

Será que foi por mero acaso que aquela borboleta surgiu no momento certo? Será que foi por mero acaso que aceitou o convite de um amigo, um familiar ou de um colega para ouvir esta mensagem? Há muito tempo que deixei de acreditar em acasos, creio que o Senhor está de braços abertos diante de si, quer aceitar?

Experiência: Bulgária.

Em 1993, realizei uma série de conferências em Sófia, Bulgária. Um dia o pastor que me traduzia do francês para búlgaro foi chamado com urgência para assistir um pastor idoso seu conhecido que estava agonizante. Fomos recebidos pela esposa, que nos conduziu à presença do marido. Era um homem com 67 anos, alto, magro, embora estivesse deitado, percebia-se perfeitamente que deveria ter sido uma figura imponente.

O pastor que agora agonizava fora durante muitos anos, o pastor adventista principal de toda a Bulgária. Naturalmente tinha lutado muito pela defesa da pregação do Evangelho. Tinha-se oposto à confiscação dos templos adventistas. Foi preso, escarnecido e por isso era muito conhecido e amado por todos os crentes.

Quando entrámos, o pastor que me acompanhava tentou cumprimentá-lo, chamando-o pelo nome. Eu sentia nas palavras – apesar de desconhecer a língua búlgara – uma grande emoção e via as lágrimas:

– Como estás, meu querido amigo? – perguntou.

– Quem és tu? Não te conheço! – Afirmou o pastor doente.

– Então, não te lembras de mim? Sou o Tajmisian, o teu amigo!

– Não sei quem és. – Foi a resposta.

Entretanto a esposa desculpava o marido, dizendo que ele estava desmemoriado e que nem dela ele lembrava.

– Quem és tu? – Perguntou o marido à esposa, naquele preciso instante.

– Vê, pastor, ele não se lembra de mim. Debaixo da cama retirou dois recipientes com um líquido escuro que ele tinha vomitado pouco tempo antes de termos chegado.

Então aconteceu aquilo que eu não queria que acontecesse e que não esperava. O pastor Tajmisian olhou para mim e disse:

– Pr. Costa, por favor, diga ou leia alguma passagem da Bíblia que possa animar esta família.

Fiquei em silêncio. Orei em silêncio. Pensei e pedi a Deus que me inspirasse naquele momento tão sensível. Inclinei-me sem saber o que iria dizer ou fazer:
– Pastor, lembra-se de Jesus, do Salvador?

Ainda estas palavras não tinham sido completamente traduzidas, já o velho e doente pastor se erguia sobre o cotovelo e exclamava:

– O quê? Se me lembro de Jesus? Do meu Salvador? Como me poderia esquecer de Quem me salvou? Como poderia esquecer Aquele que levou a minha cruz até ao Calvário? Como poderia esquecer o Filho de Deus que me amou e me ofereceu vida eterna que eu aceitei? Quem é você?

E continuava a falar do amor maravilhoso de Jesus. O seu rosto brilhava, os seus olhos tinham a luz da esperança. A paz que ele sentia no coração doente, é o tipo de paz que não morre, está apoiada em Jesus que disse: “Vou preparar-vos lugar e voltarei outra vez.” João 14:3

Apelo a cada um para olhar a Cruz de Cristo. A cruz é a árvore da vida. É a fonte de toda a alegria e de toda a paz. Foi o único modo pelo qual Jesus alcançou a ressurreição e o triunfo sobre a morte.

É o único modo pelo qual nós participamos na Sua vida, agora e para sempre.

Qual é a sua resposta?

Pr. José Carlos Costa

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