14 de maio de 2008

PAZ PARA VIVER: 06 - Viver a Nova Vida

Numa igreja, um cristão consciente das suas fraquezas, tinha o hábito de fazer a seguinte prece em público: “Senhor tira da minha vida as teias de aranha, limpa-me destas teias que me fazem sofrer”.

E cada Domingo repetia esta súplica.

Um dia, um cristão da mesma congregação, cansado de ouvir tantas vezes aquela prece, assim que o outro terminou, levantou a sua voz e orou: “Senhor, quero suplicar-te, por favor, ouve a minha voz, mata a aranha que tantos prejuízos causa ao meu irmão”.

Este género de oração é eficaz, porque vai directa à causa do problema, e não aos sintomas.

A questão que se deve colocar é: Por que razão eu tomo uma má atitude quando a minha mulher, o marido, pais, filhos, amigos dizem coisas de que eu não gosto? Começo aos gritos, fico nervoso e saio de casa?

Sou orgulhoso?
Penso que o que faço ou digo deveria ser mais apoiado?

Para Deus, o “porquê” das nossas acções é sempre muito mais importante do que o “porque”.

Porquê sou tímido, agressivo, invejoso?

Quando questiono, estou em busca da aranha que tece a teia dentro de mim.

Quando me lamento do que me sucede, estou a colocar-me como vítima, a quem tudo acontece, todas as aranhas fazem a teia em mim. Eu não sou o culpado, os culpados são os outros, com esta atitude impeço Deus de resolver os meus problemas. Deus só pode resolver os meus problemas com a minha participação e colaboração.

Mais que mudar o meu comportamento, devo procurar a causa do meu comportamento, ir à origem.

Se eu ajo de uma certa maneira é porque na minha vida fui ferido. Foi introduzido um código, uma mensagem de sofrimento, uma ferida que Deus quer curar.

Alguém disse: “Ninguém é responsável pela cara que tem, mas é responsável pela cara que faz”. De que tipo é a sua cara? Há pessoas que vivem com uma cara tão zangada que afastam toda a gente das suas proximidades, até os que o amam.

Todos lhe devem e ninguém lhe paga. Vamos ver uma lista de comportamentos que são teias de aranha que foram fiadas na nossa alma.

Se você se reconhecer numa ou em mais do que uma destas atitudes é porque houve sofrimento, ferida que foi provocada.

Experiência: Conheci um jovem que tinha dinheiro para satisfazer todas as suas necessidades. Não precisava de roubar, mas gostava de o fazer.

Perguntei-lhe: “Tens consciência que não deves fazer isso?”

Respondeu: “Sei perfeitamente. No entanto no momento em que olho uma coisa que me agrada, o primeiro pensamento é: ‘vou tentar roubar sem ser visto’.”

Conversando com ele, durante algum tempo, e de forma natural, contou-me que quando era pequeno, o seu pai tinha uma loja. Naquele tempo, nas mercearias, as batatas, o açúcar, o café eram pesados, não vinham em embalagens previamente pesadas.

O pai dizia-lhe que devia pesar quando o cliente estivesse distraído, e que devia tirar sempre algumas gramas.

Ele recebeu um código, um hábito que se colou a ele. Agora, quase involuntariamente, e sem necessitar, roubava. E apesar de ser um cristão praticante e de saber que o não devia fazer, a mensagem continuava no fundo da sua consciência. Continuava a roubar.

Isto provocava-lhe um sofrimento terrível, ao ponto de pensar que estava perdido e que não valia a pena continuar com Cristo.

Com muitas outras pessoas pode acontecer um outro código que foi impresso.
Fumar às escondidas.
Drogar-se.
Adulterar.
Maldizer.
Criticar.
Dizer palavrões.

Porque é que estas coisas acontecem? Porque foi experimentado uma vez e Satanás colocou a matriz, a sua matriz lá no cérebro e a pessoa pode ir à igreja, pode orar, mas não consegue abandonar. Porquê?

Retirei de um livro de Psicologia, uma lista de atitudes que podem ser a aranha que continua, dentro de nós, a fiar os seus fios e a prender-nos numa teia muito poderosa.

Pensamento inconsciente de si próprio:
– Não consigo mudar, esta é a minha sina.
– Se não fizer isso, serei criticado.
– Ninguém me aprecia.
– Ter pena de si próprio.
– Cansaço de si mesmo.
– Odiar-se.
– Pensamentos de suicídio.
– Desespero.
– Culpabilidade.
– Angústia.
– Apatia.
– Imagem negativa de si próprio.
– Sentimento de fracasso.
– Complexo de inferioridade.

Pensamento face aos outros:
– Espírito de crítica.
– Inveja.
– Espírito possessivo.
– Vontade de controlar.
– Amargura, ressentimento.
– Complexos de superioridade.
– Hostilidade.
– Orgulho.
– Espírito dominador.
– Sentimento de zanga.
– Tensão.
– Incapacidade de aprender.
– Instabilidade de humor.
– Espírito de rivalidade.
– Medo do contacto físico.
– Medo de ter relações sexuais com o marido/mulher.
– Medo do sexo oposto.
– Sentimento de rejeição, abandono.
– Rebelião contra tudo o que é autoridade.
– Agressividade.
– Timidez.

Será que alguém se vê numa destas listas? Não têm necessidade de levantar a mão, a menos que, fazendo-o, queiram afirmar que a partir deste momento e com Jesus ao vosso lado dando-vos poder, ireis matar a aranha!

O importante é ser sincero consigo próprio. Conhecer ainda que seja no silêncio do coração que uma ou mais destas coisas estão dentro da alma e que têm sido fonte de sofrimento e luta. O reconhecimento é o primeiro passo para que Jesus possa operar uma transformação na nossa vida.

Se ousamos dizer: “Realmente reconheço ter algumas das coisas que estão nessa lista”, significa que o Espírito Santo já está a agir em nós e a revelar coisas que sem Ele não reconheceríamos.

Ele revela essas coisas não como pecados que Deus queira castigar, mas como feridas que Deus quer curar. Pode ser que não estejamos conscientes da presença do Espírito Santo na nossa vida, mas ninguém, nenhum de nós, é um verdadeiro cristão se o Espírito estiver ausente da nossa vida.

Ficaremos admirados com o sentimento de liberdade que se desfruta quando se vive na intimidade do Senhor. Quando reconhecemos com sinceridade a escória, os resíduos que estão na nossa alma.

Sabem, Deus dá muita importância a todas as coisas da nossa vida porque deseja o nosso equilíbrio interior e que gozemos a verdadeira paz.

Experiência: Estudei em França. Para pagar os meus estudos, trabalhei como jardineiro. Não percebia muito de jardins, mas a verdade é que fazia o meu trabalho com dedicação e muito interesse. Por isso as pessoas para quem eu trabalhava pensavam que eu era um especialista no assunto. Por exemplo: pensavam que eu sabia podar e que tinha a solução para todos os problemas, não só de trabalhar a terra, mas noutras áreas como por exemplo: trolha ou canalizador, etc.

Um dia, uma senhora para quem eu trabalhava algumas horas por semana, apresentou-me uma situação muito delicada. Apresentou o assunto com tanta convicção de que eu o ia resolver que não tive coragem de lhe dizer que não percebia nada daquilo.

Era Inverno, e de uma parede da sua sala de jantar, escorria água. Quando vi aquilo, fiquei admirado. Pensei que podar as árvores é mais ramo menos ramo, mas água a sair duma parede como se fosse uma nascente, o caso era muito mais sério.

Peguei numa escada e subi para cima do telhado. Não sabia o que ia fazer, mas pelo menos a senhora percebeu que eu estava a fazer alguma coisa. Não havia nenhuma telha partida, estavam todas no lugar. Fiquei ali, mais de uma hora a olhar. De vez em quando ela aparecia e perguntava:

– Já resolveu o problema?

E eu respondia:

– Ainda não, mas está quase.

Algum tempo depois vi que havia muita água nas caleiras, e que o algeroz estava cheio de folhas. Tirei cuidadosamente todas as folhas e a água saiu.

– Sr. Costa, já encontrou o problema?

– Pode ficar descansada, daqui a uma semana a parede já estará completamente seca.

– Muito obrigada, eu sabia que podia confiar!

A verdade é que alguns dias depois a parede ficou seca. Não podem imaginar o que aquela senhora dizia de mim. Eu já não era um especialista, mas um grande especialista.

Nada é insignificante para Jesus. Aquilo que nós consideramos pouco importante, para Ele tem grande importância, porque Ele sabe que pode ser essa pequena folha o impeditivo da nossa felicidade. Ele diz: “Não se vendem dois passarinhos por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento do vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos pardais. E portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus.” Mateus 10:29-32

Gilvert Highet diz: “Gravados e arquivados na nossa mente encontram-se milhões de acontecimentos, recordações, hábitos, instintos, desejos e esperanças, temores e sons, memórias brutais, coisas ouvidas, sentidas, vistas há mais de trinta anos. Deleites nunca experimentados mas incessantemente imaginados, como a complexa estrutura de uma ponte, a pressão exacta de um dedo sobre nós, a curva precisa de uns lábios, sombras, rostos, o odor de jardins, orações, poemas, vitórias, o temor do inferno e da morte, a brisa do mar e um céu estrelado.”

O Dr. William James disse: “Na mais completa verdade científica, nada do que entra no cérebro se perde.”

Já o Dr. Alexis Carrell, no seu livro, “A Incógnita do Homem”, p. 159, afirmava: “O homem é um ser histórico, uma síntese da sua família, da sua raça e do género humano.”

Tudo o que vimos, ouvimos e fazemos. Tudo o que viram, ouviram e fizeram os nossos antepassados, está como que registado e activo em nós. A consciência é o depósito da experiência espiritual da raça humana.

Freud disse que é como uma “panela a ferver sem uma válvula por onde o conteúdo possa ser derramado.”

Será que a minha maneira de ser, a minha personalidade, sofre em consequência das coisas que foram sendo depositadas na minha consciência?

As ideias, os impulsos, os desejos, que surgem na minha mente provêm daí?

No livro Manipuladores da Mente de Roland Hegstad, lemos: “Quando pensamos, uma corrente eléctrica desencadeia uma acção nas células... com o passar do tempo somos insensíveis ao que vemos e ouvimos porque esta informação, arquivada no escuro caixote do nosso inconsciente, aí fica e torna-se o centro de informações onde vamos buscar as orientações para os nossos pensamentos e acções, sem nos darmos conta que isso determina as nossas decisões.”

Noutras palavras, o inconsciente determina a nossa conduta. Somos maus não porque queremos, mas porque o não podemos evitar. Somos maus por natureza física, mental e espiritual. Nascemos maus por herança, e tornámo-nos piores por tudo o que vimos, ouvimos e fizemos.

O mal é hereditário e cultivado.

Tudo está arquivado em linguagem no inconsciente. As imagens visuais, auditivas, etc., convertem-se em imagens verbais e desta forma são armazenadas no nosso inconsciente. Por isso se pode dizer que pensamos, sentimos, imaginamos e meditamos com palavras.

Vivi muitos anos na Suíça. A determinada altura as pessoas perguntavam-me: pensas em português ou em francês?

Aristóteles já dizia: “o homem é um ser de palavras.”

E é o que ensina o Senhor Jesus em São Mateus 12:34, 35: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisa, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.”


No inconsciente está o tesouro, seja bom ou mau. A lei do pecado e da morte de que fala Paulo pode explicar-se por este princípio: Romanos 7:14-25:
- 7:15 “O que faço não o entendo. Pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.”

- 7:17 “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.”

- 7:21 “Acho, então, esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.”

- 7:23 “Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento.”

- 7:24 “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”

- 7:25 “Dou graças a Deus por Jesus Cristo.”

Freud dizia que o inconsciente é intocável e não modificável. Realmente é uma tarefa impossível em termos humanos. A natureza do inconsciente é um tesouro que o homem tem dentro e que determina a sua conduta. O inconsciente é o que aparece no homem mau, os seus impulsos, desejos, ideias, pensamentos, imaginações e actos maus.

Não pode fazer nada contra isto. Gosta do mal, pensa no mal, planeia o mal, e faz mal da mesma maneira que o porco gosta de deitar-se e rebolar-se no esterco, na pocilga.

O que tem um mau tesouro tem uma má herança. Está doente e não tem remédio. Mesmo que chore, lute, queira modificar-se e ser diferente, não consegue.

Ditado: “Mau és, mau serás, mau morrerás, e em cinzas te converterás.”

Foi o que disse Jesus nos textos de Mateus 12:34, 35: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira as coisas más.”

Lucas 6:44: “Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos.”

No Antigo Testamento já era conhecido este princípio vejamos algumas passagens; Job 15:16: O homem “bebe a iniquidade como a água.”

Isaías 57:20: “Mas os ímpios são como o mar agitado que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo.”

Jeremias 13:23: “Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Tão pouco podeis vós fazer o bem, acostumados que estais a fazer o mal.”

A situação é de facto desesperadora. Não há remédio humano para o homem. É tão natural fazer o mal como a silveira produzir picos. Ou o cardo produzir espinhos. O problema está na origem. Lá onde nascem os actos, e as atitudes. O problema é no embrião, na fonte, na origem das acções.

Bernard Ramn teve um pensamento que dizia que somos pecadores no nosso “centro de controlo. Desse centro de controlo saem as ordens para a acção.”

Os perfeccionistas e os legalistas aqui debatem-se com um problema, pois o que querem mudar é o exterior, o seu e o dos outros. Fazem esforços além da força humana para agir bem.

Mas depois de limarem a aparência, a conduta exterior, o que é visível fica ainda como disse Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança.
Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo.” Mateus 23:25, 26

A condição não é animadora. Há esperança? Sim, há!

Um Novo Nascimento.

Jesus disse qual é a solução em João 3:7: “Necessário vos é nascer de novo”.

Sabem a quem é que Jesus disse estas palavras? A um homem religioso, a um guia espiritual, um príncipe em Israel. Um homem que conhecia a Sagrada Escritura desde o primeiro versículo até ao último versículo de Malaquias, de memória.

Um homem que ensinava na Universidade de Teologia. Quem sabe, talvez fosse um dos doutores com quem Jesus falou quando tinha 12 anos. Alguém que ficou admirado com a resposta de Jesus. E que a partir dali O observa. Viu como cresceu, viu como foi baptizado, viu como fazia milagres, viu como perdoava pecados.

E sentia uma necessidade muito grande de ser limpo por Jesus. Mas era um professor, um príncipe da religião judaica. Como tinha vergonha de ir ter com Jesus durante o dia, começou a espiar o Senhor e descobriu que Jesus tinha o hábito de passar muito tempo a orar de noite, num certo lugar.

Uma noite foi ter com o Senhor. Queria falar sobre o sofrimento da sua alma. Como era orgulhoso, tentou argumentar com Jesus. Mas o Salvador amava aquele homem que tinha tanto conhecimento na cabeça mas o coração tão vazio de esperança. E disse-lhe: “Em verdade, em verdade, te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne, mas o que é nascido do Espírito, é espírito. Não te maravilhes de eu te dizer: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” João 3:5-8.

Quer dizer que é necessário “tirar o mau tesouro” do coração e introduzir o “bom tesouro”.

Mas isto só é possível mediante a conversão e um novo nascimento. Uma reforma da vida não o pode fazer. É necessário nascer outra vez.

Como?

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.” I Pedro 1:23

“Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.” Efésios 6:17


“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4:12

Os escritores bíblicos usam as palavras: Juntas, medula, rins, espírito, para se referirem ao inconsciente. Usaram estes termos porque na altura não eram conhecidos outros.

A Bíblia tem poder. A Palavra penetra até ao mais profundo da vida do homem que é o inconsciente, onde está o tesouro da vida e da conduta moral.

O Espírito Santo, usando as palavras da Bíblia, penetra a verdadeira fonte da vida moral, mental e espiritual. Remove o mau tesouro que está estruturado em forma linguística. Tira as más palavras, a má informação, o vocabulário de pecado, a programação da mente. Muda o nosso software.

Corta as más ligações que foram feitas no cérebro pelo inimigo de Deus. E estabelece uma nova rede de ligações no nosso cérebro, uma ligação com Deus, com o trono do Céu. Eu atrever-me-ia a dizer, como forma de ilustração, mas crendo que é verdade, que reestrutura o cérebro.

A Palavra de Deus faz um milagre. Penetra no misterioso depósito, onde está a herança da raça humana, ou seja a sede do pecado original e o limpa. A pessoa torna-se um novo ser. Tem novos dados, novas informações, novos impulsos, novos desejos que o levam a pensar, sentir, desejar e eventualmente, a agir de forma diferente.

A espada do Espírito tira o mau tesouro e informações que produziam os frutos da carne, que são: “As obras da carne são conhecidas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, pelejas, dissensões, facções, invejas, bebedices, orgias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos preveni, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” Gálatas 5:19-21.

E agora o Espírito, entra no tesouro, “no novo tesouro”, e coloca a informação divina, a acção do próprio Espírito de Deus: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:22, 23.

Como é isto possível?

O segredo encontra-se no Salmo 119:9, 11: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra. …Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.”

O que guarda as Palavras do Senhor no coração, elas dão-lhe uma nova vida espiritual. Não significa que terminem as lutas da carne. Mas prevalecem novos impulsos, novas visões, novas esperanças e desejos.

Ao ler a Bíblia diariamente, ao comer o maná celestial, o trigo do Céu, o pão dos anjos, ele fortalece-se e obtém uma mentalidade como a dos anjos. É a cura interior, é o equilíbrio mental e espiritual, é entrar em harmonia com Deus.

A cura interior é uma cidade das cidades fortes que Deus nos manda conquistar.

Quando os Israelitas entraram em Canaã, a luta tinha apenas começado. Deus tinha prometido um país que manava leite e mel, planícies com água abundante para regar a terra e dar de beber aos seus animais.

Mas muitas destas planícies tinham uma cidade no meio, com muralhas à volta e era preciso conquistá-las. Isto significa muitos problemas que tinham que ser resolvidos, feridas que tinham que ser curadas.

Sejamos claros. Não é porque alguém diz: “Eu aceito esta religião, eu aceito Jesus”, que todos os problemas são resolvidos.

O plano de Deus para os Israelitas era de os levar a conquistar todo aquele país que lhes pertencia, mas deviam conquistá-lo até chegar a Jerusalém, a cidade da paz. Foi a última cidade a ser conquistada, séculos mais tarde. O povo de Israel só conquistou Jerusalém anos depois, porque se afastou do plano de Deus, e por essa razão não conquistaram a cidade da paz.

Isto pode passar-se na nossa vida. Aceitamos fazer somente o que achamos que devemos fazer, o que aos nossos olhos parece possível fazer. Não confiamos como o apóstolo Paulo que disse: “Posso todas as coisas n’Aquele que me fortalece.” (Filipenses 4:13) E por essa razão não conquistamos a paz completa, a alegria interior, o equilíbrio da nossa mente.

Sentimentos de culpa, tristezas não explicadas. Porque não estamos prontos a obedecer ao Senhor e prosseguir na conquista de todo o território, o Espírito Santo é impedido de fazer a Sua sede, a Sua capital na nossa mente, que representa Jerusalém.

Talvez seja uma verdade, um princípio bíblico, que nos parece impossível de observar:

– Sentimos que a família pode ser um obstáculo intransponível,

– Talvez o trabalho, pensamos “não posso observar esse princípio, vou perder o meu trabalho”,

– Talvez um vício, que adquirimos há muitos anos, parece impossível de destruir essa fortaleza.

– Talvez uma religião cheia de tradições, ritos e aparato, mas destituída de poder. Sem sentido, sem resposta ao vazio e sofrimento da alma.

Ao olhar para os obstáculos, fixá-los com tanta preocupação, esquecemos que ao nosso lado vai Alguém que disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra.” Mateus 28:18

Jesus um dia foi confrontado com uma triste situação. Um grupo de homens com uma mulher, chamada Maria Madalena. Estes acusavam-na de ter sido apanhada em adultério. Perguntaram a Jesus o que deviam fazer?

De facto, eles não faziam mais do que revelar as feridas não da mulher, mas as suas feridas pessoais. Mostravam a Jesus os seus próprios fracassos, os seus próprios pecados, as muralhas que os impediam de serem homens felizes.

E Jesus quis curá-los. Quis ajudá-los. Jesus não Se afasta de ninguém, nem da adúltera, nem dos acusadores. Ele olha para cada um com sincero e profundo amor.

Mas para curar uns e outros era necessário revelar as feridas, que estas fossem reconhecidas. Jesus daria então, o remédio a cada um segundo a necessidade. Jesus começa a escrever o que eles tinham na alma. Um a um foi-se aproximando, reconhecendo a ferida, mas no lugar de ficarem e aceitarem o Bálsamo que é Cristo, viraram as costas e foram-se embora.

Finalmente só a mulher acusada ficou, prostrada por terra, envergonhada, magoada, triste. As lágrimas saíam-lhe da alma como o pus sai da chaga. Então Jesus olhou para ela e perguntou: “Onde estão os que te acusavam?”

Ela também teve tempo de virar as costas, mas ficou. Então Jesus olhou-a com aqueles olhos que olham direito, para o fundo do coração e disse: “Vai em paz”.

Literalmente, “Entra na paz”.

Há uma progressão, um caminhar, uma entrada como quem entra nas águas do mar. Primeiro molha os pés, depois avança e a água dá pelos joelhos, pela cintura, até que se pode nadar.

Ezequiel 47 mostra de forma clara esta progressão do cristão na plenitude do Espírito Santo, e que inclui a cura:

- a água toca nos tornozelos,
- a água chega aos joelhos,
- à cintura
- depois pode nadar.

Deus age na nossa vida num processo progressivo. Eu fico pasmado com as curas feitas por certas religiões, quando nós consultamos essas pessoas passado algum tempo, vemos que estão piores.

Estamos a falar de um processo que se vai construindo dia a dia com o Espírito Santo. É uma obra progressiva. É pela contemplação de Jesus que o Espírito altera a nossa consciência e nos orienta para uma nova vida aqui e para a certeza de uma vida eterna. Eu conheço isto por experiência própria.

O alimento do novo nascimento é a Palavra de Deus. Ler uma porção cada dia de forma a nutrir a alma. De outra forma o poder que foi introduzido em nós pela Palavra na acção do Espírito Santo, será anulado pelo Diabo.

Ilustração:
Um colega meu conta o seguinte: Dois vizinhos tinham cada um o seu cão. Um tinha um dobermann, o outro tinha um rafeiro pequeno que, apesar de frágil, era muito mau. As suas propriedades estavam separadas por um arame. Todos os dias os cães passeavam no quintal dos seus respectivos donos. O cão pequeno dormia dolentemente no telheiro, barriga ao sol. Mas parece que adivinhava quando o seu cão vizinho saía para desentorpecer as pernas no quintal. Levantava-se agilmente e aí ia ele a correr perto do outro a ladrar. Separados pela rede de arame, o dóberman, nem sequer para ele olhava. Era muito mais forte e achava aquele ladrar despropositado. Um dia o dono do dobermann foi uma semana de férias e pediu a um rapaz amigo para ir, todos os dias, dar de comer ao seu cão. O jovem foi no primeiro dia. E alimentou o cão convenientemente. Este, depois de comer foi passear. O cão vizinho, lá estava a fazer-lhe companhia, com um ladrar irritante. No outro dia o dobermann continuou o seu passeio e o ladrar do cão vizinho não cessava. Mas ao quinto dia, o doberman não saiu a passear. O pequeno achou estranho, esperou impacientemente. A verdade, porém, é que o cão grande não aparecia. E ele ficou frustrado. No sexto dia, a cena repetiu-se. O dobermann não apareceu. O que pensou o pequeno cão? Fazer um buraco por debaixo da rede. Para seu espanto viu que o dobermann continuava a não aparecer. Ele estava sempre de olho atento, porque sabia perfeitamente que não tinha físico para lutar contra o seu vizinho. Terminou a tarefa e passou para o outro lado. Sentiu-se encorajado e foi avançando, viu o dóberman, deitado debaixo do telheiro e parou. Mas o dobermann nem sequer se mexeu. Avançou até se aproximar, estavam agora lado a lado. O dobermann olhou para ele. O cão pequeno recuou. Mas o dobermann deixou cair a cabeça cansada. O rafeiro avançou e, sem hesitação, começou a morder, rasgou o outro todo. O dobermann ficou ali a sangrar e a gemer. No outro dia, chegaram os donos e encontraram aquele terrível espectáculo. Rapidamente se aperceberam do que tinha acontecido. O seu cão não tinha sido alimentado durante vários dias. Sem forças, tinha sido vítima dum cãozito rafeiro.

Esta é a nossa luta. Se nos deixarmos de alimentar diariamente da Palavra de Deus, corremos sério risco que esse “rafeiro” que espreita entre no novo coração e facilmente destrua o que o Espírito de Deus fez pelo novo nascimento, e voltem os velhos hábitos, os velhos vícios.

Feliz é a pessoa que avança diariamente sem considerar o que fez ontem, mas contando com o progresso que pode obter hoje. O cristão que deixa de ler a Bíblia deixa de crescer. Um bebé não cresce, corre perigo de vida.

Ore, leia a Bíblia, faça-o!

Pr. José Carlos Costa

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